Fahrenheit e Absinto escrita por Aleksa


Capítulo 25
Capítulo 25




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Tinha a visão embaçada, os olhos enturvecidos... e então, DOR, dor cortante, gritante, fazendo se rasgar, como ácido em suas veias, como estiletes em seus pulmões, como o inferno, como centenas de anos de punição.

Retesou todos os músculos em busca de ar que entrasse em seus pulmões, não passava, não saia, nada, congelou-se em tensão e dor profunda.

Minutos depois, quando achou finalmente que morreria, tudo, todo o caos, todo o desespero, contraíram-se em um único ponto na boca de seu estômago, e uma amarga golfada de sangue deixou seus lábios, amargo como vinagre.

E então silêncio.

Observou as manchas, respingos, feridas, cortes, marcas... Caninos cravados em marcas silenciosas...

Olhou ao redor... Vazio, sozinha, somente ela e um envelope lacrado com cera vermelha e um brasão familiar, no verso havia:

Para: Absinthe Cardelian

     De : Alexiellis Bartolomeu Nightingale Devareaux.

-      A..lexis... ? – disse pra si mesma.

“Cara Absinthe,

É bastante possível que eu não retorne nunca, talvez não por estar morto, mas porque a humilhação me impediria.

Não me entenda mal, mas meu orgulho foi tão danificado, que ficarei feliz se meu irmão cravar uma estaca dourada em meu peito e torcê-la até que eu me desfaça em pó e silêncio.

O que fiz... O que fizemos, foi um crime, um tabu, um erro grave, quebrei um juramento de sangue, com sangue do meu sangue, e atirei meu irmão na tormenta tempestuosa que é nossa mente... Eu deliberadamente o torturei, simplesmente para ceder a instinto que eu gostaria de ignorar...

A verdade, é que não importa o que lhe diga, você nunca compreenderá o quão desprezível e nojento foi o que eu fiz, minhas mãos estão manchadas com as lágrimas de minha família... Um vez mais.

Não posso nunca, jamais me desculpar com ele por isso, e espero que entenda que isso nunca mais poderá se repetir...

Explicarei da forma mais breve que puder, leve a caixa preta a casa dos Demônios, a branca a casa dos Anjos, entregue a carta, o resto, é com você.”

Esperando por uma amanhã sombrio... Alexiellis B. N. Devareaux.

E então, novamente silêncio, duas caixas, e ela, somente ela, sozinha no quarto escuro e perfumado de um portador de morte detentor de vida que agora marchava rumo a violência e sangue derramado... Talvez dele próprio.

***

- Alexis. – Dylan chama à porta, abrindo-a com um gemido arrastado de metal. – Está na hora.

Alexis olhava fixamente o teto, com os braços jogados ao lado do corpo, a expressão tétrica e silenciosa, fechada e impenetrável como de costume.

- O que é pior...?

- Hum? - Dylan abre um pouco mais a parta, colocando parte do corpo pra dentro do aposento que cheirava fortemente ao sangue quente e pulsante das veias de Alexis, sempre muito marcante e fácil de reconhecer.

- Viver em arrependimento, ou viver em vergonha?

- Por que... está me perguntando isso?

- Nada. - ele diz, pondo-se sentado rápido, suspirando e correndo os dedos pelo cabelo. – Eu só... Percebi que... Não sou confiável. – um sorriso triste e vazio. – Talvez eu já soubesse disso...

- Alexis...? – Dylan uni lentamente as sobrancelhas.

Alexis põe-se de pé, recompondo a expressão decidida e imponente de um senhor, caminhando a passos firmes até a porta.

- Chame a todos, está noite mancharemos nossas mãos de sangue, uma vez mais.

- Que assim seja feito.

Todos descem a sala, jogando-se em suas respectivas cadeiras, Luka nem sequer uma vez voltou seus olhos na direção do irmão que não mais via como um mestre totalmente inquestionável, simplesmente não podia mais segui-lo cegamente... Não podia... Não depois de...

- Hoje, nós, filhos da noite, iremos a uma guerra. -  Alexis começou a tom cadenciado. – Hoje, novamente, libertaremos nossas mortalhas para silenciar um problema maior, um problema que pode ameaçar todo o nosso reinado. – ele caminha pela sala, com as mãos nas costas. – Hoje, sairemos à caça de um traidor dos votos dos quatro poderes... Matem todos que resistirem com hostilidade.

- Sim mestre. – todos dizem exceto por Luka, que permanece observando o tapete com os braços cruzados.

Ivan toma fôlego para se manifestar, mas antes disso, a porta da frente de abre e uma névoa rasteira de fumaça negra entra pelos portões, o silêncio sussurrado de vozes cobre o ar como um alerta de almas que se arrastam pelos cantos, alertando o perigo, o terror que aquela figura de rosto coberto podia causas a toda a humanidade.

De luvas negras, e os olhos cobertos, os olhos frios cobertos por um fio d sobra e penumbra escura como a fumaça que exalava pesada por debaixo do manto de veludo escuro, com manchas pesadas de sangue seco e água.

- Filhos da noite...

Cinco dos sete se põe de pé de imediato, colocando-se entre ele o senhor da casa, que lentamente se levantou, olhando para a porta com olhar resoluto, porém não hostil.

- Cartier Stephenrhour Walsherlian. – Alexis abre um breve sorriso.

- Filho da noite, preciso da sua ajuda. – Cartier declara, abaixando o capuz escuro do manto preso com um broche trabalhado.

Alexis assente com um acenar de cabeça silencioso e surpreso.

- O traidor, veio tentar comprar minha lealdade.

Os olhos de Alexis permanecem congelados.

Os outros cinco que antes permaneciam ao redor de Alexis, tornam-se um pouco mais tensos.

- Por isso, terei de quebrar uma promessa para honrar outra... – Cartier declara, colocando a mão enluvada em um dos bolsos.

Todos colocam as mãos sob as armas brancas que carregavam consigo.

Alexis lentamente acena negativamente com a cabeça.

- Diga Cartier.

- Um de seus irmão precisará me acompanhar.

- Eu vou. – Luka se manifesta prontamente.

- Eu nem ao menos lhe disse para que, como pode dizer que irá, filho da noite?

- Não importa. – Luka diz, abaixando o olhar. – Não quero estar com ele. – seu olhar se volta de relance ao irmão que não conseguia mais seguir.

- Luka! – Ivan se manifesta fechando as mãos em punho.

- Não Ivan... - Alexis declara, colocando uma das mãos sobre o ombro direito do irmão inconformado. – É um direito dele... Vá Luka.

Luka levanta os olhos com desdém e frieza. - Eu iria com ou sem o seu consentimento, Alexis.

Lud olha com uma descrença insultada para o olhar do irmão, o olhar de alguém que havia sido descartado, menosprezado, traído.

- Luka, mas o que é isso?! – Ivan está inconformado, nunca havia visto Luka agir assim.

- ... Entendo... – Alexis, diz, baixando os olhos, resignado, não podia se queixar, sabia que o que havia feito o irmão presenciar... Era o inferno, o mais puro horror, onde minutos se tornam horas e as horas dias... Preso em meio a dor e ao desespero... Sem descanso... Sem morte... Apenas... Punição.

Luka das as costas, saindo do ressinto, acompanhando de Cartier, que se demorou um pouco à porta, trocando olhares rapidamente com Alexis, que permitiu silencioso a partida brusca do irmão.

- Alexis... Deus, ele não... Quer dizer... – Ivan se vira para contemplar o olhar temporariamente vago do irmão e senhor, que observava quieto o chão, com um sorriso morto nos lábios.

- Eu... O perdi... Perdão Luka... Perdão por fazê-lo ver... Eu... Sinto tanto...

Todos podem ver que algo como uma lágrima tenta iluminar um dos cantos dos olhos de Alexis, mas eh rapidamente refreada, contida e superada.

- Vamos... A batalha aguarda. – ele diz, caminhando determinadamente à porta.

Os outros cinco trocam olhares perturbados e preocupados... O que eles poderia fazer? O que?

***

Absinte observa a tampa de uma das caixas, a preta, que dizia, “Leve um casaco para neve”.

Ela agora seguia um pequeno mapa, na primeira rota programada no GPS do carro que havia sido deixado na porta da casa, e que ela agora diria por ruas e vielas tortuosas, subindo uma montanha enevoada, onde o vento batia e batia nas janelas como se tentasse empurrá-la da pista.

- O que será que eu devo fazer quando chegar...?

As portas de uma enorme mansão de mármore e pedra, onde dois enormes cães talhados em pedra, encontravam-se sentados à porta, olhando altivos para frente, imóveis, atrás das enormes patas, caudas, e corpos, encontrava-se um portão de aço, nele, o aço havia sido deformado até formar as palavras:

~WALSHERLIAN~

Absinthe subiu o zíper do casaco de neve até em cima, pegou a bolsa, a caixa, tomou fôlego e saiu do carro de uma vez, para que não houvesse hesitação.

Caminhou muito determinada pelos primeiros passos, subiu as escadas e parou em frente aos cães, estendendo uma das mãos para um deles e estreitando os olhos.

- Estranho... É tão real que parece estar... Respirando.

O cão fremiu um rosnado retumbante de eco e pedra vibrando.

- AH! – ela atirou o peso pra trás, quase caindo escada a baixo e deixando a bolsa cair para longe.

Os cães pisaram na direção dela, fazendo o chão sob seu corpo tremer e vibrar, ela parou de respirar por um momento quando os cães a cheiravam, ainda rosnado com os enormemente grandes dentes de mármore brilhando pela ventania daquela geada.

Os dois, em uníssono, como uma gravação de vozes frias e mortais de uma ameaça escancarada rosnaram em tom profundo que atravessou o coração de Absinthe como uma flecha congelada.

- DEVAREOUX...

Absinthe fechou os olhos com força, esperando ser dilacerada como um brinquedo de borracha barata, mas tudo ficou quieto, os cães voltaram as posições iniciais, sentando-se e voltando os olhares pétreos novamente para frente.

- Mas que barulheira é essa aqui fora...? – uma figura de negro, com um manto longo e pesado, que mal se movia na ventania forte daquele final de tarde, no alto eternamente congelado daquela montanha que até então, Absinthe desconhecia. – Quem é você? – sua voz se tornou tão fria quanto o vento que arrepiava a nuca de Absinthe agora, suas pupilas dilatando até engolirem a íris de cor roxa brilhante.

- Eu... Eu... Eu... Eu... – o nome chegava e escapava pelos dedos, brincando de sua boca sem sair, como se tivesse medo do frio que encontraria lá fora, e quisesse ficar para sempre entalado.

A figura encapuzada com o manto negro puxou uma grande espada de lâmina negra, de onde parecia verter a mesma fumaça que vertia por debaixo de seu manto, permanecendo rasteira como névoa, e escura como carvão.

Ele caminha poucos passos para frente, levantando o rosto de Absinthe com a lâmina fria e esfumaçada.

- Uma humana? – ele diz, parecendo descarta-la automaticamente da categoria de ameaça. – Qual o nome? E quem te mandou?

Absinthe se adiantou para a caixa que havia caído junto com sua bolsa, juntando as coisas que dela haviam voado e jogando nervosamente dentro da bolsa, colocando-a no ombro e arrumando a alça umas sete vezes, antes de finalmente ficar satisfeita e se levantar, arrumando a roupa amarrotada de maneira ansiosa e estender a caixa e o bilhete para o homem de capuz negro.

A pupila negra se contrai, voltando novamente ao tamanho normal, e ele estende uma das mãos pegando ambos, a caixa e a carta.

Ele corre rapidamente os olhos pelas letras rebuscadas e abre um sorriso para a humana que ainda arrumava nervosamente o vestido para manter as mãos ocupadas, já que essas suavam mesmo que estivesse menos sete graus ali.

- Entre, Absinthe Cardelian.


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Notas finais do capítulo

Olá! o/
Me digam, o que axaram?
Gostaram do capítulo?
Eu sei que eu gostei de escrever XD
Comentem, ok? o/