09 - Harry Potter e os Guardiões da Fronteira escrita por alinecarneirohp


Capítulo 4
A PRISIONEIRA DA CELA ZERO




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 Uma coisa Lúcio Malfoy soube no primeiro dia em que foi levado a Oz: não sairia dali sozinho jamais. Oz ficava muito abaixo da terra, num lugar tão seco e quente que lembrava uma caldeira, não importava a estação lá fora, em Oz era sempre quente como o inferno. O lugar onde a prisão ficava era uma espécie de cidade subterrânea daquele povo estranho que guardava a prisão, em volta da qual girava toda a vida daquele bizarro formigueiro gigante.

   A planta de oz era uma espiral , e ela crescera conforme a necessidade, em volta do núcleo deste rodamoinho imenso, onde cada cela tinha um número. A de Lúcio Malfoy era a 405, e ficava na décima volta a partir do núcleo. Era pequena e quente, mas se havia uma coisa surpreendente em Oz para uma prisão era a ausência total de vida animal.

   Não havia ratos, nem insetos, nem nada além dos prisioneiros e dos guardas em oz, ninguém tinha pulgas ou piolhos, nenhum colchão tinha percevejos. Dizia-se que nada viveria naturalmente naquele ambiente, e por isso era tão normal saber-se nas horas comuns que um determinado prisioneiro havia morrido.

   Malfoy descobriu posteriormente que a posição de um preso da espiral determinava o quanto ele era considerado perigoso. Um bruxo das trevas de mais de 90 anos, preso há cerca de 50 ocupava a cela n°1, e condenado a prisão perpétua, agora vinha nos horários comuns arrastando os pés para os refeitórios, rindo meio abobalhado mostrando os poucos dentes que ainda lhe restavam bambos na boca. Diziam que sua vontade fora retirada antes de sua prisão por um feitiço poderoso, e agora ele parecia extremamente com um zumbi.

   Estranhamente, havia todo tipo de preso em Oz, trasgos subterrâneos cegos, estranhos hipogrifos falantes, homens dragão,  centauros e até raças que Lúcio não conhecia. Posteriormente alguém lhe disse que o povo sombra não aceitava apenas bruxos como presos, mas também criaturas de outros mundos, que chegavam através de um portal para um lugar chamado Nowhere. Mas a maioria dos presos ali era composta de humanos bruxos, talvez porque a prisão estivesse situada no nosso mundo.

   Uma coisa no povo sombra chamava atenção: eles eram incapazes de executar magia, exceto dois tipos: eles podiam mover terra e pedra, e manipulá-las apenas com pensamentos, assim faziam túneis subterrâneos e os fechavam facilmente, e se deslocavam muitos quilômetros além do pântano sob o qual ficava a prisão.

   O outro tipo de magia que eles faziam era o domínio de vontade. Eles não eram como dementadores, não sugavam a felicidade das pessoas. Simplesmente ao lado de qualquer criatura eles conseguiam facilmente controlar-lhe a vontade e fazê-la mudar de acordo com suas necessidades. Mas por incrível que parecesse, eles consideravam isso maldição, e pouco usavam esse dom, a não ser para controlar presos e mantê-los pacíficos.

   Todos os presos, até mesmo os mais perigosos costumavam sair por horas de suas celas e trabalhar polindo pedras no quente salão de trabalhos. Parecia e realmente era um trabalho perfeitamente inútil, apenas para manter os presos ocupados por muitas horas. Malfoy tinha certeza que poliam as mesmas pedras sempre, que durante o período de ausência eram novamente deixadas ásperas, para que eles as polissem novamente. A sensação de perda de tempo provocada por isso era angustiante e contribuia para a fama de inferno na terra que Oz tinha.

   Todos temiam os guardas. O ambiente era todo favorável ao povo sombra: pouquissima luz, toda ela obviamente artificial mantida acesa por poucas horas, pois eles não gostavam da luz, daí todo preso ser entregue à noite, pois a luz do sol ou mesmo o luar muito forte lhes era fatal; havia terra em cada milímetro a volta como túneis de um formigueiro, e se para o povo sombra ela era facilmente manipulável, para os presos ela era uma massa compacta e intransponível. Finalmente, o ar viciado e quente que parecia queimar os pulmões de quem respirasse mais fundo, fruto dos gases e elementos subterrâneos, que não eram de todo filtrados ali embaixo, o povo sombra também respirava, mas o ar sufocante não lhes fazia o mal que fazia aos presos, e só não havia menos renovação porque o povo sombra podia ser o que fosse, mas procurava ser justo e promovia uma parca filtragem do ar através de respiradouros de superfície.

   Mas mesmo os guardiões pareciam temer algo ou alguém, ninguém sabia porque: a famigerada prisioneira da cela zero. Ninguém, nenhum dos presos jamais a vira, mas sabia-se que ela estava lá, pois quem conseguia chegar perto da primeira volta da espiral jurava ouvi-la cantando. Era um canto pungente e dolorido que às vezes durava dias e dias, cessando repentinamente por completo. A música que a prisioneira cantava em uma língua estranha jogava o coração de quem a escutava numa angústia, e automaticamente a pessoa lembrava daquilo que mais a entristecia, fosse o que fosse.

   Sabia-se que ela estava lá... há muitos anos. Um velho prisioneiro conhecera um homem dragão de trezentos anos que morrera quando ele era jovem que o dissera que a prisioneira estava lá quando ele fora condenado, há quase duzentos anos, quando ele conhecera um outro ser igualmente antigo que dissera que a prisioneira era a mais antiga "hóspede de oz", e estava lá desde antes dos velhos xamãs terem descoberto oz e terem feito o acordo de cooperação com o povo sombra, quase quatrocentos anos antes dos bruxos brancos chegarem à América. Como sabia-se que Oz tinha mais de mil anos... a criatura presa naquela cela tinha pelo menos mais de um milênio de cativeiro. Era natural que cantasse de forma tão dolorosa.

   O que Lúcio não podia imaginar jamais é que o destino o poria frente a frente com a prisioneira daquela cela, e através dela, o levaria embora do presídio sombrio que era Oz, onde dias e noites eram igualmente angustiantes, onde o calor e o trabalho inútil jogavam a maioria dos prisioneiros para a insanidade. Malfoy não sabia que depois de onze anos, o destino ainda tinha um papel decisivo para ele, que ele sairia dali e encararia o homem que o mandara para aquele lugar de frente mais uma vez. Tudo isso graças ao acaso e à prisioneira da cela zero.

   Ele não podia dizer se era dia ou noite quando começou. Só soube dizer que repentinamente toda a estrutura de sua cela tremeu e começou a desmoronar como se fosse feita de areia, sem muito som, pois estavam muito abaixo da terra e o som era sempre abafado.Lúcio pensou instantâneamente que era o fim, mas o acaso o favoreceu: uma parte da parede desceu inteira, e em vez de soterrado, ele fivou preso entre a parede e o chão, abafado num espaço de pouco mais de meio metro. Ali, agarrou-se ao pouco ar viciado, e sentiu seu corpo ficando dormente e mais febril à medida que parte da parede ia cedendo ao peso da terra sobre ela, e sentindo seus pulmões comprimidos, Lúcio subitamente teve consciência de toda sua mediocridade:

   Ele vivera 56 anos para morrer numa prisão cheia de seres exatamente como ele, com o ego despedaçado por horas e horas de trabalho imbecil sob a terra. Ele fracassara em todas as tentativas de ser grande: fora um comensal da morte medíocre, nunca conseguira chegar ao nivel de seu mestre, fora abandonado à morte quando não mais lhe serviu, fora um idiota no submundo e ligando-se (acreditava) a discípulos medíocres, chegara ao lugar onde estava para morrer... nem conseguia mais desesperar-se.  Abaixou a cabeça quando o ar finalmente começou a faltar, sufocando-o.

   E foi nesse momento que tudo mudou. Como mágica, as paredes se afastaram e alguém surgiu no buraco, ele levantou a cabeça para ver no vão uma mulher muito parecida com as que guardavam o presídio, porém, se isso era possível, completamente diferente. Ela era também feita da matéria estranha que formava o povo sombra, mas ao contrário destes,  que eram figuras toscas e estranhas, ela parecia a sombra de um ser gracioso, cujos cabelos negros pareciam feitos de fumaça suave, e levitavam ligeiraem volta de seu rosto cinzento, cujas feições eram finas bem diferentes dos rostos simiescos de seus semelhantes. Finalmente, os seus olhos em vez de parecerem negros pontos brilhantes, eram dourados e incômodos ao pousarem sobre a face de qualquer um. Era sem dúvida impossível desviar o olhar daquela estranha figura.

   Silenciosa ela veio até ele e com um gesto único toda a terra que o envolvia sumiu. Ela o olhou com seus olhos dourados perturbantes e ele sentiu-se muito estranho. Olhou para ela que se aproximou mais e disse:

- Há quanto tempo estás aqui, homem?

- Não sei ao certo. Mas são mais de dez anos.

- O que são anos?

- São doze meses cada ano...

- Em tempo lunar? - Lúcio calculou mentalmente e disse:

- Mais de cem luas cheias.

- Então acho que quando chegaste aqui, eu já estava há muito tempo...

- Na verdade - Lúcio teve uma desconfiança - eu acho que você está aqui há mais tempo que todos... você estava na sala zero?

- O que é isso?

- O cubículo mais profundo,  no centro desta prisão...

- Eu creio que eu estava no centro, numa maldita cela forrada de metal, ela foi feita para mim, sem dúvida... - a mulher disse e Lúcio percebeu outra coisa: ao contrário da voz do resto do povo sombra, a dela era suave e melodiosa, como a que diziam cantar de dentro da sala zero.

- Como você saiu?

-  Sei apenas que entrei lá há muito tempo, eu fui traída e presa por minha própria irmã... e lá eu não podia usar meus poderes... eu tentei usar meu canto todos esses anos sem sucesso. Que lugar é este? - Lúcio explicou brevemente que ali era uma prisão, e teve ainda mais trabalho para explicar à mulher o conceito de prisão e punição. Então finalizou dizendo que pelo que ele sabia ela estava ali há dez mil séculos lunares pelo menos (o século lunar se conta a cada cem luas cheias).

- Isso não faz sentido... eu não deveria ter sido aprisionada - disse a mulher. Lúcio olhou-a totalmente sem graça, ele mesmo não tinha como saber o porque. - Há outros como eu aqui? - ela perguntou e ele contou sobre o povo sombra ao que ela sorriu.

- Os desterrados se tornaram uma comunidade subterrânea - ela riu - sinal que o caminho para a terra da sombra continua fechado. Preciso chegar à fronteira o quanto antes. - ela o olhou com um novo interesse - você quer sair daqui, filho dos homens?

- Claro.

- Me ajudaria incondicionalmente em troca da liberdade?

- Ajudaria

- És bruxo?

- Sou, de puro sangue - a mulher sorriu

- Então, és tu mesmo. Serei tua sombra, porque não posso andar à luz do sol. Mas precisamos sair daqui primeiro... - ela fez um gesto e um buraco surgiu diante deles, como a boca de um corredor, ela fez outro gesto e o corredor foi tomando a direção do alto, e eles foram entrando, conforme passavam, Lúcio pode notar, evitando os corredores, a terra ia fechando atrás deles, como se nunca tivessem estado ali. Ele notou que subiam, então perguntou:

- Onde estamos indo?

- Subindo à crosta, onde mais?

- Porque?

- Para chegar a Nowhere. Fazes perguntas demais.

- O que é Nowhere?

- O não-lugar

- O que é isso?

- Um lugar que é todos os lugares e nenhum ao mesmo tempo

- Para que você quer ir a Nowhere?

- Para chegar à fronteira

- O que é a fronteira?

- Um lugar que não interessa aos filhos dos homens. Pare de fazer perguntas.

- Perdoe-me - disse Lúcio, já pensando em bajulá-la - mas eu gostaria de entender...

- Entenda que quando isto acabar, estarás livre novamente. É o que te basta.

- Mas... Posso saber seu nome?

- Vega. Vega Sheram.

- Você é como aqueles que guardam este lugar?

- Silêncio, homem! - Vega parou e pareceu sentir o lugar onde estavam, já haviam subido um grande trecho e ela disse: - Água. Muita água acima de nós. E algo grande que se move mais adiante. Vamos sair por lá, para evitar a água e a criatura.

- Mas... se a criatura é o que eu imagino que seja, é um vendigo, um ser amaldiçoado! - pela primeira vez desde que vira Vega pela primeira vez, esta riu:

- Nenhum ser pode ser mais amaldiçoado que eu, homem. Vamos. Eu posso lidar com a criatura. Você tem sorte, é noite agora. - Andaram por cerca de meia hora até que saíram à superfície da beira do pântano. Lúcio viu o movimento do Vendigo adiante, e notou os lampejos dos olhos de farol da criatura, que devia ter mais de doze metros de altura e era de um cinza azulado, mas ainda não os vira. Ia fazer menção à Vega para que se desviassem dele, mas ela antes disso, correu agilmente até a criatura. Lúcio pode ver que ela cantava, e os joelhos do vendigo se dobraram, e com um estrondo, a criatura caiu por terra. Não estava dormindo. Seus olhos gigantescos estavam abertos, mas não olhavam em sua direção. Amedrontado, Lúcio viu Vega voltar-se e dizer:

- Eu domino a vontade, homem. Antes dele poder ter sua vontade de volta, estaremos em Nowhere. Tens razão para temê-lo, este ser transforma os homens que toca em mortos vivos... vamos - eles seguiram e Lúcio desviou os olhos da feia criatura quando teve que passar por ela. Vega olhou-o sem nada dizer, mas ele sentiu que ela o achava um covarde. Subitamente pararam e ela disse:

- Aqui... - sem aviso, avançou para Lúcio e ele sentiu uma dor aguda, até que ela desapareceu e ele ficou caído de joelhos no chão perguntando-se onde ela fora. Com dificuldade, ergueu-se e viu que o horizonte estava avermelhado, ia nascer o sol. Então, ouviu a voz de Vega e deu um pulo. Estava assustado afinal, era demais para uma noite só.

- Eu estou oculta em sua sombra - ela disse calmamente - Não se preocupe, quando a noite chegar, eu voltarei ao antigo estado... se vermos noite, pois vamos para Nowhere, onde não é dia nem noite...

- Onde diabos é esse lugar?

- Aqui, em toda parte e em lugar nenhum. Basta saber a chave correta, Homem.

- Pare de me chamar de homem. Meu nome é Lúcio Malfoy

- Está bem, Lúcio... fique quieto, e deixe sua vontade mais oculta dominá-lo, e me diga? Para onde quer ir?

- Para minha casa...

- Ótimo... sua casa agora será em nowhere. Deixe sua vontade dominá-lo...

Sem saber como, Lúcio viu sua casa na sua frente. Deu dois passos adiante e casa desapareceu, bem como todo o resto, estava num lugar cinzento que parecia como o céu em dia nublado, onde não se divisava nada, e também não parecia haver distância, não havia longe, nem perto, não era calor nem frio. Era um lugar que parecia lugar nenhum. Lúcio sentiu um peso sair de seu corpo e viu vega na sua frente.

- Lúcio Malfoy... benvindo à terra de ninguém, Nowhere. Daqui, vamos caminhar até a  fronteira.

- E se a fronteira não me interessar?

- Ela vai te interessar, Lúcio, e muito... sua vontade agora me pertence. - Lúcio ia dizer algo mas não conseguiu, nem mesmo conseguia respirar, fez um gesto desesperado para Vega, que rindo, o libertou e disse: - Vamos, lúcio, temos muito que procurar...

E esta procura terminaria em Hogwarts.


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