Walk On escrita por B_M_P_C


Capítulo 3
Stay safe tonigth...


Notas iniciais do capítulo

Agradeço a:


Vitoria_Perossi

bbrunabarzon

Lay_cullen

thatuxinha

pelos lindos reviews *--*

Boa leitura ;D



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            Era o segundo dia de aula, seria o começo das aulas de verdade. E a manhã estava mais fria do que o natural. Aisling acordou mais cedo do que os outros com sempre. Colocou a meia calça preta, a saia da mesma cor de pregas, uma segunda pele branca por baixo, da camiseta social feminina. Colocou a gravata azul, e o casaco preto, com o símbolo da escola em azul, que era um casaco que ia até onde a sua saia batia, e calçou os sapatos de salto. Ela também, passou uma maquiagem, para esconder o rosto que estava roxo. Deixou o cabelo solto. Pegou suas coisas, e seu violão, descendo depressa as escadas do dormitório.

            Era cedo, ela pensou que ninguém tivesse acordado, foi quando ela trombou em Miguel, que sabia que a garota acordava cedo. Ele queria cortar o mal pela raiz, e afastar aquela garota de seu irmão. Quando ela trombou, em Miguel, que a deixou cair, e ela viu que era ele, começou a tremer.

            -Eu sinto muito – ela sussurrou, pegando seu violão, e a mochila, tentando meio que sem jeito esconder o violão, para que o rapaz não visse. Ele não notou, olhou para a garota, que se levantava. Observou as belas curvas, e o rosto de princesa de Aisling. Não havia percebido como a cretina era tão bonita.

            -Eu não estou nem aí se você sente muito falha de aborto – era assim que ele a chamava, a garota engoliu em seco, sabia o que viria em seguir. Humilhação, xingamentos, e se ela fugisse tudo ficaria pior. Ela abaixou o olhar, Miguel iria aproveitar, a situação e afastar a garota de uma vez por todas de seu irmão, antes que eles ficassem amigos demais, como ele dizia, cortar o mal pela raiz.

            Ele se aproximou da garota, e puxou o rosto dela para perto do seu, puxando-a pelos cabelos. Aisling engoliu em seco mais uma vez, e segurou as lágrimas.

            -Desculpe – ela sussurrou mais uma vez, Miguel sorriu malicioso. A idiotinha era uma das únicas que não babava por ele, no colégio inteiro. Ele  revirou os olhos, e olhou para o busto da garota. Era bonito, farto, e o olhou com malícia, a garota sentiu o olhar, e  muito medo.

            -Eu posso fazer muita coisa com você garota, coisas que você não vai gostar. Eu podia te comer aqui, e agora se eu quisesse, e depois te largar, ninguém sentiria sua falta, e você perderia a sua pose – ele falou isso com um olhar cruel para Aisling, que era inocente, e tinha medo. Com essas palavras, a garota, tremeu, mais ainda, e tentou conter em vão, uma lágrima que escorria pelo rosto.

            -Me solta – ela disse o olhando com raiva, Miguel já estava com uma das mãos em um dos seios de Aisling, o garoto deu uma risada, e soltou o cabelo de Aisling, que aproveitou da situação para pisar no pé de Miguel com o salto, que a largou, e a xingou de alguma coisa, e ela correu dali. Chorando de medo, de raiva, e por tudo o que fizeram com ela, aquilo foi a gota da água. Além de ameaçá-la, e trata-la como uma vadia qualquer. Miguel tocara em Aisling, de um jeito que ninguém nunca tocou, e que ela teve medo dele. Principalmente de seu olhar.

             Ela estava com medo, que na próxima vez, ele fizesse algo. Aisling estava chorando, e então achou o canivete jogado, ela foi até, ele, sentou, escorada no muro. E cortou os dois braços, não eram cortes letais, ela ainda não queria morrer. Só queria sentir a dor. Cortou primeiro, sentindo o sangue escorrer, e a dor percorrer o seu ser. Depois fez o segundo corte, já trêmula, e cortou um pouco mais fundo, sentindo o sangue escorrer, e a dor a invadir novamente.

            Ela sentia a dor como uma velha amiga que vinha a encontrar, não era a primeira vez que ela fazia isso. Ela deixou o sangue escorrer, fechou os olhos, ainda chorando. Sentindo mais dor dentro de si mesma, do que dos cortes. A dor era boa para ela, era uma fuga, um verdadeiro motivo para chorar.

            -Aisling! – ela ouviu uma voz que ela conhecia, mas no meio da dor, não se lembrava de onde – O que você fez? O que fizeram com você dessa vez? – então ela abriu os olhos, e viu Tiago, com o uniforme, seu all star, e o casaco. Ela o olhou com medo, não dele, mas do que quase acontecera. Ele se ajoelhou do lado dela, e abriu a mochila, tirando algumas coisas de lá, e começando a passar nos cortes dela. Uma das coisas era álcool, só pela ardência que ela sentiu nos machucados, e depois, eram gazes, e esparadrapo. Ele havia feito curativos.

            Aisling olhou os algodões que Tiago havia usado para limpar o machucado dela, e estancar o sangramento. Eles estavam vermelhos. E as gazes já tinham marcas vermelhas. Ela viu o que fizera, e se sentiu mais mal ainda. Tiago guardou tudo na mochila, e a olhou. Percebia que Aisling segurava novamente o choro.  

            A sorte, era que ele tinha kit de primeiro socorros, sempre a mão, além de porque ele praticava vários esportes, muitas vezes ele precisava fazer algum curativo. E isso também era porque ele sabia que queria ser médico.

            -Desculpe o incomodo Tiago, você já pode ir – falou Aisling baixinho, ainda contendo as lágrimas. Tiago suspirou terminando de fechar a mala, e a olhou, sério, e preocupado.

            -Aisling me conta o que aconteceu, por favor? Olha eu não vou ir embora daqui se você não me contar – ele falou firme, e Aisling suspirou, recomeçando a chorar. Mas ela contou.

            -Foi o seu irmão – Aisling contou tudo para Tiago, não só o que aconteceu, mas tudo, e de porque era idiotice ser amigo dela. De como seus pais meio que não percebiam sua existência, seus irmãos a odiavam, Miguel a perseguia. E de como ela tinha medo, e se sentia horrível. Contou também que era costume se cortar, e que quase nunca comia, porque não sentia fome, e as vezes, vomitava, porque não se sentia bem comendo. Também contou que ela tentara se matar, mas desistiu antes de cair da janela de seu quarto. Aisling chorava, e dava pequenos sorrisos irônicos. Ouvindo as histórias, Tiago tinha raiva de tudo o que fizeram com ela, e também tinha vontade de abraçá-la, e nunca mais lhe soltar, para que não fizessem mais nenhum mal – Agora que você conhece a minha insignificante existência, pode se juntar a eles, e ser feliz, longe de uma problemática, que nem eu... – Tiago tapou a boca dela com uma das mãos, e a abraçou. Aisling, sentiu um calor bom tomar conta de seu corpo, e deixou Tiago a abraçar, se aninhando em seus braços, e encostando a cabeça no peito dele ela chorou, tudo o que tinha para chorar. Chorou todas as suas dores, e males.

            -Eu estou aqui Aisling – ele sussurrou par a garota, que olhou para os olhos verdes do garoto, eram puro amor – Ninguém vai lhe fazer mal, eu não vou deixar – ele disse com tanta certeza, que Aisling acreditou em suas palavras – Eu prometo, prometo não deixar ninguém lhe fazer mais mal – ele falou olhando os brilhantes olhos azuis da garota, que deu um leve sorriso. Dos olhos dela, não vertiam mais lágrimas, mas ele conseguia ainda ver, toda a dor, que ela sentia.

            -Obrigada – ela sussurrou sem saber o que dizer, sentindo seu coração dar um pulo de esperança, mas ainda cheio de dor. Tiago viu a hora, já era tarde, e as aulas haviam começado há algum tempo, eles precisariam ir até a diretora e falar alguma coisa – Você perdeu aula, vai ter que ir na direção já no primeiro dia – sussurrou Aisling preocupada. Tiago deu ombros e sorriu, piscando para a garota, que deu uma risadinha, melodiosa.

            Nenhum dois percebeu a diretora, que estava escutando tudo, desde que Tiago havia chegado. Ela ouviu a história de Aisling, e se sentiu a pior das diretoras, por nunca ter percebido nada.

            -Não vai precisar – a diretora Maria falou, seus cabelos ruivos estavam presos em um coque, e ela estava com um vestido social preto, e por cima um casaco de pele preto, um sapato de salto de marca, e uma meia calça. Ela estava bonita. E seus olhos pareciam preocupados com Aisling, que olhou para o lado ao ver a diretora – Eu escutei tudo. Aisling, porque nunca me falou isso! – a garota não respondeu. Tiago a abraçou forte, e deixou com que ela escondesse o rosto em seu ombro.

            -Diretora, acho que Aisling tem um pouco de medo desse assunto – Tiago falou – Meu irmão é um monstro, mas se você fizer algo, tudo ficará pior – ele disse preocupado e olhando para a diretora que suspirou e os olhou.

            -Eu não posso fazer nada, se Aisling não quiser, mas se precisarem de mim, eu estou a disposição. E hoje, vocês passaram o dia na minha sala, ajudando com coisa para o colégio – ela falou piscando, ou seja, ela tinha dado um passe livre para eles – Se quiserem passear um pouco pela cidade, fiquem a vontade – Aisling a olhou, e Maria sorriu para a garota, indo até ela e a abraçando.

            -Eu estarei lá Aisling, uma palavra sua, e tudo pode mudar – a diretora queria fazer algo, e Tiago também, mas Aisling tinha que falar, para ela, e para a escola inteira, mas isso ela não queria fazer. Não queria que ninguém soubesse daquilo, e da sua história. Ela não queria a pena de ninguém.

            -Obrigada diretora – ela sussurrou, mordendo o lábio, e olhando para o lado. Como ela disse não queria a pena de ninguém, nos braços de Tiago, ela se sentia segura e bem, ela via a luz, mas longe dele, ela sentia que todos os seus medos e a escuridão de volta.

            -Você deveria falar com ela deveria procurar ajuda Aisling – falou Tiago no ouvido dela – Eu estou aqui com você, mas será que somente, eu basta?

            -Tiago, eu não quero pena, nem tratamentos. O estrago que eles fizeram não tem volta. Mas eu vou tentar seguir em frente, por isso, eu não queria meter ninguém nisso, só te contei, porque pensei que você fosse se afastar de mim. Mas você está aqui, e para mim, isso já é o bastante, até demais – ela falou um pouco trêmula, mas com um sorriso no rosto.

            Os dois ficaram ali a tarde toda tocando música, rindo, e Tiago só estava tentando fazer com que Aisling não pensasse no que quase aconteceu a ela. Ele estava preocupado com a garota, ele não sabia o que sentia por ela, em tão pouco tempo, mas era algo forte. Só ao ver os curativos dos cortes nas mãos da garota, ele ficava preocupado, e com muita raiva de todos que fizeram mal a ela.

            Passaram o dia inteiro ali. Apenas indo almoçar, lanchar e jantar. Tiago fez Aisling comer tudo direito, agora notava que ela estava um pouco desnutrida. No fim do dia, ele a acompanhou até o dormitório, para que ninguém conseguisse a encurralar.

            -Amanhã me espere para sair, não vou dar chance para que eles machuquem você, só não temos uma aula juntos, mas eu acho que isso não fará mal. Eu estou com você Aisling – ele disse assim que ela já tinha aberto a porta, ela o olhou e sorriu. Ela se sentia segura, mas estava com medo, quando Tiago saísse, ela sabia que tudo voltaria a ser trevas.

            -Certo, eu vou te esperar aqui, eu sei que você está comigo Tiago, obrigada, nem meus irmãos fazem isso por mim – ela disse sorrindo. Tiago piscou e a abraçou. Ela sentiu o perfume maravilhoso dela, e ele sentiu o perfume dela, ele não conseguia definir o cheiro, mas era muito bom.

            -Não faça nenhuma loucura hoje de noite, está tudo bem, qualquer coisa, é só me ligar, eu vou estar com o celular do meu lado – ele disse. O garoto já tinha salvo seu número no celular dela – “Stay safe tonigth” * - ele sussurrou, e assim que a garota fechou a porta, voltou para o dormitório.

            As palavras, que eram um verso da música que ela estava tocando quando os dois se conheceram pela primeira vez, continuaram ecoando na cabeça de Aisling, até ela dormir. Ela ficaria salva aquela noite, ela ficaria salva porque tinha Tiago, e tinha esperança.

            Ela ficaria salva naquela noite, porque apesar de tudo, algo começou a arder em seu coração e em sua alma, além do amor, a coragem, e a esperança. E as trevas, começaram a ser extintas pela luz, que Tiago estava trazendo para a sua vida.

            “Stay safe Tonigth”, ele havia dito, e ela ficaria salva, por todas as noites, porque ela estava se livrando do medo. 


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Notas finais do capítulo

*Stay safe tonight – Fique a salvo essa noite.
A música Walk on, diz isso em um verso, em uma das estrofes. Qualquer duvida, vejam o primeiro capítulo.

E aí, alguém chorou? Ficaram com medo?
Gostaram odiaram?
Posto com três reviews *--*

beijoos ;*