Fahrenheit e Absinto escrita por Aleksa


Capítulo 20
Capítulo 20




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Luka sente os músculos dos ombros cheios de tensão, tensão que não estava ai antes... Oh céus... Por que seus ombros tinham de pagar tão caro por seu estresse?

- Ivan, você viu Lud em algum lugar?

O rapaz alto de cabelos caramelo encara os olhos prateados de Luka com certa distração.

- Ele e Giovanni devem ter saído novamente, ele parecia muito irritado quando o encontrei hoje. – ele fecha o livro que tinha em mãos e coloca debaixo do braço.

- Hum... Faz tempo que não consigo falar com Alexis, a humana deve estar mantendo-o ocupado. – um suspiro exala sua garganta.

- O que quer com Lud?

- Saiu de cabeça quente, brigou com um imortal.

- Não muito surpreendente. – Ivan declara com calma.

- Bem, o problema é que esse imortal foi Caim, o senhor da casa dos de Vanice.

- Oh... Isso é um problema um pouco maior.

- E Alexis disse a ele que não era páreo para ele. Mesmo que seja verdade, sabe como Lud detesta ser contrariado, e ainda foi desacreditado pelo irmão. Lud acredita cegamente nas escolhas de Alexis.

- Acho que o frágil orgulho dele levou alguns arranhões.

- Não quero que ele saia caçando mestiços sozinho, mas ele geralmente arruma brigas quando se frustra. – mais um suspiro. – Nada positivo...

- Bom, acho que é melhor assim, Lud é crescido, é inclusive mais velho do que eu, mas é estourado, e precisa de uma válvula de escape. – Ivan da de ombros. – Se essa válvula de escape são batalhas medievais com criaturas condenadas, que assim seja.

- Queria ser calmo como você Ivan. – Luka senta e apoia a cabeça em uma das mãos. – Todo esse estresse estraga as minhas parcas horas de sono...

- Talvez se sentisse melhor se não morasse numa boate, meu caro. – Ivan senta-se no braço de uma das cadeiras, colocando o livro sobre as pernas.

- Ah não, você também não. Alexis vive insistindo pra eu me mudar de lá. Não sou nômade como ele, o pedido dele é somente baseado no fato que ele detesta barulho.

- Já considerou a possibilidade de ele ter razão?

Mais um suspiro. – Sabe Ivan, às vezes eu acho que se tivesse uma mãe, ela seria como você.

- Vou considerar isso um elogio. – ele volta a abrir o livro, atirando-se lateralmente no sofá de cor bege.

- Dylan? O que houve?

O rapaz mais ou menos de mesmo tamanho que Luka sai do corredor pouco iluminado, penteando o cabelo escuro de cor preto-azulado que refletia sob a luz com um tom de azul-petróleo. Usava roupas leves e estava encharcado, com pequenas manchas aquareladas de rosa na camisa cinza de malha macia; a calça de jeans escuro exibia pequenos rasgos nos joelhos que não estavam lá antes; e as mãos estavam brancas, pingando água gelada.

- Tive alguns problemas no caminho pra cá

- Não estava a caminho daqui quando os problemas aconteceram, irmão. – Ivan se manifesta. – Onde você estava, realmente?

Dylan desvia o olhar prateado em outra direção.

- Dando uma volta.

- Me sinto inclinado a não acreditar em você. – Ivan declara, novamente fechando o livro, mas com um olhar um pouco mais grave que o tom de voz tranquilo.

- Pouco me importa o que você se sente inclinado a fazer Ivan.

Ivan levanta, atravessando a sala numa fração de segundo, parando em frente a Dylan, seu olhar parecia rasgá-lo em pedaços.

- Fale a verdade ou vou matar você.

- Mataria seu próprio irmão? – o olhar nos olhos de Dylan era cético.

- Não. Por isso mataria você.

- O que está querendo insinuar? – ele estreita os olhos.

- Demônio.

- Do que está falando? Acho que anda lendo de mais.

- Está usando o anel na mão errada. – Ivan cruza os braços. – E Dylan tem sotaque do sul da Espanha, só que é fraco o bastante pra quase não ser notado.

Luka ri discretamente a vista das observações metódicas do irmão.

- Fale logo o que quer aqui Lokke. – Luka se manifesta. – Antes que Ivan fique sem paciência.

Um suspiro frustrado. – Muito bem, muito bem. – Lokke estala os dedos, voltando a se parecer com o que deveria, um demônio vestido de preto com olhos violeta, assim como o restante de sua espécie. – Cartier me mandou dar um recado.

- Hum?

- Ele convocou uma reunião, pra tratar da aliança que provavelmente faremos para resolver a questão do traidor.

- Ah, sim claro. Espalharei a notícia.

- Obrigado Luka. – Lokke sorri, naturalmente irônico. – Aliás Ivan, para com essa história de querer matar o mensageiro, viu? Não é educado.

Ivan havia se recostado na parede, e ao receber o comentário imbecil, estreita o olhar, afilando sua íris.

Lokke se torna um cão negro de tamanho mediano, era o mais novo de sua família, e também o que tinha menos noção de perigo.

***

- Lud, io acho que não é uma boa ideia você ficar desafiando os chefões. – Giovanni diz, rodando o copo que tinha em mãos sobre a mesa de madeira grudenta depois de uma noite toda de bebidas derramadas e suor escorrido.

A música ritmada e sem letra de alguma melodia descartável feita especialmente para lugares assim martelava alto e fazia as bebidas nos copos das pessoas próximas ao bar tremerem no mesmo ritmo.

- Ele invadiu nossa casa. Nossas leis são o que? Sugestões?

- Ele e o fratello podiam ter coisas importantes a discutir. Sabe como aqueles dois são, gostam de se desrespeitar mutuamente. – Giovanni da de ombros.

- Imortal esnobe e confiado.

- Pode ir descontar a frustração por ai, Lud. Ainda faltam mais... – uma rápida conferida no relógio. – Seis horas pra amanhecer.

- Vai ficar bem sozinho Giovanni?

- Preciso sair pra caçar.

- Não acho que vá precisar andar muito. – Lud volta o olhar pra massa dançante de corpo atrás deles, onde humanas com saias minúsculas dançam compassadamente o martelar mecânico da “música”.

- Talvez eu nem precisa andar.

Giovanni observa uma loura que o encarava do outro canto da sala, sentada numa mesa com as amigas que fofocavam e davam pequenas risadinhas enquanto olhavam pra ele.

- Acredito que não.

- Boa caçada Lud.

- Igualmente.

- Ciao. – Giovanni acena com um sorriso.

A loura se levanta do lugar onde está, jogando o cabelo pra trás, com as intenções claramente estampadas na cara.

Giovanni já não a leva a sério por estar num lugar como esse, e menos ainda depois de contemplar o minúsculo conjunto preto de vinil que ela usava, com uma ridícula blusinha tão justa que era possível se preguntar se ela realmente respirava, e uma saia tão pequena que aparentava mais ser um cinto.

Ela se aproxima jogando os longos cabelos novamente por sobre o ombro e sorrindo pra ele.

- Olá. Me chamo Stephanie.

Em casos como este, Giovanni podia ser dois tipos de pessoa, se levasse a humana a sério (coisa que não acontecia nesse momento, uma vez que essa se parecia mais com um objeto sexual que com uma mulher) ele podia ser um perfeito cavalheiro, com todo o charme italiano que lhe fora ensinado ao longo dos séculos, ou, nesse caso, um cafajeste sem um pingo de consideração.

- Seu nome não me importa muito. – ele declarou, apoiando no balcão e deixando o copo. – Mas só para efeito de reciprocidade, me chamo Giovanni.

A mulher imediatamente derreteu sob o forte sotaque italiano que Giovanni não tinha a menor vontade de esconder.

- Oh... Entendo.

Giovanni arrastou a tal Stephanie pra fora pela mão, testemunhas demais, e não estava disposto a lidar com isso agora, saíram deixando as amigas dela rindo na mesa e conversando sobre como ela tinha sorte.

Os dois saíram e ela a colocou contra a porta, usando-a para manter a porta fechada, a música irritantemente ritmada fazia a porta vibrar sob suas mãos, e sem muito mais que quisesse dizer, fincou os dentes no pescoço da humana, que perdeu o equilíbrio sobre os saltos agulho e começou a cair.

Ele a manteve em pé segurando-a pelos ombros, ela cheirava a litros de bebida, a fumaça de alguns narcóticos, suor e perfume francês. Mas o sangue não era de todo ruim, tinha o gosto característico de licores e vinho tinto, bastante doce, um pouco enjoativo, mas nada demais.

Quando finalmente se cansou dela, largou seu pescoço, cicatrizando as feridas localizadas e lhe disse, em tom baixo e grave.

- Nós saímos, eu mudei de ideia, disse que não queria nada com você, lhe disse um monte de impropérios. Entre e vá chorar no banheiro.

Assim que se afastou dela, ela lhe deu um tapão em entrou correndo e chorando, se perdendo na multidão de corpos que se espremiam em meio à pista de dança.

Com uma expressão entediada, Giovanni pousou a mão sobre a marca quente e ardente da mão da humana que havia humilhado metaforicamente, absolutamente absorto e distraído com outros pensamentos.

- Se eu sentisse dor com isso, talvez eu ficasse chateado. – ele diz, quase que para si mesmo.

De repente uma dor lancinante lhe queimou o peito, quando olhou pra baixo, uma mancha negra se espalhava por sua camisa branca, empapada com seu sangue.

Caiu de joelhos, sentindo cada nervo do corpo queimar, só existe uma coisa que pode lhe causar esse tipo de efeito...

Balas de ouro... Mas onde encontraram tanto ouro pra fazer uma bala?

- Giovanni? – Dylan parou, estava a caminho da casa de Alexis quando foi acometido por um frio na boca do estômago, e o nome de Giovanni lhe veio à mente. – Giovanni!

Sumiu como um borrão pelas ruas, nada mais que uma leve ventania, até parar em frente à boate, a música e as luzes atordoavam seus sentidos, mas era de suma importância que encontrasse ele, era indispensável!

Ele estava morrendo...

Deu a volta na boate pela esquerda, sem ver movimentação anormal, no interior, ou na porta de entrada. Quando se enfurnou pela estreita viela mal iluminada da porta dos fundos, foi nocauteado pelo cheiro forte do sangue de Giovanni, apressou-se até o foco do cheiro que sentia, encontrando o irmão recostado no chão, dobrado sobre a enorme poça que lhe vertia por entre os dedos.

- Droga...

Colocou o irmão nas costas e sumiu pelas ruas para a casa do único que saberia o que fazer... Alexis.

- Alexis!

Chutou a porta da frente, Giovanni já estava inconsciente em seus braços, pálido.

Sem parar pra perguntar nada de inútil, Alexis jogou o celular a Absinthe.

- Ligue para Luka, ele eh o segundo número da discagem rápida. Agora!

Trêmula ela apertou o botão da discagem rápida de imediato e esperou segundos excruciantes antes de espera antes de a voz melodiosa de Luka dizer:

- Alô? Alexis, o que foi?

- Luka! Giovanni foi baleado! Ele-

Antes que ela dissesse qualquer outra coisa, o som do telefone desligando e o insistente beep, beep, beep, invadiu seus ouvidos. Ela nem sequer teve tempo de puxar o ar novamente, Alexis virou para ela e disse, aflito e impaciente.

- No andar de cima, pegue a caixa preta sobre o criado mudo. VAI!

Absinthe disparou escada acima, passando os olhos por uma fração de segundo na figura branca e inerte de Giovanni, engolindo seco ela adentrou o quarto de Alexis, procurando a caixa preta.

Seus olhos baixaram sobre uma pequena figura quadrada sobre o criado mudo, sem pensar ela se lançou sobre o pequeno cubo de ferro escuro e desceu as escadas trotando rapidamente até a sala, Dylan a interceptou no caminho, pegou a caixa e sumiu novamente até o sofá de onde o sangue gotejava.

A sangue frio, Alexis enfiou os dedos por dentro do buraco necrosado de onde a bala veio berrando instruções a Dylan, que segurava a caixa, com as mãos trêmulas.

- Peque o vidro branco e jogue pra mim.

Dylan estava sem reação.

- AGORA DYLAN!

Um barulho corrosivo foi ouvido, com as mãos sendo violentamente agredidas pelo ouro Alexis arrancou a bala do interior do corpo de Giovanni, com as mãos feridas e queimadas, mas sem alterar a expressão.

Dylan atirou um pequeno vidro branco na direção de Alexis, que o pegou no com as mãos ensanguentadas, de onde pingava o próprio sangue e o sangue do irmão.

Ele quebrou a ponta, rasgando a frente da camisa, onde uma enorme mancha negra de aspecto pavoroso fazia borbulhar a carne de Giovanni, Alexis despejou de uma vez só todo o conteúdo do vidro com tamanho semelhante a um copo de água, e rezou para que ainda houvesse tempo, para que ele ainda tivesse salvação.

Um tempo depois, o liquido começou a escorrer para dentro dos buracos, das lacerações, das queimaduras gangrenadas.

Absinthe aguentava firme a visão que tinha de contemplar, engolindo o medo e o choro, não iria chorar, seria forte e aguentaria como devia ser.

 A pele morta começou a descolar dos ossos de Giovanni como se fosse fervida, dos olhos de Giovanni vertiam lágrimas da mais pura agonia, e ele não respirava, a dor mais torturante que qualquer pessoa pudesse sentir, e do fundo de sua garganta saiu um grito de desespero que fez o sangue de Absinthe gelar dentro do corpo.

Os órgãos, pele, musculatura, nervos de Giovanni começaram a se reconstituir, uma visão tão perturbadora quanto a primeira.

O jantar de Absinthe se revolta dentro de seu estômago, mas ela o engole novamente assim como fez com o choro e o medo que ainda se debatiam dentro dela.

Luka irrompeu porta à dentro, virando-se instantaneamente para Alexis com olhos agoniados.

- Deu tempo...?

- Deu... – Alexis deixa o peso do corpo cair no chão, sentando-se ao lado do sofá, finalmente respirando.

Agora tudo era silêncio, Giovanni já estava novamente refeito, e jazia desmaiado e pálido, imóvel em meio a uma poça negra do próprio sangue. A pele que dele havia se destacado, agora se tornava cinzas, e se misturava a poça negra de sangue que gotejava no chão.

- Pode levá-lo com você, Luka? – Alexis pergunta, voltando seu olhar para o chão.

- Posso. Ajude-me a carrega-lo até o carro Dylan.

Em passos lentos Dylan foi saindo de seu transe de estresse e foi ajudar o irmão a carregar Giovanni até o carro.

Alexis levantou, ensanguentado e com a mão ferida, e agora que a adrenalina começava a se estabilizar, ele começava a sentir a dor lancinante da ferida aberta. A bala encontrava-se no chão.

Luka e Alexis conversam por alguns instantes, e então ele e Dylan partem, deixando Alexis se livrar do sofá que sofreu perda total.

Ele larga o sofá no jardim voltando para limpar o chão, olhando a mão ferida por alguns segundos, antes de estender a mão para limpar poça de sangue.

Absinthe coloca a mão sobre um dos ombros dele.

- Vá tomar banho, eu resolvo isso.

- Eu não pedi a sua ajuda.

- Isso não me impede de oferecê-la.

Por alguns instantes ele a olha nos olhos, antes de se dirigir ao seu quarto, escada acima.

Absinthe limpa o chão da sala, com a sensação de que tinha sido profundamente inútil, e do quão mal ela se sentia por ter sido tão inútil assim, não queria ser um peso, mesmo que já estivesse sendo.


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Notas finais do capítulo

Olá a vocês caros leitores o/
Bem, eis ai mais um capítulo.
Vou viajar, e quando voltar, postarei novamente.
Aos q acompanham Doll House, prometo mais uns dois capítulos tbm ^^
Mas enquanto isso, digam-me, o q acharam? :D