Fahrenheit e Absinto escrita por Aleksa


Capítulo 23
Capítulo 23




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Luka terminava de limpar a casa quando um arrepio gelado subiu sua espinha.

- Acordado?... Alexis acordou?... Por quê?...

O vaso que tinha em mãos foi lentamente escorregando por seus dedos, até cair e se despedaçar no chão, suas mãos ficaram cada vez mais geladas, tremendo como se estivesse nevando dentro de casa.

- Dylan...

A consciência lhe faltou, seus joelhos fraquejaram e ele foi ao chão, Dylan atravessou a sala como um fantasma, pegando o irmão nos braços antes que este atingisse o chão.

- Lud!

Ludwig que acabara de voltar, havia sido severamente repreendido pelo irmão russo, este estava furioso com a negligencia em abandonar o irmão italiano sozinho num lugar lotado em tempos de guerra... Era dever dele manter o irmão seguro, protegerem-se mutuamente, não eram caçadores solitários que atacavam sozinhos bandos de mestiços simplesmente pelo prazer pessoal de fazê-lo.

Isso os diferenciava daquilo que caçavam, suas emoções, sua família, eram apenas sete, e não podiam se dar ao luxo de deixarem-se abater como presas.

Lud se aproximou pelo corredor, e ao observar a figura pálida e inerte de Luka nos braços de Dylan atravessou a sala com o coração na boca, este já estava na metade do caminho desde que a culpa começou a corroê-lo pelos cantos.

- Luka! Dylan o que aconteceu?! – Lud pergunta, ajudando-o irmão a carregar o corpo inerte de Luka até o sofá.

- Não sei... Ele disse que Alexis tinha acordado, derrubou um vaso e desmaiou.

- Acor...dado? – Lud repete.

- Isso... Você não acha que...?

- Talvez...

- Acha que devemos ir até lá?

- Acho que agora não...

- Do que se trata? – Ivan desce a escada, depois de desamarrar o irmão do armário.

Giovanni saiu se arrastando até o seu quarto, onde ficaria por alguma horas.

- Luka desmaiou. – Dylan diz.

Lud ainda não tinha coragem de olhar o irmão nos olhos, não depois de se sentir humilhado como havia sido previamente, agora, sua honra enquanto membro da irmandade estava comprometida e ainda doía com a laceração recente.

Precisava de tempo para lamber suas feridas como a fera ferida que era, e somente então poderia virar-se para o irmão russo e dizer-lhe que ele tinha razão.

- Alexis deve ter acordado. – ele disse, falando consigo mesmo, como costuma fazer quando está ponderando um assunto.

- Como sabe...? – Dylan pergunta.

- Luka cansa-se muito quando Alexis desperta, sendo o segundo na linhagem familiar, Alexis e ele compartilham uma ligação profunda mentalmente falando.

- E? – Dylan pergunta, impaciente.

- Quando o predador dentro de Alexis desperta, ele levanta uma cortina de ferro na mente de Alexis que impede que Luka se comunique de qualquer modo com a mente do irmão.

- Aham...

- Alexis e Luka são gêmeos, só podem trabalhar bem quando estão em contato. Como Luka não está em contato com o irmão, uma vez que não despertou também, ele dorme, até que o irmão volte ao normal.

- Ah... Ele... Vai ficar bem?

- Relaxe Dylan, não é nada grave, Alexis sabe disse tanto quanto eu, tudo voltará ao normal logo.

- Como sabe disso? – Lud atreve-se a perguntar.

Ivan volta o olhar ao irmão germânico, um olhar ainda repreensivo, que dizia que ele ainda não tinha o direito de se manifestar, não antes de pedir perdão a Giovanni.

- Luka e eu conversamos bastante, ele comentou isso em algum momento enquanto esperávamos que você regressasse.

- Hum... – ele diz, sem acrescentar mais nada.

***

Cruel. Sabia que estava nocauteando Luka ao deixar que sua alma se manifestasse assim, sem avisá-lo... Teria de arcar com a escolha imprudente e impulsiva depois, e explicar para o irmão por que exatamente ele ignorou a pessoa dele sem nenhum tipo de alerta e desbragadamente o deixou cego e no escuro até aquele momento.

E quando explicasse com certeza levaria um tapa... Talvez dois... Na pior das hipóteses alguns objetos seriam atirados contra ele... Mas ele merecia, por aprisionar o irmão na escuridão da inconsciência de sua mente.

Era baixo, primitivo, se render aos apelos da carne... Ridículo, se falasse em voz alta com certeza riria de sua atitude medíocre.

Mas agora, com a humana abaixo do peso de seu corpo, em seu quarto, caminhando para um fim que sabia qual era, podia  perdoar-se por algumas horas até que tivesse satisfeito a alma irritante que lhe clamava por contato físico a alguns séculos.

***

Ao longe, Luka ouvia os ecos abafados das vozes dos irmãos, estava claro ao seu redor, e tudo era branco, tanto que fazia seus olhos latejarem, lhe causando uma horrível sensação de queimação.

- Não posso dizer que estou surpreso...

A voz lhe soou familiar, porém não era confortável, procurou em meio a claridade luminosa o emissor daquelas palavras, e, com alguma dificuldade, conseguiu colocar uma porta em foco.

Caminhou até lá girou a maçaneta, entrando no ambiente escuro vazio, com uma leve sensação de umidade, lá dentro o eco de seus passos era ouvido com distinção.

- Olá Luka... O que me dá a honra d sua visita? – o som baixo e profundo fez seus olhos se voltarem a origem do som.

Lá, com os olhos medonhos e luminosos, SEUS olhos arrepiantes e luminosos, Luka se deparou com sua imagem acorrentada à parede de pedras, com os braços e pernas amarrados a pesadas correntes douradas, com lacerações medonhas nos locais onde as correntes o tocavam, que haviam cicatrizado e sido abertas de novo e de novo por muitas e muitas vezes. A pele pálida parecia molhada com água, os olhos sem brilho e sem foco o atravessavam como punhais prateados, e o cabelo úmido e desalinhado se espalhava por suas costas de vestes brancas e rasgadas, manchadas de sangue e lágrimas, parte das mechas louras que seriam lindas e perfeitas, estavam espalhadas por seu rosto.

Luka deu um passo pra trás, trazendo as mãos à boca e refreando um grito de horror.

- Meus Deus...

- É bom vê-lo também... – ele esboça, os caninos longos e brilhantes a mostra atrás dos lábios exangues e rachados quando ele fala.

- Q-Quem...

- Eu?... Sua alma... Vê o que você fez comigo...?

- Como...? Você... Se parece tanto...

- Com você...?

Ele se limita em acenar com a cabeça, caminhando horrorizado e em passos incertos em direção à figura ajoelhada no chão, acorrentada e ferida, com olheiras azuladas fundas embaixo dos olhos predatórios.

Sem tirar os olhos da figura que agora tinha os olhos voltados ao chão, ele estende uma das mãos em sua direção, na intenção de comprovar que realmente estava ali.

- NÃO ME TOQUE!

O som daquela voz parece soar como uma pedra atirada com força contra sua cabeça, ricocheteando num eco doloroso dentro de sua mente. Ele perde um pouco do equilíbrio, apoiando na parede alguns passos para a direita.

- Renego você... Deixe-me morrer em paz... Fingiu que não me ouvia até hoje... Ignorou minha tormenta... Minhas lágrimas... Minha dor... Continue a ignorar meu sofrimento... Prefiro morrer de uma vez... E espero que você morra também... – ele volta seu olhar na direção dos olhos de Luka.

Luka engole seco, era fato que às vezes, muito vagamente, ouvia algo como um lamento dentro de sua mente, mas não imaginava aquilo...

Ao se morrer, as correntes se apertaram com mais força ao redor dos braços da alma torturada de Luka, como cobrar tentando estrangular a vítima indócil e desesperada.

Ele se encolheu num gemido sôfrego, o cheiro de queimado levantando das bolhas horríveis que se formavam em sua pele, conforme as correntes douradas se moviam por sua pele em direção ao seu pescoço.

Tisssss...

O horrível som de queimado e as bolhas laceradas de pele brutalmente violentada, seguido pelo grito de agonia da vítima torturada, lágrimas prateadas escorriam por seus olhos, enquanto as gotas grossas e pesadas de sangue desciam por seus braços.

Ele tremia, com a respiração instável, encolhendo-se contra a parede.

Aquilo trouxe lágrimas aos olhos de Luka, era horrível, era cruel... Como podia estar fazendo isso com sua própria alma...? Era... Doentio...

- Fui que... Fiz isso?

Os olhos manchados de marcas de lágrimas tanto recentes quanto muito mais antigas se voltaram a Luka e sua culpa, as palmas de suas mãos suavam frio.

- Isso?... Sim... Sim... Foi você... Você que me mata... Que tortura... Todos os malditos dias de minha infame existência... Por que não me matou...? Por que me faz passar por isso...? Não fiz tudo aquilo que me mandou...? – sua expressão estava cheia de dor, de sofrimento, de desesperança.

- Desculpe... Desculpe... – Luka repetia, não tinha ideia do que estava fazendo com ele, com sua pobre alma torturada. – Eu não sabia disso... Não sabia o que estava fazendo com você...

- Comigo?... Eu sou você... Somos uma só coisa... Mas você insiste em me torturar... Me violentar... Gosta do meu sofrimento...? O que fiz pra merecer que me desprezasse tanto...? O que...? – ele soluçava, o sangue escorrendo pelos braços e pelo pescoço lacerado.

Era verdade, Luka o havia prendido, e frequentemente sentia-se feliz por agora não ser mais o monstro que foi, agora ter vivido com os humanos, sentindo-se mais livre da culpa das mortes que havia causado no passado... Mas isso tudo havia passado, sumido quando viu o horror que infligia ao predador que estava torturando tanto, tanto... Por todo esse tempo...

Sentia o estomago dando voltas enquanto olhava para si mesmo naquele estado, morrendo, chorando sobre uma poça úmida do próprio sangue derramado.

- Como? Como posso soltá-lo? Pelo menos colocá-lo em algum lugar onde não sofra tanto...

- Não quero sua piedade! Não sou um cão! Espero que a culpa te consuma! E que você tenha pesadelos para o resto de sua vida imortal!

As correntes se estreitaram mais ao redor dos braços dele, chiando e estalando com a carne queimada, ele novamente geme de dor, fechando as mãos em punho, ouvindo o som de sua pele se queimando mais e mais.

Ouro... Correntes de ouro...

- Não! Eu quero ajuda-lo! Por favor... Por favor... Me deixe ajudar...

- Falta pouco agora... – ele ofegou. – Estou fraco... Cansado... Tão... Tão cansado... Logo a morte vira me levar... Logo essa tormenta vai finalmente chegar ao fim...

- Não... Não... Eu não quero... – as lágrimas escorriam pelo rosto de Luka conforme o cheiro de queimado lhe invadia as narinas.

- Não quer?... E onde você estava todos esses anos?... Hãn?... Será que você não percebe...? Só você é responsável pelo que sobrou de mim... E quando eu me for... Você estará sozinho... Pela eternidade...

Luka o olhou com a dor martelando no peito, ele tinha razão, era tudo, tudo verdade... Como podia ter feito isso...? Como...? Como podia tê-lo ignorado por tanto tempo... O que tinha feito...?

A sala estremeceu, Luka caiu sentado, o ambiente todo tremia e nas paredes se abriam rachaduras.

- Me perdoe... Por favor, me perdoe...

As correntes se afrouxaram e foram de engolidas pelas paredes, como raízes de árvore ao serem arrancadas da terra, o peso do corpo antes ali atado, despencou ao chão, os joelhos lacerados pela penitência, as queimaduras profundas que deformavam a figura, antes perfeita.  

- Não pode mesmo me deixar partir em paz...? Egoísta... Canalha... Eu desprezo você...

Você vai acordar... 


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo ^^
Não me odeiem XD
Mas eu queria fazer um capítulo falando um pouco dos outros, e do Luka, ele terá metade d um capítulo focado nele.
Tomara que voces gostem dele como eu gosto ^^
E ai? O que acharam? :D



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