Para Draco Malfoy, a presença de sua filha Kayla na Grifnória fora uma ofensa quase pessoal. Chegara a falar com Sirius sobre o caso, mas este repetira para ele o mesmo discurso de Sheeba, que afinal Kayla não era apenas filha dele, mas também de Sue Van Helsing, que tinha dentro de si muito de grifnória. Isso o irritou profundamente. Se ele era conhecido como um professor exigente, passou a ser tido como um carrasco por alguns alunos, especialmente os da Grifnória... e por Abel Potter.

Ele achava que o garoto estava na vaga que pertencia a sua filha, e como o professor Snape fizera anos antes, agora exigia empenho sobre humano do menino, que em pouco tempo odiava o professor, e se amaldiçoava por ter ficado na Sonserina.

Abel era um aluno isolado e vivia um pesadelo no lugar  do que sempre imaginara que seria um sonho. Não era apenas o professor que o odiava, mas também todos os seus colegas da Sonserina, afinal, seu pai fora um famoso castigo deles no quadribol.  Seu único amigo era Henry, que sempre se lamentava porque ele não ficara na grifnória.

A implicância de Draco Malfoy pelo garoto acabou por se complicar numa tarde em que o filho deste, draco Malfoy Jr, do terceiro ano, viu o pai fazer uma grande injustiça: Dennis Parkinson, também da Sonserina explodiu uma bomba de bosta atrás de Draco no corredor, e Abel que passava, foi considerado culpado por ele. O garoto se aproximou correndo e disse:

- Pai, eu vi, não foi o Abel que soltou a bomba! Foi Parkinson!

Draco olhou o filho e disse:

- Não defenda este garoto, meu filho... eu o vi soltar a bomba.

- Mas não foi ele, pai, o senhor está sendo injusto...

- Filho... eu vi, não seja...

- Mas pai, eu vi! Eu sei que o senhor também...

- Ora cale a boca, garoto... eu sei o que vi, e sei o que você viu, não me obrigue a descontar ainda mais pontos para a casa que eu vou ter que descontar por causa deste peste...

- Ele não é um peste, pai, o senhor está implicando com ele...

- NUNCA MAIS ME CHAME DE PAI DENTRO DA ESCOLA, MALFOY JÚNIOR! AQUI SOU APENAS SEU PROFESSOR! Só sou seu pai fora desta propriedade.

Subitamente, Draco Júnior olhou do pai para Abel, que fez sinal para que ele deixasse para lá, pois sabia que o professor daria um jeito de fazer parecer que a briga, e o decorrente desconto de pontos, era culpa dele. Calou-se e saiu sem uma única palavra, saiu pelo corredor segurando lágrimas. Já vira o pai implicar com a irmã, depois que ela fora selecionada para a Grifnória, mas nunca imaginara que seu pai faria aquilo com ele. Nunca...

Naquela noite, em seu quarto, o professor Malfoy tentava entender porque fizera aquilo com o próprio filho... sentia-se perdido e pensou em Sue. Ele separara-se porque ela se tornara uma mãe negligente... e ele, que espécie de pai era? Mas havia o garoto Potter e este o irritava demais, desde que entrara para a Sonserina. Ele não podia simplesmente dar o braço a torcer, era um Malfoy. Equivocadamente achou que depois se entenderia com o filho. Lembrou-se de seu pai e da carta que recebera comunicando que ele fora oficialmente considerado morto.

Nunca na sua vida ele pensara no pai com amor, nem nos anos que achava que ele estava morto, antes dele quase o matar, quando ele tinha 24 anos... depois daquilo, Draco nunca mais fora o mesmo. Ele respirara aliviado por saber que finalmente ele estava morto. Ele não sabia que o pai estava agora a menos de dois quilômetros dele, numa livraria em Hogsmeade.

O expediente de Lúcio para chegar a Hogsmeade fora idéia de Vega. Ele precisava esconder seu verdadeiro rosto e não mais tinha a pedra que ajudava em transfiguração total, então, Vega, ainda em nowhere, usara uma de suas muitas habilidades e de forma extremamente dolorosa, mudara para sempre as feições de Lúcio Malfoy, que jamais seria novamente um camaleão, mas tinha agora outro rosto... ele era agora um senhor de seus aparentes 60 anos e cabelos brancos, porque nos anos de torturante rotina em Oz seus cabelos louros haviam perdido toda a cor... ele envelhecera demais, e sob a máscara que Vega lhe fizera era agora irreconhecível, porque de sua antiga fisionomia só guardava os olhos cinzentos escuros e maus.

Ele conseguira recuperar uma parte do ouro que acumulara como Camaleão, a parte que estivera fora de bancos, em esconderijos enfeitiçados, em cemitérios, que ele enterrara como precaução para não passar o que passara nos anos após a derrota de Voldemort, em que dado como morto não podia tocar na imensa fortuna dos Malfoy, que para seu ódio, ficara quase toda para Draco. Com Vega ele fora até cada um desses lugares, sempre à noite, e observara a mulher sombra fazer a terra empurrar todo o ouro para cima, como se não tivesse peso.

Logo após a fuga, eles haviam estado por um bom tempo em Nowhere, avançando pelo espaço através dos mundos, viajando sem parecer sair do lugar, repentinamente, passavam por portais para outros universos, cada qual mais impressionante que o outro. Estranhamente, estando em Nowhere mesmo que por mais de um ano, Lúcio jamais sentira fome ou sede, ou qualquer outra necessidade fisiológica, e mesmo não percebera a passagem do tempo:

- Porque aqui não existimos. - Disse Vega - aqui, como eu disse, é o não lugar, a porta para os mundos inferiores. Não se sabe quantos são os mundos inferiores, mas eles não são importantes para mim.

Depois de muito tempo, Nowhere pareceu começar a ter uma paisagem. Primeiro, surgiu o chão, que parecia feito de areia fina, depois, uma elevação, e eles começaram a subí-la, por fim, uma grande árvore surgiu, no meio do nada, o que tornava ainda mais bizarra a paisagem.

- Não podemos passar daqui - disse Vega - além desta árvore, começa a fronteira. Aqui já existe distância, tempo, espaço... Um quilômetro à frente estão os sete portais.

- Os sete portais?

- Sim, os sete portais dos mundos invioláveis, e o mundo onde nasci é um deles, no passado, eu fui uma guardiã da fronteira, mas fui atraiçoada e expulsa... Eu quero minha vingança, quero retornar aqui e provocar um grande vórtice, para abrir novamente a porta de meu mundo e ter de volta meu reino. E depois, trazer de volta meus irmãos desterrados.

- O que houve para seu povo ser expulso?

- Perguntas demais, Lúcio, perguntas demais... Não posso responder a você sobre isso. Os mundos invioláveis dão equilíbrio a todos os outros, e todo ele é igualmente importante. Milênios e milênios atrás, eles foram separados de todos os outros mundos e universos que existem: O mundo da sombra, os reinos da luz, o mundo dos sonhos, a realidade cruel, o lar das idéias, as águas amargas e finalmente o mundo sem volta.

- Mundo sem volta?

- Sim, o lar das almas imortais, aquilo que os religiosos chamam de céu, e ao mesmo tempo, o lugar ao qual chamam inferno.

- E é um bom lugar?

- Ninguém volta de lá. Todos os que morrem, em todos os mundos inferiores, atravessam o grande portal sem chave. Quando se chega lá, se perde o desespero, a dor... Nada mais importa, uma vez lá dentro, tudo aquilo que foste em vida retorna pra ti... Se foste bom, serás tratado com bondade, se foste mau...

- E como você sabe, Vega?

- Por que nós, oriundos dos mundos invioláveis, não morremos fora de nossos domínios, e eu já estive neste mundo, muito tempo atrás. Numa missão fracassada.

Lúcio entendeu que ela jamais diria qual tinha sido tal missão.

- E você pretende voltar?

- Sim... quero acabar a minha missão, Lúcio, mas para isso eu preciso de uma coisa simples, que você vai me ajudar a achar... alguém que me foi aconselhado a procurar, quando chegasse esse dia.

- Quem?

- Uma criança capaz de destruir a fronteira. Alguém que deve estar num lugar chamado Hogwarts.

- Hogwarts? A escola no meu mundo?

- Sim, Lúcio... milênios atrás, minha jornada acabou naquele lugar, antes de ali haver uma escola. Da planície de Hogwarts, onde milênios atrás meu povo foi subjulgado, pode-se abrir o oitavo portal da fronteira, aquele que leva a qualquer mundo... Quando fui traída, havia uma aliada que secretamente incentivou-me a esperar. Ela tinha o poder de enxergar o futuro, e disse que nesse lugar eu encontraria a criança capaz de destruir para sempre as portas da fronteira. 

E foi assim que no mesmo ano em que Abel Potter entrava para a escola, abria-se em Hogsmeade uma livraria insuspeita, chamada "O alfarrabista do Condado", com uma pequena variedade de livros, em sua maioria de entretenimento, o que atrairia bastante os estudantes de Hogsmeade na primeira visita. Seria perfeito para Lúcio infiltrar seu pequeno espião entre eles: um diabrete de papel. Era uma criaturinha estranha que "morava" numa ilustração de um livro, que ele pretendia vender a um estudante de Hogwarts qualquer, o diabrete tinha incrível capacidade de pular de um livro para o outro, e sendo esperto, aprender sobre o dono de cada livro onde passasse, e ate por seus colegas, era engraçado e ladino, perfeito para descobrir quem poderia ser o aluno capaz de provocar o vórtice e destruir a fronteira.

   Lúcio esperou pacientemente até o primeiro dia de visitas dos alunos a Hogsmeade. Sabia que nem todo aluno de Hogwarts era amante de livros, portanto, não podia esperar casa cheia, mas para conseguir algum público, encheu a vitrine de álbuns sobre quadribol, o que atraiu uma pequena turba de meninos curiosos. Os primeiros a entrar foram dois garotos da Sonserina, a quem Lúcio vendeu alguns exemplares de livros sobre quadribol, deixando o livro com o diabrete ainda guardado, ele queria vender o livro para um aluno que fosse popular, que ele visse que tinha muitos amigos. Outros meninos e meninas entraram na livraria, mas ele só se convenceu a tirar o livro com o diabrete do estoque quando um menino alto de cabelos negros meio longos entrou na livraria com três outros rapazes. Ele usava um distintivo de monitor chefe, e devia ter perto de 17 anos.

   Lúcio sentiu uma onda fria de raiva que controlou. Ele reconheceu imediatamente que aquele garoto só podia ser filho de Sirius Black, pois tinha o mesmo porte, altura  e jeito do outro quando este estava em Hogwarts. Era monitor chefe, então? Devia ter a disciplina que o pai não tivera, no seu tempo. O garoto ria com outros meninos, e um outro deles, o mais alto de todos, também tinha um distintivo de monitor da casa Corvinal.

- Celsus, eu estou te dizendo, ninguém é melhor jogador que Biff Davies! O cara é o máximo!

- Sem essa, Art, você não chegou a ver meu tio Harry jogando, pena que ele não quis ser profissional, se tivesse jogado na sua época, seria o melhor de todos os tempos.

- Tomara que o filho não puxe a ele - comentou casualmente um menino mais baixo e bem magro. - Hombre, nem quero imaginar o estrago que a Sonserina faria tendo um apanhador decente!

- Posso ajudá-los, rapazes? - Lúcio disse, parecendo o mais doce dos velinhos - temos dezenas de livros de Quadribol, aqui, e todas as revistas e catálogos sobre vassouras ...

- Na verdade - disse o menino mais baixo - estamos atrás de um livro que nos foi recomendado pelo professor de defesa contra artes das trevas, é uma leitura extra que ele disse que seria interessante, e não achamos na Biblioteca da escola...

- "Doze séculos de trevas"? - Perguntou Lúcio, ao que os rapazes negaram - "Os males ocultos", "Defendendo-se de Maldições"?

- Não. - disse o mesmo rapaz - Na verdade é uma espécie de biografia... "De Tom Riddle a Lord Voldemort" - a história do bruxo mais temido de todos os tempos. - Lúcio sentiu-se furioso

- Não teria jamais material sobre esse bruxo... como ainda se escreve sobre ele?

- Na verdade, é um tratado sobre como foi derrotado - disse Celsus - o senhor ainda não recebeu nada sobre esse livro? Foi a última publicação de Alvo Dumbledore, é um best seller!

- Na verdade, embora eu não aprove, ainda não recebi esse livro, mas o receberei breve - ele pareceu simpático novamente. - Tem certeza que não querem um livro de Quadribol? Quem sabe um livro de história... uma boa leitura de entretenimento?

- Eu gosto bastante de ler - disse Celsus Black - embora esse ano não seja o melhor para fazer isso, porque o senhor sabe, somos todos do sétimo ano...

- Bobagem, menino... ler apenas acrescenta, saber não ocupa espaço, não acha? Qual o nome de vocês?

- Eu sou Celsus Black, monitor da Grifnória, senhor - ele apertou a mão que Lúcio estendeu e ficou esperando que este se apresentasse.

- Rufus Caldwell - disse Lúcio - dos Estados Unidos. E vocês, meninos?

- Fernando Herrera - disse o mais baixo - apanhador do time de quadribol da Corvinal

- Art Dahler - disse o outro, o mais alto - primeiro-monitor da Corvinal

- Ashley Bones - disse o último, que nada dissera - apanhador da Grifnória.

- Uma pequena elite, não? O melhor de Duas casas... vocês são muito amigos?

- Na verdade, somos mais conhecidos - disse Art - viemos juntos porque também estamos fazendo uma pesquisa para um trabalho de grupo de feitiços, que estamos fazendo juntos.

- Que ótimo. - Lúcio viu Celsus olhando com atenção um livro, e pegando um exemplar do mesmo abriu-o sob o balcão, para que o Diabrete pulasse da folha de papel onde se encontrava, passou-o a ele:

- Gosta de histórias de Vampiro, filho? Essa é uma das melhores que eu já li, é a história do Vampiro Rashmenen, um ser exótico, anterior até mesmo a Dracula.

Na verdade, Celsus não se interessou por aquele livro, mas continuou caçando um interessante para ler, até que descobriu uma aventura do século X protagonizada por um bruxo de um olho só que o entusiasmou. Depois de fazer o Diabrete saltar para suas páginas discretamente enquanto embrulhava o livro, Lúcio ainda conversou com os meninos, que levaram mais um livro, para sua pesaquisa sobre feitiços, e sorriu satisfeito consigo mesmo quando eles saíram da loja. No fundo, oculta na sombra de um grande armário Vega disse:

- Você não deveria parecer tão interessado em artes das trevas, Lúcio.

- Eles são garotos, não vão ligar uma coisa à outra. O que importa é que já temos um espião dentro da escola, se tudo der certo, não vamos precisar esperar muito, Vega. O nosso diabrete vai achar a criança que você procura.

Enquanto isso, no Três Vassouras, os garotos comentavam a simpatia do livreiro de Hogsmeade, quando Celsus disse:

- Vou avisar meu pai e minha mãe, quem sabe eles não querem comprar algum livro? Agora não precisam mais ir a Londres para isso.

O diabrete colocou discretamente a cabeça para fora entre as páginas do livro e olhou a multidão de garotos que o cercava, pensando na trabalheira que teria pela frente