Deixe o Amor Nascer. escrita por Kira Urashima


Capítulo 10
Doce Veneno




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(Cap. 10) Doce Veneno

Estava tudo muito claro depois das explicações de Koema, embora fosse uma história realmente incrível.

Shinobu Sensui, há cerca de 10 anos , tinha sido designado, junto com um amigo, Itsuke (um jovem que auxiliava o Renkai de forma extra-oficial) para uma missão: acabar com uma organização secreta denominada Black Black Club, que tinha aberto um pequeno túnel para fazer ligação com o Makai. Por essa abertura era feito o comércio de monstros de categoria D e E, com o objetivo de proporcionar entretenimento sádico para os ricaços pertencentes ao grupo.

O então detetive conseguiu encontrar o esconderijo desses homens, porém, ao observar os rituais que faziam com os monstros, Sensui foi tomado por tamanha revolta e asco que assassinou todos os presentes e, depois desse acontecimento, desapareceu, levando consigo a fita “Capítulo Negro”.

Koema contou também que Shinobu tinha um forte senso de justiça e, uma pessoa com essa personalidade, não poderia sair ilesa ao ser exposta a cenas de extrema violência, mesmo que fosse contra monstros. Certamente, ele julgou que os homens não mereciam sua proteção, antes deveriam morrer por serem tão cruéis.

–Realmente, é uma história e tanto... - Genkai se permitiu falar, depois da conclusão de Koema – E quanto à força desse rapaz, Sensui? Devemos nos preocupar?

–Bem, eu diria que Shinobu sempre foi forte – fez uma pequena pausa –. E acredito que deva ter se educado ainda mais durante esses 10 anos...

–Pois eu não estou nem um pouco preocupado! – o atual detetive resolveu falar, colocando as mãos atrás da cabeça – Dois deles já são carta fora do baralho e não vai ser diferente quando pusermos as mãos nesse cara metido a besta!

Após a frase de Yusuke, uma estranha energia foi sentida e antes que alguém pudesse argumentar, todos perceberam que o inimigo estava do outro lado da rua, no terraço do prédio da frente, observando toda a movimentação daquele apartamento, tomando todos de surpresa e liberando uma tensão de batalha.

Num impulso louco, Kuwabara levantou da cadeira e saiu correndo em direção à rua, seguido por Yusuke, que tentava fazê-lo desistir da ideia de lutar, já que ainda estava ferido.

–Volta aqui, Kuwabara!

–A hora chegou – a mestra calçava os sapatos.

–Chegou mesmo... – Koema respondeu meio atordoado com a velocidade com que os acontecimentos seguiam.

Kurama foi até o quarto e quando abriu a porta, Shizuka e Botan perceberam que uma nuvem pairava sobre seu rosto.

–Que gritaria foi essa? – Shizuka perguntou.

–Sensui está aqui.

–SENSUI? – Mitarai se pronunciou de tal maneira que as meninas perceberam de quem se tratava. O quarto ganhou um clima pesado e ninguém ousou falar nada.

–Por favor, não saiam daqui e tomem cuidado – Kurama finalizou e antes de sair, disse pra guia:

–Tenha cuidado e não hesite em me chamar, tá? – o olhar dele estava tenso, mas a voz soou carinhosa, o que fez Botan sorrir da forma que Kurama mais gostava: timidamente.

–Pode deixar... – respondeu corada.

A porta se fechou e, logo, a mestra e os rapazes estavam na rua em frente ao prédio, prontos para enfrentar Sensui. Porém, o que eles não sabiam, é que o real objetivo do ex-detetive não era enfrentar ninguém e, sim, capturar o detentor da energia dimensional, necessária para quebrar a barreira entre o mundo dos homens e o mundo das trevas, sendo assim, lutar contra o time Urameshi era apenas uma distração que foi percebida somente depois que o apartamento de Yusuke fora atingido pela bola energética oriunda da técnica ¹lesuken.

Desespero se apoderou de todos e Shinobu se aproveitou da confusão pra fugir, porém foi seguido por Yusuke e Kuwabara.

–Botan, Shizuka e Mitarai precisam de ajuda!- Kurama ia em direção ao apartamento, mas Genkai o impediu:

–Eu e Koema vamos socorrê-los... Vá, eles precisam de você –ela olhou-o com firmeza.

Meio relutante, Kurama se pôs a correr na direção percorrida por Yusuke e Kuwabara, contudo, sua mente estava inquieta:

–Botan... Botan, você pode me ouvir?– tentava chamá-la por telepatia, mas só o silêncio ecoava em sua mente, deixando-o ainda mais preocupado e mal por não ter conseguido protegê-la, além de Shizuka e Mitarai. Tudo estava acontecendo muito rápido, ninguém teve tempo sequer de se preparar ou planejar uma defesa.

Enquanto isso, Genkai e Koema já haviam chegado ao apartamento e constataram, com pesar, que Botan tinha se ferido nas costas e Shizuka não estava lá. Felizmente, o ferimento da guia não era sério, ela tinha sofrido uma contusão por causa da pancada que levara ao salvar Mitarai de ser atingido pela estante do quarto, que caiu durante a explosão.

Nesse meio tempo, os rapazes passavam maus bocados enfrentando Sensui. Além de extremamente ágil, ele era esperto e arrastou-os para o meio da multidão, onde não poderiam lutar sem prejudicar pessoas inocentes. Com isso, conseguiu dispersar o trio, sendo que Kurama foi o primeiro a não acompanhar a perseguição e ele não achou ruim, porque queria mesmo voltar para o apartamento de Yusuke e ver como as coisas estavam.

Sem perder mais tempo, o jovem ruivo, que encontrara uma Keiko assustada e pálida no meio do caminho, voltou. Ela ainda estava chocada, pois quase tinha levado um “tiro” do misterioso motoqueiro, parceiro de Sensui. Nem Piu fora poupado, já que a “bala” disparada em direção a Keiko o atingira. Entretanto, tirando o galo na cabeça, ele estava bem. Ainda bem que a tal bala não passava de um pequeno dado.

Os dois se puseram a fazer o caminho de volta e encontraram Shizuka caída na calçada, próxima à entrada do prédio; um rastro fino de sangue mostrava o trajeto que ela fizera para sair do apartamento.

Kurama sentiu seu rosto arder de raiva. Odiava que seus amigos fossem envolvidos, mas ainda sem poderem se defender e sem que ele estivesse lá para protegê-los. O que mais o irritava era a maneira suja e desleal como Shinobu e seu bando estavam agindo: sem se importar com quem teriam que atingir para alcançarem seus objetivos.

Pegou-a no colo e, conforme subia as escadas, seu coração ficava mais disparado, pois se Shizuka, que estava do lado de fora se encontrava daquele jeito, como “ela” estaria? Ele só conseguiu se aquietar um pouco quando seus olhos viram Botan sentada no chão do quarto, a roupa e o rosto levemente sujos de fuligem. Seu corpo experimentou um alívio imediato ao vê-la olhar pra ele com uma expressão um pouco assustada.

Me perdoe por não estar aqui pra te proteger...– ele falou por telepatia, observando aqueles olhos rosados ficarem um pouco úmidos.

–Kurama, coloque Shizuka aqui vamos cuidar dela já! – a mestra ordenou e, sem demora, começou a tratar da moça loira. Ela estava inconsciente e com sangue escorrendo pelo machucado do braço esquerdo. Keiko olhava tudo com uma expressão de pânico no rosto.

Sem demora, o ruivo agachou perto de Botan:

–Como você está? – falou baixo, olhando-a com cuidado, encaixando a mão direita no queixo da garota e limpando um pouco da fuligem que manchava o rosto dela.

–Estou bem agora! - a garota corou e retribuiu o olhar – Graças à mestra, a contusão nas costas já passou!

–Como aconteceu, você se lembra? – ele passou os dedos pela franja dela, tirando algumas pedrinhas que estavam lá, provocando uma intensa coloração vermelha no rosto da guia.

–Ah, eu... – antes que ela pudesse falar, Koema tomou a frente e respondeu:

–Ela se jogou na frente da estante pra evitar que o Mitarai fosse atingido... – o príncipe falou aparentando estar distraído, evitando olhar para os dois, como se aquilo o estivesse incomodando, e na verdade estava. Não que ele estivesse com ciúmes, mas a proximidade que o ruivo e a guia mostraram naquele momento, o envergonhou.

–Então, está acontecendo mesmo algo entre eles, não era só uma paixonite da Botan... Kurama está, nitidamente, demonstrando que também sente algo... Quem diria! - considerou consigo mesmo, observando a troca de olhares entre eles.

–Você... Sempre cuidando das pessoas... – Kurama falou, sorrindo.

–Ah, que nada! - ela riu – Você também faria o mesmo!

–Humrfff – Genkai pigarreou, chamando a atenção deles, pois Shizuka estava despertando. Kurama deu a mão pra Botan e ajudou-a a se levantar.

A irmã de Kuwabara contou que o grande alvo de Sensui era seu irmão e Mitarai confirmou essa informação deixando todos muito apreensivos, temendo pela vida do amigo, já que eles não sabiam o que estava acontecendo com Kuwabara naquele momento. A pequena mostra que Shinobu dera de sua força era fator suficiente para se preocuparem, e muito.

–Assim que soube, tentei avisar vocês, mas não deu tempo... – ela lamentou-se.

–Não sofra por isso, você fez o que pôde, agora precisamos achar o esconderijo do bando de Sensui depressa! Kurama, por favor, entre em contato com Yanagisawa e Kaito, vamos precisar deles. Keiko, fique aqui e cuide de tudo – a mestra orientou, enquanto terminava de medicar Shizuka.

Kurama se afastou e ligou para Kaito do seu celular, pedindo para que ele avisasse Yanagisawa e se encontrasse com eles em frente à estação central de trem:

–Genkai pediu pra você levar o mapa.

–Já providenciei – o rapaz do outro lado da linha respondeu – dentro de uns 20 ou 30 minutos, devemos estar na estação.

–Certo, nos vemos lá então... Até mais.

–Até... – Kaito respondeu, encerrando a chamada.

Dirigiu-se até a escrivaninha, pegou o mapa e um pequeno pedaço de papel, que olhou por alguns minutos antes de dobrar e colocar no bolso.

–Estava com saudades de você...

Cena 2

Genkai, Koema, Botan e Kurama caminhavam pelas ruas de Mushiori até a estação de trem. Mitarai também estava com eles; depois de hesitar um pouco, ele resolveu que ajudaria a turma a chegar até Sensui.

O garoto estava um pouco perdido e meio deslocado, mas Botan e Kurama estavam se esforçando pra deixá-lo mais à vontade: mesmo preocupados, puxavam assunto e procuravam enturmá-lo. A estação não era perto do apartamento, contudo, era visível que tanto a guia como o rapaz de olhos verdes estavam apreciando o “passeio”: eles andavam um do lado do outro e comentavam sobre coisas que viam na rua, se permitindo rir ou fazer algum comentário engraçado. Mitarai, de vez em quanto, os acompanhava na conversa.

Chegando à estação central, eles esperaram ainda cerca de 10 minutos por Kaito e Yanagizawa. O vento estava um pouco forte e enquanto Botan tentava ajeitar seu rabo de cavalo, Kurama notou que ela tinha um pequeno machucado na mão esquerda. Sem pensar duas vezes, tomou a mão dela com delicadeza, arrepiando a pela branca da guia.

–Está machucada... Dói? – ele fez uma leve pressão ao redor do ferimento, fitando a guia pra constatar o que dizia.

–Um pouquinho, bem de leve! – ela sorriu de forma manhosa, provocando um meio sorriso no jovem, enquanto ele materializava uma folha comprida, de um verde bem escuro. Apertou a ponta da folha, fazendo com que uma gota amarelada pingasse na pequena ferida.

–Aiii... Uhh! Isso arde! – a guia reclamou, puxando a mão instintivamente, soprando-a.

Ele olhou-a com ar de riso pra depois dar um dos sorrisos mais encantadores que ela já vira naquele rosto.

–Logo passa... – o ruivo falou baixo, enlaçando seu dedo mindinho no dedo mindinho da guia por segundos e logo o soltando delicadamente, arrancando um sorriso envergonhado de Botan, que o olhava com seus grandes olhos cor de rosa e o coração agitado. Eles estavam flertando ou era impressão? Bem, que fosse... Ela estava adorando.

–Tinha razão, passou... – Botan repetiu o tom fraco usado por Kurama e encostando o dorso da mão na dele, roçou de leve seus dedos nos dedos dele.

–Eu disse... – ele sorriu, mas não a encarou, deixando que seus dedos brincassem com os dedos dela de forma muito sutil. Ambos sorriam; cada um aproveitando a seu modo aquele contato tão simples e tão bom.

–Até que enfim chegaram... – Koema anunciou, observando os outros dois rapazes se aproximarem.

– Trouxe o mapa? – Genkai perguntou para Kaito.

–Sim, eu analisei bem a rota mais curta pra chegarmos lá e, como vocês podem ver – abriu o mapa de forma que todos pudessem observar – o melhor jeito é tomar o trem até a estação Kanagawa e depois caminhar até a caverna Irima.

–Ótimo, então vamos nos apressar...

–Já está quase na hora do nosso trem... Tomei a liberdade de comprar passagem para todos – Kaito falou, mostrando as passagens em suas mãos.

–Quanta eficiência, hein? – Koema falou meio irônico.

O rapaz de óculos entregou uma passagem para cada um, deixando Botan por último, entregando-lhe, além do bilhete, um papel dobrado, com a inicial do nome dela na frente.

A guia fez uma cara de curiosa, contudo antes que pudesse perguntar o que era aquele papel, ele já estava à frente de todos, indo em direção a porta da estação. Botan guardou os papéis no bolso. Antes de ela seguir com o grupo, Koema a chamou:

–Botan, vou voltar pro Renkai, a situação está se complicando e preciso tomar algumas providências, por favor, fique atenta... – o príncipe falou de forma irritadiça.

–Está tudo bem, Sr. Koema? – a guia indagou, notando como ele tinha ficado de mau humor de repente, não que isso fosse alguma novidade.

–Claro que não, Botan... Fui! – e virou as costas pra ela, mandando uma mensagem telepática:

–Fique atenta ao seu trabalho e deixe as paquerinhas com Kurama pra outra hora, ouviu?

Antes que ela pudesse argumentar, ele já havia desaparecido.

A guia deu de ombros e foi correndo em direção a porta, onde Kurama estava esperando. Ao vê-lo, ela sorriu, sentindo seu coração disparar loucamente.

–Estarei atenta Sr. Koema, mas... Não posso evitar... – ela pensou consigo mesma, rindo ao imaginar o filho de Enma Daioh escutando essa resposta. Provavelmente arrancaria a cabeça dela fora.

–Cuidado pra não perder o trem, senhorita... – Kurama brincou quando ela passou por ele.

Botan corou e sorriu. Os dois foram para plataforma curtindo um silêncio cúmplice dos laços que estavam se estreitando cada vez mais, se estreitando em uma firmeza inexplicável.

Cena 3

O tempo estimado para a viagem era de 40 minutos, que pareciam uma eternidade pra uns e tão rápido pra outros. Apesar de Kaito ter entregado a passagem com o número certo da poltrona de cada um, essa ordem foi totalmente ignorada: Genkai estava sozinha, Yanagisawa estava sentado com Mitarai, Kaito também estava sentado sozinho, esperando pela sua companheira daquela viagem, contudo, quando Botan entrou no vagão, seguida por Kurama, automaticamente Mitarai levantou-se e foi sentar com Genkai e Yanagisawa sentou-se no lugar que seria de Botan, deixando dois assentos, um ao lado do outro livres, os quais foram ocupados pela guia e por Kurama.

Kaito sentiu seu sangue ferver de indignação. Era de se esperar que o garoto loiro não entendesse sua ideia, mas o que dizer de Yanagisawa? Um completo tapado era o que ele era!

A guia preferiu sentar-se no lado da janela, contudo, a paisagem não estava despertando sua atenção e sim o mapa que Kaito trouxera. Não sabia porque gostava tanto de ficar vasculhando cada pontinho e linha daqueles grandes pedaços de papel.

–Acho que é a mesma sensação de quando estou voando... Olhar do alto e ver os telhados das casas e lojas. Tanta gente nessa cidade, nesse mundo... – ela falava, enquanto sentia o rosto de Kurama próximo ao seu.

–Tá vendo aqui? –apontou pra uma área a direita do mapa – tem um parque muito bonito. Quando eu era pequeno, minha mãe e eu sempre íamos... Tem um jardim de hortênsias que você ia adorar! As rosadas têm a cor dos seus olhos... – e virou-se pra ela, ficando a poucos centímetros do rosto corado da guia – Você não gostaria de conhecê-las? – perguntou, dando um sorriso.

–Claro... – Botan respondeu, deixando seus olhos pousarem nos lábios dele, viajando um pouco com aquela visão. Só percebeu como estava, imóvel e com a boca semi aberta, após ouvir Kurama falar:

–Então, está combinado! Assim que isso tudo acabar, nós vamos ao parque! – olhou-a de forma carinhosa, demorando-se bem no rosto dela. O fato era que a presença daquela garota tornou-se essencial pra ele. Estava tentando ir com calma, como ele mesmo disse a ela que era necessário (e era), porém, ele mesmo estava surpreso com a vontade que tinha de estar ao lado dela, de falar com ela, de olhar pra ela. Nenhuma explicação vinha em sua mente (e tudo na vida precisava de uma explicação?)

–Botan, você está pálida, ‘tá tudo bem? – de repente o jovem ruivo indagou, notando que ela abaixara a cabeça e franzia a testa.

–Estou enjoada... Não posso ler dentro de nada em movimento! – ela constatou, levantando-se – Vou tomar um pouco d’água e lavar o rosto.

–Vou com você – ele levantou-se, mas a guia colocou a mão no ombro dele, indicando que não queria. Kurama estava muito próximo dela quando ficara em pé; ela podia sentir a respiração dele no rosto dela, esquentando ainda mais sua pele.

–Não precisa... -ela respondeu num fiozinho de voz, fazendo com que ele se sentasse novamente, olhando pra ela. De repente, até pra ele aquela proximidade tinha sido demais, por enquanto.

–Mesmo?

–Mesmo... Já volto! – e saiu apressada pro outro lado do vagão sentindo suas pernas tremerem muito.

Cena 4

–Botan? Melhorou? – uma voz conhecida chegou por trás, assustando-a, pois estava distraída, olhando para as árvores que passavam rapidamente do lado de fora.

–Ah, sim... Melhorei, como você sabe? – a guia perguntou pra o rapaz de óculos que se colocou ao lado dela, olhando pra janela também.

–Vi você saindo com uma cara meio estranha...

–Ah, tá... – ela riu meio sem graça e, instintivamente, se encolheu no canto do vagão, sentindo-se desconfortável com a presença de Kaito – Acho que vou sentar... – falou, resolvendo se afastar dali o mais rápido possível, entretanto, o moreno puxou sua mão:

–Botan, sei que não temos muita intimidade, mas eu te acho uma garota super verdadeira e transparente e imagino que, por ser assim, você não goste nenhum pouco de ser enganada, não é?

A guia não sabia o que responder, aquelas palavras tinham-na pego totalmente de surpresa. Ela olhou pra os lados, confusa.

–Quem gosta de mentiras? Certamente, eu não, e imagino que nem você – respondeu meio seca, mesmo sem ter a intenção. Talvez fosse preconceito da parte dela, contudo, não conseguia “engolir” aquele garoto, fora que o achava muito esnobe e essa impressão ainda não tinha se dissipado.

–Concordo, eu também não suporto mentiras, embora eu admita que existam pessoas que adoram se utilizar delas e o que é pior: dentro de relacionamentos de amizade.

–Aonde você quer chegar com isso? Não estou te entendendo... – ela cruzou os braços, demonstrando nervosismo.

–Não me entenda mal, minha intenção não é me intrometer na sua vida, só achei por bem te alertar sobre algumas coisas.

–Que coisas, Kaito?– aquela conversa estava sendo sinistra demais pro gosto dela.

–Não te parece estranho que um cara como Kurama não tenha uma namorada?

Opa... Que assunto era aquele? Aquela conversa não estava cheirando nada bem...

–Eu... Eu não sei! Cada um trata desses assuntos como bem entende! – a guia procurou despistar, embora tenha se sentido extremamente mal com aquela colocação.

–Calma! Não se irrite tá? Eu também acho que seja pessoal esse tipo de assunto, porém, você sabe que algumas coisas se espalham por aí e deve imaginar que tudo o que se relacione com “o garoto mais popular da academia Meiou” mereça destaque.

Botan simplesmente odiou escutar aquilo... ciúmes?

–Não estou irritada... Fale logo! – a voz saiu trêmula, fazendo com que Kaito soltasse um leve sorriso. Estava começando a gostar das reações da guia.

–Está bem, vou matar sua curiosidade: como você sabe, Kurama, ou melhor, Minamino, é o cara mais badalado da nossa escola e chama a atenção por onde passa com toda aquela gentileza e boa vontade com todo mundo. Eu tenho uma amiga que se chama Maya e, acredite, ela é uma mulher incrível; eu diria, sem medo de errar, que é a garota mais bonita que eu já vi naquela escola e ela e Kurama estavam sempre juntos e iam embora juntos também... Todo mundo acha que tiveram um envolvimento.

Botan simplesmente sentiu o ar lhe faltar rapidamente e esperou Kaito dar um fim naquele pequeno silêncio que impôs. Uma indignação crescia forte dentro dela, mas por alguma razão ela não conseguia reagir àquelas palavras.

–Na verdade, ninguém sabe bem o que aconteceu entre eles, e se aconteceu, porque depois de todos os buchichos, Maya se mudou de cidade e perdeu o contato com muita gente. Ela mesma, nas poucas vezes em que tive oportunidade de falar com ela, jurava de pés juntos que só era amizade. Sinceramente? Eu não acredito...

–Por que está me falando isso? – a guia vomitou uma pergunta.

–Você parece irritada...

–Não estou! – a voz saiu gritada, desmentindo a frase que acabara de dizer. Kaito sorria de forma prazerosa observando a cena.

–Por que está me falando essas coisas, por quê?

–Bom, o fato é que eu acho que você parece gostar do Kurama e eu não sei se ele te corresponde, contudo, pra mim, o fato de ele ser um cara bonzinho não esconde a vaidade latente dentro dele. Ele sabe o que provoca nas garotas e gosta desse ibope todo, por isso prefere nunca se envolver de verdade pra não perder seu harém... Eu acredito que foi o que aconteceu com a Maya. Ele vai, adula um pouco e depois, recua, dando uma desculpa qualquer.

A guia estava completamente zonza com tudo aquilo e, juntando com o balanço do trem, só estava piorando seu estado. Sentia o enjoo voltar. O que era tudo aquilo que Kaito acabara de dizer? Quem era Maya e por que aquele nome estava pesando como chumbo no seu ouvido? E tudo aquilo era verdade ou mentira? Mas fosse como fosse, ela não daria o braço a torcer.

–Kaito, olha, não sei a razão dessa conversa, que, pra mim, não faz nenhum sentido. Acho que você está completamente enganado... Eu e o Kurama não temos nada, então não tem porque ficar me falando essas coisas, ok? – Botan tentou manter a pose de durona, embora sua voz mostrasse o quanto seu autocontrole já tinha ido embora.

O garotão de óculos soltou uma risada abafada e suspirou, afinal, ele tinha se esquecido como aquela garota de cabelos azuis era teimosa. Era visível como ela estava abalada com o que ele dissera, mas fazia uma força imensa pra não mostrar. Incrível como ela ficava balançada com qualquer coisa supostamente ruim que ele falasse sobre seu colega de classe.

–Me desculpe se não me expressei direito, Botan, não estou dizendo que você e o Kurama têm alguma coisa, contudo, acho que só alguém bem desavisado não notaria que existe um clima entre vocês e, como eu sou o único, entre vocês, que conhece muito mais o lado “humano” dele, afinal estudamos juntos há uns bons anos, senti que devia te falar uma coisa que, provavelmente, você não irá ouvir dos seus adoráveis amigos.

–O que você quer dizer? Por acaso está insinuando que meus amigos me enganam, é isso? – a guia cruzou os braços e encarou Kaito de cara feia. Estava nervosa com aquela conversa e principalmente com aquele garoto que ela não conseguia entender, muito menos definir de que lado estava. Pra ela, Mitarai era muito mais confiável do que aquele moreno de óculos que estava na sua frente.

Kaito suspirou fundo:

–Não é isso... Só quero te dar a minha versão dos fatos, posso? – ele pediu, carregando a voz de uma doçura tão artificial que fez a guia revirar os olhos, irritada.

–Versão? Que versão, menino?

–Posso falar, POR FAVOR?

–Vai, fala logo! – a guia resmungou extremamente nervosa, mas curiosa pra saber o que mais ele queria falar e pra que tanta insistência.

–Bom, como eu já disse anteriormente, dá pra ver que tem algo acontecendo entre você e o Minamino, contudo, eu acho mesmo que ele só “escolheu” você por que... Não me entenda mal, mas quem é você? Uma guia espiritual do Renkai da qual ninguém tem conhecimento, exceto o time Urameshi, que também é estranho para a maioria, se não pra todas as pessoas do círculo social em que Kurama vive – Kaito falava devagar, como se estivesse saboreando cada palavra dita - Você não tem um nome, um registro, não tem sequer uma vida terrena... Ninguém conseguiria nenhuma informação sobre você e, se precisar desaparecer, é fácil: só usar seu remo e sumir nas alturas.

A guia estava congelada, os olhos arregalados e mais surpresos do que nunca. Nenhuma defesa conseguia vencer a barreira do silêncio que morava nos lábios dela naquele momento.

–Não me entenda mal, Botan, mas acho que não está conseguindo ver todos os pontos: você só existe nessa realidade de agora, com lutas e planos do mal. Fora dela, na vida normal, você não existe para vida que o Kurama quer ter... – ele procurou acentuar de especial forma a frase seguinte - você não passa de uma companhia agradável pra o momento, mas quando tudo isso acabar, e você sabe que vai acabar uma hora, por acaso acha que vocês vão ter algum relacionamento? Você, e o que representa, faz parte de um passado que Kurama faz força pra esquecer todos os dias. Ele não quer essa vida... Não se iluda.

Uma dor fina e afiada estava penetrando no peito da guia. Por que aquele garoto era tão insuportável? Botan estava com raiva, muita raiva... Uma imensa vontade de chorar, nunca se sentira tão humilhada antes, nunca, mas mesmo assim, calibrou a mão e deu um tapa no rosto de Kaito, fazendo com que seu óculos saíssem do lugar

–Você... - ela fungava, as lágrimas correndo furiosamente pelo rosto – Não passa de um invejoso...Isso, sim! E, ainda por cima, vem me ofender! Por acaso acha que me conhece?

Kaito ajeitou os óculos e massageou a parte atingida, que ganhara um leve vermelho

–Ninguém gosta de ouvir a verdade... - ele fingiu estar chateado e pensativo – Mas, tudo bem, eu só quis ser gentil... De qualquer forma, se precisar de um ombro amigo, pode contar comigo, porque, ao contrário do que parece, te acho uma mulher incrível... Incrível demais pra merecer apenas sorrisos e olhares charmosos... Pois é apenas isso que terá do Minamino...–e saiu andando, deixando Botan com os olhos arregalados e lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

A demora de Botan fez Kurama se preocupar, fazendo com que ele fosse atrás dela. No caminho cruzou com Kaito.

–Viu a Botan? Ela não estava muito bem... – perguntou em tom preocupado.

–Vi... E ela está péssima... – o colega de classe apressou o passo, fingindo pouco caso.

Kurama encontrou Botan no final do vagão, encolhida no canto da janela. Ela chorava muito e mantinha o rosto escondido entre as mãos.

–Botan... O que houve? – Kurama afagou o braço dela com ternura.

Ela olhou pra ele e, no mesmo instante, o rapaz de cabelos vermelhos percebeu que ela estava extremamente magoada.

–Eu, eu preciso ir ao banheiro... Não se preocupe... –respondeu de forma vaga e afastou-se dele.

O ruivo ficou parado alguns minutos no meio do trem, pensativo com o que acabara de ver. Qual seria a razão para a guia estar chorando daquele jeito? Tudo estava tão bem...

Fechou os olhos e disse:

–Respeito seu silêncio e te peço, por favor, fale comigo, se quiser. Estou aqui... Você sabe. Não quero te ver triste...

Silêncio se seguiu, então Kurama resolveu voltar pra o seu assento. A tristeza de Botan estava incomodando-o demais e ele não sossegaria enquanto não descobrisse a razão das lágrimas dela. Seu sentido apurado, no entanto, criou um pensamento em sua mente:

–Espero que você não tenha nada a ver com isso, Kaito...

Continua...









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Notas finais do capítulo

¹lesuken: tecnica de luta onde a principal arma de combate são os pés, usados como instrumento para canalisar o reiki: "Energia Espiritual". É o poder que os humanos possuem. A forma pela qual o reiki se manifesta varia de pessoa para pessoa, de acordo com o treinamento para desenvolver tal poder.
Ai gente...desculpe a demora! Espero que gostem! Qualquer coisa, me falem! Bjo da Kira :D



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