Fahrenheit e Absinto escrita por Aleksa


Capítulo 24
Capítulo 24




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As coisas se precipitavam, rápido demais para serem paradas e lentas demais para que não fosse possível acelerá-las mais.

Era por certo a culpa, ou a própria repulsa que trazia a Alexis um sabor amargo no fundo da garganta, tinha consciência do quanto era errado, não só por sua essência naturalmente errada, mas também pela noção cruel da solidão que infligia a sangue do seu sangue.

Mas agora, já era tarde, havia libertado aquela maldita besta, e esta agora sorria mostrando os longos caninos brancos, incentivando aquilo tudo, suprimindo a obrigação que tinha com seu juramento...

A humana, fraca e tenra já exibia na pele cortes e marcas, pequenas lacerações das unhas e dentes de seu agressor-amante, doeriam e arderiam como o inferno quando acordasse na manhã seguinte... Isso se sobrevivesse a essa, não seria surpresa se o pequeno sopro de existência que possuía fosse extirpado dela naquela mesma noite.

A pupila engolida pelo mar brilhante e medonho de um predador sem consciência, que agora brincava com a comida.

As mãos como cordas amarradas ao redor da cintura da humana, as unhas riscando a carne como facas, e os olhos como correntes aos dela.

Ela fecha os olhos com força, prendendo a respiração ao ser cruelmente invadida pelo vampiro de sangue quente que suprimiu qualquer som que pudesse fazer atando os lábios aos dela, as unhas frágeis fincaram-se na pele pálida e tão quente quanto a sua própria, vertendo-lhe sangue negro pelas pontas dos dedos, sangue que escorria por seu braço, em cadência lenta.

Não teve mais que alguns segundos a recobrar a respiração parada antes que ele voltasse a se movimentar, e sempre que este parava, sua respiração estacionava-se junto, só respirava enquanto o tinha em si.

Era demais, demais para que pudesse suportar em silêncio, um gemido sôfrego e apaixonado lhe deixou a garganta abrindo passagem independentemente de sua vontade, agudo e alto, atingindo os frágeis tímpanos do predador de maneira agressiva e abrasiva, ardendo como ácido na audição sensível, motivando a motivar o mesmo tipo de dor naquela que agora tinha para si, como uma venda para a morte certa e a iminente desgraça que pairava como nuvens de chuva sobre sua cabeça.

Talvez a extinção. Então, brindemos a morte nessa última noite.

E a guerra se instalou entre eles, antagônicos, ele, aumentando seu ritmo impiedoso e cruel, ela, agredindo seus ouvidos com a voz torturada.

para alguém que ouvisse de fora, poderia supor que a estavam matando, matando-a com frígidas facas.

Porém não havia nada de frígido, era uma cruel tortura voluntária e inebriante a ambas as partes, que iam se afundando mais e mais em sua ações revanchistas.

As unhas femininas desceram a pele pálida em cortes paralelos, arrastando as feridas antes pontuais em linhas verticais seguidas pelo verter de sangue quente que agora escorria e pingava nos lençóis brancos.

Ao ver ser próprio sangue derramado, um arrepio gelado subiu sua espinha, fazendo os caninos latejarem como o coração em seu peito. E, por vingança, por desejo, estes caninos foram sanar sua agonia cravando-se na pele daquela tinhas suas unhas rasgando sua pele.

E por fim, horas depois, Alexis observa a figura desacordada da humana cuja vitalidade ele havia drenado, e agora se encontrava inerte em sono solto e profundo.

Ele olhava fixamente o ponto fixo de lua brilhante do lado de fora da janela brilhante.

- Já faltei com meu juramento... Será que agora pode me deixar em paz? - ele joga o rosto nas mãos cheio de desesperança.

Já consegui o que queria... O que fará daqui para frente... Não me diz respeito...

- Criatura repulsiva... – ele lamenta.

Contemple... Aqui que você é... E volte a mentir pra você mesmo... Mas eu sempre estarei aqui... Eu sempre serei a sua amarga verdade Alexis... Sempre...

A risada de escárnio reverberou em seus ouvidos até sumir.

***

Luka desperta de ímpeto, com as pupila contraídas em alerta e a respiração desestabilizada, tremendo de frio até os ossos.

Lágrimas que secaram e voltavam a verter, haviam manchavam seu rosto, e eles a secou ativamente, observando as mãos pálidas, trêmulas, tentando se lembrar de onde estava.

- Luka! Luka, calma. – Ivan segura os ombros do irmão estressado.

- Ivan... Eu... Eu vi...  – ele tentava articular.

- Eu sei, sei disso. Esqueça...

As pupilas de Luka começaram a reagir novamente a claridade, aceitando o ambiente que o cercava.

***

Muito longe dali, no alto de montanhas altas que ladeavam a fronteira, Cartier saia resoluto de dentro da mansão de sua família, com o frio cortante do vento correndo por entre seus cabelos negros e lisos.

Dois enormes cães de pedra encontram-se parados à porta, sentados, encarando altivos o caminho coberto de uma fina camada de gelo reluzente.

- Não permitam que ninguém entre até o meu retorno, estou partindo. – ele declara, resolutamente jogando a capa negra sobre as costas e seguindo pelo caminho, sendo saudado com um longo uivo de despedida.

O vento assopra cortante, enquanto os grandes cães de pedra se postam diante da passagem na porta.

Cartier segue pelo caminho, com os olhos tão cortantes quanto o próprio vento, parando ao ouvir uma leve movimentação.

- Não me faça tingir esse manto branco com a cor do teu sangue...

Um mestiço de olhos engolidos por uma pupila negra, dentes afiados e unhas longas surge de detrás de uma pedra, com os caninos à mostra, rosnando com um fremir intermitente.

- Ponha-se no seu lugar. – Cartier avisa, virando-se para ele, com os olhos se estreitando levemente.

O mestiço, ciente do perigo possível. limita-se a dar um passo pra trás, olhando submisso a Cartier, atenuando a expressão a fim de não irritá-lo.

- Perdoe minha insolência mestre... Fui mandado... Mandado para perguntar-lhe se tomou sua decisão.

Os olhos de Cartier tornam-se medonhos e frigidos.

- O traidor esta me pressionando...? – ele pergunta baixando perceptivelmente o tom de sua voz.

- Não senhor. Nunca! – o mestiço engole em seco.

- Pois diga a ele... – ele diz, caminhando cadenciadamente na direção do mestiço que se encolhe a cada passo de seu mestre e senhor. – Que prefiro ter o sangue de meu irmão jogado as portas de minha casa... A ter de me aliar... Com uma criatura imunda e nojenta como ele... -  ele finalmente para em frente ao mestiço, que agora tremia, não pelo frio, mas pelo medo da figura de negro, que exalava fumaça pelos olhos engolidos pela pupila negra e opressiva.

- Sim meu senhor, passarei seu desejo a ele meu senhor...

- Diga-lhe também, que se ousar ferir alguém de minha família... Farei questão de dilacerar lhe a alma com os dentes...

- Sim senhor, como desejar meu senhor...

E assim o mestiço some, deixando apenas o vago cheiro de medo no ar.

- Hump... Pobre criança perdida...

Demônios, diferentemente dos Filhos da Noite, não caçavam seus descendentes, um vez que seu vírus não era transmissível, apenas pela herança genética, e uma vez que era inférteis com humanas comuns, só tinham as fêmeas se sua raça... Porém seus senhores controlavam qualquer tipo de interação com punições severas e torturantes, logo, eram submissos e não tentavam ir contra o desejo de seus senhores.

Mas agora... Com a chegada do traidor, achavam que se unindo a ele, teriam liberdade para viver como desejassem... Doce engano.

Crianças perdidas, assim eram chamadas, alimentavam-se de carne como seus senhores, porém não tinham a racionalidade, ou a força de seus senhores, que controlavam sua matilha com rigor e opressão.

- Terei de chamar os Filhos da Noite. – disse, olhando para cima com desconsolo e rigidez.

***

Alexis cruzou a porta com sua cotidiana expressão de indiferença, deu poucos passos dentro da casa antes de Luka surgir e lhe desferir um tapa forte no rosto, que estalou e ressoou retumbante pela casa.

- EGÓISTA! Como pode fazer aquilo comigo?! Como?!

Alexis permaneceu em silêncio, aceitando a frustração do irmão com os olhos baixos, merecia aquele tratamento.

- Durante todos esses anos... Segui você, sua palavra, CONFIEI EM VOCÊ! E VOCÊ ME ABANDONOU!

Alexis nem ao menos se moveu, iria escutar silencioso tudo aquilo que merecia ouvir por jogar o irmão na escuridão.

- OLHE PRA MIM! – Luka grita, as janelas estremecem.

Alexis volta o olham contido na direção do irmão, seus olhos brilhavam irados, cheios de angustia, traição.

- Espero que tenha se divertido com seu brinquedinho Alexis, tomara que tenha valido a pena... Por que a minha confiança você perdeu...

Luka da meia volta, subindo as escadas, batendo a porta. O silêncio constrangido e pesado se segue a subida dele.

- Alexis... Ele não quis... – Ivan começa.

- Não Ivan, ele quis sim... E eu mereço... – ele suspira, olhando para o teto. - Eu faltei com meu juramento... Meu juramento com a família... Faltei com ele por que fui fraco, por que fracassei... Mereço esse tratamento.

- Alexis...

- Vocês confiaram suas vidas à mim. Eu faltei com essa confiança, assim como eu inflijo punições a vocês, mereci o que houve, fui impulsivo, e foi isso que aconteceu... Perdi Luka... Terei de... Viver com isso.

Ivan o observa por um longo momento.

- Está tudo pronto para a batalha que virá esta noite?

- Está.

- Muito bem, vou dormir até a hora de partirmos, me avisei quando chegar, está bem?

- Certo...

Mas Alexis estava longe de querer dormir, estava exausto, sim, mas não dormiria... Só não... Não queria continuar ali pra ficar revivendo de novo e de novo o erro que havia cometido com o irmão.


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Notas finais do capítulo

Perdão por deixar vocês esperando TOOOOOODO esse tempo... Mas eu simplesmente não tinha tempo nem pra viver...
Desculpem, desculpem, desculpem >.
Espero q vcs gostem do capítulo >,
Bem, beijos e juro que vou tentar postar mais.