Minha Vida Antes... (annabeth) escrita por Marina Leal


Capítulo 6
Capítulo 6: QUEBRO REGRAS POR AMOR


Notas iniciais do capítulo

*Nota da autora: Me perdoem pela demora, é que eu não tenho tido muito tempo para postar, também tenho que me concentrar no livro que estou escrevendo. Mas enfim, leiam que esse capítulo está muito bom.



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(POV: ATENA)

Caminhei lentamente pelos corredores de meu castelo que ficava no lado noroeste do Monte Olimpo, ficava um pouco distante do salão principal, mas Afrodite teimou que queria ficar com o castelo mais próximo, então todos do conselho cederam. Minha mente se desviando a cada poucos minutos entre o problema que meu pai, e Senhor dos Céus, havia arrumado mais recentemente e minha filha que havia decidido fugir da casa do pai, de uma forma ou de outra o problema era em família, eu só não sabia dizer se era ou não uma coisa boa e isso me impedia de admirar a beleza de meu castelo como ele merecia.

Suspirei de frustração e olhei para o céu que se abria para o infinito, estava coalhado de estrelas, pensei em como poderia guiar Annabeth assim que ela pusesse os pés para fora da casa de Frederick, todos me consideravam infalível, mas eu estava longe de ser mesmo me esforçando para me tornar, para ser, o que todos diziam que eu era. Eu sabia que mesmo após a nossa conversa ela iria embora, Annabeth, como eu queria poder tê-la criado aqui no Olimpo. Tanto sofrimento eu havia causado à minha filha por ter obedecido às regras, mas agora isso iria mudar, eu não permitiria que ninguém mais a magoasse, nem mesmo eu ou as regras as quais eu era presa, eu daria um jeito, eu devia isso a ela. Memórias do dia em que a entreguei ao pai para que ela se tornasse uma grande heroína voltaram à minha cabeça, como se eu estivesse revivendo cada uma delas:

Coloquei meu bebê na cesta dourada que havia sido feita especialmente para ela, Annabeth não chorou, mesmo com poucos cabelos na cabeça dava para ver que ela seria loura, como o pai. Respirei pesadamente, como ele reagiria? Lorde Hefesto procurou chamar a minha atenção.

“Seus filhos já estão prontos para irem para a casa dos parentes mortais.” Ele falou seriamente.

Assenti com a cabeça, admirando a cada um de meus filhos desaparecer lentamente, Zéfiro levando cada um para onde deveriam morar até que tivessem idade suficiente para ir ao acampamento. Annabeth foi a última a desaparecer.

Respirei fundo e observei quando cada homem que eu havia escolhido abençoar e suas reações.

Todos pareceram surpresos no princípio, mas em seguida felizes. Sorri para mim mesma, eu havia escolhido bem, então me dei conta que ainda faltava Frederick. Voltei minha atenção para onde ele morava.

Sua expressão era de confusão até encontrar meu bilhete, depois disso ele pareceu um tanto perturbado e parecia relutante ao levar o berço com nossa filha para dentro da casa. Franzi a testa em confusão e decidi ir até ele para que pudesse averiguar o que estava acontecendo.

Decidi não aparecer dentro da casa, para não assustá-lo.

Andei devagar até a porta e bati, acho que era uma coisa que um mortal faria.

“Estou indo!” Respondeu Frederick do lado de dentro e eu me preparei para o que viria.

Ao abrir a porta sua expressão aborrecida se desfez em uma mistura estranha de choque e puro terror. Fingi não me importar com sua surpresa.

“Posso entrar?” Perguntei e ele deu um passo indeciso para o lado permitindo que eu passasse. “Quero conversar com você.”

Ele parecia ter perdido a capacidade de falar por algum tempo, mas minhas palavras pareceram despertá-lo no mesmo instante.

“O que você estava pensando?” Ele perguntou antes que eu parasse na sala de estar, avistei minha filha, ainda dentro do berço de ouro, olhando tudo ao redor, mesmo para um bebê parecia bastante consciente de tudo que a cercava.

Frederick entrou em meu campo de visão antes que eu pudesse registrar mais alguma coisa, seu óculos estava torto e suas roupas amarrotadas, sua expressão não era nada feliz. Seus olhos castanhos pareciam me hipnotizar então desviei o olhar pois ele ainda esperava uma resposta.

Respirei fundo uma vez e organizei minha resposta.

“Eu escolhi você para receber um presente meu. Uma criança minha é considerada uma grande bênção.” Falei num tom neutro enquanto apontava para nossa filha dentro do berço. “Devia sentir-se honrado.”

“Em que mundo um filho é um presente?” Ele perguntou parecendo um tanto ofendido. “Ah é, e com certeza estou me sentindo honrado.” Devo admitir que ele era bastante corajoso para um homem mortal.

“Para muitos homens, é sim, um presente, o maior presente que uma mulher pode dar a um homem.” Respondi ignorando seu sarcasmo e ele bufou.

“Mas tinha que ser justamente agora? Quando não poderei dar atenção a ela?” Ele parecia suplicante e não mais com raiva. “Você não pode levá-la para o Olimpo? Com certeza há meios para que ela fique lá!”

Eu o encarei e tinha certeza de que a minha expressão não estava nenhum pouco gentil, tanto que ele deu um passo para trás.

Ele não entende, a voz de Hefesto soou na minha cabeça, se acalme.

Hefesto tinha razão: Frederick não compreendia, por mais que eu quisesse que Annabeth, e não apenas ela como todos os meus filhos vivessem no Olimpo, não era permitido pela mais profunda das Leis Antigas, escritas pelos Primordiais. Desviei o olhar por um momento, mas depois voltei a olhá-lo tentando impedir que minha dor aparecesse na voz ou em meus olhos.

“Apenas deuses podem morar no Monte Olimpo” recitei a lei que me proibia de criar Annabeth junto de mim. “Herois devem ser criados por seu parente mortal, para que assim tenham a coragem de buscar seu destino quando for a hora certa, e é por isso que você vai ficar com ela, para que no momento adequado ela se torne um grande heroína, assim como as Parcas previram, mesmo que nesse caminho perca algumas pessoas importantes...” me interrompi ao ver que havia falado demais.

Frederick me olhava como se nunca tivesse visto quem eu era antes daquele dia, percebi que ele estava chegando a uma conclusão, mantive minha curiosidade sob controle e impedi-me de vasculhar sua decisão em sua mente.

“Não haverá discussão contra você, não é mesmo?” Ele parecia conformado com isso e eu concordei com a cabeça. “Então eu cuidarei dela até que tenha idade suficiente para que você venha buscá-la.”

“É apenas isso que estou pedindo.” Falei com um sorriso. “Cuide bem da nossa menina.” Sussurrei antes de desaparecer.

Como era possível que agora aquela decisão me parecesse ser errada? Mas isso não vinha mais ao caso eu precisava proteger minha filha a todo o custo, ela precisava de mim, naquele momento mais do que em qualquer outro.

Uma batida apressada na porta me tirou da linha de pensamentos preocupados e, talvez, excessivamente protetores que eu estava tendo.

“Lady Atena, por favor, abra” era a voz de Hermes e ele parecia nervoso. “O Senhor Zeus está convocando uma reunião de emergência no Salão Principal com todos os membros do conselho. Eu acredito que seja para discutir sobre os... ah, acontecimentos recentes em nossa família.”

“Pois bem Lorde Hermes eu já estou a caminho.” Eu disse ao abrir a porta e vi apenas a imagem tremeluzente de pura energia dele. Sua verdadeira forma divina, ela não me afetou como teria feito a um humano, que teria se desfeito em cinzas, mas eu era uma deusa então isso me tornava praticamente indestrutível. Hermes apenas assentiu com a cabeça e desapareceu sem nenhum vestígio de sua estada ali. Pensei rapidamente, eu precisava agir logo.

Estalei os dedos e minha armadura apareceu em meu corpo, meu elmo e meu escudo em minha cabeça e embaixo de um de meus braços e então me dirigi ao que prometia ser mais uma “espetacular” reunião de família.

******

Caminhei pelo pátio que levava à escadaria principal tão distraída de tudo que não percebi nada de diferente ao meu redor, algo que não era típico de mim, devo admitir. Senti a aproximação de alguém, mas não me dei ao trabalho de ver quem seria.

“Olá Lady Atena.” Veio a voz que eu não esperava que viesse dirigida a mim naquela noite, era grave e firme, mas parecia inconstante demais e era a voz do meu maior inimigo no monte Olimpo, se você pensou em Poseidon está correto. Fiquei tensa de imediato, esperava que fosse qualquer outro deus, não ele.

Respirei fundo uma vez para me certificar que minha resposta não seria baseada em apenas na raiva que eu tinha dele, mas em uma resposta madura e racional que não teria em nada a ver com todas as vezes que ele havia atentado contra mim ou a um de meus filhos. Eu seria mais controlada que ele, mais adulta apesar de ele ser mais velho que eu alguns éons, e mais firme também.

“Lorde Poseidon.” Cumprimentei-o sem realmente olhar para ele, apenas com um gesto leve com a cabeça, eu estava decidida a não permitir que ele me tirasse do sério, não quando estávamos a beira de mais uma crise familiar, a sétima em apenas um mês, segundo as minhas contas (as outras seis dariam uma história muito longa por isso não falarei sobre elas).

Suspirei novamente, apenas para me acalmar, eu não sabia o motivo da presença de Poseidon me deixar, não sei como dizer, desconfortável talvez? Mas eu não iria demonstrar o quanto ele me afetava, não havia possibilidade de permitir isso acontecer.

“Ao que parece meu irmão resolveu convocar uma reunião do conselho às pressas.” Ele falou tentando puxar assunto quando eu havia demonstrado meu talento todo especial em ignorá-lo, algo que era uma tremenda façanha devido ao fato de ele estar bem ao meu lado e eu superconsciente disso.

“Sim, meu pai é um dos deuses mais atarefados do Olimpo. Deve querer nos avisar de algum perigo iminente. Ou talvez queira debater sobre a questão da menina que ele gerou e que pode significar problemas para nós no futuro não é meu tio?” Falei com uma pontada de irritação e reprovação aparecendo em minha voz, deveria haver algo de bom com relação àquela notícia, mas o quê? “É realmente um grande alento que você e Lorde Hades mantenham o juramento não é?” Falei com certa frieza.

Poseidon não falou mais nada durante o restante do caminho e eu fui relaxando um pouco mais, eu sabia que havia tocado em um ponto sensível para Poseidon, ele sempre foi muito orgulhoso de todos seus filhos, mas agora ele não possuía nenhum para que pudesse exaltá-lo como um grande heroi.

Assim que chegamos ao Grande Salão todos os olhares dos deuses que já estavam lá recaíram sobre nós dois (devo dizer que o conselho estava quase todo reunido), e eu como sempre os ignorei e me dirigi ao meu trono que ficava entre o de Deméter, que se limitou a dar-me um sorriso tranquilo e um aceno de cabeça, e o trono de Ártemis que acenou na minha direção parecendo preocupada com algo, mesmo estando no tamanho grande dos deuses ela ainda parecia uma menina com cabelos vermelhos, mesmo que isso não enganasse aos membros do conselho todos sabíamos o quanto Ártemis era valente.

Olhei em volta e me deparei com o olhar de Afrodite na minha direção, seus olhos de todas as cores se moviam entre mim e Poseidon de forma que pude compreender seus pensamentos embora ela se esforçasse para escondê-los de mim e eu a repreendi mentalmente: Nem pense em fazer nada, sei que estou te devendo por ter usado seu jardim, mas isso não significa que você pode fazer o que bem entender comigo ou com as minhas vontades.

Ela me olhou por um momento e viu minha decisão antes mesmo que ela pensasse em algo para me dizer, seu olhar de decepção fez com que eu me sentisse vitoriosa. Ponto pra mim, pensei com um sorriso enquanto ela desviava o olhar.

Entenda: Afrodite sempre quis me ver ao lado de Poseidon, nunca aceitou o fato de eu, ou Ártemis, ou Héstia, termos escolhido o caminho das Deusas Donzelas, e por isso sempre fazia algo para que eu estivesse perto dele de forma que fosse “tentador”, algo que não me agradava nenhum pouco.

Ok, mudando de assunto e voltando à contagem dos que já estavam presentes para a reunião: Zeus com seu raio mestre na sua mão direita encarando o chão parecia pensar em algo importante, no trono ao seu lado estava Hera, que o olhava parecendo tremendamente ofendida com os atos de meu pai, devo dizer que concordava com a atitude da Rainha dos Céus. Poseidon que girava seu tridente e olhava para o céu estrelado, murmurava alguma coisa, mas mesmo sendo uma deusa não consegui distinguir o que era, olhei para Deméter ao meu lado direito sua expressão parecendo entediada. Ares raspando as unhas com sua faca não parecia estar dando a mínima para nós, Eu que observava todos atentamente, Apolo estava de olhos fechados e parecia realmente preocupado com alguma coisa, assim como sua irmã Ártemis no trono ao meu lado esquerdo que mirava Apolo com grande intensidade, Hefesto olhava para Afrodite com um brilho estranho nos olhos, ela por sua vez encarava firmemente o trono de Ares, que parecia disposto a ignorá-la naquela noite, o que fez com que eu me perguntasse o que havia acontecido. Faltavam apenas Hermes e Dionísio, e talvez (se meu pai tivesse mandado chamá-lo, o que eu achava pouco provável), Hades.

Lady Hera não estava com o melhor dos humores, seus olhares raivosos dirigidos a meu pai não me surpreenderam, e eu não tirava a razão dela, mas não era apenas com ela que meu pai teria que lidar em alguns minutos, não tive muito tempo para pensar nisso pois nesse mesmo momento Hermes e Dionísio apareceram no meio do Salão e se dirigiram aos seus devidos tronos depois de fazer uma reverência a Zeus.

“Eu declaro esta reunião do Conselho Olimpiano aberta.” Declarou Zeus com uma voz firme, seu raio mestre brilhou mais forte em sua mão, assim que os dois sentaram-se nos tronos.

“Isto é inútil!” Hera comentou quando nenhum olimpiano ousou demonstrar sua opinião. Sua voz continha cada gota da raiva que ela estava lutando para reprimir e sua forma tremulava, em um momento ela parecia se tornar Hera e no outro parecia ser Juno. “Há dois anos esta menina perambula por aí, e só agora você resolve convocar uma reunião do conselho?”

Todos os presentes olharam para ver como Zeus reagiria, para surpresa de todos nós ele apenas ouviu calado o que Hera havia dito, Apolo deu uma risadinha com a escolha de palavras de Hera.

“Devemos destruir essa menina de uma vez, se ela chegar aos dezesseis anos nós teremos um problema enorme nas mãos, não podemos permitir que isso aconteça.” Comentou Ares num tom faminto, ansioso por mortes. Fiquei surpresa que ele tivesse parado de nos ignorar.

“Minha filha não será destruída Ares. Tenha a certeza que eu não irei permitir.” Zeus falou com raiva, fazendo com que o ar ficasse cheirando a ozônio e o céu noturno explodisse em relâmpagos e todos no conselho começaram a falar tomando partidos entre meu pai e Hera.

“Isto é um insulto a mim!” Gritou Lady Hera fazendo todos no conselho se calarem mediante a declaração de Zeus, eu não havia me manifestado ainda, precisava avaliar a situação com muito cuidado. “Essa menina continuar viva só irá insultar a minha memória! E insulta seu juramento também!”

“Você já teve o tributo para que Thalia fique viva Hera, portanto não deve queixar-se de mais nada!” Respondeu Lorde Zeus de forma que todos permaneceram calados, ou melhor, agora ele havia se tornado Júpiter e rapidamente Lady Hera assumiu a forma romana, assim como todos os outros membros do conselho.

“A vida de Jason, seu filho romano, para que eu poupe a vida de Thalia, sua filha grega.” Juno falou o nome de Thalia como se falasse de algo imundo, não pude deixar de sentir pena da garota, mesmo ela não devendo ter nascido.

“É verdade que a garota não deveria ter nascido.” Comecei em tom neutro tentando chamar a atenção para mim demonstrando minha forma grega, se fôssemos discutir sobre esse assunto era melhor que fosse em nossas formas gregas, éramos mais pacíficos, por assim dizer. Todos olharam para mim e lentamente se tornaram gregos novamente, mesmo com Marte relutante em se tornar Ares novamente. “Ares tem razão em dizer que corremos um grande risco ao permitir que a menina fique viva, contudo, decidir quando tirar a vida de um semideus deve ser a tarefa apenas das Parcas.”

“O que está dizendo então Lady Atena? Que devemos permitir que a criança fique viva?” Foi a pergunta de Apolo, ele não parecia ofendido, apenas temeroso.

“Este não foi o meu parecer sobre a questão.” Falei escolhendo as palavras com bastante cuidado. “O que vamos fazer será o conselho que vai decidir, todos aqui sabem o que o próximo filho dos Deuses Antigos,” eu falei lançando um olhar significativo a Zeus e a Poseidon e enviando uma imagem mental de Lorde Hades a cada um “fará uma escolha que pode nos destruir ou nos salvar.”

Olhei para Zeus assim que acabei de falar e percebi seu olhar de aprovação misturado com receio, ele não parecia querer que sua filha fosse destruída, mas ele conhecia os riscos de mantê-la viva.

“Então é uma sorte que nem Poseidon, nem Hades tenham tido novos filhos semideuses, não é mesmo? Eu não quero nem imaginar se tivessem tido.” Foi a vez de Hermes se manifestar, percebi que Poseidon se mexeu inquieto em seu trono, mas antes que eu pudesse comentar qualquer coisa sobre isso Zeus falou:

“Então devemos votar sobre a questão de manter a meio-sangue Thalia Grace viva, ou se vamos destruí-la.” Sua voz demonstrava claramente sua vontade de manter a menina viva. “Levantem a mão aqueles que estiverem de acordo em manter minha filha viva.”

Hera, Dionísio, Ares e Eu mantivemos nossas mãos abaixadas, mas mesmo a pessoa pior em matemática saberia que éramos minoria nessa contagem de votos.

“Temos uma maioria. A semideusa Thalia continuará viva até segunda ordem.” Disse Zeus olhando para cada um de nós.

“Assim seja Lorde Zeus.” Todos respondemos em uníssono, alguns pareciam pouco satisfeitos com aquela decisão, Ares era um deles.

“Declaro esta reunião do conselho encerrada.” Foram as últimas palavras de Zeus antes de desaparecer com Lady Hera logo atrás dele, seu vestido branco foi a última coisa que pude captar e sua expressão antes de desaparecer me dizia que o Senhor dos Céus não teria uma boa noite de descanso.

Todos os outros deuses começaram a se dispersar, ouvi um suspiro baixo de resignação e percebi que veio de Dionísio antes que ele desaparecesse para ir ao acampamento.

Suspirei, mas então um pensamento iluminado veio até mim, mesmo durante o conselho eu não pude deixar de pensar em Annabeth, era simplesmente incontrolável. Eu não poderia interferir diretamente na vida de minha filha, mas podia mandar uma mensagem até ela. Todos sabiam que Thalia Grace estava sendo acompanhada por Luke Castellan ao fugir de monstros por todo o país, isso poderia ser usado em meu favor se eu soubesse a quem pedir. Eles poderiam ir para o acampamento, Dionísio poderia ficar de olho neles. É, esse era um bom plano.

E lá estava ele, justamente quem eu precisava, se preparando para partir e entregar alguma mensagem: Hermes, não vá. Tem uma coisa que quero lhe pedir. Há uma mensagem que quero mandar a alguém. Pensei na direção dele, que me olhou um tanto confuso, mas eu disfarcei, nenhum deus aqui presente poderia desconfiar de minhas intenções ao conversar com Hermes.

******

“Você sabe que isso é proibido Lady Atena, não podemos guiar tão claramente nossos filhos até onde achamos que eles devem ir.” Hermes resmungou quando terminei de contar a ele o que eu precisava que ele fizesse.

“Olha para quem você está falando isso Lorde Hermes.” Eu falei apontando para mim.

“Ponto para você.” Ele murmurou nenhum pouco satisfeito.

Você tem uma nova mensagem. Martha a serpente no caduceu de Hermes falou para ele. Boa noite Lady Atena.

“Boa noite Martha.” Respondi calmamente, eu precisava convencer Hermes a ir até Annabeth o mais rápido possível, antes que fosse tarde demais.

“De quem Martha?” Hermes perguntou impaciente enquanto eu acenava para a cobra falar logo.

Lady Éris está procurando um emprego e deseja falar com você. A outra serpente falou, George. Como vai Lady Atena? Você tem um rato para mim?

“Muito bem George, e você?” Eu estava com pressa será que não podiam conversar um pouco mais rápido? “Espere um momento George.” Eu falei fazendo um rato de bom tamanho aparecer na minha mão.

Muito bem! Ele respondeu não percebendo minha impaciência ao entregar o rato em sua boca. Obrigado Lady Atena.

“Digam a ela para falar com Éolo, quem sabe ela não se torna uma assistente dele ou coisa parecida?” Hermes falou um tanto irritado.

Isso não vai terminar bem. Avisou Martha preocupadamente. Éris pode se ofender com isso e tenho certeza que você se lembra da última vez!

Concordo plenamente. Falou George de boca cheia e Hermes franziu a testa, parecendo preocupado e eu entendi sua preocupação: se George e Martha estavam concordando era melhor escutá-los.

Resolvi materializar um rato para Martha também que o abocanhou ávida.

“Tudo bem, mande ela para o setor de mensagens de voz. Estamos precisando de novas pessoas naquele setor.” Hermes murmurou antes de colocar o caduceu de lado como se realmente quisesse se livrar dele por alguns momentos.

“Então Lorde Hermes. Já se decidiu?” Perguntei impaciente.

Ele me olhou parecendo extremamente cansado, mas decidido.

“Sim Lady Atena. Mas espero que você saiba o que está fazendo.” Ele falou lançando-me um olhar sério e preocupado. “Respeito o que você quer fazer. Pois eu também quero guiar meu filho até onde puder, mas nós dois sabemos que as conseqüências serão terríveis se perceberem que burlamos as leis antigas.”

Assenti calmamente, tentando pensar no agora e não no depois, eu poderia pensar em algo mais à frente, agora Annabeth precisava da minha ajuda, e levá-la até Luke e Thalia parecia o certo a fazer. Luke seria um bom amigo para minha filha, talvez ela pudesse salvá-lo do destino... Hermes me olhou e percebi que ele havia pensado o mesmo que eu.

“Entregue isso a ela, darei um jeito para que ela encontre Thalia e Luke.” Falei tentando acalmar a ele e a mim, pois de uma forma ou de outra nós dois estaríamos quebrando regras ali. Entreguei a ele uma sacolinha com dracmas de ouro, tirei um grampo do meu cabelo, eu sabia que não duraria muito, ela poderia usar meu presente apenas três vezes e depois estaria por conta própria. Escrevi um bilhete rápido e entreguei a Hermes. “Você não estará guiando o caminho do seu filho, mas sim o caminho da minha filha Lorde Hermes, e eu não estarei guiando o caminho da minha filha, mas sim o do seu filho. Não estaremos quebrando nenhuma lei que nos proíbe de interferir diretamente na vida de nossos filhos.” Falei confiante.

Hermes sorriu parecendo satisfeito e pegou o bilhete da minha mão.

“Como sempre você está certa Lady Atena, não estamos quebrando as regras, tecnicamente.” Ele disse começando a desaparecer.

“Não falhe.” Falei antes que ele se fosse totalmente.

“Não se preocupe Lady Atena, entregar mensagens é o meu dever.” E com isso ele sumiu, me deixando sozinha ao lado de uma das várias fontes de mármore branco do Olimpo e apenas o som de sua risada.

Uma luz tênue criava um arco-íris na água borbulhante da fonte. Peguei um dracma e o joguei na névoa colorida.

“Ó Íris, deusa do Arco-Íris. Aceite a minha oferenda.” Murmurei um tanto desconfortável, sentindo como se estivesse bisbilhotando a vida da minha filha.

A moeda sumiu e eu falei.

“Annabeth Chase. West Point, Virginia.”

A imagem tremulou e me revelou um quarto pequeno, porém aconchegante, com uma menina com cabelos dourados e cacheados pronta para sair. Eu estava observando a cena do alto, então ela claramente não podia me ver.

“Me perdoe mamãe.” A voz de Annabeth chegou até mim, vi com tremendo horror ela sair devagar do quarto e descer as escadas.

Passei a mão na imagem, desfazendo assim a conexão, não queria ver mais nada.

“Você sabia que ela iria embora!” Murmurei para mim mesma com um suspiro revoltado.

“Você ainda está me devendo.” Uma voz falou atrás de mim, respirei fundo e me virei para encarar Afrodite.

Ela estava deslumbrante, é claro, com seu vestido vermelho e maquiagem impecável, mas eu não estava no espírito para que ela cobrasse o que eu eventualmente encontraria uma forma de pagar.

“Eu sei disso muito bem.” Falei numa voz forçadamente despreocupada.

“Mas para ser sincera.” Ela falou dando um passo à frente e o vestido esvoaçou ao seu redor. “Fiquei surpresa ao ver a intensidade do seu sentimento pela sua filha. É raro ver um sentimento dessa força por alguém que vai a meu jardim, devo admitir que estou surpresa.”

“É mesmo?” Falei um tanto cética, não demonstrando meu constrangimento, era raro eu ficar constrangida, mas Afrodite sempre conseguia me deixar dessa maneira.

“Mas não se preocupe, não cobrarei o que você me deve nesse momento.” Ela falou com um sorriso gentil e que me fez estreitar os olhos não me agradava a ideia de dever um favor a algum deus, principalmente para Afrodite. “Irei esperar o momento certo, não se preocupe.” Ela repetiu ao se afastar.

Eu fiquei lá, parada, pensando: O que ela iria querer? Provavelmente eu não gostaria de saber o que seria. E com esse pensamento alegre me teletransportei de volta para meu palácio, pensando em minha filha, sempre nela. Onde Annabeth estaria naquele momento? Hermes era a minha maior esperança naquele momento, ele não podia falhar. Rolei para o lado e fechei os olhos tentando tirar a sensação que me dizia que um dia eu perderia Annabeth, mas que não seria para a morte.


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Notas finais do capítulo

e aí? gostaram? Prometo tentar postar o próximo amanhã.