Emma abriu o portão enferrujado da casa de seus avós e subiu as escadas rapidamente, ela estava louca de vontade de contar as novidades de uma vez por todas. Toda a apreensão do dia interior havia se transformado em ansiedade e uma pontinha insignificante de medo.

Assim que ela bateu na porta sua mãe foi atender, ela sempre era a última a chegar no tradicional jantar de domingo dos Larsson.

- Emma está atrasada!

- Eu sei, é que eu...

- Para de incomodar a menina, Helen! E você venha aqui dar um abraço na sua vó!

- Claro que sim vovó! – disse abraçando a velha senhora da cabelos brancos e grandes olhos azuis.

- O jantar já está até pronto, só estávamos esperando você!

- Desculpa vovó.

- Não precisa se desculpar, Emma. Eu não sou chata que nem sua mãe.

Emma riu, era sempre assim, sua vó adorava pegar no pé da própria filha e mimar a neta. Ela acenou rapidamente para o seu pai e o seu avó, que já estavam sentados na suntuosa mesa de jantar. Todos os móveis da sala de jantar eram simples, mas de bom gosto, ela se sentia tão confortável ali. Ficaria um ano sem a sua família, ela sentiu todo aquele nervosismo voltar com forma máxima. Era agora ou nunca, ela precisava falar.

Emma se serviu da maravilhosa comida da sua vó e sentou-se, sem saber por onde começar. Ela devia comer primeiro ou falar agora? Talvez falar depois do jantar... Ela respirou fundo.

- Eu tenho uma novidade para contar para vocês. – soltou num jato, viu todo mundo na mesa se virar para olhá-la.

- Pode falar querida. – seu avô falou, ele sempre parecia saber o que ela sentia. Sentiria falta disso.

- É que eu... Semana que vem... Eu vou ir para a Suécia!

Por um minuto ninguém falou nada, seus avós pareciam felizes, mas seus pais não estavam gostando nada da notícia.

- Como assim você vai? – sua mãe tinha sempre que dar sua opinião negativa. – Com permissão de quem?

- Segundo as leis do país eu sou maior de idade.

- Você mal sabe se cuidar sozinha!

- Sua mãe tem razão. – seu pai sempre estava do lado dela.

- Eu achei a notícia maravilhosa! Conte-nos mais sobre isso.

Agradeceu a sua vó em silêncio.

- Bom, como aqui na Inglaterra eu não faço nada da vida, e como eu sempre quis conhecer a Suécia, resolvi ir para lá. Fui até a embaixada, vou ficar um ano em Estocolmo trabalhando como au pair.

- Estocolmo? Mas é uma cidade maravilhosa, você vai adorar. Eu lembro quando eu e seu avô fomos para lá...

- Mamãe! Pare de encher a cabeça dessa garota! Se você queria ir para a Suécia podia ter falado comigo e com o seu pai! A gente teria comprado a passagem, arranjado um bom hotel, mas ir para lá para trabalhar como babá? E durante um ano inteiro?

- A decisão é minha, eu já sou bem grandinha para decidir o que eu quero. E sim, eu vou trabalhar como babá, eu sempre gostei de crianças e eu vou poder conviver com uma família de lá, aprender todos os seus costumes...

- Você já não tem os seus avós?

- Mãe, mas isso é diferente!

- Eu adorei a idéia! Arrume um marido sueco enquanto estiver lá, eu quero bisnetos!

- Vovó! – por essa Emma não esperava.

-Eu não estou falando besteira, você vai ver. Quantos homens lindos juntos!

- Mamãe, dá pra se comportar? Por isso que a Emma está desse jeito.

- O que foi? Estou velha, mas não estou morta! E pra mim é um orgulho que ela seja do jeito que ela é!

Sua mãe bufou.

- Já está decidido! Eu vou embargar na sexta-feira de manhã. Vou cuidar de um garotinho de 4 anos, Richard.

- Treine para quando tiver seus filhos!

- Isso está até parecendo a versão sueco daquele filme, “O Casamento Grego”. Vá para a Suécia, case com um sueco, tenha filhos suecos, ensine tudo em sueco à eles! – seu avô amava cinema assim como ela, ele sempre tinha uma comparação cômica para fazer.

- Vó, eu não vou para lá para tentar arrumar marido!

- Você não vai com esse intuito, mas o destino é impreciso. Ninguém pode prever o que vai acontecer lá.

Emma ouviu em silêncio, sua vó tinha razão, como sempre sábia. Ninguém prevê o destino, muito menos ela.

Quinta-feira, 17 de março, 22h30min

Querido Diário!

Não acredito que ainda tô fazendo isso....

Amanhã é o grande dia, as malas estão prontas, cancelei o contrato de aluguel do meu apartamento, já está tudo pronto, só me resta esperar impacientemente a hora do voo. Tenho a impressão que não vou conseguir dormir essa noite, tenho vontade de correr para ver se minha ansiedade diminui (não sei por que, mas correr me desestressa).

Meus pais ainda estão reclamando para mim não ir, a pouco tempo atrás meu pai ligou para pedir para mim ficar. Mas eu sei que eles sabem que eu não vou desistir dessa idéia, mas eles tentam manter a esperança. A semana inteira praticamente eu passei com os meus avós, eles me deram todas as dicas possíveis, contaram novamente todas as histórias da nossa família na Suécia. Estou mais preparada que nunca.

Desde o jantar fiquei pensando no que vovó me falou, o que será que o destino me reservava naquele país estranho? Eu sinto que algo vai acontecer, mas o que?

Emma chegou no aeroporto, estava quase vazio naquele horário, fez o check-in e ficou esperando o seu avião ser anunciado. Os segundos se arrastavam, porque demorava tanto? Queria descobrir o que sua intuição estava tentando lhe mostrar.

Uma hora depois ouviu a chamada do seu voo, sabia que a partir daquele momento começava uma nova etapa na sua vida.