Minha Vida Antes... (annabeth) escrita por Marina Leal


Capítulo 15
Capítulo 15: THALIA SE SACRIFICA POR NÓS


Notas iniciais do capítulo

Gente, demorei para postar porque o site tava em manutenção. Então, espero que gostem.



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“Precisamos sair logo daqui.” Disse Grover enrolando as palavras, mas mesmo assim consegui entender a mensagem e olhei para Luke que confirmou com a cabeça.

Estávamos todos de volta ao cômodo que eles haviam me deixado e sem noção para onde ir dali enquanto esperávamos Grover ficar um pouco melhor para que não tivéssemos que carregá-lo e aquelas haviam sido as primeiras palavras que conseguíamos entender ele dizer além de ‘comida’, havíamos debatido rapidamente se dávamos um pedaço da ambrosia de emergência que tinha na minha bolsa, mas decidimos que era melhor não arriscarmos, ele era nossa única esperança de chegarmos a um lugar seguro e ele não era um meio-sangue, a comida dos deuses poderia não fazer bem a ele.

Thalia e Luke concordaram com a cabeça a afirmação dele e analisaram os corredores.

Grover se levantou rapidamente como se lembrasse algo e no mesmo instante levou as mãos à cabeça.

“Bééééé.” Ele baliu parecendo frustrado e com dor. “Porque a casa está rodando?”

“Você levou uma pancada forte na cabeça, cara.” Luke falou levando a mão à nuca e fez uma careta de dor. “E eu e Thalia também, se não fosse por Annabeth provavelmente estaríamos mortos agora e ela prisioneira de um ciclope adulto.”

Grover me olhou parecendo preocupado e até mesmo um pouco surpreso.

“Você está bem?” Ele perguntou olhando atentamente para mim.

Fiz que sim com a cabeça e ele respirou aliviado e depois olhou para Thalia.

“Ouvi você pedir socorro e me desesperei.” Ele falou com os lábios tremendo. “Mas quando cheguei perto do lugar que acreditei que você estivesse levei um baque forte na cabeça e então não lembro mais nada.”

“Eu ouvi Luke pedindo ajuda e corri até ele, mas não havia ninguém, então também bateram na minha cabeça e apaguei.” Thalia falou para nós.

“Já eu ouvi Annabeth e fiquei preocupado por vocês a terem deixado sozinha.” Luke falou parecendo confuso assustado. “E vocês já sabem o que aconteceu.”

Thalia e Grover assentiram.

“Annabeth, você ainda está com aquele pincel?” Thalia perguntou de repente para mim e eu fiz que sim. “Você pode me emprestar? Eu posso ir para procurar a saída e voltar logo para buscar vocês.”

“NÃO!” Eu, Luke, e Grover falamos juntos o pânico evidente em nossas vozes e Thalia se encolheu com nosso grito.

“Se você for, nós três também vamos.” Luke argumentou com sua condição e Thalia fez uma careta, mas assentiu, para meu alívio e de Grover.

“Então fica combinado assim. Vamos!” Ela falou erguendo a mão para que eu entregasse o pincel.

“Toma.” Falei erguendo o objeto para ela e começamos a caminhar.

Alguns minutos depois Luke ergueu a sobrancelha para uma parte dos corredores que se abria para três caminhos distintos e Thalia e Grover gemeram.

“Acho que é por ali.” Ele apontou para o corredor do nosso lado esquerdo.

Debatemos por um tempo sobre qual corredor pegar e acabamos decidindo seguir o caminho que ele havia nos mostrado.

“E daqui, vamos para onde?” Thalia falou quando só havia dois caminhos disponíveis.

“Acho que posso resolver isso.” Grover falou.

Ele deu um passo à frente e farejou o ar por algum tempo, depois de três segundos ele sorriu.

“É por aqui!” Ele falou contente. “O nosso cheiro está aqui! Vamos!”

Começamos a correr e Grover ia à nossa frente. Passamos pelo último corredor e enfim estávamos livres.

“Finalmente!” Exclamou Luke parecendo aliviado e com um sorriso ao olhar para mim e Thalia. “Agora vamos, ainda tem muito caminho pela frente e nosso tempo é curto.”

Grover concordou seriamente com cabeça e se pôs a correr.

“Podemos ter saído desse lugar, mas ainda tem uma boa distância para cobrirmos até o acampamento e o perigo ainda não passou. Venham!” Ele falou modificando ligeiramente as palavras de Luke e fomos atrás dele para evitar que ele tropeçasse e caísse no chão.

“Thalia, me ajude!” Luke falou assim que Grover ameaçou cair no chão.

Ela foi até ele e pegou Grover.

“Fique perto de Annabeth.” Ela comandou e ele assentiu antes de vir para o meu lado se apoiando pesadamente nela.

“Precisamos ir para o leste.” Grover falou ainda se apoiando em Thalia. “Dobrem naquela rua, estamos perto. Posso sentir.”

“Tudo bem, mas como...” o que quer que Luke fosse falar se perdeu no meio do caminho ao fitar à sua frente e segui seu olhar.

“Não!” Gritei ao ver o que nos esperava no final da rua que Grover nos dissera.

“Parece que vocês se atrasaram, meu bem.” Uma das Fúrias falou para mim com um sorriso maligno no rosto. “Agora é a nossa vez de mostrar a vocês como lutamos.”

“Não vamos conseguir vencer.” Falei para Luke ao vê-lo mover sua mão para pegar a espada na bainha. Ele olhou para elas e assentiu com a cabeça, parecendo frustrado.

“Precisamos correr de novo.” Thalia falou cambaleando na nossa direção com Grover apoiado em seu ombro. “Ele ainda não parece bem.”

“A ideia de correr é boa. Eu apoio.” Grover falou parecendo confuso, porém melhor que antes.

“Nem tente, meu bem.” A Fúria falou novamente ao se aproximar devagar de nós. “Nossos amiguinhos estão aqui para isso.” Ela ergueu a mão com garras para as matilhas de cães infernais que estavam às suas costas.

Olhei ao redor e gemi de raiva. Eles haviam nos cercado.

Luke desembainhou a espada e iniciou o ataque, cercando a Fúria que estava mais próxima a ele pelos flancos e desferindo golpes a uma velocidade incrível. Thalia não podia fazer muita coisa, mas se virava como podia ao tentar apoiar Grover em pé e se defender com Aegis e com sua lança.

“Grrrrrrr!” Um rosnado na minha direção fez com que eu puxasse minha faca em reação automática, meu coração se acelerou no mesmo instante e com isso o tempo a minha volta pareceu desacelerar e pude ver cada detalhe ao meu redor, o que não era muito animador, mas precisava servir para alguma coisa.

O cachorro era enorme e apenas um de seus dentes era quase do tamanho da minha faca e rosnava ameaçador. Fiz o que Luke havia me ensinado alguns dias antes, dei um passo para o lado e calculei que ele se aproximaria pelo lado oposto, ficando de costas para os outros monstros e assim pude ter uma visão completa da luta que acontecia. Mas antes que pudesse reparar em muita coisa do que estava acontecendo, ele atacou e teria me transformado em panqueca de semideusa se eu não tivesse tido o reflexo instantâneo de me esquivar rolando para o lado, suas garras passaram a centímetros de mim.

Coloquei-me de pé rapidamente e avancei na direção dele, fintei para um lado e ataquei pelo outro enfiando minha faca na lateral da barriga dele, mas antes que ele se transformasse em pó a ponta de seus dentes roçaram minha perna e eu gritei de dor que tentei ignorar, logo em seguida ele se transformou em poeira amarelada e desapareceu.

“Luke!” A voz de Thalia soava desesperada e eu corri para ajudá-la, percebi que Grover estava meio escondido entre arbustos que ficavam próximos a uma porção de árvores e parecia se enfiar cada vez mais neles, minha perna doía, mas eu precisava chegar até ela, sua voz me disse que era um grande perigo.

“Não! Annabeth cuidado!” Luke gritou para mim e eu me virei completamente distraída.

Uma das Fúrias vinha na minha direção com as garras à mostra e um sorriso satisfeito no rosto e eu pensei com desespero “é o meu fim”.

Então um vulto de cabelos pretos, que reconheci como sendo Thalia, se colocou na minha frente.

“THALIA!” Luke gritou antes que eu pudesse reagir, percebi que ele estava mais perto de nós agora e parecia feroz. A Fúria rugiu em satisfação ao perceber que agora era outro o alvo de suas garras. “NÃO!”

Um segundo depois de ele gritar Thalia caiu no chão gemendo de dor e um monte de poeira amarelada que foi trazida pelo vento que soprou atrás de mim e dela caiu boa parte em cima de mim, mas eu não me importei com esse fato ao me ajoelhar ao lado dela que segurava o braço com firmeza.

“Ela está bem?” Luke perguntou parando ao meu lado antes de trocar um olhar preocupado com ela.

“Eu não sei!” Falei tentando encostar no braço dela, mas ela se movia a cada vez que eu tentava e fazia uma careta de dor ao fazer o movimento brusco. “Acho que um pouco de ambrosia vai fazer o braço dela melhorar.”

Luke concordou com a cabeça ao ver o ferimento que estava sangrando muito e que estava ficando com uma cor estranha que parecia meio roxa e eu remexi na bolsa rapidamente até encontrar o pedaço de ambrosia que havia sobrado.

“Come Thalia!” Luke falou colocando a comida dos deuses delicadamente na mão dela e ela colocou na boca rapidamente e pudemos o efeito de cura instantaneamente, os cortes mudaram para um tom menos feio e se fecharam nas bordas.

“Thalia?” Grover arfou atrás de nós, só naquele momento notei que ele não havia aparecido quando aquela confusão havia começado. “Você está bem?”

“Estou.” Ela falou tentando mover o braço ferido. “Não é nada demais.”

“Precisamos ir logo!” Ele disse com urgência e preocupação. “Quíron deve estar preocupado com a minha demora em levá-la para o acampamento, e agora só falta alguns quilômetros.”

Ela se levantou e cambaleou um pouco, Luke fez menção de segurá-la, mas ela balançou a cabeça dispensando a ajuda.

“Então vamos! Já demoramos o suficiente para chegar lá.” Ela parecia chateada com alguma coisa, mas não disse o que era e eu não tive a oportunidade de perguntar.

“Grover, por favor, não se perca de novo.” Pedi e ele abaixou a cabeça depois de assentir e eu sorri para ele. “Ei, não é uma crítica, é só um pedido.” Ele sorriu e fez que sim para mim.

“Vamos por aqui.” Ele falou apontando para as árvores atrás de nós. “A próxima estrada que vai para o leste vai levar direto ao acampamento, depois de algum tempo de caminhada, acabei de ver, acho que por isso perdi a confusão, mas não adianta pensar nisso agora. Thalia você aguenta andar?”

Ela fez que sim, ainda parecendo desconfortável.

“Foi o meu braço que foi machucado e minha perna não está tão ruim assim.” Ela respondeu dando de ombros e fazendo uma careta ao mover o braço que ainda não estava completamente curado antes de afagar levemente a perna que estava machucada, mas que já estava com curativo. “Não guarde sua faca Annabeth.” Ela falou de repente para mim e eu assenti com a cabeça, apreensiva.

“Vamos, ainda temos algum tempo até que eles se refaçam e voltem a nos perseguir.” Grover falou começando a entrar na floresta com Luke em sua cola. Eu e Thalia os seguimos.

*******

Estávamos caminhando a cerca de quinze minutos por entre aquela mata, Grover parecia radiante ao se encontrar em meio a tanto verde e natureza. Luke estava atento a cada barulho ao nosso redor e nem de longe parecia tão satisfeito quanto Grover e eu comecei a mancar por causa da quase mordida do cão infernal, ele olhou para mim com preocupação, mas eu apenas continuei a andar. Thalia não falou uma palavra durante nossa caminhada, parecia estar pensando em alguma coisa.

Quando Grover parou, eu percebi que havia algo errado.

“O que houve?” Thalia perguntou. “Grover?”

Ele virou e farejou o ar por alguns momentos.

“Tem alguma coisa se aproximando.” Ele falou com preocupação. “E é poderoso.”

Thalia e Luke se posicionaram na frente de mim e Grover, já que eram lutadores mais experientes, e esperaram algum barulho.

Então o ar tremulou e ela apareceu novamente para nós.

“Lady Ártemis?” Thalia arfou parecendo surpresa. “Mas onde...?”

A deusa se aproximou lentamente de nós, seu rosto pálido demonstrava sua preocupação e seus olhos dourados brilhavam quase tanto quanto a lua, e Thalia interrompeu o que falava. Grover se ajoelhou para ela e eu imitei seu gesto.

“Minhas Caçadoras estão do outro lado do país, a um serviço importante para mim que não pode ser deixado de lado.” Ela respondeu olhando para Thalia, um quê de desaprovação em sua voz que ela tentou disfarçar, mas que eu reconheci muito bem. “Estou aqui porque meu irmão pediu que eu viesse. Ele disse que é importante. Contudo, mais ninguém pode saber dessa nossa conversa, de acordo com ele apenas eu poderia falar para vocês.”

Thalia olhou para Luke, que olhou para mim que olhei para Grover, mas nenhum de nós havia entendido muito bem o que ela havia dito.

A deusa suspirou e estendeu uma pele no chão para se sentar. Quando se acomodou fez um gesto para que nos sentássemos a sua frente.

“Sei que só vão entender o que vou falar quando chegarem ao acampamento ou quando o momento certo se apresentar a vocês, mas Apolo disse que é preciso avisá-los mesmo que seja perigoso para o futuro.” Ela falou. “Ele me pediu para dar um aviso a cada um de vocês.” E se voltou primeiramente para Thalia. “Filha de Zeus, muita vezes você pode achar que tudo está perdido, mas um sacrifício puro e verdadeiro de e por algo que você ama pode fazer toda a diferença.”

“O que isso quer dizer?” Thalia perguntou.

A deusa deu de ombros e sorriu.

“Pergunte a Apolo, só estou aqui para entregar os recados, apesar de essa ser a função de Hermes.” Foi a resposta que ela deu a Thalia antes de se virar para Luke e seus olhos ficaram indecifráveis e sua expressão ficou sombria, como se escondesse um segredo terrível e não tivesse intenção de compartilhá-lo conosco.

“Filho de Hermes,” ela falou e ele fechou as mãos em punhos, mas ela ignorou esse gesto e continuou. “Muitas vezes fazemos algo, e escolhas, do qual podemos nos arrepender eventualmente, mas podemos sempre mudar nossas escolhas mesmo quando achamos que tudo está perdido.”

Ele trocou um longo olhar com Ártemis, mas não disse nada antes de balançar a cabeça uma vez.

Ártemis se voltou para mim e sua expressão sombria se desfez como uma tempestade que é varrida pelo vento.

“Filha de Atena.” Ela deixou a sombra de um sorriso aparecer no canto de sua boca. “Muitas vezes pessoas na qual confiamos vão nos decepcionar com decisões que achamos ser erradas, mas sempre vai aparecer alguém e mostrar o outro lado delas que não percebemos ou compreendemos. E lembre-se que ‘Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo é o desejo de vencer’. Um irmão seu quem disse.”

Franzi a testa tentando compreender o que ela falou, ia abrir a boca para perguntar o que aquilo queria dizer, mas lembrei que ela não poderia me explicar e ela assentiu, concordando comigo e virou seu rosto para Grover que parecia bastante nervoso.

“Grover Underwood.” Ela falou e seu rosto pareceu mais amigável que antes, como se as próximas palavras dela para ele fossem as melhores entre todas as que ela havia dito antes. “Nossos sonhos são nossos bens mais preciosos, por isso, mesmo quando tudo parecer sem esperança, nunca desista dos seus.”

E com isso ela virou uma névoa prata, como um feixe de luar, e desapareceu lentamente, mas antes que ele pudesse falar algo.

“Visita estranha.” Falei e Luke concordou.

“Podemos passar algum tempo aqui?” Thalia perguntou para Grover.

Ele negou com a cabeça, mas parecia um tanto aéreo para ter prestado atenção no que ela havia dito.

“Temos que chegar ao acampamento logo.” Falou soando um pouco mais normal.

Luke olhou para ele e concordou sem olhar para mim ou Thalia, parecia bastante abalado com o que Ártemis havia dito, mas sem vontade de comentar sobre aquilo.

Uma brisa leve soprou na nossa direção e Grover ficou tenso.

“Corram!” Grover gritou de repente e nós nos assustamos e desatamos a correr.

“O que houve Grover?” Luke perguntou enquanto a gente corria.

“Cheiro de monstros!” Ele falou e olhou com preocupação para Thalia, que fez uma careta.

“Eu sei.” Ela disse desgostosa. “As Parcas cortaram o fio.” Ela ironizou em seguida. “Grande coisa, vocês sabem que eu não me importo.”

“Bééééé!” Grover baliu ainda correndo, senti o desespero que saía dele. “Não fale assim! Elas podem tirar sua vida com um único gesto!”

Thalia murmurou uma série de blasfêmias em grego, mas Grover não ouviu.

Passamos por mais algumas árvores e Grover gemeu de alívio, havíamos chegado à estrada. Estávamos em uma parte rural com muitas plantações, mas estava escuro então não consegui distinguir muita coisa além disso.

“Finalmente!” Luke arfou com um sorriso, seus olhos azuis, que estavam voltados para mim, brilharam e assumiram um tom estranho na pouca luz que havia ali, pareciam ter ficado dourados, mas não transmitiam o mesmo calor que os da deusa que havia acabado de falar conosco, e que logo voltaram a ser azuis.

Olhei para trás e vi Thalia afagando o braço machucado e o olhando com atenção, sua lança estava presa às suas costas.

“Você está bem?” Perguntei preocupada.

“Estou ótima.” Ela respondeu e antes que eu pudesse comentar alguma coisa ela foi para o lado de Luke.

“A estrada que leva ao acampamento é essa aqui!” Grover falou com alegria e eu senti alívio. Estávamos enfim chegando.

Começamos a andar rápido, não correr, estávamos cansados demais para algo além de andar a uma velocidade razoável. Olhei em volta, ainda estava escuro, mas pude distinguir colinas que ficavam por detrás de cercas brancas de madeira com placas acima que diziam “COLHA SEUS PRÓPRIOS MORANGOS”, as letras vermelhas bem destacadas contra o fundo branco, mas achei que as cercas deviam ter sido melhor projetadas, talvez com um espaçamento menor.

“Estamos quase lá.” Grover falou interrompendo minha análise sobre as cercas daquele lugar. “Só mais um quilômetro e meio, talvez.”

Eu não sabia exatamente onde era , mas estava ansiosa para que chegássemos logo, como se lá fosse o lugar certo. Acelerei o passo, então o som que nós não queríamos ouvir chegou até nós.

“Vocês nunca chegarão lá.” A voz da Fúria chegou como um balde de água fria na minha felicidade e expectativa de chegar ao acampamento. “Pelo menos não vivos.”

Então ouvi o som de chicote no ar. Thalia percebeu o que ia acontecer e fez Aegis se expandir e se defendeu do golpe fatal que teria sofrido.

“Vamos ter que lutar aqui mesmo!” Luke falou puxando a espada enquanto eu pegava minha faca. “Podemos recuar um pouco, Grover me diga que não falta muito!”

Grover olhou desesperado de um lado para o outro.

“Não falta muito!” Ele garantiu a Luke. “Mas vamos precisar ser rápidos se quisermos ter alguma chance contra elas.”

Luke e Thalia fizeram que sim com a cabeça e o chicote estalou de novo, só que dessa vez foi na direção de Luke.

“Morra!” As outras Fúrias falaram se atirando em Thalia e brandindo os chicotes com uma ferocidade assustadora.

Thalia tentou repeli-las com Aegis, mas não havia modo de lutar e se defender ao mesmo tempo, era minha hora de interferir.

Ataquei a Fúria que estava do lado esquerdo de Thalia. Seus olhos ardiam em brasa ao se virar para mim, por um momento pude ver a vontade de me matar presente em seu olhar, ela se virou para mim, deixando Thalia de lado momentaneamente.

Ela lançou o chicote e eu desviei para o lado, mas a pontaria dela era bastante boa, porque abriu um buraco na blusa que eu vestia.

“Annabeth!” Thalia gritou de seu combate para mim.

“O quê?” Consegui gritar de volta sem ser tostada, de novo por um triz.

“Você está bem?” Ela gritou de volta e eu fiquei preocupada, mas não podia me distrair pelo menor tempo que fosse. “Precisamos recuar! Argh!”

“Estou. Como?” Perguntei errando o braço da Fúria por pouco enquanto ela recuava.

“Venha devagar!” Ela falou. “Onde está o Luke?”

“Não sei! Deve estar lutando também.” Respondi.

Um raio imenso cortou o céu e o barulho da luta cessou no mesmo instante e começou a chover. Mas as Fúrias e os cães infernais não pareciam estar incomodados, a Fúria que lutava comigo arreganhou os dentes e me atacou novamente.

Alguns segundos depois pude ouvir o som de um monstro se desintegrando e em seguida a voz de Luke:

“Annabeth! Venha rápido!” Ele gritou para mim e vi que ele, Grover e Thalia haviam começado a correr novamente.

Desviei-me de mais um ataque do chicote da Fúria que lutava comigo e comecei a segui-los novamente, percebi que eles dois estavam carregando Grover assim que cheguei mais perto dos dois.

A chuva lavava nossos rostos que estavam sujos de restos de monstros. Reparei que Thalia estava com uma serie de arranhões nos braços e seus jeans estavam rasgados em vários pontos, mas ela mantinha uma expressão selvagem no rosto.

“Para onde Grover?” Luke perguntou desesperado.

“A Colina!” Grover gemeu e apontou para uma colina que conseguimos distinguir apenas o contorno. “Precisamos cruzar o limite da propriedade!”

Ainda faltava uns duzentos metros para chegarmos, e com Grover sendo carregado e os monstros nos perseguindo. Parecia uma tarefa impossível.

Os rosnados estavam altos atrás de nós, mas não demos importância e continuamos correndo. Talvez cem metros agora.

“Falta pouco!” Thalia gemeu.

Resolvi ajudá-los a carregar Grover, pois a colina havia começado a ficar íngreme e eles pareciam se esforçar muito para apenas se mover alguns centímetros. Peguei a parte das costelas dele enquanto Luke segurava as pernas e Thalia segurava os braços.

Quando finalmente chegamos ao topo da colina pude ver um vale e as luzes de uma casa de fazenda tremeluzindo amarelas através da chuva, mas estava a uns oitocentos ou talvez novecentos metros de distância. Nunca conseguiríamos chegar lá a tempo, pois os rosnados que nos acompanharam enquanto corríamos agora estavam mais altos.

Grover se pôs de pé e balançou a cabeça parecendo confuso e um pouco tonto.

Thalia respirou fundo ao ver que tínhamos apenas alguns segundos de vida.

“Grover.” Ela falou e tanto eu quanto Luke captamos a diferença em sua voz, era difícil dizer se as gotas de água que rolavam por sua face eram lágrimas ou apenas gotas de água da chuva.

Ele olhou para ela.

“Leve Annabeth e Luke para um lugar seguro.” Ela pediu, parecia estar dilacerada e eu percebi o que ela queria fazer.

“Não! A minha missão é levar você até Quíron!” Ele replicou percebendo o mesmo que eu. “Estamos quase chegando! Vem!”

“Não vamos conseguir chegar lá a tempo, vamos todos morrer se eu não ficar aqui!” Ela falou com desespero. “E mesmo que eu chegue a tempo... Eu não quero viver como um animal que tem que viver escondido! Sei que posso conter os monstros que nos perseguem para salvar a vida de vocês.”

“Não.” Foi a vez de Luke se pronunciar. “Começamos nessa juntos. Se você ficar eu fico também!”

“Não!” Ela falou. “Você tem a vida inteira pela frente, não pode ficar aqui e se deixar morrer. Luke, você e Annabeth precisam viver, não sei por que, mas é assim que tem que ser! Você não pode ficar comigo.”

Ele olhou com tristeza para ela, e vi a rendição em seus olhos.

“NÃO!” Gritei para ela e ignorando os rosnados que agora estavam bem claros para mim. “Thalia não me deixa! Eu preciso de você, o Luke também.” Pedi e ela deixou mais lágrimas rolarem, percebi que eu também estava chorando.

“Eu preciso que vocês fiquem bem Annabeth.” Ela falou e sorriu. “Esse é o meu sacrifício por vocês.”

Grover não parecia feliz.

“Se você ficar aqui vai morrer. Venha conosco.” Ele pediu debilmente, já sabendo qual seria a resposta dela e lágrimas começaram a rolar pela face dele e Thalia se recusou a olhá-lo nos olhos, mas voltou o corpo em sua direção para que ele soubesse que ela estava falando com ele.

“Não posso.” Ela falou e suas palavras me machucaram. “Se eu for com vocês serei um risco, e não quero isso. Vocês são meus amigos, quero que vocês fiquem bem, mesmo que sem mim. Agora vão!” Ela falou e virou de costas.

Ergui a mão para tocar em suas costas e puxá-la conosco mesmo que fosse através de suas roupas, mas dois pares de mãos me impediram de tocá-la e eu gritei, como nunca havia gritado antes.

“NÃO! THALIA!” Ela voltou seus olhos azuis para mim e seus lábios formaram as palavras: Cuide do Luke para mim está bem? Seus olhos suplicavam para que eu concordasse. Mais lágrimas rolaram de meus olhos e eu, completamente impotente, assenti, enquanto a dor me atingia de formas diferentes e potentes.

“Eu vou ficar bem!” Ela falou para nós com um último sorriso na nossa direção, como se fosse nos ver no dia seguinte e aquilo não fosse nada demais, como se ela não tivesse desistido da vida por nossa causa. “Até logo!”

E com essas palavras eu deixei meus soluços, que eu estava reprimindo com vontade, saírem altos e repetidamente. Então senti que não estava mais andando e que estava no colo de alguém que caminhava, não me importei para onde, eu só me importava com Thalia e em como ela estava.

“Shhhh. Annabeth. Shhhh.” Era Luke, sua voz estava rouca e ele parecia abalado. Agarrei-me nele, esperando que a dor do vazio que estava me consumindo pela perda de Thalia pudesse ficar menor ao saber que ele estava comigo, eu sentia o vazio que ela deixou em mim tão profundamente que não há palavras para descrever.

“Onde está Grover?” Perguntei baixinho.

“Foi chamar alguns campistas para irem ajudar Thalia.” Ele falou não parecendo ter confiança, ou até mesmo sem vontade de ter esperança.

“Devíamos ter ficado com ela.” Falei e ele balançou a cabeça, mas parecia tentar convencer a si mesmo.

“Não teríamos vencido.” Ele falou com tristeza.

“Mas teríamos ficado juntos.” Insisti.

De repente ouvi uma correria e gritos de guerra.

“Vamos!” Ouvi uma voz feminina gritar com urgência. “Uma meio-sangue precisa da nossa ajuda no topo da colina!”

Olhei ao redor e vi muitos adolescentes, todos com a aparência de dezoito ou talvez dezenove anos, e cada um usava uma armadura de combate grega e um elmo na cabeça. Então de repente senti os pelos dos meus braços se arrepiarem, como se algo grande fosse acontecer.

Um raio atingiu o lugar que estávamos a alguns minutos e o vale inteiro tremeu, fechei os olhos, sentindo por instinto que Thalia não estava mais viva.

“Thalia.” Sussurrei dolorosamente antes de desmaiar nos braços de Luke.


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Notas finais do capítulo

Eu chorei quando escrevi este capítulo :'(. Bjos, até o próximo.



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