Hinata sempre escondia sua infelicidade atrás de um sorriso.

Ela não chorou quando todos se separaram, acreditando que os seus companheiros ficariam melhor sem ela.

Ela não chorou quando reparou que ficara sozinha.

Ela não chorou quando se apercebeu que sempre estivera sozinha.

Não é que não lhe faltasse vontade. Muitas foram as vezes em que ela se viu encolhida em um canto com a garganta a gritar de dor. Porém juntou todas as forças que tinha e não deixou que as lágrimas caíssem.

Ninguém as veria. Não adiantaria pedir por ajuda quando ninguém a iria ouvir. Chorar só ia fazer seus olhos incharem e sua cabeça doer.

Infelizmente, para Hinata, a dor da solidão não mata. E ela teve que continuar a viver. Sempre que a Hokage a chamava, ela era obrigada a sair da mansão e andar pelas ruas da aldeia demasiado alegres na sua opinião.

E, muito antes de a própria reparar, Hinata conformara-se. Parara de comparar o antes com o agora, pois apercebeu-se que isso só tornava as coisas ainda mais difíceis de aguentar.

Ela parou de tentar perceber o como das coisas chegarem onde estão. Isso não mudaria nada.

Ela vivia conformada com a vida que tinha. Ela levantava-se cedo, vestia-se, dirigia-se até á Hokage nos dias de missão, cujas eram medíocres, e no final do dia preparava a sua própria refeição.

Ela já nem se incomodava ao ver o prédio de Naruto pela janela da cozinha. Já lhe dedicara muito tempo, anos da sua vida, a esse homem. E nem quando finalmente a guerra acabou ele lhe dirigiu a palavra. Tinha de admitir, ficara desiludida. Nunca pensara que o homem que sempre admirou reagiria assim, a fugir, quando deparado com as palavras dela. Tolice. Era a palavra que lhe vinha à cabeça quando relembrava o que acontecera no dia em que expôs os seus sentimentos a ele.

Mas bem, ela conformara-se com isso também. Naruto só tinha olhos para Sakura. Fim da história.

E, agora, ao preparar a sua própria refeição, ao tentar mentalizar-se mais uma vez que a história já acabara, ela cortara-se.

Seu dedo sangrava. E seus olhos choravam. Pela primeira vez em tantos anos, Hinata fartou-se de estar conformada. Ela via pessoas felizes ao olhar pela janela. Porque ela não podia ser feliz também?

Estava farta de se enganar a si mesma.

Ela queria que as coisas voltassem ao que eram dantes. Porque dantes as coisas não estavam bem, mas era tão mais fáceis de aguentar…

Só precisava de uma única tentativa. Se essa tentativa não resultasse, jurou para si mesma que desistiria de vez.

Mas, uma coisa era certa, independentemente da decisão que tomasse, a vida dela não poderia continuar daquela maneira.

Depois de fazer o curativo no dedo, escreveu os convites. E, quando pegou no último, ponderou se devia mesmo tomar tal atitude.

“Haruno Sakura.” Era a pessoa que o convite convidava. A vontade de Hinata era deixar esse convite à parte. Esquecera-se do dia em que reparou que nutria um certo ódio interior por Sakura. E quando repara, era tarde demais para tentar impedir, ela já olhava a rosada com desprezo.

A personalidade de Hinata nunca foi de odiar alguém, muito menos por motivos egoístas. Mas foi algo que ela não conseguiu evitar. Pura inveja, era o motivo. Inveja que começou a crescer desde que ela soube que o Naruto amava Sakura. De seguida transformou-se em raiva, pois a Hyuuga não suportava vê-la rebaixar o Naruto e arrastar a asa para o Sasuke como se nada fosse. E o ódio dela despertou com o abraço… seis anos atrás, quando ele regressou depois de ter derrotado Nagato. “Ela só começou a gostar de ti quando todos te passaram a chamar herói!” A mente dela gritava quando viu os braços de Sakura rodear Naruto.

Mas Hinata sempre se manteve calada.

Juntou o convite da Haruno aos restantes.

E, ao ver os convites serem enviados, ela duvidou se aquilo seria uma boa ideia.

Desenterrar o passado por motivos egoístas. Ela sabia que era isso que estava a fazer. Existem coisas que não foram ditas no passado. E talvez fosse melhor que continuasse assim.

A questão é: melhor para quem?