POV Bella:

Encarei minha imagem em frente ao espelho. Demoraria séculos para eu me acostumar com esta aparência deslumbrante.  As lentes de contato estavam incomodando meus olhos e já que não havia nenhum humano a vista resolvi tirar elas.

Delicadamente peguei as lentes e coloquei no recipiente. Olhei para o espelho novamente esperando ver meus olhos vermelho escarlate. Eles continuavam dourados. Estranho.  Tentei tirar novamente.

-Alice – eu gritei – A lente não tá saindo. Ajuda aqui.

Se eu fosse humana ela teria arrancado meus olhos de orbita. Mas já que felizmente não sou ela não conseguiu fazer tão facilmente.   Foi quando eu me dei conta.

-Acho que não são lentes – falei e nos caímos na gargalhada. Estava tão obvio. Meus olhos estavam incríveis e agora eu não precisava mais usar aquelas lentes horríveis – E então qual são os planos para as férias?

-Paris – ela falou subindo na cama com um vestido deslumbrante. E dando pulinhos de felicidade. Revirei os olhos.

-Compras? – falei tentando aparentar o máximo de animação possível.   O tempo com Alice me fez gostar de me vestir bem, mas eu não era exagerada que nem minha amiga. Tínhamos roupas o suficiente por meses.

-Obvio. Mas não é só disso que quero falar.

Olhei para ela atenta. Sua expressão era preocupada se sentei ao seu lado mais por habito do que por precisar. Vampiros não precisam ficar sentados, eu estava perfeitamente bem do jeito que estava.

-Estou tendo algumas visões estranhas. Não sei direito. Como se algo nos observasse. Mas as visões não estão claras o suficiente para eu saber do que se trata – explicou Alice.

Lembrei-me do vulto de cabelos avermelhados que eu tinha enxergado. Podia ser qualquer vampira ruiva ou seria ela. Não podia ser.  Quantas confusões eu podia me meter? Acho que vou ganhar um Oscar de má sorte algum dia destes.

-Vamos continuar como estamos. Treinarmos o máximo que pudermos. Não sabemos se ela realmente planeja alguma coisa.

-Tudo bem – respondeu Alice simplesmente – Então vamos treinar?

-Sim – falei animada. Nós havíamos treinado já diversas vezes.  Eu não era uma lutadora tão ruim e aprendia tudo com uma facilidade inacreditável.  Reforcei o escudo sobre mim assim nem Alice conseguiria ver o meu futuro.

-Isto não é justo – Alice disse emburrada.

-Cada um luta com as armas que tem – falei a frase clichê e ela deu de ombros sabendo que eu estava certa.  Logo já estávamos lutando.  Alice era muito rápida mas não estava acostumada com a desvantagem de não ver o futuro. Depois de diversos minutos sem nenhum vencedor, consegui vencer finalmente.

Dei uma risada. E ela fez uma cara emburrada ao perceber que havia perdido.

-E a aprendiz supera o mestre – citou Alice.

Ri de novo. Parecia que estava sendo egocêntrica, mas nunca pensei em mim lutando bem, eu sempre fui tão desastrada e sem coordenação motora.

-Já perdeu a graça – falou a baixinha.

-Tem razão. Desculpe. Vamos assistir algum filme? – sugeri. Fazia tempo que não assistia alguma coisa – Que tal Drácula, ia ser engraçado.

Não se assustem. Filmes de terror são engraçados para nós, pois achamos tudo extremamente ridículo como as pessoas acham que somos. Alias as pessoas acham que somos mitos. Pelo menos uma pessoa considerada “normal”. Se alguém saísse dizendo a verdade ia ser internada num hospício.

A expressão de Alice ficou rígida. Ela tinha parado de pular freneticamente totalmente. Sua face miúda expressava dor. Era uma visão horrível de se ver. Eu tinha dito algo de errado. Ela se sentou em frente a uma árvore sem dizer uma palavra. Fui até ela preocupada.

-Eu disse algo de errado, Alice?

-Desculpe Bella. Eu e Jasper assistimos Drácula uma vez e nos divertimos muito. Não é nada demais só que quando coisas assim acontecem as melhores lembranças viram dor.

-Eu entendo – falei minha expressão assumindo dor novamente.  Eu precisava ajudar minha amiga, mas não podia conter meus soluços fracos. Não importa eu ser uma vampira com dons inacreditáveis, eu estava destruída por dentro

-Bella não queria...

-Alice – a interrompi – A culpa não é nossa. Já estamos sofrendo demais para nos culpar. 

-Você tem razão. Vamos parar com isto. Mas não estou com vontade de assistir alguma coisa.

-Tudo bem, Alice. Vamos voltar – sugeri.

Voltamos correndo em silencio. Ela estava fraca demais para falar alguma coisa. Eu também.  Estão errados se disserem que vampiros são indestrutíveis. Ao me olhar no espelho vejo uma imagem impecável, mas se olhar dentro de mim só encontrará destroços do que um dia se foi.

Destroços de aquilo que podia ser. Destroços do que eu podia ter me tornado ao lado dele. Doía de mais e eu estava com vontade de gritar o mais alto que puder. Mas eu não podia. Não queria preocupar Alice mais ainda. Ela já tinha suas preocupações.

Peguei uma folha de um caderno e comecei a rabiscar coisas sem sentido freneticamente. Não havia sentido nenhum, mas aqueles pequenos traços me mantinham ocupada.  E eu tentava ao máximo não me deixar levar por pensamentos ruins.

POV Edward:

Jasper não aguentou mais a espera. Saiu correndo atrás de Alice. Atrás de seu amor. Algo que eu não podia fazer. Eu estava entediado como sempre. E as lembranças ainda eram fortes doendo e me lembrando de como cada segundo com ela tinha sido perfeito.

Eu não podia ficar aqui parado.  Logo após ter deixado Bella eu estava caçando Victória, mas Esme e Carlisle meses depois insistiram para que eu voltasse e tal foram suas expressões que não pude negar a eles.

Mas não podia ficar naquele quarto perdido em lembranças para sempre. Precisava fazer algo de útil.   Não fazia ideia do que Victória planejava, mas não seria seguro para ninguém muito menos para Bella, Victória estar viva.

Nunca me perdoaria se algo acontecesse com Bella.  Imaginar ela branca e sem vida era desesperador.  Peguei um pedaço de papel e uma caneta que avistei rapidamente e escrevi um bilhete explicando antes de partir em busca de Victória.

Nada iria acontecer com minha vida. Minha Bella. Eu sabia que ela iria morrer um dia, e que eu não aguentaria viver com tal verdade.  Que eu não viveria quando Bella morresse.   E eu sabia que nunca poderia criticar mais Romeu e Julieta. Porque eu tinha minha Julieta agora.

Minha Julieta talvez nem se lembrasse de mim. Talvez estivesse sendo feliz com outra pessoa, mas eu nunca esqueceria dela. Nunca.  Minha Julieta, meu amor, Minha Bella.