Minha Vida Antes... (annabeth) escrita por Marina Leal


Capítulo 17
Capítulo 17: LUKE E EU SOMOS RECLAMADOS


Notas iniciais do capítulo

Bom, é incomum eu postar em um dia de sábado, mas eu não tenho muita escolha, não tenho net em casa e dependo de uma lan :(, então quero dizer que não sei quando vou poder postar novamente. Espero que gostem desse capítulo.



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Caminhando ao meu lado, Luke parecia não saber o que dizer, mas parecia surpreso com o tamanho do acampamento ao julgar por sua expressão. Por vezes seus olhos vagaram para o pinheiro de Thalia e ele suspirava, como se pensasse no que ela falaria naquele momento, se estivesse ali conosco.

Mas fora isso, fizemos um bom passeio, Quíron nos levou através da quadra de vôlei, onde alguns adolescentes loiros que estavam jogando uma partida pararam de repente e olharam com curiosidade para mim, desviei o olhar e senti meu rosto ficar quente. Em um banco mais ao longe percebi que duas garotas, uma era muito bonita e usava um bracelete de prata como o de Thalia e a outra parecia muito com a primeira, mas carregava um arco nas costas, olharam para Luke de uma forma diferente e eu fiquei desconfortável com aquilo, mas ele não pareceu notá-las e eu relaxei.

Reparei que todos os campistas eram mais velhos que eu e Luke. Seus amigos sátiros eram muito maiores que Grover, todos trotando de um lado para outro com camisetas cor de laranja do ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE sem usar nada para esconder suas pernas peludas de bode, pensar em Grover me fez olhar para trás, para a casa onde o havíamos deixado com um Dionísio muito irritado, a casa parecia muito maior quando vista de longe – quatro andares, pintada em azul-céu com acabamento em branco. Luke percebeu para onde eu estava olhando e franziu a testa com preocupação, mas conseguiu abrir um sorriso corajoso para mim ao perceber o motivo da minha preocupação. Grover precisava ficar bem.

“Ele vai ficar bem.” Ele disse tentando parecer confiante e fazendo eco aos meus pensamentos de antes. “É mais forte do que parece.”

Eu assenti para ele com preocupação e voltei a olhar a casa. Estava admirando o cata-vento de latão em forma de águia no topo quando algo me chamou a atenção, uma sombra na janela mais alta do sótão. Alguma coisa havia mexido na cortina, só por um segundo, e tive uma sensação estranha, a mesma sensação que tive quando fomos capturados no Brooklyn, quer dizer não exatamente a mesma, mas ainda assim era bastante parecida. Eu tremi e fechei os olhos com força antes de abri-los novamente.

“Quem mora lá em cima?” Perguntei, interrompendo Quíron no meio de uma frase.

Ele olhou para onde eu apontava e pareceu um tanto preocupado, mas disfarçou.

“Ninguém. É apenas o sótão.” Respondeu andando de um lado para o outro. “Guardamos de tudo ali em cima, troféus que alguns heróis não querem mais em seus chalés, por exemplo. Mas não há uma única alma viva lá.”

Tive a sensação de que ele estava falando a verdade, mas a escolha de palavras dele me deixou com o pé atrás. Se não há uma alma viva, deve haver algo mais sombrio, algo que não estava vivo. Pois eu tinha certeza que alguma coisa havia mexido na cortina. Luke me olhou e depois para o sótão, havia alguma coisa ali, eu só não sabia o que era. Ele pareceu confuso por um momento, e depois balançou a cabeça.

“Você está bem?” Perguntei e ele fez que sim. Mas ele não parecia bem.

“Deixa pra lá.” Ele murmurou ainda fitando o sótão como se aquele lugar fizesse parte de seus piores e mais profundos pesadelos. “Foi apenas um sentimento estranho, como se, como se eu já tivesse estado aqui antes, mas acho que não é nada demais.”

“Venham.” Quíron falou despreocupado, mas sua expressão não me enganou dessa vez, havia alguma coisa ali no sótão, eu tinha certeza agora. Ou tinha algo a ver com a sensação de Luke com relação aquele lugar e ele ficou nervoso. “Ainda há muito para ver e ainda temos que acomodar vocês no chalé de Hermes. O jantar é em algumas horas, então venham comigo.” Fiz que sim com a cabeça e voltamos a andar.

Caminhamos pelos campos de morangos, onde campistas colhiam alqueires de morangos enquanto um sátiro tocava uma melodia numa flauta de bambu e eu desviei o olhar ao me lembrar de Grover, de novo. Ele vai ficar bem. Pensei novamente.

Quíron nos contou que o acampamento cultivava uma bela safra para exportar para os restaurantes de Nova York e para o Monte Olimpo. Luke ergueu as sobrancelhas, mas não comentou nada sobre isso, ele parecia menos irritado que antes e eu senti alívio.

“Os morangos pagam as nossas despesas.” Explicou com um sorriso. “Isso sem falar que eles não exigem esforço quase nenhum, pois o Senhor D. tem um forte efeito sobre as plantas frutíferas, elas simplesmente enlouquecem quando ele está por perto.” Ele balançou a cabeça. “Funcionava melhor com as vinhas, mas ele está temporariamente proibido de cultivá-las, então optamos por morangos em vez delas.”

“Hum.” Luke murmurou sem entusiasmo e suspirou.

“Posso?” Perguntei esticando a mão para um grande, vermelho e suculento morango que estava perto de nós no outro lado da cerca enquanto ignorava o olhar de Luke.

Quíron sorriu largamente e fez que sim com a cabeça, como se esperasse aquilo.

“Vá em frente.” Ele estendeu o braço mostrando que eu podia escolher qualquer um.

Arranquei o morango que estava mais próximo e o mordi, o gosto era ainda melhor que a aparência. Se você nunca comeu um morango do Acampamento Meio Sangue, então você não sabe o que está perdendo. Ele conseguia ser doce e levemente amargo ao mesmo tempo, e apenas o cheiro era o bastante para deixar minha boca cheia de água. Olhei para Luke, ele parecia esperar que eu dissesse alguma coisa.

“É uma delícia.” Falei e ele esticou a mão para pegar um, parecia hesitante antes de dar a primeira mordida, vi sua expressão mudar ao sentir o sabor da fruta que ele havia colhido, pelo visto ele havia chegado à mesma conclusão que eu.

Apesar de ter pegado um morango maior que o meu, ele conseguiu terminar o dele antes de mim e pegou outro.

“Você tem razão Annabeth.” Ele falou assim que terminou de engolir o segundo completamente. “É uma delícia.”

Eu sorri, ele devia saber que eu sempre tinha razão.

“Sim, e vocês poderão comer morangos sempre que quiserem. Os deste lado da cerca pertencem aos campistas, acreditem em mim, eles não ficam nos morangueiros por muito tempo.” Quíron falou e destacou um cercado que delimitava certa área de morangos. “Os que estão na cerca mais distante são para exportação, portanto, nada de colhê-los. O Senhor D. que estabeleceu este limite, ele disse que as crianças são muito gulosas e acabam com seus deliciosos morangos.”

Sorri e voltei a observar o sátiro tocando a flauta. A música fazia com que filas de insetos saíssem dos canteiros de morangos em todas as direções, como se fugissem de alguma coisa. Perguntei-me se Grover sabia fazer esse tipo de mágica com música e se ainda estava dentro da casa, levando bronca de um deus bastante irritado, mas Quíron não pareceu notar meu olhar e voltou a nos guiar pelo acampamento.

“Venham.” Ele falou encerrando o passeio pelos campos de morangos. “Vamos ver os bosques, o arsenal, o lago de canoagem, o anfiteatro para cantoria e os chalés. Depois vocês terão muito tempo para ver o restante do acampamento. Como perderam o Capture a Bandeira de ontem creio que vão participar do próximo que é daqui duas semanas e precisarão de uma espada e um escudo, cada um.”

“Eu já tenho uma faca.” Falei e a puxei da bainha. Quíron deu um passo para trás com a surpresa. “Ainda vou precisar de uma espada?”

“Não, só do escudo.” Ele falou e olhou para Luke. “Você também já possui uma arma?”

“Já. Ela ficou na enfermaria.” Ele respondeu. “Depois eu volto lá e pego.”

Quíron fez que sim e para mudar de assunto, apontou para um pavilhão ao ar livre emoldurado por colunas gregas brancas sobre uma colina que dava para o mar. Havia uma dúzia de mesas de piquenique de pedra. Sem telhado nem paredes.

“E aquele é o refeitório.” Ele falou e nos levou pelo bosque, até um conjunto de construções gregas, fiz uma contagem rápida, eram doze chalés dispostos em forma de ferradura aninhados no bosque junto ao lago. Dois na frente e cinco de cada lado. E eram sem dúvida o mais incrível conjunto de construções que eu já havia visto.

A não ser pelo fato de cada um ter um grande número de latão acima da porta (ímpares do lado esquerdo, pares do direito), eram totalmente diferentes uns dos outros. O número 9 tinha chaminés, como uma minúscula fábrica. O número 4 tinha tomateiros nas paredes e uma cobertura feita de grama de verdade. O 7 parecia feito de ouro sólido que reluzia à luz do sol e que era impossível de se olhar diretamente. O 3 era comprido, baixo, sólido e as paredes externas eram de pedras rústicas salpicadas de conchas e coral, como se as pedras tivessem sido cortadas diretamente do fundo do oceano. Todos davam para uma área comum mais ou menos do tamanho de um campo de futebol, pontilhada de estátuas gregas, fontes, canteiros de flores e um par de cestos de basquete.

No centro havia uma enorme área de pedras com uma fogueira. Muito embora fosse uma tarde quente, o fogo ardia de modo lento.

Voltei a admirar os chalés. O par que ficava à cabeceira do campo, números 1 e 2, pareciam mausoléus casadinhos, grandes caixas de mármore branco com colunas pesadas na frente. O chalé 1 era maior e mais magnífico que os outros, com as portas de bronze cintilando como um holograma, que parecia que havia raios atravessando-a. Perguntei-me quem o havia projetado. O chalé 2 era de certo modo mais gracioso, com colunas mais finas encimadas com romãs e flores. As paredes entalhadas com imagens de pavões, não me senti confortável ao olhar para aquele.

“Zeus e Hera?” Luke falou ao meu lado e eu me assustei brevemente, eu havia me distraído por um momento ao observar os chalés.

“Correto.” Falou Quíron.

“Os chalés parecem vazios.” Comentei.

“Muitos chalés estão vazios, é verdade. Ninguém jamais fica no 1, 2 ou no 3.” Falou com um tom sombrio. “Acho que vocês já sabem o suficiente sobre isso.”

“Ok.” Luke falou com um dar de ombros e sem se importar. Eu tremi.

“Precisamos ir andando.” Quíron falou voltando a caminhar. “Ainda tenho que cuidar dos feridos que estão na enfermaria.”

“O que aconteceu com eles?” Perguntei ao me lembrar de alguns adolescentes lá e das armas jogadas a um canto. “Parecia ser algo grave.”

Quíron se retraiu e sua cauda balançou de um lado para o outro nervosamente.

“Aconteceu um acidente sério na corrida de bigas de anteontem.” Ele respondeu com relutância. “E alguns se feriram na colina ao tentar ajudar Thalia ontem.”

“Devíamos ter ficado com ela.” Luke se queixou. “Poderíamos ter sido úteis.”

Eu me mantive calada e tentando mudar o rumo de meus pensamentos, não valia a pena ficar me torturando pelo que aconteceu, mas minha mente não caiu nessa. Era estranho ver Luke falando as mesmas coisas que eu havia falado para ele antes.

“Aí teriam piorado ainda mais a situação de Grover.” Quíron argumentou. “Porque ao invés de uma meio-sangue morta, quando ele devia protegê-la a todo o custo, seriam três importantes meios-sangues que não estariam mais conosco, e os membros do conselho não ficariam muito felizes.” Ele balançou a cabeça. “Eles já não estão.”

“Importantes?” Luke perguntou com ceticismo.

“Todos os semideuses são importante para nós Luke.” Quíron falou em tom evasivo.

Passamos pela frente dos outros chalés, mas eu não estava mais com ânimo para observá-los, o assunto ‘Thalia’ era bem doloroso e recente, e não me deixava confortável. Por sorte não precisei me afogar na tristeza por muito tempo, pois um dos garotos loiros que eu havia visto na quadra de vôlei chegou até nós, ele usava uma camiseta laranja, como os outros, e um colar de couro com várias contas de vidro, ele devia ter dezenove, talvez dezoito anos. Em sua mão havia um anel com um emblema de uma coruja entalhada perfeitamente. Seus olhos eram cinzentos, como os meus, reconheci por instinto que ele era meu irmão, ele me olhou com interesse, mas não falou nada. E encarou Luke por um momento e depois olhou para Quíron.

“Quíron, William e Hevelyn estão procurando por você na enfermaria.” Ele falou com sua voz grave. “Disseram que é urgente e que não podem esperar.”

Quíron hesitou por um momento e olhou para mim e Luke com ansiedade, mas assentiu para o garoto loiro.

“Muito bem, estou indo então.” Ele falou para ele. “Kurt, você poderia levar estes dois para o chalé 11 para mim, por favor?”

O garoto loiro pareceu surpreso com o que Quíron disse por um momento.

“Ah! Achei que ela iria para meu chalé.” Falou deixando aparecer sua surpresa na voz.  “Quero dizer, ela tem o porte de um filho de Atena, não achei que fosse filha de Hermes.” Ele franziu a testa em confusão e olhou novamente para mim.

“Bem, ela não é filha de Hermes.” Quíron falou, mas percebi que ele estava relutante em me mandar para o chalé de Hermes. “Mas parece não ter certeza quem é sua mãe. Que é seu parente olimpiano, então as regras dizem que devemos mandá-la para lá.”

“Entendo.” O garoto falou ainda olhando para mim com um misto de interesse e desconfiança. “Posso sim levá-los até lá.” Disse por fim e Quíron assentiu e saiu trotando o caminho de volta para a Casa Grande.

“Muitos problemas.” O garoto murmurou como se tivesse esquecido por um momento que nós estivéssemos ali. “Oi, meu nome é Kurt Stevens, sou filho de Atena. Qual é o seu?” Ele perguntou para Luke amigavelmente e estendeu a mão.

Luke respirou fundo antes de responder e apertou a mão dele.

“Luke Castellan.” Disse parecendo desconfortável. “E não sei quem meu pai é.” Mentiu.

“E você? Como se chama?” Kurt se virou para mim novamente e estendeu a mão.

“Annabeth Chase.” Respondi estreitando os olhos e ele recuou um passo. Luke tocou no meu ombro e eu o olhei calmamente com um pequeno sorriso para ele.

“Relaxa.” Ele falou com um sorriso e eu não resisti e sorri de volta mais largamente.

“Então vamos.” Kurt falou com pressa e continuou a andar. “Daqui a pouco é o jantar e depois tem a cantoria, é uma coisa boa que vocês já se conheçam, quase todos aqui ficam em duplas na fogueira e alguns poderiam ficar meio desconfortáveis.”

“Quem são aqueles outros garotos que você falou para Quíron?” Perguntei com curiosidade sincera. Ele voltou a me estudar por um momento. “Você parecia ansioso.”

“São dois campistas que se feriram ontem ao tentar ajudar a meio-sangue que estava na colina.” Ele parou de falar quando viu nossas expressões de dor. “Sinto muito.”

Luke suspirou, mas não conseguiu dizer nada sobre o último comentário de Kurt.

“Mas ainda assim eles estão melhores que muitos outros. Mas venham comigo, o chalé 11 está perto.” Falou e apontou para o último chalé da fila dos números ímpares e eu suspirei. “Sua conselheira está lá, talvez possamos arrumar um beliche para vocês.”

“Conselheira?” Perguntei confusa. “O que isso quer dizer?”

“Sim. Cada chalé possui um semideus responsável, como um líder, um representante. Eu sou o conselheiro do chalé de Atena.” Kurt falou e percebi o tom de orgulho em sua voz. “A conselheira de vocês, por enquanto, será Elizabeth, já que vocês não sabem quem são seus parentes divinos, mas assim que souberem vão poder ir para o chalé de seu pai, ou mãe, com seus irmãos e irmãs.” Explicou como se fosse bastante simples.

Luke ergueu uma sobrancelha e enquanto andávamos uma garota saiu do chalé de Hermes, ela era bonita, tinha longos cabelos cor de trigo e pele de porcelana, parecia ter a mesma idade que ele, assim que viu Kurt ela abriu um largo sorriso e ele arfou parecendo espantado, olhei para ele e ele sorria distraidamente para ela que caminhou até nós como se flutuasse.

“Oi Kurt.” Ela falou assim que estava perto o suficiente de nós, sua voz era suave e agradável de ouvir, ela parecia incrivelmente focada em meu irmão.

“Oi Natally.” Kurt falou amigavelmente, e sua expressão estava engraçada.

“Quem são seus novos amigos?” Ela perguntou ao reparar em Luke.

Naquele momento Kurt pareceu lembrar-se de mim e de Luke parados ao seu lado.

“Ah, eles são campistas novos.” Ele disse apontando para nós. “Este é Luke e esta é Annabeth. Luke, Annabeth, esta é Natally, semideusa indeterminada assim como vocês.” Ela voltou seus olhos cor de mel novamente para nós.

“Ela é sua irmã?” Ela questionou olhado para mim e eu fiquei tensa. “Ela parece muito com você para ser uma semideusa indeterminada.” Observou.

“Ela não tem certeza, mas eu acredito que seja. Talvez minha mãe a reclame hoje à noite na fogueira, se ela for mesmo minha irmã.” Ele respondeu, com esperança em sua voz. “A Elizabeth está no chalé? Preciso levar eles até ela.”

Ela olhou para trás e seus olhos se estreitaram minimamente, com preocupação.

“Está.” Ela falou em uma voz contida, que fez com que eu me perguntasse o que estava acontecendo ali. “Mas acho que você deveria esperar um pouco antes de ir até lá. Ela ainda está exaltada pelo que alguns campistas do chalé aprontaram ontem.”

Ele fez uma expressão de entendimento e em seguida olhou para mim e Luke, parecendo decidir alguma coisa.

“Não posso fazê-los esperar mais tempo.” Ele falou olhando para ela e fazendo beicinho, como se quisesse fazer qualquer coisa menos discordar dela. “Quíron me pediu para levar eles dois até lá e acomodá-los, pois daqui a pouco tem o jantar, e os avisos.”

Ela assentiu, mas parecia não concordar com a escolha dele.

“Você está certo. Então acho melhor ir até lá com vocês, talvez ela fique melhor ao ver eles dois.” Ela falou e andamos os metros restantes até o chalé de Hermes. “Elizabeth?”

Comparado aos outros chalés, o de Hermes era o mais comum. A soleira estava desgastada, a pintura marrom descascando em vários pontos e acima do vão da porta estava um daqueles símbolos de médico. Um bastão alado com duas serpentes enroscadas nele. Tremi ao pensar que eu havia visto aquele mesmo símbolo pessoalmente há alguns dias atrás. O símbolo de Hermes.

Natally deu um passo hesitante para dentro da porta.

“Elizabeth?” Perguntou novamente e houve um grunhido estranho dentro do chalé.

Houve o som de alguma coisa sendo quebrada e em seguida o barulho de lâminas sendo puxadas da bainha. Estranhei quando ouvi o som de risadas saindo do chalé. Luke se virou para Kurt que sorria largamente e com cara de quem acha que é uma coisa legal.

“Venham! Preciso ver quem vai ganhar dessa vez!” Ele falou chegando mais perto e esticando o pescoço para olhar o que estava acontecendo dentro do chalé.

“Como assim ‘dessa vez’?” Perguntei imaginando que aquilo deveria ser comum.

“São brincadeiras do chalé.” Ele falou dando de ombros e se esquivou quando uma réplica do caduceu passou voando pela porta aberta. “Quíron não aprova, mas mesmo assim continuamos a fazer isso... Cuidado!” Ele puxou Luke para o lado no momento que uma escova de cabelo estava indo na sua direção, e o errou por poucos centímetros.

“Uou! Obrigado cara!” Luke falou arregalando os olhos quando viu que a escova havia ficado cravada até a metade no chão com a força que havia sido lançada. “Não quero nem imaginar como estaria o meu rosto se isso o tivesse acertado.” Mais risos ecoaram de dentro do chalé, até que Natally apareceu sorrindo na porta e guardando a espada na bainha. Seus cabelos estavam bagunçados e seu rosto estava corado.

“Ela vai recebê-los, venham.” Ela falou e Kurt sorriu dando um passo até ela.

“Quem ganhou dessa vez?” Ele perguntou entretido.

“Eu!” Ela cantarolou com orgulho. “Que tal nós comemorarmos minha vitória depois?” Kurt ficou vermelho e eu e Luke rimos baixinho para que ele não ouvisse.

“Pode ser.” Ele conseguiu responder antes de ficar mais vermelho quando ela apertou suas bochechas. “A gente se vê na fogueira, então.”

“A gente se vê na fogueira.” Ela concordou e piscou para ele. “Agora com licença, eu tenho que falar com o Wyler, ele me prometeu um escudo novo semana passada e ele veio aqui mais cedo para dizer que estava pronto.” E com isso ela caminhou lentamente até o chalé nove e no caminho ela olhou duas vezes para onde nós estávamos.

“Você gosta dela.” Luke declarou escondendo um sorriso. “E ela gosta de você.”

Kurt suspirou com tristeza e olhou para nós assim que ela sumiu de vista.

“É, mas temos que ser cautelosos com isso.” Disse e eu não entendi.

“Como assim? Ta bem, você são primos, mas isso não conta, certo? O lado deus não conta nesses casos.” Luke falou também sem entender.

“Só tecnicamente não conta.” Ele falou com um tom enigmático. “Mas se tivermos a mesma mãe? Não vamos poder ficar juntos, é proibido namorar alguém de seu chalé, ou em outras palavras, um de seus irmãos.”

“E?” Questionei. “O que te impede de ficar com ela?”

“Ela é indeterminada, mas a mãe dela é uma deusa.” Ele respondeu tristemente. “E tem todas as qualidades de um filho de Atena, é inteligente, bonita e uma boa lutadora.”

“Então porque não mandaram ela para o seu chalé?” Luke perguntou antes de mim.

“A maioria dos conselheiros está em dúvida entre duas deusas.” Ele falou encolhendo os ombros. “Atena ou Deméter. Ou seja, não sabemos para qual chalé devemos mandá-la.”

“Isso é injusto!” Luke falou com raiva. “A mãe dela devia dar um sinal para ela!”

Kurt suspirou novamente, com pena dele e explicou.

“Os deuses são atarefados, Luke. Eles têm uma porção de filhos, e nem sempre... Bem, eles nos ignoram. Algumas vezes eles nem se importam conosco.” Ele disse devagar. “Mas esse é o único lugar seguro no mundo para nós, meios-sangues. Mesmo que alguns não sejam reclamados. Como ela.”

Luke ainda não parecia satisfeito com a explicação de Kurt, mas assentiu.

Então uma garota apareceu na porta do chalé, tinha cabelos pretos encaracolados e uma expressão travessa no rosto. Seu sorriso a deixava muito parecida com Luke, exceto que era mais velha, talvez um ano a mais que Kurt.

Ela tinha um hematoma roxo acima do olho esquerdo, mas parecia não se incomodar com ele. Usava um colar de couro com contas de vidro igual ao de Kurt e uma camiseta laranja do acampamento, uma calça jeans e tênis, e apesar da expressão divertida ela ainda estava com linhas de irritação em seu rosto. Ela realmente estava irritada.

“Oi Kurt.” Ela o cumprimentou como se nada tivesse acontecido. “Esses são os novos moradores do chalé de Hermes?” Luke fez uma careta ao ouvir aquele nome, mas a garota não pareceu notar. “Normais ou indeterminados?”

“Indeterminados.” Kurt respondeu e a garota não pareceu acreditar ao olhar para mim. Tava tão na cara assim que minha mãe era Atena? “Annabeth, Luke. Esta é Elizabeth, filha de Hermes e conselheira do chalé.” Kurt falou olhando para nós.

Ela assentiu e encarou Luke, talvez tentando ligar alguns pontos, como a semelhança entre os dois e o motivo de ele parecer desconfortável.

“Sejam bem vindos ao chalé de Hermes.” Ela disse para nós e nos colocou para dentro. “Sintam-se em casa.” Olhei para o lugar.

No chão havia cerca de cinco sacos de dormir vazios, e alguns beliches no canto.

“Tudo bem?” Elizabeth perguntou e Luke assentiu uma vez. “Vão em frente então.”

Andei poucos passos para dentro com Luke ao meu lado.

“Tenho que ir.” Kurt falou de repente. “Ainda tenho que organizar o pessoal do chalé.”

Elizabeth assentiu calmamente e Kurt saiu acenando um adeus para nós três.

“Estes aqui são os sacos de dormir de vocês.” Ela falou com uma calma forçada. “Pode ser provisório se vocês forem reclamados logo.” Ela não parecia muito confiante naquilo. “O resto dos campistas saiu para as atividades antes de vocês chegarem senão poderia apresentá-los logo a vocês dois.” Fiz que sim com a cabeça sem me importar.

Porque minha mãe quis que eu viesse para cá? Perguntei-me por um momento enquanto soltava a mão de Luke e remexia no saco de dormir que me fora destinado. Não que eu não gostasse de estar perto de Luke, mas aquele chalé era um pouco demais. E porque ele havia mentido sobre o pai dele? Eu não tinha resposta.

Olhei através da janela, o que Thalia diria se nos visse ali? Os campos de morangos tremulavam com a brisa e a saudade me atingiu novamente.

“Vocês estavam com a filha de Zeus, não estavam?” Elizabeth perguntou sem rodeios.

Olhei para Luke e seu rosto era uma máscara sem emoção, ele olhou para ela e assentiu.

Para meu alívio ela não falou nada do tipo ‘sinto muito’ ou ‘que pena’, ela apenas seguiu meu olhar e suspirou.

“Eu pensei que estaria aqui para passar o chalé para o próximo filho de Hermes.” Ela falou mudando de assunto. “Mas não sei se vou ficar aqui por tempo suficiente.”

“Por quê?” Perguntei e ouvi Luke mexendo no seu saco de dormir. “E os outros campistas que moram aqui, nenhum deles pode ficar no seu lugar?”

“Não.” Ela balançou a cabeça. “Todos aqui são indeterminados. Exceto eu. O posto de conselheiro só pode ser passado para alguém tenha o mesmo pai olimpiano que eu, ou seja, Hermes. E seja o campista mais velho depois de mim.” Luke enrijeceu, mas Elizabeth não pareceu notar. “E todos daqui do acampamento vão para a faculdade ano que vem. O Acampamento Meio-Sangue vai ficar praticamente vazio, a não ser por vocês dois, é claro.” Ela abaixou a cabeça. “Eu queria ver quem vai ocupar o meu lugar, mas não sei se poderei ficar aqui tempo suficiente para vê-lo, quem quer que seja.”

“Porque você quer conhecer essa pessoa?” Questionei e ela sorriu.

“O acampamento é a minha segunda casa, eu gostaria de ver quem vai cuidar dele por mim. Tecnicamente falando eu sou a líder dele, assim como você e Luke vão ser, quando todos forem embora e vierem novos campistas.” Explicou calmamente.

“Mas vocês vão embora de vez?” Eu estava confusa e ficando triste de novo.

“Não vamos mais morar aqui. É verdade. Mas vamos vir para visitar sempre que pudermos. Como eu disse, o acampamento é a minha casa, assim como de muitos outros meios-sangues, não poderíamos deixar este lugar de vez.” Ela sorriu e então o barulho de passos dentro do chalé fez com que nos virássemos no mesmo momento e o sorriso dela sumiu.

Um garoto de cabelo preto e olhos escuros nos encarava, ele estava parado na porta, um arco e flecha estavam em suas mãos, usava a mesma camisa que Elizabeth e o mesmo colar, só que por cima deles, ele vestia uma armadura de combate e estava molhado de suor. Ele engoliu em seco quando a viu e deu um passo para trás.

Ela respirou fundo uma vez para se acalmar e falou com ele em tom seco.

“Entre Smith, o chalé também é seu.” Luke se levantou e encarou o rapaz por algum tempo, sua mão escorregou até onde ele guardava sua espada, mas ela não estava lá. Ele não havia gostado da forma como Elizabeth tinha falado com aquele garoto mais do que eu havia. O garoto estreitou os olhos, mas não falou nada ao entrar no chalé.

Ele olhou com cautela para mim e Luke.

“Quem são eles?” Perguntou por fim, ainda cauteloso, como se decidisse se éramos ou não uma ameaça. Cada passo que ele dava era estudado, como se estivesse pisando em um campo minado e o conhecesse muito bem.

“Campistas novos.” Elizabeth respondeu, era possível sentir a tensão que existia entre ela e o garoto, e em nenhum momento os dois deixaram de se encarar. “Annabeth, Luke. Conheçam outro semideus indeterminado, Smith Reamer.”

“Oi.” Murmurei incomodada com o olhar que ele me lançou, não foi o mesmo tipo de olhar que Kurt, Natally e Elizabeth haviam me dado. Era um olhar de reconhecimento, como se ele tivesse me visto antes e não gostasse de me ver naquele momento, ali.

Ele balançou a cabeça uma vez para mim e olhou para Luke.

“Oi.” Luke murmurou formalmente, mas pude o sentir lutando para controlar a raiva. O que estava acontecendo ali?

O garoto não falou nada novamente, apenas fez o mesmo gesto com a cabeça e passou direto para uma porta nos fundos do chalé que eu não havia notado antes.

Elizabeth sorriu se desculpando, mas não teve tempo de falar mais nada, pois naquele momento cerca de dez adolescentes apareceram na porta do chalé, suados e parecendo preocupados. E, assim que viram eu e Luke, surpresos.

Ela nos apresentou, mas não captei nenhum nome em especial. Só que todos tinham características diferentes e pareciam extremamente deprimidos. Nenhum deles pareceu acreditar muito que eu não sabia quem era minha mãe e que Luke também desconhecia seu pai, mas deixaram o assunto de lado por um momento e foram arrumar seus beliches e sacos de dormir antes de irem tomar banho para podermos jantar.

Eu não tinha com quem conversar, todos eram bem mais velhos que eu e Luke, então me encostei nele em um canto e ficamos conversando sobre o que faríamos depois.

Assim que todos estavam prontos, uma trombeta soou a distância. De algum modo eu sabia que era feita com uma concha de caramujo, apesar de nunca ter ouvido uma antes.

Elizabeth gritou:

“Onze, reunir!”

O chalé inteiro, todos os catorze, formou uma fila no pátio. Nos organizamos por ordem de antiguidade, então, para meu alívio, eu e Luke éramos os últimos. Vieram também os campistas dos outros chalés, com exceção dos três vazios do fim e do chalé 8, que parecia normal durante o dia, mas que agora parecia ter um leve brilho prateado à medida que o sol se punha. Ártemis. Pensei e sorri. Aquele com certeza era o chalé dela.

Marchamos colina acima até o pavilhão do refeitório. Sátiros vieram da campina e juntaram-se a nós, mas não vi Grover entre eles. Náiades emergiram do lago de canoagem. Algumas outras meninas brotaram dos bosques, dríades ou ninfas. Vi uma menina de sete ou talvez oito anos formar-se a partir da lateral de um bordo e vir saltitando colina acima.

No pavilhão, tochas ardiam em volta das colunas de mármore e um fogo central queimava em um braseiro de bronze. Cada chalé tinha sua própria mesa, coberta com uma toalha branca com detalhes em laranja. Todos conversavam e brincavam, até que Quíron bateu o casco no piso de mármore e o silêncio reinou. Ele ergueu o copo.

“Aos deuses!”

Todos ergueram seus copos.

“Aos deuses!”

E ninfas dos bosques avançaram com bandejas de comida: uvas, maçãs, morangos, queijo, pão fresco e muitas outras coisas que não pude distinguir. Meu copo estava vazio, mas Elizabeth falou:

“Fale com ele, é mágico, vai encher de qualquer coisa que queira, desde que não seja alcoólica, claro.” Ela fungou e Luke riu.

“Cherry Coke.” Falei e o copo se encheu de um líquido espumante de cor caramelo.

“Vem Annabeth.” Luke falou para mim quando viu que todos da mesa estavam se levantando e caminhavam para o fogo no centro. Quando cheguei mais perto, vi que todos estavam escolhendo alguma coisa do prato para jogar no fogo.

Elizabeth falou para mim e Luke.

“Oferendas queimadas para os deuses. Eles gostam do cheiro.”

“Eu sei.” Falamos e ela riu.

“É raro ver meios-sangues que entendem das tradições gregas, mesmo alguns depois de anos não se sentem confortáveis.” Ela explicou ao ver nossas expressões de confusão. “Só fui pega de surpresa.” Ela deu de ombros ao voltarmos para a mesa.

Depois que todos voltaram aos lugares e terminaram de comer, Quíron bateu novamente o casco para chamar nossa atenção. O Senhor D. se levantou e deu um enorme suspiro.

“Olá moleques.” Ele falou com tédio. “Nosso diretor de atividades, Quíron, diz que a próxima captura da bandeira será daqui a duas semanas.” Houve exclamações de surpresa entre todas as mesas, mas Quíron fez com que todos voltassem a ficar em silêncio. “Atualmente, o chalé 6 detém os lauréis.”

Um monte de aplausos se elevou da mesa de Kurt.

“Pessoalmente, não me importo nenhum pouco, mas congratulações.” Falou como se realmente não se importasse. “Também quero avisar-lhes que temos dois novos campistas hoje. Luan Castel e Annie Bell.” Quíron murmurou alguma coisa. “Ahn. Luke Castellan e Annabeth Chase.” Ele se corrigiu. “Tudo bem. Viva e todos os outros sinais de comemoração agora andem para a sua fogueira.”

Todos aplaudiram e começaram a se dirigir ao anfiteatro, mas quando eu e Luke nos levantamos todos arfaram como se tivéssemos feito algo que não pudesse ser verdade.

Alguns campistas sussurraram um tanto ansiosos e eu escutei um “Há! Eu sabia!” vindo de Kurt, que sorria com orgulho para mim.

Olhei para cima e por um momento pude distinguir duas formas brilhando, uma acima de mim e uma acima de Luke, a imagem que pairava acima de mim era uma coruja castanha que segurava um ramo de oliveira, a que estava acima da cabeça de Luke era um caduceu. As imagens giraram uma vez e desapareceram.

“Estão determinados.” Quíron falou com sua voz grave e todos no acampamento se ajoelharam para nós, exceto o Senhor D. “Hermes. Senhor dos ladrões, dos viajantes,  e portador das mensagens do Olimpo. Salve Luke Castellan, filho de Hermes.” Ele olhou para mim. “Atena. Deusa da sabedoria e estratégia em batalha, salve Annabeth Chase, filha de Atena.”


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Notas finais do capítulo

Eu gostei de escrever esse, ficou longo, mas eu achei que ficou bom. Beijos.



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