Minha Vida Antes... (annabeth) escrita por Marina Leal


Capítulo 14
Capítulo 14: SALVO AS NOSSAS VIDAS


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal. Apenas um pequeno aviso antes que vocês comecem a ler: Este capítulo vai ter algumas surpresas, como mudar entre o ponto de vista entre eles, mas termina com o ponto de vista da Annabeth, pois eu quis mostrar que o elo entre eles se tornou forte mesmo com pouco tempo de convivência e que todos se preocupam com ela. Sem mais delongas, boa leitura. Espero que gostem. Beijos.



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“Corram!” Grover gritou à nossa frente enquanto fugíamos dos rosnados que ecoavam atrás de nós, sua expressão estava apavorada antes de entrarmos em uma rua escura. “Rápido!”

Eu podia ouvir os trotes de Grover mesclados às passadas apressadas de Thalia, os barulhos às nossas costas ficavam mais baixos a cada rua por que passávamos, pensei que talvez eles não fossem projetados para correr.

“Nós podíamos ter lutado com eles!” Luke reclamou enquanto corríamos por uma rua larga e com muitas casas ricamente construídas, pensei aleatoriamente que pudesse ter feito um trabalho melhor que o arquiteto que as fez.

“Duvido!” Thalia respondeu ofegante quando paramos na frente de uma das várias mansões que se localizavam no bairro que estávamos e interrompia meus pensamentos sobre a arquitetura das casas. “Já foi bastante difícil lutar com apenas elas três antes, imagina lutar com elas e com os amiguinhos que elas trouxeram junto. Não. Concordo com Grover em termos corrido antes de uma luta ter se iniciado.”

Luke fechou a cara para ela. Não falei nada, mas concordava internamente com Thalia: não daria para lutarmos, algum de nós se feriria e poderia até mesmo chegar a morrer.

“Precisamos chegar logo ao acampamento!” Grover falou desesperado para nós enquanto retirava os tênis e as calças, revelando suas pernas peludas de bode, o cheiro de lã chegou ao meu nariz e contive minha expressão de choque, mesmo sabendo o que ele era eu estava surpresa ao ver aquele outro lado dele. “Falta pouco para chegarmos agora.”

“Tudo bem, vamos logo.” Thalia falou segurando sua lança e seu escudo ameaçadoramente e ignorando as pernas de Grover assim como Luke fazia, mesmo que lançasse olhares de canto de olho para elas. Fiz de tudo para não mostrar o meu medo ao ver o escudo dela completamente aberto, Thalia era bem assustadora quando queria e Aegis contribuía, e muito, para esse efeito. “Para onde daqui?”

Grover olhou para os lados, analisando a paisagem, casas e mais casas estavam em nosso campo de visão, ele ergueu o nariz e cheirou o ar, estremecendo um pouco ao fazer isso, sua expressão mudou de medo para pavor absoluto em poucos segundos, mas ele tentou controlar a expressão ao olhar para nós.

“Por ali.” Ele falou apontando para o leste e começando a trotar a uma velocidade incrível para um bode, homem-bode, tanto faz. “Tenho certeza.”

Luke o olhou cético, mas resolveu o seguir assim como eu e Thalia. Perguntei-me o motivo de ele não ter olhado o mapa para ir pela direção certa.

“Porque ele não olhou o mapa?” Luke falou como se soubesse dos meus pensamentos de segundos antes.

“Porque o mapa não vai adiantar.” Ele falou ainda trotando ao ouvir as palavras de Luke que estava logo atrás dele.

“Não sei não.” Luke falou num murmúrio duvidando do que Grover falou, mas Thalia o repreendeu com um olhar e voltamos a correr para acompanhar Grover.

Senti algo ruim se aproximando, mas ignorei, precisávamos chegar ao acampamento. Lá ficaríamos seguros e seríamos uma família como Luke havia me prometido.

“Vamos dobrar na próxima rua!” Grover falou e acelerou o passo, ansioso. “Não devemos estar muito longe agora!”

Aceleramos também, não tive tempo para olhar em volta, mas a sensação de já ter passado por ali me dominou, estranho.

“Mas,” Thalia começou a falar ao olhar em volta quando dobramos a outra esquina “nós já não passamos por aqui antes?”

Olhei em volta e percebi que ela tinha razão, realmente já havíamos passado por aquela rua há alguns minutos. Como havíamos voltado para ela? Talvez Grover tivesse tomado um desvio errado e nos levado de volta, como se tivéssemos andado em um círculo, mas se não fosse isso o que teria acontecido? E porque eu não falei antes da sensação de já ter estado lá?

“Me desculpem.” Grover gemeu a constatar que ela estava certa e parecia verdadeiramente envergonhado. “Acho que errei o caminho, a rua certa é aquela ali.”

Luke olhou frustrado para mim e Thalia, mas ela nem virou o rosto para olhar para ele.

“Só vamos chegar logo ao acampamento está bem?” Ele falou com irritação para ela. “Apenas lá falaremos sobre isso.”

Ela bufou parecendo tão irritada quanto ele e voltamos a correr atrás de Grover, olhei para trás, mas não havia nenhum monstro atrás de nós, ainda.

“Não devíamos ter chegado há algum tempo?” Luke perguntou algumas ruas depois, sua voz estava impaciente e preocupada.

“Mais alguns minutos.” Grover gemeu e sua voz estava arfante.

“Estou cansada!” Me queixei baixinho. “Podemos parar um pouco?”

Os três olharam para mim com preocupação.

“Só mais um pouco Annabeth!” Grover pediu olhando suplicante para mim. “Falta pouco, por favor!”

Reprimi um gemido, não estava com vontade de correr mais. Luke percebeu que eu ia desmaiar se corresse um pouco mais, mas tampouco parecia querer parar.

“As Fúrias ainda estão atrás de nós!” Ele falou para mim alarmado. “Não podemos ficar aqui! Temos que correr.”

“Mas...” comecei e ele me cortou gentilmente.

“Vamos correr mais um pouco, talvez ainda cheguemos ao acampamento esta noite, daqui a pouco de acordo com o que Grover disse. Se você ficar muito cansada eu te carrego. Por favor, Annabeth não podemos parar agora.” Ele pediu e eu hesitei, ele estava certo. E talvez eu pudesse aguentar mais um pouco. Suspirei e assenti com relutância.

“Por favor, Grover.” Olhei para ele implorando com os olhos. “Leve a gente logo.” Ele fez que sim com a cabeça, a expressão séria e angustiada.

“Onde estamos agora?” Thalia perguntou arfando ao continuar a correr perto de nós, só que um pouco mais atrás, percebi que ela estava protegendo nossa retaguarda.

“Nos arredores de Flatbush.” Grover respondeu parecendo culpado e abaixando a cabeça com tristeza. “Acho que errei o desvio e me perdi de novo. Acho que vamos demorar mais um pouco para chegarmos ao acampamento.” Ele disse. “Quíron não vai ficar satisfeito com isso.” Murmurou.

Thalia e Luke gemeram de frustração e pararam de correr ao mesmo tempo, os dois pareciam a ponto de estrangular Grover, se não estivesse tão cansada teria rido da situação entre nós, mas Grover não pareceu perceber que eles haviam parado.

Luke olhou para mim como se pedisse desculpas por não ter deixado que eu descansasse quando pedi. E Grover ao perceber a pausa de Thalia e Luke trotou para perto de nós.

“Temos que ir!” Ele falou com tom urgente e ignorando as expressões deles dois.

“Não dá mais!” Thalia falou com irritação e Grover se encolheu. “Estamos correndo há muito tempo, e me parece que não estamos mais perto do acampamento do que a horas atrás.”

“Só mais algum tempo.” Grover gemeu para ela com um olhar suplicante no rosto, seus lábios tremiam e ele parecia prestes a mastigar algo de tanto nervosismo. “Por favor, Thalia, sei que estamos perto agora, de verdade.”

“A questão é que estamos cansados, Grover.” Luke falou acenando para que eu sentasse no meio-fio da calçada, meus cachos caíram em meu rosto e eu os afastei para trás da orelha. “Imagino que estejamos a algumas horas dos monstros que estavam nos perseguindo, pelo tempo que estamos correndo.”

Ele olhou para Thalia que assentiu com a cabeça, ela estava preocupada, mas o cansaço também estava presente em suas feições, seu cabelo preto e desfiado estava um tanto mais bagunçado que o normal e suas roupas estavam sujas e rasgadas em alguns pontos, mas ela não parecia se importar. Luke não estava tão diferente dela, me perguntei por um breve momento como eu estaria, mas rapidamente concluí que não importava.

“Há tantas casas por aqui.” Thalia falou olhando ao redor. “E algumas parecem abandonadas, porque não entramos em uma delas e passamos algum tempo? Já está tarde, precisamos descansar, nem que seja por alguns minutos.”

“Não acho que seja uma boa ideia.” Grover falou cheirando o ar novamente e parecendo angustiado com alguma coisa. “A rua tem cheiro de monstros.”

As palavras dele causaram um arrepio em mim e meus sentidos gritaram: Perigo! Vá embora agora! Mas Luke não acreditou no que ele havia dito.

“Deve ser o cheiro das Fúrias e daqueles cães que ainda está no seu nariz.” Comentou antes que eu pudesse falar alguma coisa em defesa de Grover, que hesitou por um momento, não parecia disposto a nos deixar entrar em uma daquelas casas, e eu não me sentia com vontade tampouco.

“Então vamos fazer o seguinte.” Luke falou como se arquitetasse um grande plano. “Eu entro em uma delas e verifico se é seguro, se for, venho aqui fora e chamo vocês e passamos algum tempo nela.”

“E se não for?” Thalia perguntou.

“Se não for eu corro para fora e nós voltamos a correr para o acampamento.” Ele respondeu simplesmente.

Thalia ergueu uma sobrancelha e Grover baliu e se pronunciou antes de mim.

“E nós ficaremos expostos aqui fora?” Perguntou nervoso.

Luke pareceu ver o problema e analisou a situação por algum tempo. Nesse meio tempo senti um incomodo estranho, um formigamento na nuca, como se alguma coisa estivesse nos vigiando, olhei para trás, mas não havia nada, apenas os arbustos e algumas árvores em frente a algumas casas que estavam com as luzes desligadas, olhei ao redor mais atentamente e percebi que não havia pessoas na rua além de nós. Voltei a olhar para eles, mas a sensação não desapareceu e eu me movi, inquieta, mas nenhum deles percebeu meu incomodo, ou talvez não fosse nada e eu estivesse apenas cansada de tudo.

“Faremos o seguinte então.” Luke parecia um tanto relutante com o que ia dizer, mas conformado com suas próximas palavras. “Como não podemos correr o risco de deixar vocês aqui fora, todos nós vamos entrar, mas vocês três ficam na sala principal enquanto eu ando pela casa para verificar se ela está mesmo vazia.” Ele falou apontando para uma casa branca, com a tintura meio desgastada e descascando em alguns pontos, na varanda um balanço ia para frente e para trás com o vento lento que batia na rua.

Um vento forte bateu inesperadamente na nossa direção e Grover gemeu baixinho.

“O que houve?” Perguntei preocupada.

“Cheiro de monstros.” Ele respondeu apontando para a casa, seu nariz se retorceu e sua expressão era de nojo. “Ficou mais forte depois que o vento bateu.”

Olhei novamente para a casa e tentei entender o sentimento de medo que me atingiu e o motivo de Luke querer tanto ir para ela, bem, ela parecia ser a mais imponente da rua, mas não parecia a mais confortável, nem de longe, e era a mais afastada da rua do que as outras.

“O vento deve ter carregado o cheiro de outros monstros.” Thalia falou sem dar crédito a Grover e dando um passo na direção da casa. “Vamos Luke.” Ela falou e eu ergui um braço e segurei sua mão para detê-la.

“Não vá!” Falei tentando mostrar a ela o medo através de meus olhos.

“Não se preocupe.” Ela falou confiante. “Vamos ficar juntos, é só esperarmos Luke na sala, está bem? Vou ficar perto de você o tempo todo.” Ela prometeu olhando em meus olhos.

Então eu cedi, mas não estava confiante, mesmo que não soubesse o motivo.

Olhei para Grover e ele parecia prestes a desmoronar de nervosismo e eu me apiedei dele, entendia o medo que ele estava sentindo.

“Vem.” Falei tentando mostrar a mesma confiança que Thalia passou para mim. “É só ficarmos juntos.” Cheguei mais perto dele e puxei sua mão.

Ele se deixou levar, mas parecia mais alguém que caminhava para a forca do que para uma casa velha. Sua respiração ia se acelerando cada vez mais a cada passo que dávamos na direção da casa. E talvez eu estivesse reagindo a ele e suas emoções e comecei a ofegar também.

Luke estava à nossa frente e Thalia logo atrás de nós, mas não me senti completamente segura.

O jardim da casa era bonito e bem cuidado, mas não consegui registrar nada além disso, passamos a cerca de madeira, meus instintos gritaram para que eu fugisse enquanto ainda dava tempo, meu coração estava tão acelerado quanto o de Grover. Enquanto andávamos a curta distância até a porta da frente percebi que ele murmurava algo ao meu lado, mas não entendi o que era, não parecia ser inglês.

Luke pisou no primeiro degrau que rangeu com seu peso. Ele congelou no lugar, esperando alguma coisa acontecer. Olhei ao redor, nada havia mudado nas fachadas das outras casas, apenas a sensação de que estávamos sendo vigiados havia ido embora, mas eu ainda estava com medo, aquele lugar parecia mais assustador que qualquer outro.

Depois de concluir que ainda não havia perigo para nós, Luke terminou de subir a pequena escada e fomos atrás dele. Ele se virou para olhar para nós, seus lábios formaram as palavras: Vou entrar, tomem cuidado e fiquem juntos. Olhei para Thalia e ela assentiu com a cabeça.

Ele ergueu hesitante a mão para a maçaneta e abriu a porta sem dificuldade, meus olhos se estreitaram, nada vinha com facilidade para nós, Luke pareceu concordar com minha avaliação e se esgueirou lentamente para dentro, iluminando o caminho com a ponta de sua espada, sua postura me disse que ele estava pronto para uma luta.

Puxei minha faca da bainha e arrastei Grover comigo, sabendo que Thalia estava logo atrás de nós. Ele gemeu baixinho, mas não falou nada ao me acompanhar pelo interior da casa que me causava arrepios.

Minha faca brilhava levemente à minha frente, e havia um caminho de velas acesas por onde andávamos, os passos de Thalia atrás de mim faziam com que eu tivesse coragem de prosseguir e Aegis criava um caminho brilhante e mais claro que minha faca e as velas juntas pelo corredor largo e comprido no qual estávamos.

“Não gosto disso.” Grover falou ao meu lado, sua voz falhava e seus cascos batiam no chão com baques surdos e ocos e faziam toda a cena ficar ainda mais assustadora para nós. “Cheiro ruim. Cheiro de monstros.”

“Onde será que fica a sala?” Thalia perguntou baixinho atrás de nós e ignorando os comentários de Grover.

“Não sei.” Respondi em um sussurro. “Mas onde será que o Luke está?”

“Ele vai nos encontrar rapidamente Annabeth.” Ela falou, mas parecia tentar convencer a si mesma. “Agora temos que encontrar a sala e, principalmente, ficarmos juntos.”

Assenti com a cabeça e continuamos a andar, comecei a ficar preocupada à medida que o tempo passava e Luke não aparecia e nós não encontrávamos a sala principal, apenas vagávamos por uma série de corredores que nunca pareciam levar a lugar algum, ou apenas levavam a mais corredores decorados com papel de parede vermelho sangue com círculos espaçados perfeitamente e que me deixavam mais nervosa, como se fossem olhos nos observando, sem quartos ou algum outro cômodo os separando. Não falamos nada, mas eu sabia que Grover e Thalia estavam ficando tão preocupados quanto eu com relação à demora de Luke a nos encontrar.

Eu devia estar cansada, e estava, mas aquela casa parecia ter despertado meus sentidos e eu estava mais alerta e absorvia cada detalhe à minha volta, a adrenalina ainda pulsava por minhas veias mesmo estando há muito tempo ali dentro, a sensação de que não devíamos estar ali não me deixava relaxar.

Dobramos à direita e depois à esquerda e à direita novamente e nos deparamos com um cômodo pequeno e vazio de móveis. Claramente não era o lugar que nós procurávamos, mas serviria para descansarmos pelo menos por algum tempo antes de procurarmos por Luke. Me sentei no chão e girei a ponta da minha faca no carpete que não consegui identificar a cor. Grover se sentou de um lado meu e Thalia se colocou do outro e eu apoiei minha cabeça no ombro dela, mas estava preocupada demais para dormir.

Depois de cinco minutos angustiantes e sem praticamente nos mover ou falar, Thalia se levantou do chão com a expressão decidida. Grover olhou para ela bastante preocupado.

“Vou atrás de Luke.” Ela falou como se nos desafiasse a tentar impedi-la de fazer aquilo. “Ele não nos deixaria esperando por tanto tempo. Tem alguma coisa errada.”

Grover olhou para mim e eu me levantei.

“Vamos com você.” Falei esticando meu corpo que estava rígido de ter ficado parado na mesma posição.

“Concordo com Annabeth.” Grover falou também se levantando.

“Acho melhor só eu ir.” Ela falou tentando arrumar algum argumento. “E se Luke passar por aqui e não tiver ninguém assim que sairmos daqui?”

Estreitei meus olhos para ela, ou íamos os três juntos ou ela não ia.

“Sabe,” ela falou com uma dose de humor na voz “para uma garotinha de sete anos você consegue ser bem assustadora quando olha desse jeito.”

“Nós três vamos juntos.” Grover sentenciou antes que eu falasse. “Ou...” ele respirou fundo como se quisesse falar qualquer coisa menos o que estava prestes a dizer. “Ou eu vou atrás dele e você fica aqui tomando conta de Annabeth.”

Meu queixo, juntamente com o de Thalia, caiu, mas recompus logo minha expressão. Nunca imaginei que Grover fosse capaz de dizer aquilo algum dia. Depois que se recuperou do choque, Thalia olhou para mim e parecia lutar com a vontade de ir atrás de Luke comigo e com Grover junto a ela com a vontade de ficar e me proteger e permitir que ele fosse atrás de Luke sozinho. Ela olhou para mim e assentiu para ele ao vir na minha direção e se sentar de novo ao meu lado.

Ele pareceu ao mesmo tempo aliviado e com medo ao ver a escolha dela.

“Não pretendo demorar.” Ele falou se levantando e eu senti medo por ele, sua voz tremia e ele retorcia nervosamente o pano da blusa laranja que vestia com as mãos. “Mas caso eu não volte logo vocês devem ir embora daqui.”

Thalia parecia prestes a protestar, mas ele não permitiu ao sair rapidamente pelo corredor, como se indo rápido não precisasse pensar no que estava fazendo. Ela me olhou assim que ele dobrou o primeiro lance de corredor e seus passos de bode sumiram, seus olhos transmitiam seu medo por nossos amigos.

Olhei para o teto, tentando encontrar alguma coisa para pensar que não fosse o medo. Um grande candelabro para velas estava sobre nossas cabeças, parecia velho e prestes a desabar no chão. Aquilo não era interessante o bastante para me distrair, olhei para Thalia e ela me encarava, um pedido claro em seus olhos. Meu coração se acelerou e eu comecei a respirar rapidamente, parecia que tinha alguma coisa presa na minha garganta, ela realmente queria me deixar sozinha?

“Por favor, Annabeth.” Ela sussurrou para mim, como se estivesse pedindo para eu entender seus motivos para querer ir atrás deles. “Não vou demorar, e Luke e Grover são nossos amigos, podem estar perdidos por aí e precisando de ajuda, você vai ficar segura se ficar aqui.”

“Eles disseram isso também.” Sussurrei de volta para ela. “E não voltaram até agora. Não quero ficar sozinha, mas estou preocupada com eles também.”

Ela olhava entre mim e o corredor, esperando minhas próximas palavras. Respirei fundo me preparando para ficar sozinha logo após mandá-la atrás deles.

“Vai atrás deles Thalia, mas não me deixe aqui sozinha por muito tempo está bem?” Falei tentando conter a onda de medo que me tomou assim que terminei de falar aquilo.

“Está bem, só não vá atrás de mim.” Ela falou se levantando e desembainhando uma espada para fazer companhia para Aegis. Ela andou cautelosamente até o fim do corredor, como se esperasse um ataque, então lançou um último olhar para mim antes de sumir na curva de um corredor para outro.

E eu estava só.

Senti um arrepio de medo, mas ela havia prometido não demorar a buscá-los, sem falar que Luke e Thalia nunca quebraram uma promessa que fizeram para mim, aquela não seria a vez que eles fariam isso, seria?

POV: LUKE

Aquela casa me dava arrepios, e eu sabia que Grover estava certo, ali tinha cheiro de monstros, mas eu não conseguia esquecer as palavras de meu pai e principalmente as de Thalia para mim. Eu precisava provar meu valor, provar que mesmo sem a ajuda de Hermes eu era capaz de ser um herói, talvez Thalia não entendesse o que eu sentia e eu não me esforçaria para explicar, os deuses nunca fizeram nada por mim antes, meu pai nunca fez nada por mim antes. O que ele ia me dizer, mas se interrompeu?

Caminhei na frente, meus pensamentos girando sem ordem na minha cabeça, uma série de corredores fez com que eu me confundisse e me perdesse de Grover, Thalia e Annabeth. Continuei procurando, havíamos combinado de nos encontramos na sala principal, mas onde ela ficava? Eles a tinham encontrado antes de mim? O que fariam quando percebessem que eu estava perdido? Eu desejei internamente que Thalia não viesse atrás de mim quando a voz de Annabeth chegou até meus ouvidos.

Luke! Luke! Socorro!” Ela gritou um corredor à frente do que eu me encontrava o pânico evidente em sua voz. Mas porque Thalia e Grover a deixaram sozinha? Pensei. Não importa! Respondi para mim mesmo começando a correr na direção de sua voz. Depois você pergunta a eles. “Luke! Socorro!” Ela gritou novamente e eu seguia atentamente cada barulho que podia ouvi-la fazer.

“Annabeth?” Chamei em voz alta com preocupação. “Onde você está?”

Estou aqui!” Ela disse batendo na parede onde estava presa.

“Aqui onde?” Perguntei correndo na sua direção.

Estou aqui!” Ela repetiu e eu corri mais rápido, sua voz estava mais alta, eu devia estar perto, acelerei o passo. “Me ajude!

“Estou chegando!” Falei tentando acalmá-la, dei um passo para o corredor que ela estava, então alguma coisa atingiu minha cabeça por trás e apaguei.

POV: GROVER

Não faça nada que atrapalhe o resgate. As palavras de Quíron soaram na minha cabeça e eu senti culpa, aquilo com certeza era um atraso. A filha de Zeus pode ser uma peça importante para nosso futuro. Ele havia dito antes que eu partisse do acampamento com a promessa de não demorar a levá-la até lá.

Tinha sido uma boa ideia deixá-la para trás com Annabeth? Talvez. Eu não poderia deixá-la correr algum risco, era o meu trabalho protegê-la, ainda mais depois dela ter visto as Parcas cortarem o fio. Fiz uma garra de três dedos sobre o coração, um gesto antigo para afastar o mal e andei mais alguns passos e dobrei à direita no corredor que se seguiu.

O silêncio profundo ao meu redor era inquietante e a ausência de sentimentos também. Respirei o ar profundamente e o cheiro de Luke estava ali, mas misturado com o cheiro de monstro. Gemi, eu havia dito que não era um bom lugar. Ouvi batidas baixas e olhei para baixo, eram meus cascos batendo. Respirei fundo, dessa vez para me acalmar.

Grover!” Thalia gritou a alguns corredores de distância, o medo em sua voz me fez ter um arrepio. “Grover! Me ajude, por favor!”

“Já estou indo Thalia!” Gritei de volta e comecei a trotar na direção de sua voz. Se acontecesse algo com ela e fosse minha culpa eu nunca conseguiria minha licença de buscador. “Só agüente mais um pouco!” Arfei.

Rápido! Preciso de você!” Ela gritou de volta.

“Estou aqui!” Falei chegando ao corredor que ela estava.

Fui assaltado por emoções que não indicavam pânico ou até mesmo temor, era malicia misturada com determinação, o cheiro de monstro estava mais forte, então algo fez contato com a parte de trás da minha cabeça com uma força que fez um crack doentio e tudo ficou escuro e eu desmaiei.

POV: THALIA

Senti culpa me atingir e em seguida preocupação, eu não devia ter deixado Annabeth sozinha, mas não podia levá-la comigo, eu sabia que ela estava mais cansada do que deixava transparecer, ela era forte. Ergui Aegis à minha frente e o corredor ficou levemente iluminado. Eu havia a deixado sozinha para poder encontrar Luke e Grover naquela infinidade de corredores, não poderia voltar até ela sem eles comigo. Olhei para trás e tentei me lembrar como voltar para ela só que todos os corredores eram iguais, mas um sentimento estranho me fez reconsiderar e continuar atrás deles, Grover havia avisado sobre um monstro, será que fomos cegos o bastante para não o escutarmos?

Ouvi passos no outro corredor, meu coração se acelerou, podia ser Luke ou até mesmo Grover. Pensei brevemente no que Grover falaria sobre eu não ter ficado com Annabeth, mas decidi que só me preocuparia com isso depois. Avancei lentamente, mas os passos começaram a se distanciar de mim.

“Grover? Você está aí?” Chamei preocupada e olhando por todos os cantos em volta. “Luke? É você? Annabeth? Porque você não me esperou?”

Houve silêncio e eu fiquei tensa. Eu tinha certeza ter ouvido passos no outro corredor, mas porque eles não responderam, será que era mesmo algum deles? Respirei fundo voltei a andar lentamente pelo corredor.

Thalia!” Mais à frente escutei um grito abafado, mas era a voz de Luke, e ele estava com problemas. “Thalia! Preciso de ajuda! Socorro, por favor!”

Comecei a correr para onde estava a origem de sua voz. Ouvi passos virem na minha direção.

“Estou indo!” Gritei para ele. “Espere mais um pouco!”

Então o som parou, assim como os gritos de Luke.

“Luke?” Perguntei. Senti algo atrás de mim, mas não fui rápida o suficiente para me virar e algo grande e pesado bateu na minha cabeça e eu desmaiei.

POV: Annabeth

Havia passado muito tempo desde que Grover e Thalia haviam me deixado, eu estava começando a ficar tensa. Me levantei e coloquei minha faca na bainha, um sentimento estranho me disse tinha algo errado, mas que ainda não era hora para puxar a faca.

“Me desculpem.” Murmurei para eles através da minha consciência, mas eu já não agüentava mais esperar por eles ali naquele canto, sozinha.

Dei um passo para fora do cômodo que eu estava. Olhei para trás. Se eu quisesse voltar, como faria? Remexi na bolsa que trazia nas costas e encontrei uma coisa que eu havia achado inútil quando vi, mas que agora teria serventia. Destampei o pincel grosso e azul e apoiei a ponta na parede e comecei a andar.

Andei pelo que me pareceu um bom tempo, e então encontrei uma porta depois de passar por um corredor mais estreito que os outros. Puxei o pincel e o tampei. Ergui a mão para a maçaneta e percebi que ela tremia muito. Respirei fundo e abri a porta lentamente. Ela abriu sem nenhum barulho e eu passei por ela sem fechar atrás de mim.

Havia coisas brancas e disformes jogadas no chão e quando peguei uma para olhar mais de perto descobri que eram ossos. Reprimi um grito. E continuei avançando ao ouvir gemidos estranhos vindos mais para dentro do cômodo e tentei ignorar os ossos espalhados pelo piso e o cheiro que mais parecia que havia uma coisa estragada ali.

Olhei para cima, e lá estavam eles: Thalia, Luke e Grover, com as mãos amarradas e amordaçados, pendurados no teto como presunto defumado. Os olhos de Thalia se arregalaram ao me ver ali e claramente me mandavam ir embora, Luke e Grover ainda pareciam estar desacordados.

Olhei em volta e fiquei paralisada. Um homem estava agachado no chão, parecia estar acendendo alguma coisa, o cheiro de coisa podre parecia se desprender dele e eu fiquei enjoada. Puxei minha faca, mas ele ouviu o som do Bronze Celestial raspando na bainha.

Ele se virou para mim e meu grito não saiu. Ele tinha um olho só e seu rosto marcado e enrugado como um cachorro velho se retorceu em um sorriso na minha direção, um dente podre aparecia por entre seus lábios repugnantes.

“Agora, Annabeth, não se preocupe.” Ele falou e se fosse possível que eu ficasse mais congelada no meu lugar eu fiquei. Ele havia falado com a voz do meu pai. “Eu amo você. Você pode ficar aqui comigo. Você pode ficar para sempre.”

Eu estremeci e ele voltou a se concentrar no fogo que estava acendendo, assim que estava satisfeito com as chamas pegou uma panela e a colocou em cima do fogo como se eu não estivesse ali. Depois se dirigiu onde eles estavam pendurados e os colocou no piso perto da panela.

Não. Eu não ia permitir que ele matasse meus amigos. Avancei lentamente na sua direção e enfiei a faca em seu pé até o cabo e a puxei. Ele urrou de dor e começou a pular no chão e soltando pragas em alguma língua. Corri até Thalia, que era a única que já estava consciente, e cortei as cordas que prendiam suas mãos.

“Obrigada!” Ela falou massageando rapidamente os pulsos e fazendo Aegis se abrir. “Agora deixa que eu assumo daqui, liberte Grover e Luke.”

Assenti e cortei as cordas grossas que os prendiam e eles caíram não chão. Tentei acordar Luke primeiro.

“Luke!” Falei sacudindo seu corpo. “Luke!”

Respirei de alívio quando ele abriu os olhos e me virei para acordar Grover.

“Comida!” Gemeu ele. Não era grande coisa, mas pelo menos ele estava bem.

“Annabeth?” Falou Luke e eu o olhei, ele afagava sua nuca. “Está tudo bem? Ouvi você gritar por socorro e depois apaguei.”

“Não temos tempo para conversar!” Respondi assustada virando meu olhar para Thalia, ela estava indo bem, mas duvidava que agüentasse sozinha por muito tempo. “Vá ajudar Thalia e depois vamos embora daqui!”

Ele seguiu meu olhar e seus olhos se arregalaram, mas ele fez que sim com a cabeça e juntou sua espada que estava largada a um canto que eu não havia notado. Ele se juntou a Thalia e logo o ciclope havia sido reduzido a pó de monstro ao ter que lutar com eles.

Os dois estavam ofegantes e as faixas que envolviam a perna de Thalia estavam manchadas de sangue. Luke estava com uma linha fina de sangue escorrendo de sua testa ao seu queixo e gotas caíam no piso.

“Precisamos ir embora!” Falei tentando fazer Grover se levantar, ele não estava completamente acordado, mas já conseguia falar algo além de ‘comida’.

“Obrigada Annabeth.” Eles falaram juntos e eu apenas fiz que sim com a cabeça.

“Como ele está?” Thalia falou chegando perto de mim e Grover.

“Acho que está bem.” Falei olhando para Luke.

“Então vamos embora daqui.” Ele disse olhando em volta. “Mas como?”

“Eu acho que sei, mas só posso nos levar até certo ponto.” Falei me levantando com Grover e Thalia veio me ajudar a apoiar o peso dele. “Venham.”

Os levei através da porta e mostrei a eles a marca do pincel na parede do corredor.

“E onde isso leva?” Thalia perguntou.

“Ao cômodo que você e Grover me deixaram esperando.” Falei dando de ombros como se não fosse nada demais. “Pensei em como faria para voltar para lá se quisesse e tinha um pincel na bolsa e como parecia um labirinto, me lembrei do labirinto de Dédalo.” Falei. “Mas como não havia fio eu tive que me virar com o pincel.”

Eles me olharam com admiração e eu senti meu rosto quente.

“Então vamos, temos que encontrar a saída daqui.” Luke falou decidido começando a seguir a linha azul claramente destacada na parede.


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Notas finais do capítulo

Gente, este capítulo foi escrito a partir de um pequeno fragmento que o tio Rick escreveu no segundo volume da saga: O Mar de Monstros, se estiverem curiosos para ver se é verdade, peguem o livro e o abram nas páginas: 194; 195 e 196, nelas a Annabeth explica a versão dos fatos para o Percy e eu os adaptei para minha fic (como eu tenho feito com todos os fragmentos que pude ler da vida dela na saga Percy Jackson e os Olimpianos). Espero que tenham gostado. Beijos e até o próximo capítulo, continuem acompanhando.



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