7 Gatsu Youka escrita por Yukari-chan


Capítulo 1
First


Notas iniciais do capítulo

Ai eu to sem paciência etc. Mas eu espero que vocês gostem. E que comentem, porque se não nem posto o resto.
A Miih linda betou pra mim, mas acho que ainda tem alguns erros porque eu estava meio bêbada quando escrevi lol



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Você acredita em destino?

Tudo aquilo que vive deve morrer. E o que acontece nesse meio tempo, já está decido sem que possamos fazer nada. É cruel. Talvez seja por isso que não consigamos lidar com o destino.

A primeira vez que te encontrei, foi um simples acaso. Será?

*~


Será que algum dia ele acostumaria com aquilo? Não havia nada que se pudesse fazer para que aquele garotinho pudesse parar de chorar, e mesmo quando ele não estava chorando, seu rosto era tão triste que era preferível que estivesse. Sempre é mais fácil quando se pode dizer que o choro é birra, ao invés de se enxergar a tristeza.


Há quanto tempo ele já estava naquele lugar? A noção de tempo de uma criança pode ser completamente distorcida. O que é um mês pra quem viveu tão pouco? Uma eternidade. E cada noite é um pesadelo completamente novo. Ainda mais quando se vai parar naquele lugar. Completamente só.


Não adiantava chamar pela mãe. Ele tinha tentado, mas ela não respondia. Mesmo antes, ela não respondia. Agora... Agora ele já não sabia onde ela estava. E aos poucos o rosto dela se transformava em um borrão negro em meio aos pesadelos noturnos. Só restavam os gritos, dos gritos dela, ele se lembrava.


–Taka-chan, vem aqui, vem com a tia. – disse uma das mulheres daquele lugar depois de tentar fazê-lo vir com ela de novo. O garotinho tinha se escondido em um vão dentro do prédio onde estava, e mesmo a mais magra das funcionárias do abrigo infantil não conseguia alcançá-lo.


–Deixa, ele vai sair quando tiver fome... – disse a outra com um suspiro. – Esse não tem jeito Miya. Vai ser mais um daqueles perdidos e acabar numa daquelas clínicas.


A mulher já tinha passado há tempos dos trinta, e na verdade não lhe faltava boa vontade, mas depois de tanto tempo trabalhando ali, se acaba perdendo a fé.


–Coitado, ele sofreu tanto, Aya... – a mulher mais velha, chamada Aya, deu um sorriso amargo. Já tinha sido como a mais nova, e tentado aplacar a dor do mundo. Quis cuidar de todas aquelas crianças, até perceber que não podia. E ao seu tempo, Miya também perceberia isso.


–É, o pai ficou bêbado e assassinou a mãe na frente dele a facadas e tentou matá-lo em seguida. E se ele está vivo agora é porque se escondeu, exatamente como faz agora. Você pode culpá-lo por isso? – ela suspirou, sabendo que aquilo era absurdo aquilo tudo. Mas não era nem de perto a coisa mais macabra que ela já vira a respeito das crianças que iam parar ali. – Ele ficou escondido, até a polícia chegar e o pai dele se matar com medo de ser preso.


“E vai ficar ai agora do mesmo jeito. Até achar que pode sair. Pobre criança, que Kami tenha piedade, mas já não há muito que possamos fazer. Pra ele, a pessoa que chama é a mesma que segura a faca.”


Abraçado aos próprios joelhos, e tentando fazer o choro sair baixinho, o garoto escutou os passos indo embora. Elas se foram e tudo era silencio. Não gostava do silêncio mais do que gostava do barulho. Na verdade, ele não sabia o que o assustava mais: quando chamavam por ele, ou quando os gritos ecoavam no vazio.


Aos poucos os gritos também chamavam por ele. Não podiam parar de chamá-lo? Só queria ficar em paz. Só queria sua mãe... Queria que ela dissesse que tudo ficaria bem, como ela sempre fazia. Bem baixinho no meio da noite. Não importava o quanto ela gritava antes, à noite ela o abraçava e dizia baixinho “Vai ficar tudo bem, ele não vai mais fazer isso.”.


Ele sempre fazia. Mas contanto que ela pudesse voltar e dizer que tudo ficaria bem, Taka aceitava até mesmo que ele voltasse a fazer. Só queria ir pra casa.


–Tudo bem se quiser ficar ai, não deixe elas te assustarem. – uma voz baixa e calma soou. O garotinho mordeu os lábios, do alto de seus cinco do alto de seus cinco anos, já tinha tido tanto medo que não sabia mais o que era olhar pra alguém sem senti-lo. Mesmo que ele não pudesse ver a pessoa que falava naquele momento, ele sentia. – Com o tempo, fica mais fácil.


Pela primeira vez ele quis falar. Como se o medo estivesse se esvaindo, ele quis perguntar “Fica mesmo?”. Era a primeira vez que alguém... Não tentava lhe dizer o que fazer. Nem o mandava parar de chorar. A voz baixa não se importou se ele chorava. Apenas o deixou chorar. E por mais vários minutos ele chorou. “Não, não fica mais fácil. Okaa-san também mentiu quando disse que ficaria tudo bem.”.


–Os fantasmas não somem. Eles nunca somem. Mas com o tempo, eles se calam. – a voz voltou a soar.


Taka enxugou as lágrimas. “Como, como eles se calam?” mais uma pergunta que morreu antes de sair por seus lábios.


–Não sei como, mas um dia passa. O que tinha antes também passou...


–Prefiro antes...


–É o destino. Foi o que me disseram. Ele não pergunta, ele chega. E com o tempo... – era como se naquele momento ele desse de ombros, foi o que o garoto imaginou mesmo que não pudesse vê-lo. Talvez quisesse vê-lo... Porque ele não o estava chamando, ele queria vê-lo.


Se esquivou para fora do vão, dando de cara com um garoto magricela e alto. Bem mais alto que ele. Devia ter onze ou doze anos, e sorriu ao ver Taka. Estava sentado encostado na parede ao lado de onde Taka se escondia.


–Sou Takashima Kouyou. – ele disse inclinando levemente a cabeça para o lado. Kouyou não tentou tocar Taka. Não tentou se aproximar. Apenas ficou ali com seu sorriso infantil... Mais infantil que o de Taka, apesar da idade.


O pequeno o observou por mais um segundo enquanto terminava de limpar o rosto na manga da camisa velha que usava. Era como se sua cabecinha pensasse se aquele garoto merecia saber seu nome. Taka chegou a conclusão de que sim.


–Eu sou...


–Não me diga seu sobrenome. – Kouyou falou de maneira apressada. – Você ainda é novo, não é como eu. Você vai ter sorte e sair daqui com uma mãe, um pai e uma família que vai cuidar de você, eles fazem isso com os garotos mais novos. E então, depois disso você me conta qual vai ser o seu sobrenome.


De sua maneira infantil, era como se ele dissesse que Taka não precisava se lembrar das tristezas, só da felicidade. Nenhum dos dois conseguia entender aquilo no momento, mas de alguma forma, fazia sentido.


–Uma mãe? E você não vai ter uma mãe?


–Hmm... Eu cheguei aqui com nove anos... Depois dos oito é muito difícil que uma mãe te queira, mães gostam de bebês eu acho.


–Eu não sou um bebê! – O menor protestou.


–Eu queria ser um bebê, quem sabe alguma mãe gostasse de mim.


Taka fez um bico, como se concordasse com o tal Kouyou de má vontade, e por fim chegou a conclusão de que queria uma mãe sim. Ele queria a sua mãe, mas não lembrava mais do rosto dela. Tudo tinha ficado escuro no passado. Só tinha a voz dela dizendo “Tudo bem”. E os gritos.


Então, podia ser uma mãe como a sua com outro rosto.


–Takanori. – disse por fim. – Tudo bem se eu tiver só uma mãe? Não quero ter um pai.


–Não sei. Talvez você tenha até um irmão.


–Um irmão? – fez uma cara azeda. Não queria um pai! Não queria um irmão! Queria uma mãe pra lhe abraçar.


Mas enquanto os dias se passavam naquele lugar, ele mudou de idéia. Decidiu que poderia ter um irmão se ele fosse Kouyou. Se ficasse conversando com ele de noite pra que ele não tivesse que ouvir os gritos, ou lhe fizesse cafuné até ele dormir e lhe contasse histórias. Do mesmo jeito que Kouyou fazia.


“Ruki bolachinha”. Aquilo irritava Taka. Mas com o tempo, até mesmo isso ele decidiu que tudo bem se viesse de Kou-chan. Ele só se zangava quando o Kou brincava com os meninos mais velhos e se esquecia dele. Se Kou fosse seu irmão, então poderia ser só dele, era o que pensava.


Seu Kou-chan. Com o tempo, ficou mesmo mais fácil. E os gritos sumiam, porque Kou o abraçava até que ele dormisse, e afastava todos os fantasmas. Kou-chan não era só seu irmão, era o seu super-herói intocável, e a única pessoa que Taka permitia que entrasse em sua vida. E decidiu que tudo bem em viver assim. Por isso nunca mais disse pra ninguém seu sobrenome.


Não porque queria uma mãe, mas porque queria Kou-chan.


Mas Kou nunca mentiu. Nunca. E por isso, assim como ele prometeu, Taka ganhou de um dia para o outro um pai, uma mãe e uma irmã. E sendo assim, mesmo que um ano tivesse se passado, na sua última noite no orfanato, Takanori não chorou menos que na primeira. Só que dessa vez, nem o abraço de Kou-chan conseguia acalmá-lo.


–Está tudo bem. – Kou deixou que Taka chorasse, e por fim falou aquilo, quando as lágrimas já haviam cessado. – Você tem que ir fazer uma mamãe e um papai felizes, sendo um bom filho.


“Um dia, ainda vamos nos ver Ruki bolachinha, quando todos os fantasmas tiverem sumido. Nesse dia você vai sorrir, vai olhar pra mim e não vai ter receio em me dizer seu nome. E vai dizer ‘Eu sou feliz’. E eu vou sorrir também.”


Kou nunca tinha mentido. Então aquilo também era verdade, certo? Taka levantou o rosto e recebeu um beijo na testa.


–Eu sou feliz. – Kouyou riu com as palavras do menor.


–Você vai ser mais. Muito mais. – ele sentenciou.



*~


Da segunda vez que te encontrei, não foi acaso.

Foi o destino que você previu, não foi?


~*





Durante muito tempo, ele não foi feliz. Quando Kouyou foi embora, os fantasmas voltaram. Não conhecia aquela casa nem aquelas pessoas. Não conhecia aquela mãe. Aquilo era sua família? Não os queria. Assim como não queria aquele orfanato quando foi parar lá.


Aquela mãe lhe dizia o que fazer. Aquele pai brigava com ele. O único motivo de não ter sumido, ido procurar Kou-chan, foi não saber onde ele estava, de início. E depois, foi sua irmã.


Ela devia ser da mesma idade que Kouyou, e tinha olhos gentis. Matsumoto Sae foi a única que percebeu que ele talvez só precisasse se sentir em casa. De início parecia que ela queria tomar o lugar daquele que ele havia eleito irmão e super-herói.


Foi a paciência infinita da garota que o conquistou aos poucos. Sae era tão sozinha, que os pais decidiram lhe dar um irmãozinho. E ela decidiu que faria de tudo para conquistá-lo.


Uma gravidez àquela altura era impensável, resmungava a senhora Matsumoto. O senhor Matsumoto concordava, estavam muito ocupados para pensar em ter um bebê, mas aprovavam a idéia de ter um filho, um menino. Ele seria companhia para Sae e o filho que o Senhor Matsumoto queria.


Os Matsumoto poderiam ser ocupados, mas isso era tudo que se podia dizer deles. Nunca fizeram distinção entre Takanori e Sae. E a condição financeira elevada cobrava seu preço, a ausência. O garoto decidiu que os amava, com o tempo. Só que sua mãe deveria ser Sae-nee.


Sae-nee que o colocava pra dormir, agüentava sua birra e lhe fazia cafuné, o ajudava com a lição de casa e sempre o defendia quando os meninos diziam que ele não era filho dos Matsumoto. Sae se transformou em sua nova heroína, e passou a Kouyou o anjo com o qual ele sonhava às vezes.


Com o passar do tempo, as memórias de criança ficavam para trás. Os fantasmas sumiam, mas sumia também o rosto daquele anjo qualquer. Durante muito tempo ele dizia o nome do seu primeiro amigo antes de dormir, como uma prece. Mas novos amigos surgiram, e não só o rosto, mas também o nome foram banidos.


Ele ainda se lembrava. Mesmo que de forma turva, lembrava dele. E não queria esquecer, por isso lhe deu o nome de Uruha, mesmo que não se lembrasse se ele era belo.


E foi assim que 14 anos se passaram. Entre sorrisos, festas de aniversário que ele nunca antes tinha tido, abraços e natais. Cantar os parabéns de seus vinte anos pareceu um breve piscar de olhos. Mas então, já não estava em família.


Quando completou 18 anos, Takanori foi para Tokyo estudar, assim como o pai queria. Sentia saudade dos pais, e principalmente de Sae. E estava também enciumado, afinal sua Sae-nee iria se casar em breve. E por mais patético que parecesse, ele não conhecia o noivo por birra.


Provavelmente ele detestaria qualquer um que fosse lhe roubar de vez a irmã, porque nisso ele ainda era uma criança e aquela irmã que fazia os melhores biscoitos de chocolate do mundo, era só dele. Infelizmente pra ele, apesar disso, dessa vez não poderia escapar.


O pai havia lhe dado um ultimato: ou ele vinha para Osaka para o jantar de noivado da irmã, ou a família iria para Tokyo fazer um jantar no apartamento dele, não importando o quão pequeno fosse. E no espaço pequeno ficaria mais difícil de fugir.


E era isso que o colocava chegando em casa com as malas nas mãos pela primeira vez em dois anos. A mãe veio da cozinha o abraçando e dizendo que estava magro. O pai disse que não tinha jeito, ele nunca iria crescer. E Sae.


Sae ria de longe, esperando pra dar o último abraço, e o que ele mais esperava, mesmo que ela o tivesse ido visitar há menos de dois meses.


–Quero biscoitos. – foi a primeira coisa que ele disse, com um bico quando se separou, e ela riu. Ainda não acreditava que ele iria se casar. Duvidava muito que ela fosse lhe visitar quando fosse uma senhora casada e com os próprios filhos pra criar.


Foi só então que ele notou aquela presença alienígena aparecendo na sua sala de estar, vinda da varanda da casa. Era ele? Um loiro muito bonito, mas que Taka pensou imediatamente que deveria ser azedo ou metido a besta. Até que ele abriu um sorriso. Um sorriso que fez com que Tala ficasse completamente desarmado, era doce e infantil.


O tipo de pessoa com quem Sae deveria se casar, era aquele não é mesmo?


–Matsumoto Takanori. – ele falou o nome de Taka com um sorriso estendendo a mão. – Então este é você.


–Este sou eu. – Taka retrucou, achando estranho o cumprimento, mas estendeu a mão.


E então a irmã falou que iria assar os biscoitos. A mãe voltou para a cozinha. E o pai disse que iria comprar mais cerveja. Bando de traidores, Takanori pensou. Me obrigando a ter uma conversa forçada com o cara que vai seqüestrar Sae-nee da minha vida.

–Eu entendo a sua revolta, ela é muito boa para você simplesmente aceitar que alguém a tome de você.


–É. Você acertou. – Taka resmungou de volta e seguiu a contra-gosto o mais alto até a sacada, pegando o celular no bolso e digitando qualquer coisa para ter uma desculpa e não prestar atenção no loiro.


–E então, Ruki-chan, você foi feliz? – a voz suave soou, enquanto o homem se debruçava na varanda e olhava o horizonte.


O celular caiu por entre os dedos de Takanori e por um momento, o corpo se obrigava a obedecer qualquer ordem enquanto a mente trabalhava furiosamente.


–Uruha...?


A tarde daquele dia oito de julho se esvaía em laranja e rosa-bebê no horizonte. Era como se o sol poente estivesse levando consigo outra etapa da vida de Takanori.



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Notas finais do capítulo

Adoro fazer irmãos que acabam com a nossa vida q