Minha Vida Antes... (annabeth) escrita por Marina Leal


Capítulo 16
Capítulo 16: QUÍRON NOS CONTA UMA HISTÓRIA


Notas iniciais do capítulo

Esperava postar ontem, mas não deu.



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Sonhei que estava com minha mãe, mas ela não falava nada, apenas me observava chorar e afagava meus cabelos quando eu soluçava, não estávamos no jardim de Afrodite, mas não me importei em tentar descobrir que lugar era. Senti culpa me consumir juntamente com tristeza, Thalia não precisava fazer aquilo por nós, podíamos ter ficado com ela e ficaríamos juntos para sempre, onde quer que fosse, eu, ela e Luke. Senti a onda de reprovação sair de minha mãe por causa de meus pensamentos mesmo que ela não falasse nada, mas não me importei.

Algum tempo depois me senti despertar aos poucos, mas mantive os olhos fechados, não queria encarar a realidade, pelo menos não naquele momento. Eu me sentia frágil e assustada, sabia que poderia chorar a qualquer instante, e não via isso como uma coisa boa. Ouvi um som de alguém perto de mim e uma mão macia apertou a minha.

“Annabeth?” Era a voz de Luke e estava bastante rouca. Respirei fundo uma vez, para me preparar, e abri meus olhos para vê-lo. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, ele com certeza havia chorado bastante enquanto estive desmaiada, mas não comentei nada, pois sabia que ele iria negar, apesar de tudo e da prova em seus olhos.

“Sim?” Sussurrei para ele, e minha voz falhou um pouco, tossi para tentar falar normal.

“Você está bem?” Perguntou preocupado ao olhar atentamente meu rosto. “Estão esperando por nós, há alguém que quer falar com a gente.” Ele falou com relutância.

Fiz que sim com a cabeça, a tristeza ameaçando tomar conta de mim novamente.

“E você?” Perguntei antes que começasse a chorar de novo. Ele percebeu que eu não estava realmente bem e me abraçou, ou talvez ele estivesse tão triste quanto eu, de toda forma, não importava muito por qual motivo era, ele estava vivo, e eu também.

“Ah Annabeth...” Ele sussurrou com dor, sem responder minha pergunta e eu o abracei mais forte com os olhos fechados e por um momento vi o sorriso de Thalia para mim.

Eu nunca esqueceria Thalia, ela havia sido uma grande amiga e entendia o que eu passei com meu pai e minha madrasta melhor que Luke jamais poderia, as lembranças que eu tinha dela nunca sairiam de mim, mas eu e ele viveríamos, e eu cuidaria de Luke como havia prometido a ela ao deixá-la sozinha no topo da colina, eu faria isso. “Não muito bem.” Ele respondeu ainda me abraçando. “Já estou com saudade dela.”

“Eu também.” Falei e respirei fundo para me impedir de chorar novamente.

Afastei-me dele e olhei em volta pela primeira vez. Estávamos em uma varanda bem grande, cheia de espreguiçadeiras, o piso era de madeira, havia escudos e aljavas de flechas jogadas a um canto e alguns adolescentes com camisetas laranja estavam deitados em algumas das macas que haviam ali. Eu estava sentada confortavelmente em uma maca também e a vista que havia ali dava para ver uma campina e colinas verdejantes mais ao longe, e a brisa que soprou de repente tinha cheiro de morangos e eu respirei o aroma profundamente, era delicioso e me acalmou um pouco.

“Onde estamos?” Perguntei tentando me lembrar de como exatamente fui parar ali, mas não consegui forçar nenhuma lembrança, somente o raio ensurdecedor e que eu havia desmaiado em seguida com a certeza de que Thalia não estava mais viva.

“No acampamento.” Ele respondeu olhando em volta. “Na enfermaria da Casa Grande, como eles chamam.”

“Ah! É mesmo!” Exclamei sem entusiasmo e me sentindo vazia, apertei a mão de Luke para me certificar que ele realmente estava comigo e me levantei rapidamente e fiquei tonta, ele me apoiou e fez com que eu sentasse novamente bem devagar.

“Você devia beber um pouco disso aqui, vai te fazer bem.” Ele falou colocando um copo com um líquido transparente na minha mão que não segurava a dele. “Tudo bem, eu já bebi e é néctar.” Ele falou quando eu hesitei em pegar o copo.

“E como eu vim parar aqui?” Franzi a testa com confusão colocando o canudo na boca.

“Eu te carreguei.” Ele respondeu devagar e eu me lembrei que realmente estive no colo dele na noite anterior e acenei que sim. “Você não estava bem para caminhar.”

Dei um gole e recuei com o gosto da bebida dos deuses, porque pela cor estava esperando suco de maçã, mas não tinha nada de parecido. Era parecido com o gosto de biscoitos com pedacinhos de chocolate amanteigados e quentes, o chocolate ainda derretendo. Assim que bebi um gole, meu corpo inteiro pareceu ficar melhor, aquecido e cheio de energia. Uma sensação que eu não sentia há muito tempo.

Luke abriu a boca para me perguntar algo, mas foi interrompido por alguém.

“Annabeth? Luke?” O som de cascos e da voz de Grover chegou a mim antes que seu rosto aparecesse na varanda e eu me encolhi, sua voz me disse que ele aparentava estar tão ruim e triste quanto eu e Luke, doeu lembrar o motivo. “Vocês já podem vir?”

Na verdade ele aparentava estar ainda pior que eu e Luke, soube disso assim que o vi, seu rosto estava completamente vermelho e ele fungou duas vezes e olhou para nós, sua expressão era infeliz e desolada, ele usava uma camiseta laranja e um conjunto de flautas em um colar no pescoço e nada mais, deixando assim suas pernas peludas e seus cascos de bode à mostra. Luke se pôs de pé rapidamente e eu imitei seu gesto ficando ao seu lado no mesmo instante.

“Não foi sua culpa.” Ele falou ignorando a pergunta de Grover e eu concordei com a cabeça. “Se não fosse por você estaríamos mortos.” Senti o tom melancólico em sua voz, mas ainda assim também havia gratidão contida nela.

“Foi sim.” Grover discordou baixinho, seus lábios tremeram. “Minha missão era trazer Thalia em segurança até aqui, e ela acabou... acabou...” Ele fungou e limpou o rosto rapidamente com a mão. “Não importa agora, venham comigo, Quíron e o Senhor D. estão esperando por nós na varanda.” Ele abaixou a cabeça e vi que tinha alguma coisa errada com ele. “O Senhor D. não gosta de esperar demais e sei que minha situação está bastante ruim.”

“Então vamos até eles.” Luke falou indo até ele e me puxando pela mão. “E vamos ajudar você, não se preocupe.”

Grover fez que sim com a cabeça e começou a andar.

“Vamos ficar aqui, não vamos?” Murmurei para Luke enquanto circundávamos a varanda da casa de fazenda.

Ele olhou para mim e fez que sim com a cabeça, mas sem sorrir. Algo parecia ter se quebrado dentro dele com a morte de Thalia e eu não soube como reagir ou como definir o que sentia.

Caminhamos mais alguns metros e quando demos a volta até o lado oposto da casa, parei e pisquei com força, estava sem palavras.

Devíamos estar na costa norte de Long Island, porque daquele lado da casa o vale seguia até a água, que cintilava a cerca de um quilômetro de distância. Da casa até lá a paisagem era pontilhada de construções em estilo da arquitetura grega antiga completamente fascinantes – um pavilhão a céu aberto, um anfiteatro, uma arena circular – e que pareciam todos novos em folha, as colunas de mármore branco reluzindo ao sol, reparei que não havia um templo para os deuses e achei um pouco estranho, já que eram nossos parentes.

Em uma quadra de areia próxima, uma dúzia de adolescentes e sátiros quase da idade de Grover jogavam voleibol. Canoas deslizavam por um pequeno lago. Adolescentes de camiseta laranja-claro como a de Grover andavam aos pares em volta de um agrupamento de chalés no meio do bosque. Alguns praticavam arco e flecha em alvos. Outros montavam cavalos em uma trilha arborizada e alguns dos cavalos deles pareciam ser pégasos, com asas longas e imponentes. Ao nosso lado esquerdo havia uma grande plantação de morangos “Nossa!” Luke falou impressionado e Grover sorriu um pouco.

Olhei novamente para a varanda e na extremidade dois homens estavam sentados frente a frente em uma mesa de carteado. O homem que estava de frente para mim era pequeno e gorducho. Tinha nariz vermelho, grandes olhos chorosos e cabelo cacheado tão preto que parecia ser roxo. Usava uma camisa havaiana com estampa de tigre, e olhar para ele me deu a estranha sensação de medo, pois sua expressão era de raiva, pura e absoluta ao olhar para nós, para Grover, melhor falando.

“Aquele é o Senhor D.” Grover falou para nós dois, percebi o pânico em sua voz assim como em sua expressão. “Ele é o diretor do acampamento, sejam educados.” Nos alertou. “E o homem sentado na cadeira de rodas é o Quíron e é o diretor das atividades daqui, mas ele gosta mesmo é de auxiliar nas aulas de arco e flecha.”

O nome me soava familiar. Quíron. Eu sabia que ele estava relativo aos mitos gregos, mas qual? Pensei brevemente no assunto, mas nada me veio à cabeça. Então:

“É o mesmo instrutor de Héracles?” Perguntei ao me lembrar, minha voz subiu uma oitava com a surpresa e eu senti meu rosto ficar vermelho. “Dos mitos gregos?”

Grover confirmou com a cabeça e eu pensei: Claro, porque não? Estamos em um acampamento com construções gregas e eu sou uma semideusa.

Ele estava sentado tranquilamente na cadeira de rodas e usava um casaco de tweed, o cabelo castanho e ralo, a barba um pouco comprida e desalinhada.

“Bom dia Grover.” Ele saudou-o amigavelmente.

“Bom dia Quíron.” Grover falou abaixando a cabeça sem nem mesmo olhar para o diretor do acampamento, o Senhor D.

“Bom dia jovens meios-sangues.” Ele falou para mim e Luke, e eu o olhei no rosto. Sua expressão dizia que o dia para ele estava qualquer coisa, mas não era nenhum pouco parecido com bom.

“Bom dia.” Luke murmurou sem jeito, seus olhos vagando entre Quíron e o Senhor D. com preocupação. “Diga bom dia Annabeth.” Ele murmurou para mim.

“Bom dia.” Falei e Quíron sorriu, mas a preocupação não deixou seus olhos.

Então ele olhou para o diretor do acampamento e eu segui seu olhar. O Senhor D. fuzilava Grover com o olhar quando percebeu que nós o encarávamos e ele pigarreou para se livrar do breve momento de desconforto e virou seus olhos injetados para mim e Luke. Dei um passo involuntário para trás e ele sorriu.

“Não irei feri-la menina.” Ele falou como se a ideia o divertisse.

“Annabeth.” Luke interrompeu a fala dele e o diretor olhou para ele e sua expressão que já não era amigável, ficou ainda pior. “O nome dela é Annabeth.”

“Está querendo testar minha paciência garoto?” Ele falou para Luke e seus olhos começaram a brilhar com uma espécie de fogo arroxeado e meus instintos gritaram: perigo, perigo. “Meu humor não está muito bom, é melhor não brincar comigo.”

Luke arfou e caiu de joelhos no chão, levou as mãos à cabeça e eu me desesperei.

“Pare!” Pedi com desespero e ele sorriu satisfeito. “Pare, por favor!”

Olhei para Quíron, para que ele desse um jeito de fazer aquilo parar.

“Senhor D.” A sua voz era firme e o diretor do acampamento olhou inocentemente para ele, como se não tivesse feito nada. “O Senhor sabe por que está aqui e isso vai contra as ordens de seu pai. Ele não vai gostar de saber disso.”

O diretor suspirou pesadamente uma vez e estalou os dedos, Luke tirou as mãos da cabeça, mas estava coberto de suor e parecia confuso.

“Bem, acho que tenho que dizer isso: Sejam bem-vindos ao Acampamento Meio-Sangue.” Ele falou com um toque de ironia na voz e eu o ignorei.

“Luke?” Chamei baixinho e ele gemeu. Suspirei de alívio.

“Que não haja uma próxima vez, não são muitos os que me desafiam e possuem a sorte de continuar lúcidos.” Disse o Senhor D. seriamente para Luke. Ele deixou de lado as cartas que segurava e olhou para Quíron fazendo questão de ignorar a mim, Grover e a Luke. “Tem certeza que eles permitiram você contar a eles dois?”

Quíron suspirou e pareceu escolher as palavras com cuidado ao se dirigir ao Senhor D.

“Eles estavam acompanhando a Filha de Zeus, correram um grande risco e talvez nem saibam o motivo ao certo. Devemos isso pela memória dela.” Ele falou e seus olhos se voltaram para mim e eu reprimi o choro, não era hora para aquilo. “Mas ainda não devem saber toda a história, de acordo com o conselho.”

“Sim, sim.” Resmungou o Senhor D. com descaso. “Todos votaram a favor de que eles ficassem sabendo. Então que assim seja.” Ele se virou para Grover e pareceu ficar novamente irritado. “Precisamos conversar sátiro. Eu avisei que ainda não devia sair em busca de meios-sangues, não avisei?”

Grover apenas abaixou a cabeça e gemeu de tristeza, mas não reclamou em nada, naquele instante percebi que deus era aquele e não fiquei muito animada ao vê-lo ali.

“Venha comigo. Quíron tem um assunto sério a tratar com esses dois enquanto conversamos.” E acenou para Grover segui-lo para algum lugar dentro da casa.

“Foi bom ter conhecido vocês.” Ele murmurou melancólico para mim e Luke antes de ir atrás do diretor do acampamento com passos pesados de alguém que vai para a forca.

“Ele vai ficar bem.” Quíron falou para mim enquanto ajudava Luke a se sentar na cadeira que ficava ao lado da dele, mas não parecia muito seguro.

“Nosso diretor não parece uma pessoa muito amigável.” Falei um pouco ressentida pelo que ele havia feito com Luke. “Ou melhor, um deus muito amigável.”

Quíron não pareceu surpreso com o fato de eu ter percebido quem era o Senhor D.

“O velho Dionísio não estaria realmente chateado com Grover não fosse o fato de ter passado a noite em uma reunião de emergência no Olimpo. Zeus não gostou do fato de ter que transformar sua filha em um pinheiro.” Quíron fez uma careta e eu fiquei em choque. Thalia havia virado um pinheiro? Como? Por quê?

“O quê?” Luke falou antes de mim.

Quíron suspirou e olhou para o vale, os olhos pareciam estar viajando a uma época em que não vivíamos e não parecia ter a intenção de responder à pergunta de Luke. Murmurou algo ainda com os olhos voltados para o horizonte.

“Há uma coisa que preciso falar para vocês, mas não sei como vão reagir.” Ele falou de repente e olhando para nós. “E devem jurar pelo Rio Estige que não contarão a veracidade desses fatos para todos do acampamento.”

Virei o rosto para encarar Luke, ele não parecia disposto, mas parecia curioso.

“Eu juro pelo rio Estige.” Ele falou e um trovão soou a distância, mesmo com o dia estando claro. Quíron olhou para mim.

“Eu juro pelo rio Estige que não contarei.” Disse e novamente um trovão em um dia de sol e sem nuvens de chuva. Quíron deu um sorriso fraco.

“Vocês sabiam que sua amiga Thalia era um risco para vocês, não sabiam?” Ele falou medindo as palavras, como se pisasse em um campo minado ao falar conosco.

Luke e eu concordamos com a cabeça e uma conversa quase esquecida entre dois gigantes voltou à minha mente, eles estavam falando de uma promessa quebrada e que uma nova semideusa filha de Zeus havia nascido e outra conversa com Thalia – um buraco de dor se abriu em meu peito ao pensar nela – confirmando ser ela a criança nascida da promessa quebrada e afirmando ser um risco para mim e Luke.

“Mas vocês não sabiam o motivo.” Não era uma pergunta.

“Eu acho que sabia.” Falei para ele, que pareceu bastante surpreso. “Thalia nasceu de uma promessa quebrada não foi? Ela me disse uma vez que não deveria ter nascido, mas eu achei que era apenas porque ela estava chateada e não porque ela realmente deveria não ter nascido.” Falei e Luke me olhou com descrença.

“Sim, de fato criança, mas acredito que nem mesmo ela soubesse o real motivo por trás da promessa que seu pai fez.” Quíron se recompôs depois do que eu havia dito. “E ainda ontem recebi permissão do conselho Olimpiano para contar a vocês dois, já que a acompanhavam e correram riscos ao estar com ela.”

“Havia um motivo por detrás disso tudo? Nossa que novidade, os deuses foram tão sinceros.” Luke falou com raiva e um trovão ecoou no vale. “E porque importa agora? Thalia não está mais viva.” Quíron o estudou por um momento, mas não disse nada.

“Luke.” Murmurei desconfortável e com medo do que Quíron poderia fazer com ele ao se sentir ofendido. “Não haja assim.”

“Os deuses se importam com seus filhos, e seus pais também se preocupam com vocês.” Quíron falou ignorando o que Luke havia dito, para meu alívio. “Apesar de seus deveres, eles pensam em vocês. Entendo sua raiva, jovem Luke, mesmo que ela não esteja correta, pois os deuses não podem falar tudo o que sabem para vocês.”

“Você está mudando de assunto.” Luke falou parecendo menos zangado. “Senhor.”

“Não, meu caro Luke, estou explicando o motivo porque isso importa agora.” Ele falou calmamente. “Lorde Zeus se importava muito com sua filha, mesmo que não demonstrasse favoritismo com relação a ela de forma oficial. E foi por isso que transformou-a em pinheiro, para preservar sua memória como heroína e agora seu espírito está ajudando a proteger as fronteiras mágicas do vale.” Quíron parecia realmente triste. “A partir de hoje a colina onde está seu pinheiro será conhecida como Colina Meio-Sangue, em sua memória. Acreditem em mim, ela conseguiu se tornar uma lenda mesmo sendo tão nova, não são muitos os heróis que conseguem esse feito com a idade que ela possuía.”

Luke abaixou a cabeça e não disse nada, mas sabia o que ele estava pensando. Ele ainda achava que aquilo era pouco, que não mostrava a grandeza de Thalia.

“Mas voltando à questão principal.” Quíron recomeçou. “Há cerca de sessenta anos, depois da Segunda Guerra Mundial, os Três Grandes, Zeus, Poseidon e Hades, combinaram que não iriam mais procriar mais nenhum heroi, pois seus filhos eram poderosos demais e estavam causando grandes catástrofes e interferindo demais nos eventos humanos, causando inúmeras carnificinas. A Segunda Guerra Mundial foi na verdade uma luta entre os filhos de Zeus e Poseidon contra os filhos de Hades. Quando a guerra terminou, os vencedores, Zeus e Poseidon obrigaram o deus do Mundo Inferior a fazer um juramento: nada de casos com mulheres mortais. Os três juraram sobre o rio Estige.” Ele pausou por alguns segundos, esperando eu e Luke entendermos a situação e absorvermos suas palavras. “E foi do rompimento dessa promessa que a amiga de vocês nasceu. Lorde Hades não gostou ao descobrir que seu irmão havia quebrado o juramento que ele o obrigou a fazer e mandou seus piores monstros para persegui-la e por estarem com ela vocês correram um imenso perigo.”

Luke continuou a ficar calado, parecia que ele estava com náuseas.

“Mas tem mais, não tem?” Perguntei, percebi por seu tom de voz que ainda havia algo por trás de tudo aquilo. “É o motivo pelo qual todos pareciam temer Thalia.” Adivinhei.

Quíron me estudou por algum tempo, os olhos castanhos fitando intensamente os meus. Ele sorriu um pouco e balançou a cabeça depois de algum tempo.

“Você está certa criança.” Ele falou. “E é o real motivo para os Três Grandes terem feito tal juramento. Que infelizmente não foi honrado por Zeus.”

Luke, que havia ficado quieto durante toda a fala de Quíron, ergueu a cabeça e olhou para ele com desconfiança.

“Então porque resolveram nos contar? Pelo que pude perceber eles pregam uma desculpa que todos os semideuses aceitam sem questionar.” Ele falou.

“Sim, você tem razão, os semideuses aceitam essa explicação porque sabem que o que é dito realmente aconteceu.” Quíron falou bondosa e firmemente. “Porém as decisões do conselho não devem ser questionadas e sim acatadas. Embora eu acredite que não seja o momento certo para contar.” Ele olhou para mim com um quê de dúvida.

“Sei que sou pequena.” Murmurei pensando em uma resposta que não parecesse desrespeitosa. “Mas não irei contar a ninguém.”

“Você tem uma aura forte e parece ser firme em suas decisões.” Quíron falou com um sorriso astuto. “Seu parente olimpiano deve ser poderoso, e provavelmente, perigoso. Tenho medo por aquele que se puser em seu caminho, Annabeth Chase.”

Pensei em dizer a ele quem era minha mãe, mas uma voz surgiu em minha cabeça: Ainda não, espere o momento certo. Então mantive a boca fechada e a voz sumiu. Não parei muito tempo para pensar em como ele sabia meu sobrenome, talvez Grover tivesse contado à ele, quem sabe?

Olhei para Luke, ele entendeu o recado e fez que sim sutilmente com a cabeça.

Quíron suspirou pesadamente, ele pareceu perceber que havia adiado aquilo por tempo demais. Por sua expressão eu vi que viria algo ruim.

“Na época da Segunda Guerra Mundial uma profecia foi feita.” Ele falou e eu congelei na palavra ‘profecia’, pelo canto do olho pude perceber que Luke também ficou bastante tenso. “A Grande Profecia sobre o fim do mundo alertava que a próxima criança que nasceria dos Três Grandes seria um grande perigo para o futuro, podendo causar a destruição do Olimpo, ou não, quando completasse certa idade.”

Engoli em seco e senti que a mão de Luke estava tremendo na minha.

“Por um momento, eu acreditei que Thalia fosse a criança mencionada na profecia.” Quíron falou e olhou para a colina onde o pinheiro dela estava. “Mas vejo que me enganei.” Ele balançou a cabeça. “Não sei mais o que pensar depois do que aconteceu ontem.”

Alguns segundos de silêncio tenso.

“O que vocês iriam fazer com Thalia quando ela completasse ‘certa idade’?” Luke falou e sua voz assumiu novamente o tom irritado. “Matá-la?”

Quíron não respondeu, mas percebi que ele não permitiria que fizessem aquilo.

“E porque não contam o verdadeiro motivo para os outros semideuses?” Perguntei.

“Devo esperar um meio-sangue vir para cá.” Ele falou parecendo um tanto distante e não se lembrar de que eu e Luke estávamos ali. “Um meio-sangue especial, para que outros campistas saibam a verdade.”

Olhei para o chão e pensei em tudo o que ele havia nos dito. Não acreditava que Thalia tivesse mesmo que ter morrido, não era justo e ela merecia mais. E a profecia, Quíron parecia relutante em nos falar mais sobre ela. Luke apertou minha mão levemente.

“Agora devo levá-los aos seus chalés.” Ele falou mudando de posição como para se levantar da cadeira de rodas, e eu não falei nada, talvez fosse apenas um disfarce, como os pés falsos de Grover e a calça jeans. “Quem são seus pais? Os olimpianos, quero dizer.”

“Sei que a minha mãe é uma deusa.” Falei fingindo confusão e Luke apertou minha mão novamente. “Mas não faço a menor ideia de qual seja.”

“Meu pai é um deus.” Luke deu de ombros. “Não faço questão de saber quem é ele.”

“Então irei acomodá-los no chalé 11, ultimamente não temos tantos campistas então talvez haja um beliche para cada um de vocês e acredito que poderão fazer novos amigos aqui. E hoje haverá guloseimas em volta da fogueira esta noite, e não perderei por nada.” Depois de falar isso ele suspirou com tristeza. “E então todos estarão indo para a faculdade quando esta seção de verão acabar. Poderão voltar se quiserem, mas acho que seja pouco provável.”

“Porque não voltariam?” Perguntei. “Aqui parece ser incrível.”

Ele sorriu para mim e então ele se levantou da cadeira de rodas. A manta que cobria seus joelhos caiu no chão. A cintura foi ficando mais longa, erguendo-se acima do cinto. Assim que ele foi se erguendo da cadeira, e a cada centímetro ficava mais alto que um homem normal, percebi que ele parecia estar vestindo uma roupa de veludo branco, mas algo me disse que aquilo não era uma roupa; e estava certo, era a parte da frente de um animal, músculos e tendões sob um pelo branco e áspero. Uma perna saiu, comprida e com um joelho saliente, com um grande casco polido. Depois outra perna dianteira, depois a parte traseira. E a cadeira de rodas ficou vazia, apenas com um par de pernas acoplada.

Olhei para Quíron como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, claro que eu estava surpresa, mas os mitos sempre diziam que o instrutor de Héracles era um centauro, então eu estava mais ou menos preparada para o que eu veria, mesmo que o choque tendo sido razoável.

“Ah! Que alívio!” Ele exclamou ao ficar completamente em pé. “Não fazem ideia de como isso é desconfortável se passar muito tempo parado ali dentro. Mas agora venham, Annabeth e Luke, vamos conhecer os outros campistas e seus futuros companheiros de chalé.”


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Notas finais do capítulo

Até o próximo.



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