Mike colocou o teclado de lado e se jogou em uma poltrona ao lado de Dave, um pouco pensativo. Dave, que beliscava alguns petiscos, notou a aflição de Mike

- O que você tem, Shinoda?

- Nada de mais, só estou um pouco preocupado com a Anita.

 - Relaxa cara, não deve ser nada demais, TPM talvez, mas o Chaz ta lá, ele a conhece a mais tempo, deve saber qual o problema dela.

- É, você deve estar certo, mas eu me sinto excluído de tudo isso sabe? Nós estamos namorando, mas mesmo assim tem horas que parece que eu não sei nada a respeito dela.

- Vocês só estão no começo cara, ainda vão ter tempo de se conhecer melhor.

Phoenix abocanhou mais um salgadinho e sorriu com a boca meio cheia para Mike. Talinda se aproximou deles com a expressão um pouco apreensiva e se sentou de frente para os rapazes.

- E então Tali, como a Anita está?

- O Chester falou que ela estava bem, mas...

- Mas o que? Você acha que ela ainda está passando mal?

- Na verdade é coisa da minha cabeça, é besteira.

Mike estremeceu, olhou de esguelha para Phoenix, que entendeu o recado mudo do amigo e deixou os dois a sós, indo sentar ao lado de Brad e Joe, que haviam se apossado do teclado de Mike e agora tocavam músicas de outros artistas.

- Pode falar Tali, eu quero ouvir.

- Eu não sei se você vai gostar, talvez você até ache que é coisa de esposa ciumenta, na verdade realmente é coisa de esposa ciumenta e...

Ele desviou os olhos para a porta do quarto de Anita que ainda permanecia fechada.

- Não se preocupe, eu realmente estou disposto a ouvir.

Talinda respirou fundo e se acomodou melhor na poltrona.

- Eu não sei Mike, eu acho o relacionamento da Anita e do Chester muito estranho, depois que ela apareceu lá em casa ele ficou diferente, meio distante. Você também já notou algo do tipo?

Sim, ele havia notado. Anita ficava visivelmente nervosa quando ele começava a falar no amigo, retraía-se na presença dele e parecia até se perder dentro da própria mente nesses momentos. Talinda estava desconfiada de algo, mas Mike não pretendia colocar mais lenha na fogueira, ele a conhecia o suficiente pra saber que ela nem de longe era uma mulher de sangue frio e se ele atiçasse ainda mais a desconfiança dela muita merda poderia acontecer e talvez aquilo tudo fosse só insegurança da parte dos dois, além disso, Mike confiava em Anita.

    - Acho que não notei nada Tali.

Ela soltou o ar, um pouco desolada. Estava se odiando por desconfiar do próprio marido. Ele nunca havia feito nada do tipo, mesmo com todo o assédio das fãs, Chester se manteve fiel desde que se casou com ela. Ela o ajudara a lutar contra os vícios e ele se tornou uma pessoa mais tranquila, ela gostava do que ele havia se tornado depois da maturidade, era um pai carinhoso, um esposo amável e a fazia muito feliz. Ela o amava mais do que já havia amado qualquer outro homem e nunca havia tido motivos para desconfiar dele, pelo menos não até agora.

- Deve ser só coisa da minha cabeça mesmo.

Mike esboçou um sorriso, mas Talinda via algo de diferente na expressão do asiático, ele parecia estar tão apreensivo quanto ela. Será que ele havia mentido a respeito de não ter notado nada?

- É, não fique cismada com isso Tali, ele te ama não é mesmo? Você e as crianças são as coisas mais preciosas da vida dele. 

Talinda esboçou um sorriso, mas internamente se perguntou se devia mesmo deixar de se preocupar com isso.

*

Rob Bourdon tinha a face corada e sorria um pouco mais solto depois que a morena ao seu lado começou a contar de seus gostos musicais.

- Você acha o Daron Malakian sexy? Você deve ser louca mulher!

Kady também sorria.

- Ah, mas ele é sexy sim, e o James Hetfield mais ainda!

- Acho que eu não tenho mais como argumentar não é?

- Com certeza não!

Os dois pararam de sorrir e ficaram em silêncio, aquele silêncio irritante, que parece durar uma eternidade. Rob puxou os óculos e esfregou as lentes na ponta da camisa, e antes de recolocá-los no rosto olhou para Kady, que sentiu um arrepio correr pela espinha com a profundidade daqueles olhos castanhos.

- E então Kady, por que saiu do Brasil?

 O sorriso dela se desfez um pouco.

- Eu tive alguns problemas com a família e assim que surgiu essa oportunidade de trabalhar na Honda eu nem pensei duas vezes, mas não quero falar sobre isso agora.

Ele ficou um pouco sem graça.

- Me desculpe, eu não queria ser indiscreto.

- Não se preocupe, mas porra, onde está aquela loira maldita? Eu estou com fome!

Rob olhou para ela e sorriu, talvez tivesse gostado mais da tal garota do que ele imaginava que fosse gostar. Ele se levantou, recolocou os óculos no rosto e estendeu a mão para ela.

- Vem comigo? Acho que o Dave descobriu onde estão os petiscos, talvez dê pra enganar a sua fome e a gente pode conversar mais um pouco.

Kady arregalou os olhos. Rob Bourdon realmente estava querendo prolongar o papo com ela?

- A-ahm, claro!

Kady levantou rapidamente e acabou tropeçando com o salto no tapete abaixo de seus pés, caindo para frente, mas logo sentiu um par de braços a segurarem pela cintura antes que batesse contra o chão. Rob a segurara.

- O-obrigada, e me desculpe, e-eu sou muito desastrada, oh meu Deus.

Ela escondeu o rosto entre as mãos, e internamente Rob estava adorando toda a timidez dela, fazia parecer a dele pouca coisa.

- Tudo bem, não se preocupe. Agora vamos?

Ele estendeu a mão mais uma vez e ela segurou e, ao contrário das mãos suadas dela, ele tinha as mãos frias como gelo. Seria nervosismo também?

***

Chester se encaminhou até a porta, mas um par de mãos o envolveu e o puxou para trás novamente, derrubando-o sobre a cama.

- Aonde pensa que vai?

Anita se colocou sobre o corpo dele.

- Seus convidados estão lá fora, esqueceu?

Ela beijou a extensão do pescoço dele até chegar ao lóbulo de sua orelha e chupá-lo, com cuidado para não soltar o alargador dele.

- A-anita, por favor...

  Ela foi deslizando as mãos por baixo da camisa dele lentamente, sem dar ouvidos ao pedido dele para parar, ela sabia que ele não aguentaria aquilo por muito tempo. Os lábios mornos dela mordiscaram suavemente o lábio inferior dele e logo o envolveram completamente em um beijo. Ele a segurava pela cintura e sentia seu coração batendo tão forte que parecia que ia explodir dentro do peito, mas imediatamente ele teve um surto de consciência e afastou Anita do beijo abruptamente.

- A gente não pode Ann.

Ele se levantou e a encarou, um pouco atordoado.

- Chester...

- Tem uma porrada de gente aí fora, não podemos fazer isso.

Ela também se levantou, ajustou a roupa ao corpo e passou os dedos pelo cabelo.

- Tudo bem, acho que me empolguei um pouco com a situação.

- Ótimo, agora vamos que eles já devem estar morrendo de fome.

Ele ia dando as costas para sair do quarto, mas Anita segurou seu antebraço.

- Espera Chaz, só... só promete pra mim que isso não acaba aqui, por favor. Promete pra mim que quando você atravessar aquela porta não vai me jogar fora outra vez?

- Ann, eu não estou certo se realmente quero fazer isso, vai fuder com meu casamento e...

Ela soltou o braço dele.

- Não precisa dizer mais nada.

- Anita, não fica zangada comigo eu só...

- Tudo bem Chester, eu compreendo.

Ele abaixou a cabeça.

- Me desculpe.

- Essa foi a última vez Chester, eu não vou mais insistir.

Nenhuma lágrima escorreu do rosto dela, e então ela deu as costas para ele e saiu do quarto, o que fez com que o olhar de todos ali se voltassem para ela.

- Me desculpem por ter deixado vocês aqui sozinhos, eu não estava me sentindo bem, mas agora vamos comer!

- Aleluia, meu senhor! – Joe gritou do outro lado da sala – Não precisa nem chamar duas vezes, minha linda!

Anita sorriu e logo viu Mike se levantar um pouco atordoado

- Anita, o que aconteceu eu fiquei preoc...

Antes que ele terminasse a frase Anita já tinha selado seus lábios em um beijo. Chester passou logo atrás deles e abraçou Talinda.

- Mas o que... – Mike tentou falar, mas ela o beijou novamente e quando seu fôlego acabou ela falou um pouco ofegante.

- Por favor, não me deixe fugir.

- Fugir? Do que você está falando Anita?

- Por favor, só prometa.

- Mas é claro que eu não vou deixar você fugir, se você for com quem eu vou trazer perdição pra vizinhança das velhinhas?

Ela sorriu e bagunçou o cabelo dele.

- BENNINGTON FÊMEA!! CADÊ A COMIDA??

Joe já estava impaciente.

- Já estou indo Mr. Hahn!

Anita deu uma piscadela para Mike e saiu rumo à cozinha, todos já estavam em torno da mesa já posta, voltou com uma travessa de lasanha bem fumegante.

- Oh meu senhor, essa é a melhor lasanha que eu já comi na vida! – Joe saboreava e o restante das pessoas na mesa concordava com a cabeça, já que as bocas estavam cheias demais para falar.

- O Joe tem razão! Isso é melhor que todos os Yakissobas da minha mãe – Lee também devorava seu pedaço de lasanha.

- Vocês asiáticos são uns puxa sacos, isso sim!

- Hey Ann, você bem que podia ir a um show da gente um dia desses, acho que você ia gostar, a energia é bem bacana – Brad falava entre uma garfada e outra.

- Ah, eu adoraria.

- Vamos fazer um show semana que vem antes da turnê pela Europa, mas não é aqui em Los Angeles, é lá em Midland, no estado de Michigan.

- Mas eu não sei se tem como eu ir, comecei a pouco tempo no emprego pra já ir tirando folga assim...

- Relaxa, o show é num sábado, você pode sair daqui na sexta e voltar no domingo com a gente.

- Sendo assim então eu acho que vou sim, a Kady pode ir junto?

Rob pareceu despertar para a conversa e olhou na direção de Brad.

- Mas é claro que pode!

Kady soltou um grito animada e todos olharam para ela.

- Foi muito alto? Oh, me desculpem.

Todos começaram a sorrir.

Acabado o jantar e depois de muita bagunça, até Anita já tinha arriscado tocar alguma coisa no teclado, sem nenhum sucesso.

- Qual era o nome daquela musica que vocês tocaram antes de eu passar mal? Ela era bonita.

- Pushing me away – Chester respondeu um pouco ríspido.

- Você gostou dela Ann? – Mike a olhava com ternura.

- Sim, gostei bastante.

- Ela na verdade é um pouco mais agitada.

- Deve ser boa também, mas acho que prefiro ela assim.

Chester se levantou.

- Bom acho que nós vamos indo, ainda temos que pegar o Tyler na casa da irmã da Tali e já está um pouco tarde.

- Muito obrigada pelo jantar Ann, estava delicioso.

- Que bom que gostou Talinda, espero que venham mais vezes.

- Nós viremos, adorei sua nova casa.

Anita se despediu de Talinda e quando foi abraçar Chester, ele falou em um sussurro.

- Precisamos conversar.

- Não há o que conversar.

Antes que ele pudesse dizer outra coisa, Talinda o puxou e logo saíram porta afora. No fundo, Anita sabia que aquilo não havia acabado ali, e Chester a procuraria novamente.

- Eu acho que também vou Ann, já estou um pouco cansada e amanhã tenho que acordar cedo.

- Ah não Kady, fica mais.

- Me desculpe Ann, eu estou muito cansada.

Rob a fitava em silêncio, pensando se devia falar algo ou não.

- Tudo bem então, vejo você na fábrica amanhã?    

- Com certeza! - O olhar dela cruzou com o de Rob, que sorriu timidamente para ela – Bom então eu vou indo, boa noite pessoal.

Ela deu as costas para sair e assim que abriu a porta ouviu alguém chamar seu nome e olhou para trás.

- Rob?

- Ahm, você se esqueceu de me dizer quando vai querer as aulas de bateria.

- Aulas de bateria?

- É, achei que você quisesse aprender, sei lá, só achei.

- É claro que eu quero, quando eu posso começar?

- Isso é você quem vai dizer, mas se você quiser eu posso te ligar amanhã.

- Tudo bem, você quer o meu telefone?

Ele corou, a desculpa pra pegar o telefone foi mais descarada do que ele um dia já tinha sido capaz de dizer.

- Seria bom.

Ela anotou o telefone nas costas da mão dele e lhe estalou um beijo na maçã do rosto que agora pegava fogo de tão avermelhada.

- Agora eu realmente tenho que ir.

- Até mais então.

- Até mais.

E ela se foi. Aos pouco cada um dos convidados foi indo embora, no final só restaram Anita, Mike Shinoda e uma pilha de pratos sujos.

- Obrigada por ficar para ajudar Mike.

- Tá achando que isso aqui é de graça? Não senhora, você vai me pagar depois.

- Pagar?

Ele deu uma piscadela para ela e começou a se balançar de um lado para o outro, ainda com as mãos cheias de sabão, cantarolando Umbrella e arrancando gargalhadas histéricas da loira.

- Para de sorrir, vai dizer que não me acha sexy, aqui com as mãos cheias de detergente cantando uma musica da Rihanna?

- Mike Shinoda, acho que você é sexy até do avesso!

Ele deu uma risada sonora e logo largou a louça e abraçou.

- Você está me deixando cheia de sabão Mike!

- Estou? Oh me desculpe Srta. Bennington – ele começou a passar as mãos ensaboadas pelo rosto dela – Oh foi sem querer mesmo, me desculpe.

- Ah seu safado!

Ele a beijou docemente, não conseguia controlar o que sentia por aquela mulher, quando estava perto dela só queria fazê-la sorrir, queria fazê-la feliz.

Quando terminaram o beijo ele permaneceu abraçado a ela, apenas olhando-a. Tentando memorizar cada pequeno detalhe do rosto dela, os olhos castanhos, a pele alva, os fios lisos e dourados do cabelo dela e sua expressão de “Para de me encarar desse jeito caralho”

- Acho que também chegou a hora de eu ir para casa também Ann, a menos que você queira que eu durma aqui.

- Você dorme aqui em outra oportunidade Shinoda, um passo de cada vez esqueceu?

- Claro, claro. Não vou fazer nada que você não queira. Você podia passar na minha humilde casa amanhã depois do trabalho, ai eu posso tocar algo decente pra você.

- Eu vou com certeza.

- Ótimo, vejo você amanhã então.

- Até amanhã Spike Minoda.

- Ah não, até tu Brutus, me chamando por esse apelido.

Ela gargalhou e então ele beijou sua testa demoradamente, com o os olhos fechados e depois saiu.

Ela terminou de arrumar a cozinha e se jogou no sofá, soltando um suspiro de cansaço. No mesmo instante a campainha tocou.

- Ué? Essa hora, e o porteiro nem falou nada? É você Mike?

Ela tentou falar com quem estava do outro lado da porta, mas sem nenhuma resposta. Deu de ombros e abriu a porta, sentindo cada músculo de seu corpo se contrair ao ver as duas figuras ali do outro lado.

- Bennington! Há quanto tempo não?

Os dois morenos diante dela sorriam de orelha a orelha, mas ela tinha a expressão congelada.

- Mas que cara é essa Anita? Não vai me convidar pra entrar? Foi tão difícil te encontrar, acho que merecemos um pouco de hospitalidade, não?

Anita sentia que acabara de ter a noite de sono arruinada