7 Gatsu Youka escrita por Yukari-chan


Capítulo 2
Second


Notas iniciais do capítulo

Foi betado pela Miihzenya shushu (ou seja, se tiver algum erro a culpa é dela *aponta*).
Demorei mas voltei :B
E só pra constar, o Nyah está "engolindo" texto e colocando umas coisas tensas no meio da fics às vezes. Se notarem alguma coisa, me avisem por favor!



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“I tuck you in ever so gently
Still you cried and turned from me
You stepped on my heart
I forgave you just like mothers do
From under your shoes I still carried you”

(Seventh Wonder)

[02. Second]

O destino sempre gostou de me fazer de idiota no final das contas.

*~*

Por um momento, ele apenas ficou ali parado e imóvel. Na verdade, os dois ficaram. Até que o mais alto se abaixou, juntando o celular que havia caído no chão.

-Foi uma bela queda, mas acho que ele vai sobreviver. – ele disse, enquanto analisava o aparelho e mantinha o sorriso doce nos lábios. – Quem é... Uruha?

-Você. – Taka replicou na mesma hora, antes que pudesse se conter e perceber como aquilo soaria... Espere, a verdade, soava tão certo que chegava a ser agourento. O nome que tinha dado ao homem sem rosto parecia ter sido criado para o loiro a sua frente.

Foi a primeira vez que notou como o futuro cunhado era... Lindo. Não se lembrava daquele garoto ser tão bonito. Tudo que lhe vinha à mente era um moleque mirrado e alto demais. Nada que pudesse servir de comparação com o loiro que estava ali agora. Era um engano. Só podia ser.

-Desculpe, eu... Te confundi com uma pessoa.

-Com um órfão que falava demais. – ele riu. – Acho que mudei um pouco, mas não ao ponto do Uruha e tudo o mais. – gracejou enquanto entregava o celular novamente para o dono.

-É... Você... – franziu o cenho, e gostaria de poder tocar o rosto do outro naquele momento, uma certeza de que era real – Eu... Esqueci seu nome. Mas eu precisava tanto lembrar que... Te dei um. E para um garoto solitário... Você sempre pareceu... Digno de se chamar “Uruha”. – se não havia engano, ele podia ser sincero, certo? Já que havia se esquecido até mesmo do nome daquele que o salvara quando criança, ele merecia a verdade.

-Nomes são coisas complicadas.  Podemos começar de novo. Sou Takashima Kouyou. – estendeu a mão.

-Você vai casar com a minha irmã... – foi o que Taka conseguiu responder. Seu herói de infância ia casar com a sua irmãzinha querida. Não conseguia decidir se isso queria dizer que podia odiá-lo ou não.

-Ah, isso. Bom... Foi uma surpresa pra mim também. – Kouyou riu. – Um dia eu cheguei aqui, morrendo de medo de conhecer meus futuros sogros... E lá estava uma foto de um garotinho chorão em cima da lareira. Mas então... Ele já não era mais chorão, estava sorrindo.

“Eu fiquei muito feliz.”

O loiro riu, voltando a se debruçar na sacada. E de alguma forma, Taka soube que o sorriso dele ainda era o mesmo.

-Você a ama?

-Uhn. Afinal, vou casar com ela.

-Isso não foi o que eu perguntei.

-Ela é mais que isso. – Uruha disse depois de um momento de silêncio. – Ela é... Minha família, minha melhor amiga, meu porto seguro. Tudo que eu tenho. – ele voltou a se calar, e demorou mais longos instantes antes que voltasse a falar. – Eu fiquei no orfanato, até os 18 anos.

“Pessoas iam e vinham. Garotos entravam e saíam. E eu continuava lá. E um dia me disseram que eu podia ir, e eu sabia que seria assim, mas não foi menos assustador. Eu usei o dinheiro que tinha guardado de meus trabalhos de meio-período e arrumei outros empregos. E fui vivendo.

“A coisa mais importante pra mim era ter o que comer no final do dia. E foi assim até eu conhecer a Sae.”

Takanori sabia o que ele queria dizer com isso. A primeira pessoa que não o julgou por ser um órfão sem futuro. Alguém que havia apenas lhe sorrido e sido gentil. Aquela que enxergou o ser humano por baixo de todas as denominações pejorativas. Era exatamente isso que Sae era; boa. Capaz de aquecer qualquer um com um sorriso.

-A Sae é... Muito mais do que eu pensei que teria um dia. – ele prosseguiu. – Me fez estudar, me ajudou a entrar na faculdade. A me formar. Foi meu anjo bem antes de ser a minha namorada. Ela se tornou tudo pra mim... E tentar ser tudo pra ela, é o mínimo que eu posso fazer...

“Mesmo que não vá conseguir, porque bom, ela tem vocês.”

Na verdade, o mais baixo corrigiu mentalmente, nós é que a temos. Era impossível para Taka imaginar a vida sem Sae: sem os sorrisos e abraços calorosos, sem o ombro onde chorar, sem a pessoa que sempre o amou incondicionalmente.

Foi quando decidiu que jamais poderia odiar Uruha por estar com ela. Não poderia culpar ninguém por querer tê-la em sua vida, ninguém jamais iria deixar de se apaixonar por Sae e seus sorrisos.

E mesmo que fosse por qualquer outra coisa, jamais poderia odiar Uruha. Jamais poderia deixar de se sentir bem na presença dele. Porque mesmo naquele momento, quando o silêncio se instaurou entre os dois, ele percebeu que seria sempre aquela criança chorona perto do loiro; a criança que a presença dele iria sempre confortar.

Em pensar que Kou tinha sofrido tanto, enquanto ele tinha Sae, um pai e uma mãe. Bolos de aniversário e mais brinquedos do que conseguia usar. Carinho, amor; uma família.

Mais silêncio por um tempo impreciso. Só o barulho das folhas secas na grama podia ser escutado.

-Eu fui feliz. Tão feliz que não poderia descrever. Tão feliz que doía... – Taka disse por fim, apertando as barras de madeira do parapeito. – Doía porque eu não conseguia me perdoar por ser feliz sem você.

-Eu... Sinto muito por isso. Na verdade... – Kou pareceu perdido nas palavras. Ele estava se DESCULPANDO? Depois de Taka dizer que o havia esquecido e sido feliz sem ele, Kouyou estava se desculpando?

Não faz sentido.

-Pare com isso! – o menor falou num rompante. – Você não tem que ser tão bom, você devia ter raiva de mim. Eu saí de lá, tive uma família. Eu fui tão feliz! Porque você está se desculpando?

-Por estar roubando parte da sua felicidade. Pode me perdoar por isso? – Kouyou sempre mantinha a mesma face serena, como irritá-lo fosse a coisa mais impossível do mundo, e isso por si só era bastante irritante para Taka.

Na cabeça dele se formava a imagem de Kouyou e Sae juntos. Eles seriam alguma espécie de casal perfeito e sorridente como os de doramas, e as brigas mais sérias que teriam seria pra escolher a cor do papel de parede da sala. Parecia estranho. Certo e errado. As duas pessoas que ele mais amou na vida o estavam deixando assim... Logo depois de ele ter finalmente reencontrado uma delas.

-Acho que sim. – respondeu por fim. – Encare isso como uma quitação de débito. E só tenha certeza de nunca ir me visitar, não acho que queira te ver com ela.

Se ele fosse ser sincero, a frase correta a se dizer seria “Não quero ver vocês dois felizes sem mim, sabendo que nunca serei para vocês, aquilo que foram para mim.”. Era algo egoísta de se pensar, e Sae ficaria magoada quando ele começasse a inventar desculpas para não vê-la.

-Uhn... Isso vai deixá-la triste.

Nada mais foi dito até que Sae aparecesse pra chamar os dois com uma bandeja de biscoitos recém-saídos do forno. Mas uma frase morreu na garganta de Taka naquele momento... “Vai me deixar ainda mais.”.

*~

Você era meu destino ou a ironia dele?

~*

Queria um amor assim. Mas se as duas pessoas capazes de amar daquela forma, estavam agora juntas, o que sobrava para ele? E mais importante, porque ficava pensando nessas coisas?

Tinha vindo pra casa passar as férias, e acabado jogado no sofá tendo dó de si mesmo deus sabe porque. No final das contas apenas não tinha vontade de fazer nada. Nem sair com os amigos dos tempos de colégio, nem visitar os tios chatos, nem procurar algo útil pra fazer para passar o tempo... Continuava apenas jogado no sofá da sala.

Sae-nee estava ocupada com os preparativos para o casamento, coisa que sua mãe compartilhava. O pai era um workholic... E em dois anos sem aparecer em Osaka nem sabia direito por onde andavam os amigos... Bom, tinha Uruha.

Uruha estava sempre por ali, e parecia mais filho do Senhor Matsumoto que o próprio Takanori. Em parte porque tinha paciência pra escutar o sogro falando de negócios, em outra parte porque, bem, Uruha é o tipo cativante de pessoa do qual é difícil não gostar.

“Até mesmo o Taka-rabugento gosta dele!” tinha comentado a senhora Matsumoto. E mesmo que naquele instante Ruki tivesse bufado, não deixava de ser verdade.

Gostava de Uruha de uma maneira especial, sempre soube disso. O que o chateava, era o fato de que talvez, estivesse gostando ainda mais de Takashima Kouyou do que gostava do anjo sem rosto de seus sonhos. Pegou uma das almofadas do sofá e começou a socar a própria face com ela, agindo da maneira infantil tão própria dele.

-Continue assim, está quase conseguindo se nocautear! – uma voz divertida soou, e Taka parou imediatamente, olhando Kouyou entrar na sala com dois arranjos de flores, um em cada mão.

-Continue assim e pode abrir uma floricultura. – retrucou em tom azedo.

-Não são bonitos? – retrucou sem se deixar abater pelo mal-humor do cunhado. – Sae vai escolher qual dos dois vai enfeitar a recepção, escolhi Lírios e Azaléias.

“Oh pelo amor de deus! Pare de ser perfeito. Porque você não pode ser um babaca como todos os outros homens do mundo?” O pensamento veio tão forte que o menor quase teve medo de ter dito aquilo em voz alta. Porque ele tinha que saber as flores preferidas de Sae? Porque ele tinha que ajudar com os preparativos do casamento? Ser prestativo? Porque ele tinha que estar ali TODOS. OS. MALDITOS. DIAS.

-Quando tiver terminado sua luta com o travesseiro da sala, quer ir conhecer nosso novo apartamento?

-Não.

-Porque não? Duvido que você tenha muito o que fazer... – retrucou enquanto deixava os enfeites em cima da mesa da sala para que Sae pudesse vê-los assim que entrasse.

-Você perguntou se eu queria ir. Eu respondi.

-O que você quer fazer então? – se sentou no outro sofá da sala.

“Ignorar completamente a sua presença.” Voltou a colocar o travesseiro sobre o rosto e se acomodar no sofá.

-Nada. – foi o que ele acabou por responder.

-Então vou fazer nada com você. – o loiro se esticou no sofá em que estava colocando também um travesseiro sobre o rosto.

Taka acabou espiando pelo canto do rosto. Decidiu ignorar. E conseguiu fazer isso com sucesso por quase dois minutos inteiros.

-Dá pra você ir fazer nada em outro lugar? Esse é o meu lugar de fazer nada! – meu deus, podia ser mais infantil e ridículo que isso? Porque estava fazendo aquilo?

-Te deixo fazer nada em paz se você fizer algo mais útil que nada comigo primeiro.

-Nem uma chance em mil anos.

~

Como tinha acabado ali? Onde tinham ido para os mil anos sem uma chance? De todas as pessoas do mundo, tinha acabado saindo de casa junto com ele? Com certeza ele estava fazendo isso porque Sae ou seus pais haviam pedido que o fizesse.

Jogou a cabeça pra trás deixando que ela batesse no banco do carro de Kouyou. O estofado tinha o mesmo cheiro de colônia que o loiro. Chegava a ser insuportável como o cheiro parecia estar impregnado em todos os cantos nos últimos tempos. Será que já estava lá quando eram crianças... Não conseguia se lembrar.

-O que pretende fazer depois de me seqüestrar? Já disse que não quero ver seu apartamento.

-Não é bem um seqüestro se você entrou no carro por conta própria. – o loiro riu. – E não estamos indo para o meu apartamento.

-Conta própria?! Você chama aquilo de conta própria? E o que você...

Foi interrompido pelo carro parando. E sua surpresa foi tanta, que demorou mais alguns segundos para conseguir fechar a boca. Nunca, nem em seus piores pesadelos, havia pensado em voltar até aquele lugar.

-Me ajuda com as coisas na mala? – Uruha falou descendo do carro.

-Aqui... Você... O que... Isso não tem graça! – bufou irritado batendo a porta do carro.

-Tem sim, pode ser absurdamente engraçado e divertido. Principalmente quando eles sorriem pra você. – sentenciou, esticando uma das sacolas para o menor.

-Kouyou ouji-san! Kouyou ouji-san! – vozes felizes ecoaram em uníssono assim que ele passou pela porta da frente do orfanato em que os dois costumavam morar. O lugar em que tudo começou.

-Ouji-san trouxe biscoitos e chocolate! – ele falou se abaixando e retirando da sacola que carregava um saco com chocolates e entregando para as crianças mais próximas. – E trouxe um ouji-san novo! Esse é Taka-chan, ele também morou aqui há muito tempo atrás.

Takanori ainda estava um pouco em choque. Aquele lugar parecia infinitamente diferente. O orfanato de suas lembranças era um lugar sombrio e sem vida... Mas por uma razão, aquele lugar agora parecia repleto de sorrisos.

-Eu sei que foi difícil pra você Taka... – Kou falou quando terminaram de distribuir biscoitos e chocolates, ler histórias e se deixar pintar com tinta guache. – Mas, não te faz sentir paz saber que podemos fazer ser um pouco mais fácil pra eles?

Eles caminhavam de volta para o carro, enquanto mais um dia terminava. Era difícil para Ruki dizer, qual foi a última vez que sentiu tanta paz.

-Você... Sempre fez ser mais fácil pra mim... Até quando não estava mais comigo. Porque eu queria ser forte como você... – “Mas agora tudo que eu queria... Era você.”. Congelou no lugar ao se dar conta disso, do absurdo que estava pensando.

Kouyou se virou para ele, e Taka apenas se lembrava de ter ouvido um leve “está tudo bem?” no qual não prestou muita atenção, antes de se esticar na ponta dos pés para alcançar com seus lábios os do mais velho, apoiando as mãos em seu peito.

E por um único instante que pareceu a eternidade, os lábios ficaram colados e tudo pareceu certo. Entretanto, o instante acabou, e ele era apenas um filho da puta que havia acabado de trair a pessoa que mais o amava no mundo.

Teve medo de olhar para Uruha e chorar, por isso apenas saiu em disparada na frente, correndo para qualquer lugar o mais longe possível. Longe do carro, longe de Kouyou, longe de Sae...

Era de novo uma criança de seis anos de idade, chorando perdida... E perdendo novamente seu Kou-chan.

Perdendo pela derradeira vez.

~~


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Notas finais do capítulo

Quero reviews, ou só posto o resto em 2013! u_ú