Durante o caminho de volta para casa, Charlaine não conseguiu acalmar as palpitações incessantes de seu coração e seu corpo, por mais frio que estivesse lá fora, não parava de emitir calor. Ela se repreendia por ter ficado feliz com uma simples flor, mas aquele garoto tinha um quê a mais que a deixava intrigada...
Com certeza ela iria àquele mercadinho no dia seguinte.
O rapaz, de dentro do pequeno comércio onde trabalhava, sentia-se entorpecido pelo charme que a menina possuía e que lhe mostrara durante o tempo em que a atendeu. Ele não conseguiu trabalhar de forma decente o resto do dia, pensando no que poderia dar a ela no dia seguinte. Mas quando ele parou duas vezes para pensar no dia de amanhã, afirmou que ela não poderia estar lá. Pensando nos lugares menos visíveis do estabelecimento, ele foi embora para casa após o expediente e deitou-se ainda ansioso.
Já ela, Charlaine, colocou a flor recebida em um copo de vidro incolor com água dentro e dormiu com a flor em sua mesa de cabeceira, para que acordasse olhando para ela.
E realmente acordou, no dia seguinte, com olhos amendoados pousados naquela flor cor-de-rosa sorrindo para ela. Levantou-se e verificou se teria aulas naquele dia, mas estava nevando demais para ela poder ir à escola. Porém, uma amiga havia pedido para encontrá-la em frente àquele bendito mercado em que o garoto cavalheiro lhe dera o melhor presente de todos. Com certeza aceitou o convite. Arrumou-se toda e, milagrosamente, saiu de casa antes mesmo das nove da manhã. Levou um pouco de dinheiro, pois sua mãe pedira para passar no mercado para comprar alguns produtos. Ela, em circunstâncias normais, teria recusado o pedido cegamente, mas naquele dia em especial, aceitou com um sorriso iluminado invadindo-lhe a face rosada. Sua mãe estranhou, mas não comentou nada.

O menino já estava trabalhando desde as sete da manhã, forçado a entregar folhetos de propaganda no dia da Independência da Irlanda. Malditos patriotas, era o que ele pensava enquanto todos riam de suas roupas verdes típicas da região. Seu rosto só foi tomado por uma expressão mais alegre quando, de longe, avistou aqueles cabelos alaranjados embaixo de um gorro colorido. Ele sabia que era ela, Charlaine, indo em sua direção. O sorriso em seu rosto foi inevitável. 

Ela caminhou contando os passos, respirando fundo e olhando para qualquer lugar que não fosse o estabelecimento onde ele trabalhava. Passou os olhos pelas ruas à procura da amiga, mas sem sucesso. Antes mesmo de perceber, alguém lhe estendeu um folheto verde com ofertas de mercadorias. Ela levou um susto e quase gritou, pois odiava ser pega desprevinida. Observou o pedaço de papel com certo desdém e já ia recusá-lo, quando viu a pessoa que lhe estava o dando.

-Ah. Obrigada... - ela pronunciou cautelosa e timidamente. - Pelas flores também.

-Não precisa agradecer... - ele respondeu, igualmente tímido, e sorriu. Ela riu. - O que foi?

-Suas roupas estão engraçadas.

-Eu sei, elas são meio ridículas. - ele admitiu, envergonhado, sentindo as bochechas ficarem cada vez mais vermelhas. - Mas não se preocupe, amanhã já estou normal. - ele afirmou e sorriu. - Aliás, meu nome é Nate. - se apresentou simpaticamente.

-Ah, sou Charlaine. - ela disse, acanhada e desconfortável por estar conversando com um menino vestido de duende.

-Eu sei. - ele afirmou. - Desculpe-me, mas tenho que trabalhar. Se me dá licença, essas roupas são uma droga. - ele revirou os olhos e ela soltou uma risada.

-Não se preocupe, até que você não fica tão ruim nessas roupas. - ela o confortou desajeitadamente. -Bom, preciso ir embora, depois conversamos, pode ser? - ela sorriu. Estava prestes a partir quando ele segurou sua mão e a levou para dentro do comércio
 pequeno. Ela relutou no começo, mas até que ficou feliz com aquele momento fora do normal.

-Onde estamos indo?! - ela gritou enquanto era forçada a correr atrás do rapaz chamado Nate. Era estranho demais estar seguindo um estranho mercado a dentro, apesar de que ela estava realmente se divertindo desde que o inverno terminara, no começo do mês.

Ele parou em frente a um pequeno armário semelhante a uma despensa e abriu a porta. Ela ficou parada olhando para ele.

-Entre. - ele convidou. Entrou, ainda receosa do que lhe aguardaria lá dentro, mas antes de conseguir fazer qualquer movimento, ele a beijou.

Ela ficou desesperada e feliz ao mesmo tempo.