O abraço que ele me deu foi o mais acolhedor que já pude experimentar. Seus braços me envolviam e me seguravam com ternura, suas mãos se prendiam em minhas costas e eu sentia o cheiro do seu perfume misturado com o ar quente exalado de suas narinas encostadas em minha nuca. Fechei os olhos e senti aquele calor gostoso invadir meu corpo e alma, acidentalmente não deixei de sorrir... Aquele momento poderia ser eterno que eu nem notaria. Era feliz demais para ser realidade, triste demais se fosse um sonho.

-Feliz ano novo, querida. - ele suspirou em meu ouvido esquerdo e sorriu. O som de sua voz era o mais baixo possível, mas com esforço escutei claramente cada palavra. Era complicado ouvir alguma coisa com volume mais alto que os fogos de artifício loucamente barulhentos e brilhantes naquele céu negro do primeiro dia do ano. E eu o passava ao seu lado, ao lado daquele que amava mais que tudo.

-Feliz ano novo. - falei e beijei seu nariz gelado. Fazia um frio congelante e fora do normal para 1º de janeiro em um país quente como o Brasil. O tempo perfeito para estar dentro de casa, ainda mais com ele. Olhei para seu rosto intacto, sem expressão. Ele fitava os fogos lá fora de maneira pensativa, como se sua mente estivesse vagando em outra dimensão, bem distante do planeta Terra. Pensei se tinha feito ou dito algo que poderia ter deixado ele assim, mas nada veio à mente. Alguns segundos de silêncio mortal se fizeram.

-Preciso te dizer uma coisa. - ele, por fim, quebrou o gelo que havia entre nós. Aguardei, encarando-o, até ele prosseguir com suas palavras. - Ah... Esqueça. Não era nada. - ele negou e balançou a cabeça, se recusando a dizer algo mais.

-Diga. - pronunciei friamente. Minha expressão ficou séria, tinha muito medo das palavras que poderiam vir. Não parecia que ele queria me dizer notícias muito agradáveis.

-Eu... - ele começou e ruborizou levemente. - Só queria dizer que te amo muito, a ponto de não querer deixá-la ir embora nunca. Você se importaria se eu te mantivesse aqui, para sempre? - ele propôs tentadoramente.

-Não, nem um pouco. Aliás, seria bom demais para ser verdade... - confessei, envergonhada. Ele riu.

-Então vamos. - ele disse e sorriu, pegando minha mão, mas sem mover o corpo.

-Vamos o que? - perguntei, não compreendendo sua declaração sem sentido.

-Case-se comigo. - ele pediu. Sorri com o rosto se enchendo de lágrimas incessantes e mornas, soltei minha mão da dele e limpei-as dos cantos dos olhos. - Vamos, querida. Não chore, pode ser? - ele tentou me confortar, pois odiava quando eu chorava.

-Eu aceito... - murmurei, bem a tempo de nos beijarmos.

Feliz ano novo, desde o começo.