7 Gatsu Youka escrita por Yukari-chan


Capítulo 3
Third


Notas iniciais do capítulo

Nossa, eu tô viva.
Qualquer erro de formatação, culpem o Nyah!
Não foi betado e eu tô com sono, por isso esperem MUITOS erros de digitação, palavras engolidas e etc.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/160296/chapter/3

Ele conseguia ouvir os passos de Kouyou atrás dos seus, e isso fez com que desejasse poder correr ainda mais rápido. E ele o fez, correu, correu, correu... Sem rumo. E quando o ar começou a faltar em seus pulmões, ainda assim, ele forçava as pernas a se mexer. Até que não podia correr, então apenas andava, e se arrastaria se preciso.

Faria qualquer coisa para não precisar encarar Kouyou. Daria tudo para não ter que vê-lo nunca mais. Queria apagar o presente e o passado. Queria abrir mão das lembranças mais queridas que tinha, porque aquilo machucaria muita gente.

Começando por ele mesmo.

Caiu ali mesmo, no chão de terra que se encontrava. Já não sabia o que doía mais; as pernas cansadas ou aquele maldito aperto no peito, a culpa entalada na garganta como se fosse sufocá-lo.

Era a droga do noivo de sua irmã. E ELE O HAVIA BEIJADO. Quantas mil leis do universo havia infringido em um único ato impensado? Nunca poderia olhar pra Sae e sentir paz novamente. Não apenas pelo beijo, mas porque mesmo sabendo que era o maior filha da puta da história, ele ainda assim queria Kouyou para si.


-Merda! Merda! – e quando percebeu, já estava chorando.

Não por Kouyou. Não por Sae. Mas, por ele. Por tantas coisas. Por estar se odiando, por todos os erros, por ter deixado Kouyou, por ter esquecido seu rosto, por nunca tê-lo procurado. Porque não o procurou? Podia ter feito isso, não podia?

Talvez não quando criança, mas quando estava maior... Porque não foi ao orfanato? Porque nunca fez nada pela pessoa que o havia salvado de tantas maneiras? Ao invés disso, deixou que Kou ficasse lá por todo aquele tempo. Esqueceu até mesmo seu nome.

Tendo todas as chances, ele deixou que a responsável por salvá-lo fosse a irmã. De uma maneira absurda, era exatamente como dizer que ele era seu, e havia sido entregue à Sae em sua mais ridícula omissão.

Deixou que a cabeça pendesse para trás, e deitou no chão, sentindo seu corpo todo doer. Por quanto tempo havia corrido afinal? E o mais importante, onde estava? Quase havia se esquecido, não estava mais em Tokyo. Aquela era uma cidade relativamente pequena, e por ali, quando se corria muito, não ia parar em um bairro distante, mas no meio do nada; exatamente onde ele estava.

Ou era um parque ou era uma área de reserva. Não sabia, mas sabia que não tinha como ter saído da cidade, a não ser que tivesse corrido por... Muito tempo. Afinal, quanto tempo tinha corrido?

Estava escuro. Realmente escuro, e não havia nenhum ponto de iluminação. Talvez fosse melhor assim, talvez fosse melhor se nunca o achassem. Kouyou se casaria com Sae, em algum tempo se esqueceriam dele, e ninguém nunca precisaria saber do quanto ele havia sido um desgraçado.

Se fechasse os olhos e dormisse, ainda estaria vivo de manhã? Claro que estaria, ainda teria que sofrer, as coisas nunca foram simples pra ele.

Desistiu da ideia de dormir assim que fechou os olhos: a imagem de Kou e a lembrança dos lábios dele nos seus o assolou. Não podia voltar pra casa, não podia dormir, não podia conviver com seus próprios pensamentos, era o próprio inferno na Terra. Não havia para onde fugir.

Literalmente, porque suas pernas doíam demais e ele não achava que iria muito longe. Devia te tido uma distensão muscular.

Fechou os olhos, usando todas as suas forças pra se concentrar em pensar em outras coisa. Mas tentar não pensar em Kouyou, já era pensar nele.

-Eu vou me casar. – sua ilusão agora tinha adquirido o formato da voz dele, aparentemente.

-Eu sei. Você vai se casar com a minha irmã. E eu passei a minha vida inteira, sendo um idiota. Você sempre esteve ali pra mim e eu nunca... Meu Deus, como eu fui estúpido.

“Estou pensando em todos os erros que me levaram a não te ter agora, ao invés de pensar... De pensar em como estou tão errado!”

Aparentemente a voz havia se calado. Ótimo. Ele não saberia mais o que dizer. Queria que ela parasse. A voz. As imagens. AS lembranças. E até o cheiro dele.

-Eu quis muito que fosse diferente. Pensava muito em você, mas isso faz muito tempo. – a voz estava agora ao seu lado. E não era uma voz. Era o próprio Kouyou, que se sentava ao seu lado fazendo as folhas farfalharem.

-Como... Como me achou?! Eu corri... Corri tudo que podia!

-Eu vi. Foi bem imprudente da sua parte. Tive dificuldade pra te acompanhar quando entrou aqui, e passei algum tempo tentando te achar de novo. Estamos numa propriedade particular, podemos ter problemas...

-Porque você está tão calmo? Você só pensa em onde estamos?! EU NÃO QUERO OLHAR PRA VOCÊ, eu nem mesmo acredito que disse todas essas coisas! POR DEUS, EU SOU UM HOMEM. SOU SEU CUNHADO. EU TE BEIJEI!

-Eu não estou calmo. – ele respondeu, encostando a cabeça em um dos joelhos. – Eu estou uma bagunça. Mas nós não precisamos de uma bagunça agora. Não precisamos reviver esse momento, mais do que já estamos revivendo mentalmente.

“Estamos?” Ele disse, “estamos”? Nós? Ele também estava pensando em Taka? No beijo? Em tudo... Tudo que havia acontecido, não só agora, mas anos antes?

-Você... – e Taka sabia que se arrependeria por perguntar isso. – Pensa em mim? Durante todo esse tempo, você pensava?

-Você não quer ir por esse caminho, Takanori. – o loiro respondeu simplesmente, enquanto mantinha a cabeça baixa. – Você não quer realmente que eu responda. Porque não vai ter volta.

Se virou pra o mais alto pela primeira vez e esperou pacientemente que ele levantasse os olhos e também olhasse para mim. Quando ele não o fez, apenas tocou seu braço gentilmente com a ponta dos dedos.

-Como posso não entrar em um caminho no qual eu nunca deixei de estar? – foi tudo que conseguiu responder. – Você sempre esteve em mim, comigo. Não importava o formato do seu rosto nem o quão bem eu lembrava da sua voz.

Era pra esculachar e dar a cara à tapa? Deveria ser. De que custava fazer a coisa certa? Estava perdido no meio do nada e já tinha feito todas as besteiras que poderia. Eles estavam ali e essa seria a única chance que teria de acertar as contas.

Os dois sabiam que na manhã seguinte voltariam a ser o irmão e o noivo de Sae, cunhados que se preparavam para um jantar de noivado. Tudo tinha que ser dito e enterrado ali, porque essa noite seria completamente apagada da história. Como se um pacto mudo estivesse sendo firmado ali.

Sabiam que concordavam e sabiam que tinha que ser assim.

-Penso. Nunca deixei de pensar. – Uruha respondeu depois de longos instantes, finalmente virando o rosto para olhar para Ruki. – E não faço ideia de como lidar com isso. Como eu não fazia ideia de como me acalmar naquele dia, porque sabia que ia finalmente te ver, sabia que era você... O que eu não sabia, é que seria... Assim.

Taka apoiou o rosto nos joelhos e voltou a fitar o nada. Pelo menos Kou estava preparado, de certa forma, para vê-lo. Para o menor, tudo havia sido infinitamente mais complicado, e alguém que nunca passou pelo desespero que ele havia passado, nunca entenderia a natureza ou a força dos sentimentos dele por Uruha.

Era algo que a razão estava longe de explicar.

Quando o viu, quando soube quem ele era, quando aquela sombra ganhou forma novamente e o vazio um nome... Deveria ser proibido sentir tantas coisas ao mesmo tempo. Era confuso e desesperador.

-Você não pode simplesmente voltar pra minha vida. A realidade por trás de você. – porque o contexto total nunca havia sequer saído.

-Não sou o que você esperava? – Uruha retrucou com uma leve curiosidade.

-Você é pior. – Taka fechou os olhos e tentou lembrar do que realmente imaginava. – Pensava que algum dia iria te ver do outro lado da rua e magicamente teria a certeza de que era você, como nos contos de fadas. Você também me reconheceria e iria sorrir de volta.

“Ia me contar como foi a sua vida e que havia sido feliz, que estava tão contente por me encontrar. Você me falaria da sua família e eu me sentiria leve no final e dessa vez quando te visse indo embora, não ia mais sentir que falta um pedaço de mim. Mas aconteceu exatamente...”

Porque não podia simplesmente ser assim? Ele poderia apenas ir embora. Nada tinha sido como na imaginação de Taka. E ele nunca mais o deixaria, quer em sua vida ou em sua consciência, agora seus olhos e seus lábios conheciam Takashima Kouyou.

Nunca mais terei paz. O pensamento lhe atingiu como uma bofetada.

-E então você quer que eu vá embora?

-E então... Eu gostaria mais que tudo de querer. Mas isso não importa... Em dois dias você vai estar oficialmente noivo e em três eu estarei de volta a Tokyo. Vou ter que te ver nos natais e feriados, vou te cumprimentar e perguntar como estão as coisas.

“Você vai responder que tudo bem, e eu vou fingir que isso é realmente tudo que eu gostaria de saber. E que não me importo de verdade com os seus problemas ou com a sua indiferença.”

-Eu não poderia... Realmente ser indiferente a você.

-Mas você vai. Você vai, porque eu preciso fazer a coisa certa e você precisa se casar. – “não vai ter voltar.” Nunca teve. Desde o momento que Uruha estendeu sua mão ao pequeno Taka, nunca teve volta.

-Eu quero me casar com a sua irmã.

-Eu sei. – e continuaria a não ter volta.

Nada teria volta, nem mesmo eles. Nem o que ficou por dizer. Nem aquele momento que nenhum dos dois esqueceria, mas que ficaria ali enterrado.

~*~

-Um brinde aos noivos. – a voz de Taka soou pelo salão que continha outras pessoas, não muitas, mas todas queridas.

Ele seria o padrinho, e era também o único irmão da futura noiva o que significava que teria que fazer tudo que detestava. Incluindo dizer mentiras em um brinde que ele não conseguiria realmente aguentar se tivesse escolha.

-Sae é minha única e estimada irmã e eu não desejo nada além de sua felicidade. – mas eu desejo que ela realmente não o ame, que depois de um tempo veja tomou a decisão errada, ele completava em pensamento.

Uruha mantinha a pose impecável ao lado de sua irmã. Não haviam mais se falado desde aquela noite. Apenas cumprimentos necessários e meneios de cabeça. Ele sempre esteve perdido para si, mesmo agora que o encontrara.

Por isso, sempre que Uruha havia tentado se aproximar mais que o estritamente necessário nos últimos dois dias, ele dava um jeito de fugir tão rápido e desesperadamente quanto pudesse.

Takanori só esperava estar parecendo menos... Miserável do que se sentia.

-Que você seja muito feliz, Sae. Kouyou-san me parece... A melhor das pessoas. – foi um discurso fraco e inexpressivo. Por sorte todos atribuiriam isso a apenas mais uma das birras de Takanori com o noivo da irmã. Não poderiam estar mais enganados.

Era mais fácil falar exatamente o contrário.

Todos brindaram e deram felicitações ao futuro casal. Ruki respirou aliviado, poderia ir pra casa e esquecer – ou tentar – tudo aquilo... Até o dia que tivesse de voltar para o maldito casamento.

Pelo menos tinha arrumado uma desculpa para dar para os pais, e conseguiria voltar para Tokyo no dia seguinte. Fingir que Kouyou não existia era exatamente o que pretendia fazer. Por isso apenas se esgueirou para fora da festa o mais sorrateiramente que podia.

Suspirou aliviado quando finalmente conseguiu chegar na santa paz ao corredor do andar superior da casa.

-Taka. – porque, deuses?!

-Por favor, Kouyou-san, não deixe que eu o preocupe. A festa é sua. – disse sem se virar.

-Taka, não precisa ser assim.

-Mas é exatamente assim que vai ser.

-Eu quero casar com ela, Taka. Eu tinha certeza absoluta disso quando a pedi em casamento, ela é completamente maravilhosa, é boa, é gentil... – mas ela não é você.


A mão de Kouyou puxou o braço de Takanori na altura do cotovelo, fazendo com que o menor fosse virado para si. Taka deixou cair uma lágrima, que tratou de enxugar rapidamente, aquilo rasgava seu orgulho.

-Saia da minha vida.

-Não posso... – e ninguém soube dizer se foi impulso ou vontade, mas os lábios deles se uniram novamente.

Poderia ter sido por iniciativa de qualquer um deles, ninguém saberia realmente dizer. Poderia ter sido por parte dos dois. Precisavam um do outro, e saber que isso era errado não mudava esse pequeno fato.

Não fazia sentido, estavam ali, realmente se conhecendo havia apenas pouco mais de uma semana, quem poderia explicar essa necessidade? Como poderiam magoar aquela pessoa a qual ambos tanto amavam?

Quando finalmente se separaram, Ruki não conteve as outras lágrimas, e apenas se agarrou ao peito de Uruha enquanto elas caíam lentamente.

Uruha dividia espaço em seu peito entre desespero, culpa e remorso. Mas ao mesmo tempo sabia que não poderia ter evitado aquilo.

-Não posso fazer isso. – ele disse por fim, fechando os olhos e sentindo o cheiro doce dos cabelos de Taka enquanto os afgava. – Não posso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Essa fic deveria ter apenas três capítulos (sendo esse o último). Mas fics tem vida própria e essa adquiriu uma densidade INFINITAMENTE maior que a planejada. E ela é muito mais um jogo de sentimentos que qualquer outra coisa. Por isso, acho que ainda temos mais uns 2 ou três capítulos pela frente.
Juro que vou tentar acelerar. Reviews = love ♥