O ambiente da escola continuava como Morgan se lembrava, a cachoeira permanecia a mesma, e os jovens bêbados dançando para lá e para cá, beijando-se e até transando no mato não mudava. Ela saiu do carro de Miguel olhando tudo em volta, e deu uma olhada para Aisling, que desceu confiante, mas um pouco assustada com tudo o que via.

Eles saíram do shooping em silêncio, colocaram uma música, todos ali estavam um pouco ansiosos, Miguel era o que parecia mais calmo, mas Aisling sabia que no fundo era o que estava com mais medo. Fora naquele lugar que ele quase fora responsável pela morte de um garoto.

No momento que Miguel saiu do carro, e olhou ao redor suspirou, a culpa pareceu lhe invadir o peito,as suspirou, ele iria procurar o garoto que machucou, e pediria desculpas. Ia ser difícil, mas era o certo a fazer. Ele sentiu uma mão quente tocar-lhe a mão, e olhou para Aisling que o encarava preocupada.

-Fique calmo, vai dar tudo certo – ela falou sorrindo, e Miguel assentiu, abraçando-a, por um momento, e largando-a, para se acolher nos braços de Tiago. Miguel olhou para Morgan que estava olhando tudo com um sorriso malicioso nos lábios, ele se aproximou dela e a abraçou – Desculpe por tudo aquilo Morggie...

-Tudo bem Mi, mas o importante é que você voltou e não irá mais ser um panaca – Morgan falou rindo, e bagunçando os cabelos de Miguel, como se ele fosse uma criança, e ela fosse à mãe. Só que claro ele era bem mais alto que ela.

Aisling sorriu para a festa a sua frente, apesar de tantas coisas horríveis a sua volta, ela suspirou, os jovens estavam agindo feitos idiotas, por não saberem que aquilo era uma tremenda idiotice, mas ela se deteve de seus pensamentos, aquilo era uma fuga para eles. E ela também havia buscado uma fuga dos problemas, de certa forma os entendia.

Ela sentia o braço de Tiago em sua cintura, e de certa forma tinha aquela velha sensação de paz, aquela sensação de poder fugir de tudo nos braços dele. Uma sensação que de certa forma, ali, onde teria que enfrentar seus medos, era uma sensação que ela não queria. Ela não queria a sensação de perfeição, por um momento, talvez quisesse, mas agora ela entendia que não, não podia se iludir com aquilo.

Suspirou, e tirou o braço de Tiago de volta dela, apenas segurando a mão dele, o garoto não falou nada, mas a olhou com dúvida, e ela sorriu graciosamente, acalmando-o.

Miguel e Morgan foram para perto dos dois, e os quatro suspiraram nervosos, a festa talvez pudesse estar divertida, mas o que ela significaria para todos eles era algo que mudaria varias coisas.

De certa forma, aquilo seria bom, foi o que Morgan pensou, as coisas deveriam se resolver, passou-se muito tempo sendo da maneira errada, era hora de ajeitar aquelas coisas.

♫♫♫

O pessoal da festa quando viram os quatro, começaram a comentar por todo o salão, e por toda a área da festa, comentavam sobre Aisling, e seu olhar confiante, e da volta de Morgan Stark, uma das únicas pessoas a quem Jane Walker ainda tinha certo medo, mas isso não significava respeito.

Os boatos chegaram rapidamente, quase que como o sopro do vento aos ouvidos de Jane, que deu um sorriso diabólico, sua irmã estava ali, era a oportunidade perfeita para tirar aquela imagem de que ela conseguiria ser alguém legal na frente de todos, e nas ideias daquela garota, por a irmã no devido lugar, e mostrar a todos que apesar de Miguel estar do lado da outra loira, ela que ainda dava as cartas por ali.

E com esses pensamentos, ela levou alguns jovens para fora, e se aproximou de Aisling, que estava distraída comentando sobre alguma coisa com Morgan, que não percebeu a aproximação da irmã.

-Morgan Stark está de volta? Que bela surpresa, pensei que depois de ser comida por Miguel nunca mais voltaria vadia – Jane falou com uma voz de que já indicava sinais de embriaguez para Morgan, que deu uma risada totalmente falsa, e provocativa parando na frente de Jane e a olhando de cima a baixo.

-Não me confunda com você Jane, eu ainda sou virgem, e estou esperando a hora certa para como você fala “dar” para alguém. Então vadia, antes de falar coisas ao meu respeito olhe para o seu próprio umbigo, ou esqueceu que você transou com metade da escola para poder ser “respeitada”? – Morgan falou, fazendo Jane calar a boca, e o pessoal que começava a se reunir dar algumas risadinhas desdenhosas. Jane sentiu a raiva percorrer seu corpo, e sabendo que Morgan estava preparada, ao contrário da última vez que brigaram se virou para a irmã, dando um sorriso diabólico.

-E então vadia, porque você veio aqui? Todo mundo te odeia sua falha de aborto, porque você ainda não está morta? É um desperdício de espaço! – Jane falou com uma voz gélida, e totalmente cruel, Aisling sentiu o coração bater forte, e retrair o corpo, mas não podia ser dominada pelo medo. Miguel colocou-se a sua frente, pronto para bater em Jane.

            -Não Miguel, deixa que eu faço isso, eu posso me defender – Aisling falou segurando o braço dele, e se colocando a frente, encarando Jane, não podia deixar que Miguel a defendesse, não podia deixar que ninguém fizesse isso por ela, estava na hora de enfrentar seus medos, e na hora de dar um basta naquilo tudo.

            -Olha que bonitinho! Você acha que pode se defender? Que pode ser melhor do que eu? – Jane perguntou dando uma gargalhada maldosa, esperando que Aisling fraquejasse, mas ela não fraquejou, apenas a encarou com algo parecido com pena, um olhar que fez Jane se encolher de medo, e culpa. 

            -Não Jane, eu não acho que posso ser melhor do que você, porque eu sou. Eu sofri calada por anos as humilhações que você me fez passar, eu me retraí do mundo, fiquei com medo, e tentei fugir pelo meio da dor, achando que a culpa era minha – Aisling olhava para Jane deixando tudo o que passara escapar, ela mostrou o braço para a irmã, onde o último corte feito ainda estava muito visível – Eu comecei a me cortar, tentei me matar, fui machucada, por vocês. E o que eu fiz? Não fiz nada, aceitei tudo calada, e não mereci nada do que vocês fizeram. Você jogou Miguel contra mim, manipulou-o para ser algo que ele não é, você fez tudo Jane para que eu fosse a pior pessoa, você até conseguiu fazer com que eu acreditasse que papai e mamãe não me amam! Mas agora chega! Você não tem esse direito, nunca teve, e nunca mais vai fazer isso comigo, e nem com mais ninguém! – a voz de Aisling era alta, não estava em fúria ou em raiva, mas perfeitamente calma, e controlada, o pessoal filmava a briga, e Jane estava pálida.

            -Como você ousa... – Jane começou a falar, mas Aisling revirou os olhos, interrompendo-a.

            -Eu ouso sim, e posso ousar, não ache que é minha dona para me mandar! Já sofri muito por sua causa Jane, e não vou mais sofrer, você vai ver garota! Olha o que você fez com a nossa família? Você virou uma vadia, que já transou com toda a escola, você apresentou as drogas para Ryan, e não ache que eu não sei de nada porque eu sei que você é drogado Ry, – Aisling falou olhando para o irmão que estava encolhido em um canto, e deu um sorriso para a irmã, sentindo o arrependimento no peito – você Jane, fez muita coisa errada, e continua a querer fazer, isso não é certo, não é legal. E se você ilude tantos jovens com as suas baboseiras, tudo bem, porque papai e mamãe vão ficar sabendo disso, e então aquele internato suíço será perfeito para você – os irmãos de Aisling, que estavam na festa, olhavam para a garota e sorriam, a garotinha que fora a sua irmã, estava de volta. Claro que sempre teria as cicatrizes do que acontecera, mas ela estava ali. E Jane, estava pálida, a ameaça de falar para os pais, a fez tremer.

            -Mas Aisling... Você é uma falha de aborto! Eles não vão acreditar em você! – Jane estava praticamente choramingando feito um bebê, e Aisling revirou os olhos.

            -Papai e mamãe me amam Jane, não sou isso que você fala, talvez tenha vindo sem eles planejarem, mas isso não quer dizer que eu seja menos amada – Aisling falou calmamente e olhou para a irmã pálida a sua frente – Será que você não entende Jane, que eu sou sua irmã, que tudo o que você fez não leva a nada?

            -Mas Aisling... Eu... – Jane não sabia o que falar, ela mordeu o lábio, e se calou, olhando para baixo sendo incapaz de encarar a irmã. Aisling balançou a cabeça negativamente, e virou as costas para a irmã, o que tinha que ter feito naquela festa já havia feito.

            Seus irmãos se aproximaram dela, eles precisavam conversar, claro que precisava ser em um lugar mais calmo, mas ali, eles não queriam conversa. Eles se olharam, Alice chorava, Rafael segurava as lágrimas, não imaginava que sua irmã estava sofrendo tanto, ele era o mais distante dos três, era até certo, não bebia, mas ignorava a irmã, Bryan já estava abraçado a Aisling fortemente, e Ryan se aproximou envergonhado e cabisbaixo.

            -Aisling... – Rafael olhou para ela envergonhado, e simplesmente a abraçou, ele era loiro, com os mesmos olhos que Bryan, eles eram iguais, mas Rafael parecia o mais certinho, e seu abraço era forte, arrependido – Me perdoe minha irmã, eu não sabia disso, eu fui um idiota, e...

            -Você já está perdoado irmão – Aisling falou não contendo as lágrimas, Rafael a soltou e limpou com a mão umas lágrimas que caíam, e deu um sorriso torto no meio das lágrimas que percorriam a face dele. Aisling olhou para Ryan, que estava olhando a cena distante, e ela foi até ele, segurando a mão do garoto, e o brigando-o olhar para ela.

            -Ryan... – ela sussurrou, e o garoto a abraçou, começando a chorar compulsivamente – Calma meu irmão, estamos aqui com você...

            -Não Aisling, não é isso, eu sabia o que faziam com você, e também fiz coisas terríveis, eu comecei a usar drogas, sendo que você tinha problemas, eu era o seu irmão, eu tinha que ter ficado do seu lado... – Aisling o abraçou forte, e o interrompeu com uma risadinha calma.

            -Meu irmão, todos erramos, e precisamos arcar com as consequências, eu sei das coisas, entendo os problemas, entendo um vício Ry, agora você vai ter que pedir ajuda para o papai e para a mamãe – Ryan olhou para a irmã que falava aquilo calmamente, apesar de ainda chorando, ele assentiu para a irmã – Vai ser difícil tudo que teremos que contar, mas precisamos fazer isso...

            -Sim minha irmã... Eu aceito ajuda... E você me perdoa? – ele perguntou a olhando, e Aisling sorriu o abraçando forte novamente.

            -É claro que sim meu irmão, eu te perdoo – ela falou no ouvido dele, e os dois voltaram a chorar, choravam de alegria emoção, e porque agora não estavam sozinhos.