Minha Vida Antes... (annabeth) escrita por Marina Leal


Capítulo 5
Capítulo 5: FUGA NO MEIO DA NOITE


Notas iniciais do capítulo

demorou mas consegui postar, desculpem pela demora ok?



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(POV:Annabeth)

Ao chegar ao meu quarto eu já tinha tudo preparado para minha fuga. Uma mochila com uma boa quantidade de roupas, minha escova de dentes, comida (uns pacotinhos de barras energéticas) e um mapa, não era muita coisa, mas teria que servir. Eu havia decidido ir embora naquela noite, para nunca mais ter que ouvir a verdade que me magoava: Eu não era querida naquele lugar que um dia chamei de meu lar.

Ouvi meu pai subir as escadas, dar boa noite para todos meus irmãos e ir para o quarto dele e desligar as luzes. Pouco depois disso o ouvi abrir a porta de seu quarto e Margaret perguntar o que ele ia fazer.

“Esqueci de fazer uma coisa querida, volto logo.” Ele disse baixo, mas eu consegui escutar, pelo menos os deuses estavam comigo (já que eu pude ouvir), pelo menos era isso que eu achava.

Seus passos abafados pararam na frente de meu quarto por alguns segundos, com o coração aos pulos joguei-me na cama e fingi que dormia. Ele entrou rapidamente e foi até a minha mesinha de cabeceira, espiei por entre os olhos e parecia que ele estava deixando algo para mim.

“Cuide-se bem Annabeth.” Ele disse e saiu. Ouvi-o voltar para o quarto e fechar a porta pensei em me levantar, mas antes que eu pudesse realmente tentar me levantar um cansaço enorme se apoderou de mim eu caí no sono por cima das minhas cobertas.

No meu sonho eu estava andando em um bosque muito bonito, que tinha todos os tipos de árvores que se pode imaginar e eu andava por um caminho com pedras coloridas que combinavam perfeitamente, e em arbustos a minha volta todos os tipos de flores cresciam formando um complicado padrão em torno do jardim, mas ainda assim harmonioso e belo.

“Eu acho que você não devia fazer o que sei está pensando.” Uma voz de mulher falou atrás de mim me assustando. “Desculpe-me.”

Olhei para trás e arfei. Ela era incrível, era forte e tinha a delicadeza das flores a minha volta, tinha uma aura forte e parecia confiante, mas não foi isso o que prendeu minha atenção, foram os olhos dela, os belos olhos cinzentos que eu via toda vez que olhava em um espelho, então se era assim ela só podia ser...

“M-mãe?” perguntei um tanto nervosa.

Ela assentiu sorrindo para mim, era um sorriso bonito de ver e eu perdi o fôlego de novo.

“Sim Annabeth, sou eu.” Ela deu um passo incerto na minha direção, como se tivesse com medo de que eu fosse fugir se ela chegasse rápido demais.

Eu fiquei sem reação, eu pude conhecer minha mãe, e mesmo assim não tive coragem para chegar até ela e a abraçar sentir os braços dela, sentir que ela era real, pelo menos em sonho, mas eu sabia que ela estava ali. Fui tomada por uma quantidade imensa de emoções. Mas minha culpa por ter decidido fugir da casa de meu pai foi mais forte do que a minha vontade de tocar minha mãe e todos os outros sentimentos que me varreram.

“Não se preocupe querida,” ela disse se sentando no banco de pedra e acenando para que eu fosse sentar ao seu lado. “Não estou aqui para criticar suas escolhas.”

Eu abaixei a cabeça, senti meu rosto ficando vermelho.

“Me desculpe” eu falei indo me sentar ao lado dela com um pouco de medo.

“Não se desculpe meu amor.” Ela falou deitando a minha cabeça em seu colo e penteando meus cabelos com as pontas dos dedos assim que me sentei ao seu lado. “Na verdade sou eu quem deve se desculpar por aqui e por tudo o que tem acontecido com você, meu bem.”

“Mas eu não acho que seja.” Murmurei tristemente discordando da forma como ela havia considerado a minha escolha, como se ela fosse a culpada. “Eu estava pensando em ir embora há muito tempo. E ainda estou, sei que não devia, mas é assim que me sinto, e a culpa não é da senhora.” Desabafei.

“Você quer uma vida livre de sofrimento Annabeth, e eu entendo isso, assim como você não pode tirar a minha parcela de culpa nessa história. Mas como eu disse, não estou aqui para criticar as suas escolhas querida. Estou aqui para conversar com você, e também não quero que se preocupe, você vai acordar a tempo de ir embora se essa ainda for a sua vontade quando terminarmos de conversar.” Ela falou me surpreendendo completamente.

Eu não tinha palavras para responder, então fechei os olhos e desejei nunca ter que sair dali.

“Prometo que tudo vai mudar depois de hoje meu amor” ela falou num tom tranqüilizador e eu relaxei enquanto ela voltava a mexer em meu cabelo.

Abri os olhos e olhei para cima, para além do rosto da minha mãe e vi um céu azul, como se o dia já estivesse claro, levantei minha cabeça de seu colo no mesmo momento, preocupada.

“Mãe, onde nós estamos?” Perguntei observando em volta tentando reconhecer o lugar, mas nada me veio à cabeça, depois voltei minha atenção novamente para ela, que suspirou, olhou em volta e depois sorriu para mim com o canto da boca.

“Este é o Jardim de Afrodite.” Ela falou com uma expressão estranha no rosto logo depois murmurou alguma coisa, com uma voz desaprovadora, que não pude ouvir, mas que me pareceu algo como: Ela sabe como conseguir as coisas.

“Ah” foi a minha resposta genial, eu não sabia como devia reagir.

Eu não sabia como fazer aquilo, mas queria me encostar nela novamente, só que dessa vez ela não parecia querer que eu fizesse aquilo.

“Este lugar” ela começou com um tom estranho na voz e pousando a mão em uma roseira que estava ao lado do banco que nós estávamos “só pode ser convocado por alguém se o sentimento de quem o convoca for verdadeiro.” Ela parou por um momento. “É um lugar que geralmente apenas os casais têm permissão de encontrá-lo. Mas eu tenho meus métodos.” Então ela pareceu se dar conta do que havia dito e se interrompeu, seu olhar por um momento pareceu perdido em alguma lembrança de um passado distante ou talvez mais recente.

“Por que...?” Eu comecei tentando ignorar o que ela havia dito alguns segundos antes. Eu queria saber por que ela havia me levado até ali, se não era para tentar me convencer a não ir embora da casa de meu pai.

Ela me encarou, seus olhos cinzentos pareciam procurar algo em mim, e isso me assustou bastante, pois ela parecia poder ver minha alma. Depois de alguns segundos seus lábios se moveram e ela virou o rosto, mas não totalmente, de forma que eu podia ver o seu olhar perdido em algo.

“Eu a trouxe até aqui porque precisava conhecê-la Annabeth e para que você pudesse me conhecer.” Ela olhou novamente para mim. “Eu, como deusa, não disponho de muito tempo para dar atenção a cada um de meus filhos, mas procuro de uma forma ou de outra, conciliar esses dois fatores importantes em minha vida. Você entende?”

Eu pensei por um momento, eu sabia que minha mãe estava tentando me dizer algo importante, mas eu não consegui me concentrar nisso. Eu só conseguia pensar que ela havia dito que tinha outros filhos, e se ela tinha outros filhos, isso fazia deles... meus irmãos. Essa foi apenas uma das coisas que se passou em minha cabeça durante esses míseros segundos, mas foi a que mais me impressionou. Eu balancei a cabeça para frente e para trás lentamente e minha mãe sorriu.

“Eu sei que pode ser muito confuso minha filha, e também que é muita coisa para absorver.” Ela disse enquanto eu desviava o olhar tentando disfarçar o que estava passando na minha cabeça, mas eu sabia que ela conseguia entender tudo muito bem.

Ela suspirou e eu não agüentei a curiosidade de ver como estava o rosto dela.

“Não irei prendê-la mais aqui por muito tempo. Sei que você tem algo importante para fazer.” Sua voz não continha crítica nenhuma, apenas parecia muito triste e ao mesmo tempo parecia tentar demonstrar firmeza. “Seu pai é um bom homem, Annabeth. Ele apenas não soube como demonstrar isso a você.” Ela falou se levantando e eu pude sentir que nossa conversa se aproximava do fim.

Ela me olhou com um sorriso sereno no rosto e estendeu os braços na minha direção.

“Posso?” Ela perguntou hesitante.

Eu a fitei totalmente perplexa, mas apenas por um momento, antes de me sentir feliz.

“Claro mamãe!” Eu falei sorrindo enquanto me lançava nos braços dela com meu coração dando pulos de alegria.

Ela era quente, mas não de uma forma insuportável, era mais como se ela tivesse o calor de uma lareira durante o inverno. E eu, pela primeira vez em muito tempo, me senti segura. Eu sempre havia imaginado meu primeiro encontro com a minha mãe e aquilo foi muito melhor que todas as vezes que eu havia imaginado, porque havia mesmo acontecido.

“Boa sorte minha filha. Em breve você vai acordar e terá que tomar uma decisão. Quero que você pense sobre o que conversamos enquanto tenta se decidir. Está bem?” Ela murmurou afagando as minhas costas. “E me desculpe pela forma como fiz você dormir, sei que foi exagerado, mas precisava falar com você, de uma forma ou de outra.” Mesmo sem poder ver seu rosto eu sabia que ela estava sorrindo.

“Então foi a senhora?” Perguntei rindo baixinho.

“Sim. Fui eu.” Ela falou me afastando para olhar em meu rosto. “Até a nossa próxima conversa minha filha.” Eu apenas assenti com a cabeça. “Boa sorte.” Ela falou dando um passo para trás antes de ir sumindo lentamente, assim como o Jardim de Afrodite.

“Até logo mamãe.” Falei antes do meu sonho se acabar totalmente.

Acordei sobressaltada, meio confusa por tudo o que havia acontecido.

“Mãe.” Eu falei olhando ao redor, mas não havia nada em volta a não ser meu quarto e minhas coisas espalhadas.

Levantei-me rapidamente e me vesti com uma roupa simples, uma calça jeans e uma camiseta bem prática, lancei um olhar para a mesinha de cabeceira e vi o que meu pai havia deixado para mim, um colar dourado com um pingente em forma de coruja, o símbolo de minha mãe, há muito tempo atrás ele me disse que um dia me daria aquele colar, mas eu não podia acreditar. Pensei brevemente no que minha mãe havia dito, mas mesmo o que ela me disse não mudaria minha decisão de ir embora.

“Me perdoe mamãe.” Eu falei baixinho.

Não senti nada de diferente ao meu redor então peguei o colar que estava na mesinha com um suspiro e o coloquei na mochila, era um presente e presente não se devolve nem se deixa para trás mesmo que aquela fosse a minha vontade. Naquele momento eu estava tão preocupada em fugir que nem notei que meu pai parecia saber eu havia decidido ir embora.

Tudo bem, eu talvez estivesse exagerando ao ir embora de casa no meio da noite, mas esse era o melhor horário para mim, pois todos em casa estavam dormindo e quando percebessem que eu havia fugido eu já estaria longe para que eles me encontrassem, se procurassem por mim para início de conversa. Passei de fininho pelo corredor que levava à escada, fiquei tensa quando o último degrau rangeu um pouco, mas como ninguém veio ver o motivo do barulho resolvi continuar com meu plano. Peguei a chave que estava pendurada no prego ao lado da porta, abri a porta dos fundos e fui para o quintal, levei um baita susto quando uma sombra se moveu no escuro, mas depois de algum tempo percebi que a mancha preta que se aproximava de mim era na verdade meu cachorro, de todas as coisas dali, o Black seria a que eu iria sentir mais falta.

Ele chegou perto de mim devagar e gemeu bem baixinho enquanto eu soltava um suspiro pesado.

“Eu sei, também vou sentir sua falta.” Eu disse chegando perto dele para fazer carinho atrás das suas orelhas, como eu sempre costumava fazer ao me despedir dele para entrar na casa. “Mas eu tenho que ir.”

Ele chorou baixinho, e eu me segurei para não chorar, Black era sempre quem me ouvia quando minha madrasta era severa comigo, ele ficava comigo quando eu tinha que brincar sozinha no quintal. Ele era meu único amigo de verdade que eu tinha e naquele momento eu teria que deixar ele sozinho, seu pelo preto da cor da noite parecia ir murchando à medida que ele parecia entender minhas palavras e que eu ia embora dali. Ele me olhou com olhos pretos e inteligentes e soltou um ganido baixo e que claramente era de dor, e que também me disse claramente que não queria que eu fosse. Eu o abracei e uma lágrima caiu dos meus olhos para o pelo dele.

“Eu não quero ir,” confessei para ele, sabendo que ele não diria nada ruim para mim se ele pudesse falar naquele momento “você me faz ter a vontade de não ir, mas eu não posso agüentar mais ficar aqui e ser tratada dessa maneira. Eu sinto muito ter que deixar você aqui, vou sentir a sua falta” eu disse olhando nos olhos do meu único amigo durante cinco dos meus sete anos. “Você tem que ficar, não posso levar você porque não sei aonde eu vou e não quero colocar você em perigo. Me desculpa, vou sentir a sua falta mais do que posso dizer, mas não vou dizer adeus porque espero te ver novamente um dia, vou te dizer até logo, até logo.” Eu disse me afastando dele devagarzinho com uma dor enorme se apossando do meu peito.

Ele me seguiu até o portão que dava para a rua.

“Fica!” Eu disse usando um recurso da aula de adestramento quando eu passei do portão. Ele ganiu tristemente, mas ficou no lugar enquanto eu balançava minha cabeça em uma negação. “Cuide deles, eles vão precisar de você.”

Black pegou a bolinha preta de borracha que eu havia comprado pra ele uma semana antes com a boca, e que estava perto da cerca e me entregou. Eu sabia o que precisava fazer, mesmo que não quisesse, eu queria prolongar a presença tranqüilizadora dele perto de mim, mas eu sabia que não poderia ficar ali para sempre, então eu joguei a bola o mais longe que eu podia dentro do quintal e com o meu coração se partindo mais uma vez eu disse:

“Pega!” Ele correu atrás da bola como ele sempre fez quando brincávamos juntos no quintal e eu me afastei do portão o mais depressa que minhas pernas puderam me levar, quando estava na esquina da rua eu ouvi um uivo que reconheci como sendo do meu cachorro, e eu não precisei estar perto dele para saber que ele estava sofrendo tanto quanto eu naquela hora.


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Notas finais do capítulo

ficou menor que os outros, mas eu achei que ficou o melhor até agora.