Saga Sillentya: Reuniões da Meia-noite escrita por Sunshine girl


Capítulo 5
V - Tentado


Notas iniciais do capítulo

Adiantando mais um capítulo...

E cuidado com o sonho caliente do Aidan! Hahahaha

Boa leitura!



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Capítulo V – Tentado

“Tudo que eu tenho é uma última chance

Eu não vou dar as costas a você

Pegue minha mão e arraste-me para baixo

Se você cair, eu cairei também

E eu não posso salvar o que resta de você”.

“Diga-me algo novo

Eu não tenho mais nada

Eu não posso encarar a escuridão sem você!

Não tenho mais nada a perder

E essa batalha nunca termina

Eu não posso encarar a escuridão sem você!”.

(Breaking Benjamin – Without You)

Estendi a mão, roçando as pétalas perfumadas e coloridas de orquídeas que haviam sido amarradas no suporte daquele pequeno palco de madeira. Afastei-as até encontrar um pequeno jasmim-do-cabo, e sorrindo, apanhei-o, puxando da amarra e entregando-o para ela.

 Agatha pegou a pequena flor entre os dedos delicados e sorriu para mim, se ela ao menos soubesse o quanto ela e a flor tinham em comum...

Sua pele era tão macia, branca e perfumada quanto às pétalas. Sua beleza era tão delicada e jovial quanto à dela. E ambas eram tão frágeis...

Era a noite do baile de primavera do colégio de South Hooksett. Todo o prédio havia sido decorado com arcos repletos de flores, balões coloridos e muito papel crepom.

Claro que Agatha era a que mais se destacava ali. A mais bela sob meus olhos. E eu não era o único a admirá-la naquela noite, percebi enciumado. Puxei-a para os meus braços, deixando que ela repousasse sua face em meu ombro.

Ela riu um pouco e inspirou o perfume da flor que segurava entre seus dedos:

- Eu tenho que admitir que não me acostumo com esse seu lado.

Tentei não levar para o lado pessoal e ri junto dela, maravilhando-me com a noite enluarada, bem fresca, típica da primavera. Mas, até mesmo a lua parecia ofuscada pela beleza de Agatha naquela noite.

- Também está sendo bem estranho para mim. – confessei-lhe, repousando meu queixo no alto de sua cabeça, enchendo-me com o perfume que habitava cada fio da negridão infinita que era o seu cabelo.

Cerquei-a com meus braços, apertando-a em um abraço. Se dependesse de minha vontade, não a soltaria nunca. Embora as notas da canção que embalavam os demais casais estivessem bem distantes e fossem quase inaudíveis aqui do lado de fora, eu e Agatha nos movíamos lentamente, como em uma espécie de valsa, só que abraçados.

Ela afastou-se de mim, nos olhos um milhão de pontinhos iluminados, como se neles uma constelação inteira habitasse. Então, passou seus braços ao redor de meu pescoço, inclinando-se na ponta das sandálias e roçou a ponta de seu nariz delicado em meu queixo, expirando e inspirando lentamente.

- Eu te amo. – confessou-me ela, tão deslumbrada e fascinada quanto eu. Como poderia me acostumar a viver sem ela novamente?

Agilmente, suspendi seu corpo leve no ar, para que ficássemos face a face e ela sorriu, brincalhona. Sem mais hesitação, pressionei de forma terna os meus lábios nos dela.

Ela havia me dito nessa noite que passaria por cima de tudo para ficar ao meu lado. Ela me garantiu que nada ficaria entre nós dois, fossem segredos dos quais ela nunca poderia saber, ou a verdade dolorosa e inegável que algum dia eu teria de abrir mão dela.

Desci meus beijos para o queixo dela, e finalmente me afastei para fitá-la. Coloquei-a novamente no chão e envolvi sua mão pequena com a minha, ajeitando um grosso cacho de seu cabelo para que cobrisse o selo em seu ombro esquerdo desnudo pelo vestido sem alças.

Queria me certificar de que o desertor nunca tocaria em um único fio de cabelo dela. Eu temia que ele descobrisse sua verdadeira ancestralidade e tentasse feri-la para concluir os seus objetivos sombrios.

Descemos os degraus do pequeno palco montado em meio ao gramado verdejante e umedecido pelo sereno noturno. Cruzamos o campus do colégio e passamos pelas portas duplas de vidro que dariam para um salão apinhado e barulhento.

Era difícil discernir a energia de cada um ali. Tudo era uma densa massa brilhante, que simplesmente irritava meus sentidos. A única energia a não se misturar a dos demais era a dela.

Logo que entramos, fomos abordados por Tamara e sua energia sempre otimista e confiante. Ela rebocava um Bryan que olhava de soslaio para mim e sacudia a cabeça, claro que ele gostaria de ver Agatha com o melhor amigo, Peter.

- Ei, Agatha, está gostando do baile?

Tombei meu semblante para sua silhueta intimidada com minha presença. Falando no diabo...

Agatha sorriu para ele e acenou. Se ela ao menos soubesse o quanto o simples fato de não ignorá-lo como eu o fazia me perturbava, e me tentava a lhe pregar um bom susto...

- Oi, Peter. – murmurei, como que para fazê-lo perceber que ela estava acompanhada e gostei da forma como ele estremeceu.

- Ah, oi, Aidan... Não esperava vê-lo aqui. Quero dizer, não me parece muito o seu estilo.

Quer dizer que ele ainda tinha alguma esperança de conquistá-la? Por que não estou surpreso?

Enlacei Agatha pela cintura novamente, puxando-a para mim, enquanto um sorriso amarelo transparecia em seus lábios e ele seguia com sua acompanhante – uma menina que claramente odiava Agatha por ela estar tirando a atenção de seu pretendente.

Apenas Tamara permaneceu conosco, fazendo muito elogios a toda produção que ela havia feito em Agatha e dizendo a ela o quanto nós dois combinávamos. Revirei os olhos, impaciente.

Tudo o que eu queria era ficar sozinho com ela novamente, e ali parecia completamente impossível.

Aproximei meus lábios de sua orelha esquerda e sussurrei, utilizando de toda a minha lábia para convencê-la:

- Que tal se fugíssemos daqui?

Ela engasgou, enquanto Tamara se irritava, questionando se ela estava prestando atenção na conversa e Agatha assentia confusa – e balançada com minha proposta.

Ela tocou o ombro da menina de cabelos encaracolados e ruivos e lançou-lhe um olhar como quem se desculpa.

- Er, Tamara, importa-se se eu e Aidan formos tomar um pouco de... ar?

Tamara uniu as sobrancelhas, tentando entender o que estava havendo, e no fim, com um grande e malicioso sorriso, deu de ombros:

- Só traga a minha amiga até a meia-noite, depois disso, o encanto termina!

E riu.

Agatha, mesmo desconcertada e hesitante, permitiu que eu a conduzisse até a noite fresca novamente, regada a tantos perfumes exóticos e tantas cores ofuscantes.

Quando chegamos à entrada do colégio, apertei seus dedos nos meus e a guiei para fora do campus, deixando-a completamente confusa e nervosa. De repente, as mãos dela suavam nas minhas.

- Aidan, onde está me levando? – sua voz doce quebrou o canto das cigarras e os pios de uma coruja empoleirada nos galhos de um carvalho no meio-fio.

Um sorriso presunçoso vincou meus lábios e ela estremeceu, não entendendo absolutamente nada. Ela remexeu de forma nervosa em um dos cachos de seu cabelo e verificou se uma das presilhas estava bem presa.

- Não se preocupe, você saberá na hora certa.

Seu lábio inferior tremeu e eu a puxei para mais perto de meu corpo, temendo que ela estivesse com frio. A cidade não estava muito agitada naquela noite, não que isso acontecesse em qualquer outro dia da semana. South Hooksett era pacata e relativamente tranqüila.

Agora entendo porque Evangeliny se escondeu de meu mentor aqui. Nem mesmo ele havia sido capaz de encontrá-la aqui. E eu sinceramente torcia para que isso nunca acontecesse.

Guiei Agatha através do centro comercial, das vitrines iluminadas que ofereciam de tudo e das lanchonetes e restaurantes. Logo nos aproximamos de meu objetivo: a floresta.

- Aidan? – ela me chamou assim que começamos a nos embrenhar em meio à mata silenciosa e de certa forma até mesmo hostil. Mas meus sentidos captavam qualquer movimentação ali, e não havia outro ser vivo que não fossem roedores ou pássaros em seus ninhos no alto das copas das majestosas sequóias.

Alguns poucos e tímidos raios lunares conseguiam penetrar a vegetação densa e iluminar uma grande clareira. Agatha logo parou para desafivelar as sandálias e poder se locomover com maior agilidade pela mata fechada, roçando seus pequenos pés na relva perfumada por damas da meia-noite, que se abriam e inebriavam a vegetação com sua fragrância doce.

- Chegamos. – disse a ela, enquanto calmamente caminhava até a porta do pequeno chalé e a destrancava.

Tombei meu semblante para ela, fitando sua face iluminada pela lua. Como ela era linda...

Estendi minha mão lentamente, a palma voltada para cima, esperando que ela a segurasse e confiasse inteiramente em mim.

Agatha sorriu incrédula, mas não hesitou e envolveu sua mão na minha. Puxei-a para perto de meu corpo e através de um pedido silencioso, pedi que confiasse em mim. Assim que ela assentiu, abracei-a da forma mais carinhosa que podia, tentando transmitir através daquele abraço o quão intensos eram os meus sentimentos por ela.

Naquela noite, fitei-a da forma mais cálida e apaixonada. Depositei em seus olhos todos os meus sentimentos, toda a devoção que alimentava por ela e a puxei comigo para dentro do chalé.

Agatha tentou rir, mas pareceu-me nervosa demais.

- Acho que não voltaremos ao baile, não é?

Eu não lhe respondi, apenas assenti, e em seguida abri um sorriso lascivo que a fez estremecer novamente. Deixei que a luz da lua fosse nossa única iluminação ali, penetrando as vidraças das janelas e a porta aberta.

Tombei meu semblante para ela uma última vez, vendo o brilho inconfundível em seus belos e profundos olhos negros. Tinha certeza de que poderia morrer olhando para eles.

- Feche seus olhos. – pedi a ela em um sussurro ininteligível, e ela obedeceu-me prontamente, mesmo que seus batimentos acelerados não passassem despercebidos por meus ouvidos, e eu captasse uma mínima centelha de desconfiança em seu semblante.

Agatha soltou um longo e demorado suspiro, parecendo-me impaciente. Tratei de agir rápido, aproximando-me de seu corpo trêmulo e inseguro e levei meus dedos até seus cabelos perfumados, segurando as presilhas brilhantes que prendiam alguns cachos, ela reagiu no mesmo instante, unindo as sobrancelhas:

- Aidan, o que está fazendo?

- Confie em mim. – pedi a ela, retirando-as do abismo de escuridão infinita que eram os seus cabelos, e liberando os cachos que recaíram sobre o seu rosto como uma cascata negra, emoldurando-o como o complemento ideal para sua beleza estonteante.

Como pude achar que um anjo como esse seria apenas... mortal? Não, a raça a qual ela pertencia era conhecida por esse estado de graça e perfeição. Assim como a energia que portam dentro de seus corpos, eles transpareciam delicadeza, exalavam vida.

Segurei em seu rosto, envolvendo-a com o calor de meu corpo e sussurrando em sua orelha:

- Pode abrir os olhos.

Relutantemente, ela o fez, espiando pelas pálpebras, primeiro, para depois abri-los por inteiro. Aqueles olhos sempre seriam a minha perdição. Enquanto me perdesse neles, não seria capaz de agir segundo a razão, seria apenas regido por meus instintos, por meus desejos mais secretos, e por meus sentimentos e impulsos mais poderosos.

- Você é absurdamente linda... – confessei, curvando meus lábios até os dela, tomando-os para mim sem o menor aviso, e a surpreendi com a intensidade. O fogo sempre me dominava nesse momento, sempre toldava a minha razão e me envolvia em uma manta de prazer.

Agatha tentava corresponder à altura, enlaçando-me pelo pescoço, mesmo que eu pudesse sentir que ela nada compreendia. O motivo de tê-la trazido até aqui, de tê-la retirado do baile somente para que pudesse desfrutar um pouco mais de sua companhia.

Minhas mãos deslizaram através de suas costas, apertando-a contra mim, deixando que ela se moldasse ao meu redor. Entrelacei minhas pernas às dela, pressionando meu quadril contra o dela, até que não houvesse o mínimo espaço entre nossos corpos.

Desci meus beijos através de seu rosto, faminto e desesperado para saciar aquele vazio. Um vazio que só dissipava quando a tinha em meus braços. Beijei seu pescoço, seu ombro e finalmente lhe confessei as palavras que vinha guardando para mim durante toda a noite:

- Você me salvou da escuridão... Agora, sinto que não posso encarar as trevas, não sem a sua luz. Você me salvou de mim mesmo, Agatha, fez de mim uma pessoa melhor. – disse-lhe, o rosto pressionado contra sua pele de porcelana – Eu não sei se algum dia suportaria ser separado de você, mas, queria lhe dar algo para que se lembrasse de mim quando esse dia chegar.

Tornei a beijá-la, naquela noite liberava um pouco mais dos desejos que sempre reprimia. Entrelacei as mechas sedosas de seu cabelo em meus dedos, apertando sua cintura fina, enrolando o tecido de seu vestido em meus punhos cerrados, suspendendo seu corpo leve no ar.

Ela afundou seus dedos em meu cabelo, a respiração entrecortada, os batimentos tão descompassados quanto os meus.

- Eu daria o céu por você, todas as estrelas se você me pedisse. E seria capaz de enfrentar todo o inferno para ficar ao seu lado. Eu nunca me esquecerei de você, eu prometo.

- Aidan... – ela suspirou, sorrindo, enquanto eu, mais uma vez, a envolvia em um abraço, virava-a de costas para mim, e sentava a nós dois no chão, com ela aninhada em meus braços, sob a soleira da porta, contentando-nos em encarar as estrelas, a lua cheia e brilhante.

Segurei-a ali até que caísse no sono e velei seus sonhos, cada um deles, afugentando os pesadelos, afagando seus cabelos, seu rosto de anjo enquanto dormia. E quando despertei de meus devaneios, o sol já nascia no horizonte, tingindo o céu de um profundo tom alaranjado. A floresta novamente ganhava vida e cor.

Mais um dia alvorecia em South Hooksett. Mas, para mim era um dia a menos na companhia dela, e esse fato ainda era capaz de me aterrorizar... Como poderia voltar para o caminho das trevas sem ela?

Agatha era minha luz, minha salvação, a minha única chance de redenção, e tinha certeza de que sem ela, voltaria a ser tentando pela escuridão. E dessa vez, temia me perder para sempre, e nunca mais encontrar a saída.

- O quê? – perguntei. Tive de perguntar, mesmo que a resposta fosse óbvia, não conseguia aceitar o fato de que um homem como Lucius foi tão facilmente capturado.

Solomon abaixou sua cabeça e a sacudiu lentamente, sustentando seus olhos nos meus novamente.

- Infelizmente, é a verdade. Lucius foi capturado enquanto tentavam resgatar Agatha. Ele ordenou aos demais que recuassem, que ele seguraria os homens de Ducian pelo tempo que achasse necessário para lhes dar fuga, mas... não retornou a Ephemera e não temos notícias dele desde então.

- Claro. – murmurei, baixando a fronte e compreendendo. Isso justifica o comportamento prepotente de Ducian enquanto estive preso e porque ele estava tão convicto de que conseguiria me arrastar para a escuridão novamente.

Ele sabia que capturando o líder de Ephemera, eliminar os demais seria fácil. Ele certamente já estava preparando um movimento específico para acabar com a guerra de uma vez por todas.

- Por que ele está hesitando? – indaguei, tornando a fitar Solomon, que apertou os olhos verdes e sacudiu a cabeça, suspirando.

- Ele está tentando extrair a localização de todos os esconderijos de Ephemera, e está torturando Lucius para obtê-las. Ellian nos contou que ele provavelmente não irá contar nada, mas não agüentará muito mais também.

- Então, eu suponho que queiram a minha ajuda para soltá-lo. Em que esconderijo ele está?

- Em Nápoles, por isso Christian e os outros já se moveram para lá, apenas eu e minha esposa ficamos em Roma para lhe resgatar.

Então, é exatamente como eu suspeitava.

- E por que precisam de mim? Conheço a planta de todos os esconderijos de Ducian, e sei que em Nápoles são mantidos apenas os prisioneiros mais perigosos, como Elementais que já romperam o selo da fênix. Acredite em mim, não será fácil tirá-lo de lá.

Solomon pigarreou e fitou o rosto sereno de sua esposa, parecia querer se certificar de que seria seguro compartilhar informações tão cruciais comigo.

- Na verdade, Aidan, precisamos de outro talento seu, e é por isso que estamos aqui em Florença ao invés de estar em Nápoles com os demais.

- E? – eu o instiguei e Solomon endureceu a expressão.

- Trouxemos você aqui para iniciar o seu treinamento com Antigos.

Minha máscara de indiferença e impassibilidade foi abandonada pela segunda vez.

- Do que raios você está falando?

- Você é o único além de seu irmão que teria talento para dominar o poder de um Antigo. Não é qualquer Mediador que pode lidar com a energia de um Antigo e eu posso treiná-lo para dominar esse poder inimaginável, mas você, Aidan, acredito que já saiba disso.

- Você é louco. – murmurei, desviando o rosto, enojado. Claro que eu conhecia as regras do jogo. Ducian ainda não havia iniciado o meu treinamento com Antigos, pois era muito perigoso, um passo na direção errada e você se perde em loucura e destruição, para sempre.

A energia que compõe um Antigo é centenas de vezes mais intensa que a energia de um espírito comum, mas também, é centenas de vezes mais destrutiva.

- Não, Aidan, eu não sou. E seu mentor, asseguro-lhe com toda a certeza de que não era também. Se ele lhe escolheu é porque sabia que você poderia lidar com isso. Ducian sabia que você teria capacidade para se tornar um dos mais poderosos Mediadores de toda a história, foi por isso que ele lhe escolheu. Você é um talento nato, Aidan, talvez seja até mais talentoso do que seu irmão, quando comecei a treiná-lo.

Uma proposta tentadora, eu precisava admitir. Se dominasse o poder de um Antigo, estaria a altura de Ducian. Talvez fosse exatamente disso que preciso, poder ilimitado.

- Mas, há um preço, como você deve saber. – Solomon interrompeu-me em meus pensamentos, fazendo-me encará-lo, taciturno e temeroso – Para dominar o poder de um Antigo, você precisa deixar que as trevas lhe tentem o coração. Antigos são espíritos do caos, basicamente são compostos pela energia oposta a que os Elementais manipulam, mas indefinidamente mais concentrada e devastadora.

- Eu conheço o preço.

Cerrei os punhos, lembrando-me de quando meu mentor me disse o que exatamente acontecia a Mediadores que se perdiam em insanidade e escuridão enquanto buscavam a dominação perfeita do poder de um Antigo.

- Darei algum tempo a você para que pense em minha proposta. Amanhã de manhã conversaremos, por enquanto, procure descansar e curar seus ferimentos.

Solomon gesticulou para a esposa, que estivera muda durante toda a nossa conversação:

- Piper, leve Aidan até uma de nossas acomodações.

Ela assentiu e pediu que eu a seguisse através de um estreito corredor. Porém, quando já estava na metade do caminho, detive-me, girando o tronco para que pudesse fitar Solomon uma última vez:

- Uma última pergunta. Por quanto tempo fiquei preso?

Sua resposta foi objetiva, sem rodeios.

- Cerca de duas semanas.

Duas semanas? Essas duas palavras giraram em meus pensamentos antes que pudessem ser totalmente absorvidas. Não parecia ter sido tanto tempo assim. Embora eu não visse nem o nascer e nem o morrer do sol no horizonte no período em que fiquei preso naqueles calabouços.

A contragosto e irritado, virei para frente novamente, seguindo a silhueta magra e elegante da esposa de Solomon pelo longo corredor repleto de candelabros com velas e chamas bruxuleantes. Abrindo portas duplas e entalhadas, ela me levou até um luxuoso quarto com uma suíte.

- Separarei algumas peças de roupas limpas para você, Aidan, e providenciarei algumas toalhas. Sinta-se em casa.

Como se fácil, pensei comigo mesmo.

Observei a decoração requintada e não hesitei em me dirigir até a suíte, retirando a única peça de roupa que cobria meu corpo. Abri o chuveiro e me meti embaixo da torrente de água quente, limpando meus ferimentos e ignorando as fisgadas de dor que vinham de minhas costas. Ao menos, o talho aberto em meu peito enquanto tentava proteger Agatha da loucura de Ducian já estava cicatrizando.

Passei as mãos no cabelo, retirando toda a sujeira que pudesse ter impregnado em meu corpo e logo em seguida, fechei o chuveiro, apanhando uma toalha branca que estava sobre o balcão de mármore do lavatório.

Enrolei-a na cintura e usei outra toalha para secar o cabelo e o torso. Voltei ao quarto, encontrando roupas limpas e dobradas sobre a cama. Vesti a calça e ignorei a camiseta, o tecido provavelmente grudaria nos rasgos em minhas costas.

Sentei-me na cama, passando a mão nos cabelos e respirando fundo. Apoiei os cotovelos sobre os joelhos, cerrando os olhos.

As palavras de Solomon ainda reverberavam em meus pensamentos. Ele poderia me oferecer o poder que tanto desejo?

Mas há um preço, sempre haveria um preço. E em troca, eu teria que deixar que as trevas tentassem meu coração novamente. E se me perdesse mais uma vez nesse caminho?

Agatha libertou-me das trevas no passado, mas agora... Agora temo não ser capaz de encontrar a saída por mim mesmo.

Cansado, fatigado, e irritado comigo mesmo por deixar que aquelas dúvidas me corroessem, deitei-me sobre o colchão, imóvel, fitando o teto anguloso, o lustre de cristais, a nuvem dourada e cintilante do dossel que envolvia a cama.

Perdi-me em meus próprios pensamentos e indagações em poucos minutos, e logo em seguida, caí em um profundo sono.

A princípio, minha exaustão venceu-me, consumindo cada centímetro de meu corpo. Mas depois dos primeiros minutos, a névoa brilhante e perfumada vinha ao meu encontro.

Envolvendo-me ternamente, embalando-me, e logo o colchão afundava sob o pequeno peso que se juntara a mim.

O cheiro de jasmim de sua pele envolveu-me no mesmo instante, assim como o cheiro de seus cabelos, de seu hálito doce enquanto ela sussurrava meu nome:

- Aidan...

Agatha veio até mim, cobrindo-me com seu corpo morno e macio. Abri meus olhos, encontrando sua face jubilosa, exaltada, feliz por me ver, mais uma vez.

Nas profundezas negras de suas íris, aquela chama devastadora queimava. A chama que tanto me fascinava, a chama de sua coragem, de sua determinação.

Ela debruçava-se sobre mim, incapaz de perceber que seus toques, sua voz, seu calor, seu perfume, sua beleza jovial despertavam sensações ardentes em meu corpo. Meus músculos enrijeciam com sua proximidade, eu mesmo tentava controlar minhas reações, mas sempre era inútil.

Sua mão pequena e frágil envolveu minha face, afagando-a cuidadosamente. Permaneci imóvel, mal respirava, temendo que a fera que vivia dentro de mim e que desejava aquele corpo mais do que qualquer outra coisa despertasse e assumisse o controle de mim a qualquer momento.

Ela respirou lentamente, e então curvou sua face de anjo até mim, seus lábios encontraram os meus, leves como plumas, tão delicados quanto o desabrochar de uma flor, e inundaram-me com seu doce e inebriante néctar.

Meu corpo ardeu ainda mais, eu estava entorpecido demais, desconectado demais, aos poucos, a fera assumia o controle sobre mim. A cada vez que me visitava, a cada vez que aparecia diante de mim, eu me aproximava um pouco mais da insanidade, esgotando todo o meu autocontrole, todas as forças que a afastavam de mim e do que eu queria.

E isso se provou verdadeiro, porque a envolvi com meus braços no instante seguinte, puxando-a para mim, perdendo o controle ali, em seus lábios, sentindo a leve pressão que seu corpo, leve e delicado, exercia sobre o meu.

Ela entrelaçou uma de suas pernas à minha, ainda segurando em minha face.

Minha língua contornava seu voluptuoso lábio inferior, explorava cada canto de sua boca, provava saborosamente de seu néctar, de seu hálito de ninfa, e eu me perdia cada vez mais, era soterrado por aquela avalanche de sensações ardentes e intensas.

Mantive uma de minhas mãos na base de suas costas, deixando que a outra se enrolasse nos fios negros e sedosos de seu cabelo. Como eu amava seus cabelos, amava seus lábios, a forma como ela se moldava ao meu redor, quase como se nossos corpos tivessem sido feitos para se encaixar.

Mas ainda não era o suficiente para mim, nunca seria o suficiente para a fera dentro de mim. Então, logo a empurrei para debaixo de mim, rolando no colchão, separando-me daqueles lábios quentes e macios pela primeira vez, apenas para fitá-la, sério e taciturno, para apreciar sua beleza incomparável, a beleza de minha musa, de minha deusa, de minha fada e de meu anjo.

Seus cabelos espalharam-se por sobre o travesseiro, enormes, como eu jamais havia notado. Normalmente seus cabelos alcançavam metade de sua cintura, mas agora, eles aparentavam ter crescido cerca de dez centímetros. Aquilo só complementava sua beleza, só me prendia ainda mais ela, aumentava o meu desejo de me unir a ela.

Ela sorriu brincalhona quando notou minha respiração descontrolada e o suor que escorria por minha face.

O tecido de seu vestido era tão fino, que eu podia sentir o calor da pele dela através dele, sua respiração encontrava-se tão alterada quanto a minha, meu pulso estava acelerado demais, mas aquela sensação era tudo o que me importava.

No fim, era tudo o que eu queria.

Não hesitei por mais um segundo que fosse, enterrei minha face em seu pescoço, beijando sua pele, explorando-a com minha língua, sentindo seu gosto inebriante preencher todos os meus pensamentos, não me permitindo pensar em mais nada.

Minhas mãos agarraram sua cintura e de lá não mais saíram, sempre a apertando contra meu corpo, ela não me deixaria mais tão cedo. Porque estava disposto a tornar aquele sonho real, fazer daquela ilusão a minha realidade.

Enchi-me de seu cheiro, sentindo o êxtase e a euforia que aqueles toques e gestos me proporcionavam. Segui com meus beijos para seu ombro, afastando a fina alça de seu vestido para que nada entrasse em meu caminho, nada se opusesse contra nós.

Agatha finalmente levou suas mãos pequenas e frágeis até meus ombros, deslizando-as por sobre minhas costas, e eu sorri em resposta, amando a forma como ela cravava suas unhas em minha pele.

Meu corpo ardia, queimava no mais profundo abismo infernal, eu suava, e ela arfava descontroladamente. Até que não contive mais minhas mãos, e elas deixaram sua cintura fina, percorrendo a lateral de seu corpo, toda a curva dos quadris, passando pelas coxas sedosas, até alcançarem sua panturrilha, prendendo sua perna torneada e enganchando-a em minha cintura.

Enterrando-me nela, buscando meu refúgio, procurando uma maneira de compensar aquele vazio, aquela fenda, suturar aquela profunda ferida que a perda abrupta e violenta dela me causou.

Mordisquei seu ombro, subindo e descendo com meus beijos, mordiscando o lóbulo de sua pequena orelha, pressionando minha língua contra seus lábios novamente, deixando que minhas mãos descobrissem um pouco mais daquele corpo que eu tanto desejava.

Meus dedos agarravam o fino tecido, o único obstáculo que me separava de sua pele, mas a coragem faltava-me, e o bom senso e o respeito que nutria por ela inundavam meus pensamentos, impedindo-me de cometer aquela loucura.

Mesmo assim, não era capaz de conter meus toques. Seu corpo tinha todas as medidas certas. Nada exagerado, nenhuma curva desproporcional. Apenas delicadas elevações e depressões nos pontos certos. Como se ela tivesse sido esculpida pelas mãos de um talentoso artista.

Uma homenagem a alguma deusa da beleza desconhecida.

Minha Vênus... Ela era minha Vênus.

Beijei toda a sua face, inspirando seu perfume com desespero e angústia, queria gravá-lo em minha memória, queria memorizar cada curva de seu corpo. Sentia que se não fizesse isso, morreria.

Tornei a unir meus lábios nos dela, sentindo agora que o fogo dentro de mim já apaziguava. Mesmo assim, minhas mãos se recusavam a deixar sua cintura, seu quadril, sua coxa, seu joelho.

Beijei-a da forma mais delicada e suave que pude, demonstrando a ela que não havia apenas desejo físico e carnal dentro de mim, que havia sentimentos tão puros quanto bonitos dentro de meu coração. Sentimentos que ela havia inserido, no momento em que entrou em minha vida.

Quando o fôlego me faltou, afastei-me para fitá-la, desolado por saber que nada daquilo havia sido real, que a partir do momento que ela se fosse, tudo voltaria a ser apenas lembranças de um sonho.

Ela nunca seria minha de verdade, esta era uma realidade inalcançável, um sonho distante demais.

Agatha captou minha mudança de humor e tocou meu rosto, deixando que sua outra mão afagasse meu cabelo lentamente.

Rendi-me a aqueles toques, completamente a mercê dela e do que ela despertava em mim.

- Não fique triste... – ela pediu-me com um gentil sussurro, comprimindo os lábios e ensombrecendo os olhos negros, deixando que a tristeza apagasse cada ponto de luz que pudesse haver neles.

Eu podia sentir sua respiração suave abaixo de meu corpo, o leve arfar de seu seio, a palpitação lenta e pulsante que permeava meus ouvidos sem cessar, e novamente fui acometido pelo desespero de saber que logo a perderia, mais uma vez.

Seus dedos roçaram meus lábios, tão delicados quanto plumas e os contornaram vagarosamente, tentando a todo custo dissipar aquela tempestade negra que agora me assolava.

- Eu pensei que pudesse lidar com isso... – confessei a ela, no fundo sabendo que a magoaria, que a faria sofrer novamente, mas a dor que precisava suportar todas as vezes em que ela invadia meus sonhos e depois partia era muito maior, muito mais desesperadora.

Era como ter que perdê-la infinitas vezes. Era demais para mim.

- Você está triste. – ela sussurrou melancolicamente e baixou os olhos, sendo contaminada por minha amargura rapidamente.

Droga! Eu não deveria permitir que ela sofresse dessa maneira. Eu deveria me prender a esses sonhos como minha última esperança de ficar com ela, minha última chance de tê-la comigo todos os dias.

- Eu não posso viver sem você. Mas, também estou enlouquecendo, Agatha. – murmurei, amargo e corroído pela dor. Por que o destino tramou contra nós dois? Eu sei que mereço esse castigo, mas Agatha era inocente, nunca deveria ter pagado por meus erros. Escondi meu semblante de seus olhos e meneei a cabeça, completamente fora de mim – Eu não sei se posso suportar essa situação por muito mais tempo.

Ela tornou a me fitar, assustada, os lábios entreabertos e os longos cílios de repente estavam úmidos. Ela não poderia chorar, de seus olhos não verteriam lágrimas, mas isso não significava que ela não podia tentar.

Envolvi sua mão delicada com a minha e a levei até meu coração, tentando demonstrar o quanto aquilo me machucava, me feria por dentro. Eu sabia que o certo era deixá-la ir, encontrar a paz, o descanso e não ficar aqui comigo, sentindo tudo o que eu sinto.

Toquei sua face, odiando-me por magoá-la mais uma vez.

- Talvez, não seja certo eu prendê-la a esse mundo, meu amor. Não quero que você continue sofrendo, mas também não quero perdê-la.

- Você... – ela começou, baixando os olhos, o lábio inferior tremia um pouco – Você não quer que eu venha mais...

- Eu só desejo o que é melhor para você.

- O melhor, para mim, é ficar com você... – ela teimou, sussurrando baixinho.

Embora não quisesse admitir, eu também não podia abrir mão desses encontros. Era tudo o que me restava, e talvez fosse minha única chance de aceitar a proposta de Solomon. Com as trevas me tentando novamente, sozinho eu sabia que não conseguiria vencê-las, mas com Agatha à espreita, talvez eu pudesse enfrentá-las. A luz dela era a única razão pela qual eu não mergulhara em escuridão e ódio novamente.

Beijei sua testa, e em seguida, dei-me por vencido, desabei sobre o corpo frágil dela, enterrando minha face em seu pescoço, sorvendo seu cheiro e tentando encontrar um pouco de paz para minha alma perturbada.

Agatha afagou meus cabelos com suavidade, e aproximando seus lábios de minha orelha sussurrou delicada e carinhosamente:

- Eu nunca vou te deixar... Nunca... – ela tomou fôlego e recomeçou – Preciso de você...

Eu sempre soube que poderia contar com ela, em qualquer situação, a qualquer hora. Mesmo em épocas sombrias, Agatha estaria ao meu lado. E seria ela a me ajudar a enfrentar essa nova fase em minha vida.

Vingança. Eu colocaria meu plano de vingança em prática no dia seguinte. Aceitaria a proposta de Solomon e assim desencadearia uma onda de violência e destruição contra Ducian. Ele me pagaria muito caro, disso eu tinha certeza, e apenas disso. O restante era sombrio e incerto. Uma névoa cinzenta e obscura em meu futuro.


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Notas finais do capítulo

*morri*

O que acharam da lembrança do Aidan? Eu não contei essa parte também na noite do baile... Ele é muito fofo, não acham? Até mesmo ele sabe ser fofo quando quer!

Solomon propôs algo arriscado para o nosso galego. E agora, será que ele conseguirá lidar com o perigoso poder de um Antigo?

E muitas dicas do que houve com a Agatha estão no sonho dele. A partir daqui, as coisas esquentam, Aidan começa seu treinamento com Solomon e logo em seguida parte para Nápoles! O reencontro entre ele e Christian promete!!! E então, finalmente é revelado o que o Christian aprontou!

Super recomendo a música do Breaking Benjamin. Muito linda mesmo!

Enfim, até a próxima... E não vai cair o dedo se deixar uma review, né?

Beijos!