Física estuda, entre outras coisas, a distância, a velocidade e o tempo; as três coisas que fizeram com que ele se separasse de mim. Desde o momento em que pensei nisso, passei a gostar cada vez menos daquela disciplina entediante.

Eu e ele, nós costumávamos ser felizes na medida do possível. Apesar da considerável diferença de idade, interesses completamente distintos e a distância significativa entre sua casa e a minha, nós funcionávamos muito bem. Evidente que não nos víamos com a frequência que nossos corações pediam, mas telefonemas e conferências de vídeo no computador davam um jeito, até que conseguíssemos nos encontrar pessoalmente, o que acontecia bimestralmente. Com sorte, uma vez por mês.

Passávamos oras batendo papo na frente do laptop, nos vendo pela câmera e eu sempre fazia questão de ligar para ele de vez em quando. Eu ia para a escola de manhã no bairro de Pinheiros; ele ia para a escola apenas de noite lá em Interlagos. mas era fácil matar a saudade que a paixão demandava.

Foi assim por dez meses, quando ele começou com a história de fazer um curso preparatório para entrar em uma faculdade; quem sabia, ele poderia sair de lá até com um emprego garantido. Obviamente, como qualquer curso, este exigia dedicação e foco total, já que a concorrência no mercado de trabalho nunca foi peuqena e ele era apenas um recém-graduado de dezessete anos que acabara de cair no mundo real.

Quando ele me contou, foi chocante, mas não fiquei abatida, pois eu nutria interna e externamente esperanças de que mesmo sem tempo suficiente para saciarmos nossos anseios de encontros, tudo daria certo no final.

Aí é que a matéria de Física entra na história.

Os telefonemas foram ficando gradualmente escasos, não nos víamos mais pelo computador e fazia um mês e meio que não nos víamos quando aconteceu o fato que gerou minha tristeza toda.

ele me disse tudo aquilo que eu nunca pensaria ou desejaria ouvir saindo de seus lábios. Não aguentava mais; não tinha tempo para nada e muito menos para mim; a distãncia o estava matando, pois o amor estava se perdendo e se transformando em outro tipo de energia: a amizade, apenas. E a velocidade com que eu soube disso foi extremamente impressionante, tanto quanto a velocidade em que comecei a formar um rio de lágrimas que poderia ligar sua casa à minha ou nos separar ainda mais.

e foi difícil escutar de sua boca que não me amava mais como havia feito durante os dez meses anteriores, que por seu futuro tinha que sacrificar muitas coisas, como as amizades. Ele me disse isso e me incluiu apenas nas amizades. Machucou muito e, sinceramente, não sei se vou conseguir conter as lágrimas que rolam do meu rosto toda vez que penso nele. Quem dirá então se eu vier a encontrá-lo pessoalmente? Provavelmente eu me afogarei com as próprias lágrimas que brotam facilmente de meus olhos marejados.

E é esse mais um dos motivos para eu odiar a Física: nela o amor não existe.