Os Guardiões da Existência escrita por kaio_dantas


Capítulo 2
A quebra da monotonia


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capitulo um pouco grande espero que não se assustem, tinha muita informação para ser passada. Os capítulos subsequentes irão diminuir e também ficar mais emocionantes. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/162903/chapter/2

Tudo amanheceu quieto no povoado de Armatran. Toda a sua arquitetura era um pouco rústica, o que não tirava nem um pouco de seu encanto.

O lugarejo passava por um outono ameno e ouvia-se o farfalhar das folhas secas quando a brisa úmida e fresca soprava-as com delicadeza. O sol dava seus primeiros sinais de vida, lançando raios anêmicos contra as frestas das janelas e portas, inundando cada casa, fazendo com que as pessoas acordassem de sua longa noite de sono, saindo da cachoeira de sonhos para desembocar no mundo real.

Com o raiar do sol, as famílias foram acordando e com os Limonts não foi diferente. Levantaram-se a princípio Susy e Cristian.

Susy assim que se levantou foi logo preparar o café da manhã. Enquanto descia as escadas para se dirigir à cozinha, decidiu acordar os garotos. O quarto dos dois ficava no mesmo patamar que a sala e a cozinha, mais precisamente ao lado da sala.

— Ray, Bryan, já amanheceu. Acordem. — Falava enquanto batia a porta.

— Já vai, mãe. — Gritaram os dois em uníssono, ainda meio roucos e desnorteados por terem acabado de acordar.

Após ouvi-los dirigiu-se a cozinha para preparar a refeição matinal, os garotos costumavam acordar mais tarde que os pais, já que embora o quarto tivesse janela, a mesma fica oposta ao nascer do sol, só entrando luz realmente forte ao entardecer. Durante toda a manhã era difícil realizar qualquer atividade dentro do quarto, afinal a pouca luz que entrava pela janela apenas era capaz de permitir uma visão turva dos objetos.

Cristian acabara de se levantar, após alguns minutos se espreguiçando e bocejando ele foi até uma pia de porcelana que ficava em um canto da parede oposto a cama, lavou o rosto e molhou seus cabelos loiros que tinham a tonalidade de um feixe de palha. Ele tinha os olhos castanhos e um rosto de expressões fortes. Estava alegre, era o tipo de pessoa que se sentia feliz pelos simples fato de poder ver novamente a luz do dia.

Os garotos não demoraram a levantar, até porque começou a entrar pela fresta da porta o cheiro do café fresquinho e do pão que sua mãe estava a preparar. Ray abriu a porta e Bryan vinha atrás dele. Os garotos eram muito parecidos com o pai, herdaram da mãe apenas os cabelos que eram ruivos em todo o resto eram cópias do pai, tanto no olhar forte como na pele branquíssima, que contrastava com o vermelho quase incandescente de seus cabelos.

Susy já estava terminando de fazer o café, o único item que ainda não estava pronto era o pão .

— Mãe, o café já está pronto?

—Já estou acabando. E vocês já escovaram os dentes? — Ela nem esperou uma resposta. — Vão logo pra o banheiro e tratem de lavar esses rostos e pentear os cabelos.

Os garotos nem pesaram em retrucar, pretendiam ir brincar na floresta e não seria muito inteligente irritar a mãe logo cedo.

Quando voltaram do banheiro, a mesa já estava posta e todas as coisas preparadas pela sua mãe pareciam quase clamar para serem deliciadas. Suzy era provavelmente uma das melhores cozinheiras do povoado, sempre vencia as competições de culinária nos festivais anuais do vilarejo.

Sentaram-se e esperaram que Cristian descesse. Alguns hábitos permaneciam intactos no povoado, transcendendo os tempos e esse era um deles. Participar de uma refeição sem que todos os membros da família estivessem à mesa era transformar algo sagrado, em uma coisa rotineira e vil.

Os garotos conheciam as regras e não viam motivos para quebra-las, mas com a fome que estavam sentiram grande alegria ao ver Cristian descendo a escada.

O pai deles sentou-se a mesa e como de costumes passou a mão na cabeça dos dois, ele era bastante amoroso e muito mais tolerante se comparado à Susy. O amor dela era perceptível e incontestável, mas adotava uma forma de educação intransigente que era fruto da forma como os seus pais a educaram.

A família da mesma era uma das mais tradicionais do povoado tendo em vista que tanto seu pai quanto sua mãe eram descendentes das primeiras famílias que ali habitaram.

Fizeram as preces como de costume e iniciaram a refeição. Susy notou que os garotos comiam com uma presa descomunal.

— Acalmem-se, a comida não irá fugir de seus pratos. Vão acabar tendo uma indigestão.

— Estamos apressados porque hoje vamos à floresta. —Falou abocanhando um grande pedaço de presunto.

— Já deveria imaginar é melhor vocês não estarem pretendendo andar sozinhos pela floresta! E tenha modos, Ray Limont, não perdi horas te ensinando boas maneiras para que você fique comendo igual a um macaco. Soltou o pedaço de carne e passou a come-lo com os talheres— Calma mãe. Nós não vamos escalar um vulcão em erupção; só brincar na floresta e pode parar de se preocupar, não vamos sozinhos. A Morgan, a Denika e o Devyl vão também.

— Como se eu realmente pudesse parar de me preocupar, vocês dois mal aprenderam a andar e já se acham capazes de sair sozinhos por ai.

— MÃE! — gritaram os dois em coro.

— Eu já tenho treze anos. — argumentou Ray.

— E eu quinze. — falou Bryan indignado com a insinuação da mãe.

— Amor, acalme-se eles só vão brincar, isso não faz mal algum, são apenas crianças e não imagino nada ruim que possa acontecer na floresta.

— Cristian, você conhece bem as histórias das pessoas que se perderam e nunca mais voltaram.

— Quem sabe se isso é verdade, esses boatos são tão antigos que chegam a se misturar com o folclore do povoado.

— Está bem, podem ir, mas não adentrem demais na floresta e nem se desviem das trilhas.

Após tomarem o café todos foram se dedicar aos seus afazeres diários, Cristian foi cuidar da horta e de seu rebanho, a economia do povoado não ia muito além do comércio de escambo, mas esse era um método funcional que permitia que todos no lugarejo vivessem quase que de forma igualitária.

Susy tirou os restos que sobraram da mesa e foi dedicar-se aos seus serviços domésticos, tentando tornar a casa cada vez mais aconchegante para sua família.

Bryan e Ray nem bem engoliram a comida, já saíram correndo.

Armatran ficava estranhamente localizado no meio da floresta, algo que era estranho, mas que nunca despertou grande curiosidade dos moradores, já que todos nasceram e viveram sempre ali.

Bryan e Ray seguiram em direção à floresta e lá estavam Morgan, Denika e Devyl esperando na entrada mais escura da mata.

Denika era uma garota peculiar: magra, de média estatura, loira de olhos claros. Sempre estava bem arrumada e tinha uma postura digna de uma lady. Contrastava em muito com a rusticidade do povoado, adorava visitar a casa dos garotos e passava horas conversando com Susy sobre vestidos, concertos que costuma compor em seu violino, entre outras coisas. Ela provavelmente era o motivo prlo qual Susy não os impedia de sair, ela esperava que os garotos seguissem o exemplo de Denika.

Já Morgan era magra, baixinha, de cabelos negros e olhos sombrios. Normalmente se encontrava de maneira apática, sempre a praguejar contra algo ou alguém. Era inteligente, afinal tinha passado boa parte da infância tendo como amigos apenas os seus livros. Sempre arrumava soluções pra tudo e embora saísse para brincar sempre que convidada seria capaz de trocar tudo aquilo por uma emocionante partida de xadrez como ela própria descrevia.

Devyl tinha a mesma idade que Bryan, porém era mais alto e mais forte. Ele tinha um tom de pele moreno e olhos cor de caramelo. As habilidades físicas dele e sua destreza pra qualquer atividade que exigisse força ou velocidade era excepcional, em compensação, seu intelecto era diminut,o o que dava poucas possibilidades de conversa com ele, a menos que se estivesse dispostos a ouvi-lo falar quantos quilos havia conseguido levantar ou como teve que correr de um urso quando estava a brincar na floresta, sim nem todas as histórias eram verdade embora ele as contasse sem deixar transparecer nenhum tom de mentira.

— Andem logo, já ficamos tempo demais parados aqui. Não vejo a hora de podermos brincar, garanto que ninguém irá se esconder nem fugir de mim.

— Ehh, que legal Devyl. Falou Morgan de forma irônica

— Você poderia ao menos fingir que gostou da ideia.

— Óbvio Denika, quem não gostaria de sair correndo por ai feito um acéfalo e ainda ficar toda suada.

Todos riram com exceção de Devyl que já havia se embrenhado pela floresta, eles o seguirão. Andaram por cerca de quinze minutos

— Acho que já estamos longe demais, é melhor ficarmos por aqui. — Advertiu Bryan, que sem dúvida era o mais ajuizado dos cinco.

— Não seja covarde, Bryan. Nem estamos tão longe assim. — falou Ray, tentando parecer mais corajoso do que era.

Eles caminharam mais um pouco até que chegaram a um local descampado e cercado por grandes árvores, lá começaram a brincar de pegar.

Como esperado, Devyl era o mais animado e sempre o primeiro a pegar todos, não importavam as circunstâncias, mesmo ele esperando que os outros estivessem longe para começar a correr, sempre pegava a todos. Morgan nem se dava ao trabalho de correr muito, normalmente só se escondia em algum lugar até que ele finalmente a encontrasse, o único que ainda dava algum trabalho era Ray, que era muito rápido.

Depois brincaram de esconder, nisso Morgan era especialista, por ser baixinha conseguia se camuflar muito bem, embora acabasse sendo vencida pela insistência de Devyl. Durante as brincadeiras eles se afastaram cada vez mais do povoado e assim sucedeu-se durante o dia inteiro. Quando se deram conta já haviam adentrado muito mais na floresta do que pretendiam.

— Estamos perdidos! — exclamou Denika, quando não conseguiram achar a trilha que levava em direção a vila.

— Li em um livro de geografia que é possível se orientar pela posição em que o sol nasce.

— Não me venha com essa Bryan, sei para onde precisamos ir.

— Então diga Devyl, já que você sabe mais que especialistas renomados, como vamos voltar para o povoado. — falou Morgan.

— Foi de lá que viemos. — falou enquanto saia andando, os outros o seguiram, afinal era a melhor escolha, Bryan não tinha domínio do assunto suficiente para dizer para onde ficava o povoado.

Eles andaram muito, até que perceberam que estavam apenas caminhando círculos, vendo árvores que sempre pareciam iguais. Moveram-se até se cansarem e sentaram em volta de uma árvore imponente que parecia estender-se até o infinito, vencidos pela fadiga.

— Que ótimo Devyl, estamos ainda mais perdidos, você tem uma ideia melhor? Talvez com seu senso de orientação possamos descobrir um novo continente. — Falou Denika, com um ímpeto de fúria incomum a ela.

— Vocês me seguiram porque quiseram.

— Claro, mesmo sabendo que acabaríamos no meio do nada o seguimos. — murmurou Ray.

— Estou esgotada. Não fazemos ideia de onde estamos, a melhor opção é esperar que nossos pais venham atrás de nós.

— Você está certa Morgan, eles provavelmente virão nos procurar em algumas horas, não terão muitas dificuldade. Os cães são extremamente eficientes, podem nos achar rapidamente.

Não era a primeira vez que crianças se perdiam na floresta, isso era até comum, mas elas sempre eram achadas. O povoado contava com um “esquadrão” de cães treinados para procurar pessoas nesses casos.

Todos se encontravam exaustos e com fome porque tinham comido apenas de manhã e faltavam poucas horas para o poente. Acabaram sendo vencidos pelo cansaço e cochilaram sentados ao pé daquela árvore.

Dormiram durante um bom tempo, o primeiro a acordar foi Bryan. Logo que sua visão entrou em foco, notou que não estava mais ao pé daquela grande árvore e o pior, nem se encontravam na floresta.

Como primeiro instinto, ele beliscou-se para saber se tudo aquilo não passava de um sonho. Ao sentir a dor aguda do beliscão, viu cair por terra à possibilidade de ser tudo uma fantasia. Antes de alarmar os outros que estavam deitados ao seu lado, resolveu levantar-se para investigar aquilo que parecia ser uma gruta.

Ergueu-se e olhou tudo ao seu redor, o que mais lhe intrigou foi o fato de que mesmo aquela gruta não possuindo nenhuma entrada luz, havia uma claridade intensa que emanava das paredes.

— Jovem Bryan.

— Quem está ai? Quem é você?

— Jovens; sempre a indagar.

— Fale quem é! — exclamou Bryan agressivamente.

— Acalme-se garoto. Chamo-me Eterniel.

Nesse momento surgiu, vindo de uma fenda ao lado de Bryan, um homem alto, todo vestido de branco, com um tom de pele pálido e cabelos negros como a noite. Algo mais contrastava com todo o resto: ele trazia no peito uma cruz de madeira que aparentava ser muito pesada, mas que ele já parecia acostumado a usar.

— Quem é você? E o que estamos fazendo aqui?

— Vamos com calma, é melhor que acorde seus amigos.

Bryan foi logo acordar seu irmão e seus amigos, que reagiram todos da mesma maneira que ele: primeiro observaram o local elogo depois começaram a perguntar de instante em instante onde estavam. Devyl, que sempre deixara transparecer ser o mais destemido, entrara em choque. Enquanto isso Morgan e Denika tentavam acalmá-lo.

— Crianças, como são bobinhas.

— Agora, diga quem é? — intimou Bryan.

— E é melhor não tentar nada, estamos em maior número. — emendou Ray, com o pouco de coragem que lhe restava.

— Venham por aqui. — chamou-os Eterniel desaparecendo pela mesma fenda da qual viera, sem dar importância ao que Ray falara.

— O que faremos? Perdidos em um lugar desconhecido, com um louco? — vociferou Morgan, como se estivesse a agonizar.

— Ai, Morgan. Jogue esse mau agouro para cima de outro.

— Denika, sejamos realistas: quais as nossas chances? Vamos morrer, é o fim!

— As palavras saem da sua boca como um aviso de mau presságio, tenha pelo menos um pouco de esperança — declarou Denika, tentando animar os outros que estavam cada vez mais desanimados com as citações de Morgan.

Foi quando Ray apontou para uma fenda que se opunha ao local pelo qual Eterniel tinha entrado.

— É nossa melhor escolha, quem sabe conseguimos achar a saída. — Falou Denika.

As garotas foram na frente, enquanto isso Ray e Bryan foram ajudando Devyl a se reerguer, aos poucos ele parecia voltar a si e a cor retornava ao seu rosto.

A fenda dava no que os garotos presumiram ser um labirinto, não podiam voltar mais atrás, já haviam chegado até ali o melhor a fazer era entrar, o labirinto deveria proteger algo que poderia ser a saída dali.

Eles entraram e seguiram procurando a saída oposta, por muitas vezes deram de cara com paredes, mas não se deram por vencidos.

Enquanto isso, Eterniel, já cansado de esperar resolveu ir ver o porquê da demora, quando chegou à sala que eles estavam sentiu um misto de raiva e indignação, como eles poderiam ousar desobedecer suas ordens.

Então seguiu para a entrada do labirinto, aquilo foi até bom, eles aprenderiam rápido que não era nada inteligente ir contra ele. Quando chegou deu um assovio que ecoou por todo o labirinto.

— O que foi isso?

— Não sei Denika, mas não parece ser um bom sinal.

Assim que Morgan terminou de falar foi possível ouvir um uivo extremamente alto, que parecia ser uma resposta ao assovio.

Os garotos continuaram, seguindo até que começaram a ouvir passos .— E agora, o que faremos? — Perguntou Devyl, ainda trêmulo e voltando a ficar pálido.

— Não há o que fazer, nós nunca acharemos a saída a tempo.

— Acho que devíamos seguir as setas no chão. — Disse Ray de súbito.

— Que setas? — Indagaram todos olhando para o chão e notando que setas no chão apontavam um caminho.

Dominados pelo medo, correram desesperadamente pelo caminho que as setas apontavam sem nem pensar onde elas o levariam, a criatura que os seguia estava cada vez mais próxima, quando alcançaram a saída do labirinto Eterniel já os esperava.

Logo atrás deles vinha um enorme Huski Siberiano que era aproximadamente cinco vezes maior que um cão comum. O cão passou direto por eles, vindo se deitar aos pés de Eterniel, quase que implorando por um afago.

— Vejo que vocês já conheceram o Baco, ele não é adorável? — Falou, fazendo um cafuné no cão que era bem maior que ele.

— Adorável? Você é um louco! Esse cachorro poderia nos destroçar com facilidade.

— Você está certo Devyl, mas não é da natureza dele atacar quando não é ordenado, isso foi só uma amostra do que posso fazer. Vamos logo, já perdi tempo demais por causa das gracinhas de vocês.

Dessa vez todos o seguiram, ninguém queria ser devorado por uma fera e depois de tudo aquilo seria difícil a situação piorar

Atravessando as fendas de volta os garotos chegaram a uma sala, onde existia uma mesa com seis bancos. Eterniel sentou-se em um deles.

— Sentem-se. — Falou-lhes com uma voz falsamente acolhedora.

— Preferimos ficar em pé. — retrucou Bryan.

— Sentem-se logo, não testem a minha paciência! — Exclamou Eterniel — Já estamos atrasados demais, vou explicar tudo rapidamente a vocês, mas, por favor, não me interrompam.

—Vocês são a geração escolhida, para guardar e zelar pela humanidade, vocês foram chamados para serem os guardiões de toda a existência.

— Guardiões? Como?

— Morgan, não me interrompa novamente.

— Está bem. Acalme-se

— Bem ,prosseguindo desta vez espero que sem interrupções. Como eu havia dito, vocês foram escolhidos para serem guardiões dos seus semelhantes. De geração em geração novas crianças são escolhidas para proteger a humanidade.

Falando isso, levantou-se e foi até uma parede que se abriu diante de um transpassar de suas mãos, era possível ver cristais alinhados formando uma prateleira, nela havia colares, gemas e outras relíquias, ele retirou de lá uma caixa dourada que estava na última divisão e com o passar de uma das mãos fechou a parede, escondendo novamente a prateleira. Ele levou a caixa até a mesa e sentou-se.

— Bem, vocês devem estar se perguntando como é que poderão enfrentar seja lá o que for sendo fracos e tolos como são.

— Ei! Olha lá como fala conosco. — falou Bryan.

— Certo, vou avaliar melhor o que digo. Continuando, como vocês crianças não são capazes de grandes feitos, receberão isso. — Ele abriu a caixa dourada, que liberou uma luz incandescente que lhes obrigou a fechar os olhos. Depois de alguns segundos a claridade diminuiu e puderam então ver o que se encontrava dentro daquela caixa. Havia cinco anéis de prata com pedras reluzentes, das quais parecia emanar uma forte energia, mas nenhum deles foi capaz de supor em que aquilo poderia ajudá-los, se é que toda aquela história era verdade.

— Em que isso vai nos ajudar? — indagou Denika, tentando acreditar em tudo que havia ouvido.

— Como já havia dito: esperar que crianças lutem contra atrocidades malignas com suas próprias forças seria estupidez. Para isso existem os anéis, eles permitem que vocês controlem os quatro elementos e a luz. Eles foram esculpidos pelo Pai, Criador, Deus, entre outros nomes que Ele recebe. Temendo que suas nobres criações, as quais Ele dedicou tanto tempo e amor, sucumbissem diante das forças do mal, ele criou os anéis para que seus filhos pudessem se defender.

— Mas por que Ele próprio não se livra do mal? — perguntou Ray.

— Seria muito fácil para Ele fazer isso, porém Deus deu aos seres humanos o livre arbítrio, direito ao qual nunca pensou em revogar. E se interferisse no destino de suas criaturas estaria revogando isso. Contudo, seu amor fraternal não lhe permitiu deixar seus filhos desamparados, então a cada geração cinco seres são escolhidos para essa luta, o futuro de tudo e todos pertencem a vocês.

— E se não quisermos tamanha responsabilidade? — perguntou Devyl.

— Bem, deixe que eu seja mais claro: morrer lutando e tentando salvar toda humanidade ou morrer sem ter feito nada.

— Que ótimas opções! Ir de encontro à morte ou esperar que ela venha a nosso encontro. Existe uma opção que nos deixe vivos? — Morgan perguntou ,com seu pessimismo característico.

— Os humanos vêm vivendo a cada dia mais superficialmente, é uma honra ceder sua vida em nome de uma causa nobre.

— Mas afinal, que mal é esse que teremos que enfrentar? No nosso povoado as coisas estão cada vez mais calmas.

— Você está certo Ray, suas especificações também, “no seu povoado” tudo está realmente calmo, mas uma pergunta: você sabe quem foi à última pessoa que saiu do povoado e retornou?

— Eu não sei. Para falar a verdade, não me lembro de nenhum.

— Não teria como você lembrar este fato, pois a ultima pessoa que saiu do vilarejo e retornou, o fez há aproximadamente trezentos anos, no ano de 1692, desde então todos que saem não voltam mais. O povoado está em paz, mas não o resto do mundo.

— Mas porque ninguém volta? — perguntou Bryan.

— Sejam realistas, vocês nunca acharam estranho um povoado no meio de uma floresta, onde todos os moradores nasceram e cresceram nele sem nenhum conhecimento de tudo que existe lá fora? O povoado de Armatran é o último lugar sagrado ainda existente na terra. Um a um esses locais sucumbiram diante do mal e só os nascidos no solo sacro podem ser os guardiões. Antes estes vinham de diferentes partes do mundo, mas agora, só podem vir do seu povoado.

— Incrível! — exclamou Ray.

— Com um simples pensamento lógico vocês perceberão que se o último povoado for corrompido, os guardiões deixarão de existir. Para impedir que o pecado chegasse até Armatran, eu conjurei uma cúpula que impede que qualquer pessoa impura entre no povoado, por isso quem sai não consegue achar qualquer coisa que não sejam árvores.

— Isso é muito estranho. — falou Denika.

— Existem mais coisas entre o Céu e a Terra do que supõem a nossa... Na verdade a sua filosofia.

— Você tem poderes como os que vamos ter? — inquiriu Ray.

— Não como os dos anéis, meus poderes são divinos.

— Você é um anjo?

— Quem me dera jovem Bryan, porém sou o elo mais próximo dos humanos com os anjos. Ainda tenho muito a evoluir antes de me tornar uma criatura iluminada, como tutor de vocês devo aprender e melhorar a cada dia.

Ele levantou, e um a um foi entregando os anéis.

— Denika, para você a leveza do ar. Terra para alguém com a sua solidez, Morgan. Entrego-lhe a benevolência da água, Ray. Fogo inconsequente, porém corajoso para você. Devyl e por último entrego a você, Bryan o poder da luz para que ilumine o caminho de seus companheiros.

Ambos receberam os anéis e os colocaram logo em seguida. Todos sentiram emanar deles uma força que parecia preencher todo o seu ser.

— Essa energia é inacreditável! — exclamou Morgan.

— Cuidado, vocês tem em mãos armas que os cientistas, nem em seus sonhos mais futuristas, seriam capazes de imaginar. Muito cuidado, não tentem fazer nada ainda.

— Por quê?

— Não seja afobado Ray, como tutor de vocês é meu dever ensiná-los a usar os anéis e óbvio, evitar que vocês se explodam tentando usá-los de maneira inconsequente.

— Então nos ensine logo!

— Eu preciso de tempo para isso, é melhor que vocês voltem para casa. Seus pais devem estar preocupados.

— E o que falamos para eles?

— Bem, digam que estavam brincando e não viram o tempo passar, não citem nada sobre tudo que ouviram aqui, na verdade não falem nada do que aconteceu aqui, senão só existem duas opções: ou vão tratar vocês como loucos ou irão colocar-lhes em uma fogueira.

— Certo, não vamos falar nada.

— Como vamos sair daqui. — perguntou Devyl.

— Isso é um problema simples. Vou mandar-lhes para entrada da floresta, mas vou ensinar como voltar aqui. Bryan, você como líder é o único que pode trazer os outros para cá, para chegar à caverna diga a seguinte frase: “divino lumine”. Assim que falar, vocês serão transportados direto para cá e devem estar sempre juntos para vir até aqui. — Todos concordaram com acenos de cabeça.

— Então está tudo certo, estejam aqui amanhã cedo. Todos, sem exceções. Adeus. Divino lumine.

Os garotos viram sumir diante de seus olhos o chão resplandecente da caverna e viram surgir o solo da floresta, estava, na entrada do povoado. Foram surpreendidos pelo impacto que fez todos caírem.

Os garotos se separaram, cada um se dirigindo para sua casa, já estava quase anoitecendo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse capítulo, deixem reviews para que eu saiba o que estão achando, faça esse pobre autor feliz.