Fahrenheit e Absinto escrita por Aleksa


Capítulo 27
Capítulo 27




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Absinthe observa silenciosamente a aproximação da morte coberta de sangue, exalando todo o ar que tinha contido nos pulmões, fixando os olhos naquele enorme poço negro que era o olhar de seu algoz.

- Uma... Humana? – ele disse, mostrando os caninos brancos e ameaçadores, estendendo uma das mãos tingidas de vermelho a direção de Absinthe.

- Enviada dos Devareaux. – disse Valerius.

Sua mão para no ar, abrindo um pequeno e contido sorriso.

- Dos Devareaux, é? – uma risadinha frívola. – Alexis?

- Ele mesmo. – Valerius complementa, desencostando da parede.

- Agora ele tem a própria menina de recados? – ele pergunta, circulando ao redor dela, puxando um lencinho do bolso e começando a se limpar, desabotoando a pesada capa negra.

- Na verdade, a menina veio reclamar algo pra ela mesma.

Andrew solta uma pequena risada, e quando se posta de novo em frente a Absinthe, agora limpo e sem a funesta capa, parecia outra pessoa, de uma beleza tão espontânea e sombria quanto o irmão.

- Deus... Eu devo ser masoquista... Ou ter algum desejo suicida reprimido... – ela suspira, ao se conformar que achava os irmãos atraentes, e se sentir mais perturbada ainda por sentir-se assim mesmo depois de ver um deles coberto de sangue ainda não definido.

Valerius ri discretamente, pousando uma das mãos sobre os lábios como se fosse tossir.

- Pare com isso Valerius. – Andrew diz.

- Isso o que? – Valerius ri, fingindo inocência.

- Você sabe.

- Sei?

- Se não parar, contarei a Cartier sua indelicadeza com a convidada dos Devareaux, mesmo que você nem mesmo devesse tê-la consentido a entrar.

Mais um risada de Valerius. – Tudo bem, tudo bem, parei.

Absinthe olha de Valerius ao irmão antes ensanguentado e de novo a Valerius.

- Do que estão falando.

- Nada. – os dois dizem ao mesmo tempo, porém com expressões diferentes.

Absinthe considera a segurança que ela poderia perder se insistisse em perguntar.

- Ficará conosco até Cartier voltar, humana?

- Erm...

Absinthe havia visto Cartier somente uma vez, quando ele foi com toda a sua imponência sombria em trajes pretos até a casa de Alexis.

- Cartier... – ela retoma após uma pequena pausa.

- Já se falaram?

- Não, nunca.

Os dois permanecem em silêncio.

- Entendo. – Andrew se desloca até encostar pensativamente na parede.

- Claro. – Valerius diz.

***

Ambos agora encontram-se parados à porta da residência dos anjos, Cartier voltou a sua forma humanoide mostrava-se claramente desconfortável, o ar para ele era de um cheiro muito doce, incomodava violentamente suas narinas.

Duas enormes harpias de aço permaneciam eternamente empoleiradas no  alto do telhado, em dois pedestais de marfim, mas assim que  Cartier pisou na soleira da casa, tornaram-se inquietas, com as penas de metal eriçadas, movendo-se ansiosas de um extremo a outro do pequeno puleiro, obviamente, sentinelas vivas.

O principio delas, era o mesmo dos enormes cães de pedra, que eram movidos pela força de vida de seu senhor e mestre, enquanto Cartier estivesse vivo, os cães assim o estariam também.

Valsher abre lentamente a porta, lançando seu olhar imediatamente na direção de Cartier, sem proferir uma única silaba, simplesmente olhando-o com seus olhos verdes.

- Senhor dos anjos... – Cartier diz, sem demonstrar a usual servilidade por encontrar-se parado na casa de outra família. – Não viria até esse lugar a menos que fosse de vital importância.

- Eu sei disso. – Valsher finalmente manifesta. – Mas isso não me faz ficar mais feliz em vê-lo.

- A recíproca é verdadeira. – Cartier responde, suas pupilas dilatando um pouco.

- Então. – Luka diz, para desprender a atenção de ambos dos olhos um do outro, naquele silencioso convite para um embate que somente era segurado pela diplomacia.

- Filho da noite. – Valsher cumprimenta com a cabeça, educado. – O que faz em minha casa?

- Viemos pela casa de espelhos. – Cartier se adianta.

- Você sabe muito bem que não tem permissão de entrar na casa dos espelhos demônio. – Valsher diz, quase com raiva.

- Eu não, mas ele pode, anjo. – Cartier diz no mesmo tom, apontando na direção de Luka.

- Um filho da noite? Na casa dos espelhos? Você é louco cão infernal!

- Vejo que sua lealdade ao pacto se resume a palavras, harpia das neves. – Cartier diz, reclinando a postura de forma altiva, honra significa muito.

Os olhos de Valsher se estreitam, sua mão se fecha em punho ao redor da maçaneta, deformando o aço escovado e esférico.

- Você não sabe NADA sobre a minha lealdade... – ele diz, retendo sua ira silenciosamente dentro de si, com os olhos em brasa.

- Nem você sobre a minha. – as pupilas de Cartier se dilatam tomando grande parte de seus olhos, mas ainda não todo ele.

Os dois se olham nos olhos por um longo tempo. De maneira defensiva, Valsher abre caminho pela porta.

- Entrem. – ele diz. – Mas você deixa essa capa aqui fora, não quero minha casa empestada com cheiro de cachorro.

Ambos adentram a luminosa residência das harpias das neves, tudo era muito limpo, muito claro e muito branco.

Esse branco era manchado pela presença de Cartier ali, que não poderia ser mais deslocado com a paisagem, Valsher não tira os olhos dele nem sequer por um momento, e todos caminham pelo corredor, com Luka e Cartier caminhando a frente, mesmo que Cartier não gostasse de dar as costas a um anjo, a casa ainda era dele, e em tempos de guerra, era preciso que abrissem mão de algumas vontades.

Os três param em frente a uma enorme porta branca, talhada em mármore, tudo era muito frio e muito claro ali, tanto que a respiração de Cartier e também de Luka podiam ser vista em uma baforada branca.

O único que não tinha esse problema era Valsher, que apontou a porta branca com calma.

- Bem-vindos a casa dos espelhos.


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