Fahrenheit e Absinto escrita por Aleksa


Capítulo 19
Capítulo 19




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Acordou sobressaltada, sentando-se na cama, verificando o ambiente ao redor... Estava tudo estranhamente em ordem... Ela estava vestida, sentia-se levemente dolorida... Mas nada do que deveria sentir, estava dormindo numa posição ruim na verdade, aquilo não tinha nada a ver...

Foi... Real?

Levantou com as mãos tremendo, procurando qualquer indicio que provasse que não estava louca, que não estava delirando... Que não estava sendo completamente psicótica com fantasias doentias sobre a própria morte, e sexo, e... Deus no que ela estava pensando afinal?!

Sentou-se frustrada na cama, não sabia se era real ou não... Pareceu real... Tão... TÃO real que quase conseguia sentir as presas dele em seu pescoço lhe sugando e vida e... Algumas outras coisas...

Seu rosto enrubesceu de forma descomunal, jogou o rosto nas mãos em desespero absoluto, havia mesmo sonhado aquilo? Por Deus, tinha de saber se era real, não era possível que a melhor noite de sua vida toda tivesse sido um mero devaneio de sua mente enlouquecida...!

Saiu pelo corredor aos tropeços, não conseguindo firmar os joelhos conforme as imagens iam passando por sua memória, e seu coração ia disparando, até atropelar Alexis no meio do corredor, e ambos irem parar no chão.

- O que te persegue humana? – Alexis pergunta, desinteressadamente, parado sobre o peso da humana sentado sobre o seu peito.

- Ai meu Jesus! – ela atira o próprio peso pra trás, batendo a cabeça na mesinha próxima ao espelho. – Ai!

Alexis arqueia a sobrancelha em curiosidade palpável. – Perdi algo?

- Alexis... – sua voz saiu trêmula e esganiçada, mais do que o que ela gostaria...

- Hum?

- Deus, eu não sei como lhe perguntar isso... – ela atira o rosto nas mãos.

- O que?

- É que... Eu queria saber se... Se nós... Quer dizer...

- Aham... – ele inclina a cabeça pro lado.

- Nós por acaso...

- Hum...?

- Não posso... – ela suspira. – Esqueça...

- Tem certeza? Você parece muito perturbada.

- Se você soubesse o que acontece você entenderia.

Ela levanta, arrumando o vestido, ele se põe de pé, terminando de fechar os botões da camisa. Ela observa os lábios macios e entreabertos dele, por onde as pontas dos caninos afiados se destacam, começando a sentir suas mãos esquentando, assim como sua nuca.

Com a leve alteração da temperatura ambiente, ele volta seus olhos pra ela.

- No que está pensando?

- Você não entenderia. – ela desvia o olhar para o espelho em afrente a ela, fechando os dois pequenos botões do colarinho do vestido verde que usava.

Ele se aproxima furtivamente por trás dela, envolvendo lhe a cintura e sussurrando baixo em seus ouvidos, mandando suaves arrepios por sua pele.

- Tente, posso ser mais perspicaz do que o que você espera...

Com essas palavras, uma enxurrada de lembranças, pelo menos até que provassem o contrario, invadiu sua mente já atordoada, e por um momento, seus joelhos falharam sob o corpo.

Alexis prontamente sustentou as linhas de suas cintura com as mãos, mantendo-a em pé, suas mãos eram quentes e firmes, assim como ela se lembrava, mas ele não havia manifestado nenhum comentário sobre nenhum acontecimento fora do comum, não podia concluir nada.

 Os olhos predatórios se fixaram sobre ela com uma pergunta surda.

O que aconteceu? No que está pensando?

Ela apoia as mãos trêmulas sobre a mesa, tentando aliviar parte do peso que ele precisaria sustentar, mas ele não parecia necessitar de ajuda.

- No que está pensando? – ele pergunta. – Quem ou que é o dono de sua mente nesse momento?

- Não foi nada. – obrigou-se a ficar em pé novamente, livrando-se das mãos firmes que a sustentavam na mesma posição.

Ela dispara pelo corredor, escada abaixo.

- Onde vai? – ele pergunta.

- Tenho fome, faz tempo que não como nada, devo estar anêmica.

Ela, por obra divina, encontra a cozinha em sua vã tentativa de escapar do predador de olhos luminosos que havia deixado lá em cima... E tinha de admitir, mesmo que fosse uma desculpa, realmente tinha fome.

***

Alexis permanece imóvel no corredor, havia o que pensar, tinha a sensação de tê-la ouvido entrar em seu quarto, pode sentir o cheiro adocicado de perfume feminino quando acordou.

Se perguntava se ela havia tocado em algo, e esperava que não, a maior parte das coisas podia fritar a mente dela como se fosse uma formiga sob o foco da lente aumento.

Mas uma coisa o atormentava, havia tido um sonho estranhamento carnal com a humana, não que isso fosse algo muito inesperado, afinal ele a estava caçando, aquilo de certa forma não deixava de ser uma de suas pequenas e particulares fantasias, mas não imaginava que fosse sentir desejo de mata-la.

Estava se questionando desde que acordara, e se sentia levemente incomodado, pois aquilo atiçara mais os instintos preexistentes de dominação que dormiam silenciosamente dentro dele.

Quando ainda não estava tão ligado aos seus deveres, e nem tão preocupado com o futuro de sua espécie, sempre havia lhe agradado o sabor apimentado de raiva no sangue humano, mas isso era uma peculiaridade muito pessoal, nada que imaginasse que sua mente resgataria.

Sentia um insistente gosto amargo no fundo da garganta, fechou os olhos um instante e deixou as muitas imagens corressem por dentro de seus olhos, sentiu um leve desconforto nas presas que doíam levemente ao lembrar de tudo “o que havia feito”...

- Fascinante... – ele sorriu maldoso, sentado na mesa próxima ao espelho.

Parou de analisar suas “memórias” e voltou sua atenção ao incidente mais cedo, o corpo trêmulo da humana quando ele se aproximou demais, podia ritmar as batidas do coração dela com as pontas dos dedos, e a expressão atordoada quase lhe renderam um comentário maldoso, mas se conteve.

Rodava o anel familiar no dedo, vendo a pedra vermelha aparecer e sumir atrás de seu dedo conforme ele a rodava, até sentir uma leve inquietação correr os nervos.

 Levantou de súbito, descendo a escadas como um borrão, parando um segundo pra saber de onde vinha o foco de seu desconforto, e olhar para o alto da janela principal, onde uma enorme harpia branca encontrava-se empoleirada no batente da janela.

- Valsher. – disse estreitando os olhos.

A imensa harpia desceu de seu poleiro no alto da janela e pousou no chão, fazendo voar alguns papeis com o deslocamento grosseiro de ar que suas enormes asas causavam.

A ave de grande porte arrepiou as penas e as penteou novamente, olhando para os olhos de Alexis com seus olhos brilhantes e verdes, piscando lentamente.

Virando por alguns segundos para pegar as duas ou três folhas que voaram da mesa, Alexis pode ouvir um leve som de movimentação e silêncio novamente.

Quando voltou seus olhos a antes harpia branca que mantinha-se estática na porta, encontrou a figura imóvel de Valsher, agora em uma forma mais semelhante aos humanos, observando-o se mover detalhadamente.

- O que quer aqui, Valsher?

- Fiquei sabendo que os mestiços decidiram se revoltar. – a voz de Valsher parecia ser emitida do fundo de sua garganta, quando ele mal movia a boca para falar. - É verdade?

- É. – Alexis correu os dedos longos pelo cabelo, não tentando esconder o leve desconforto que sentia com a presença do anjo vestido em amorfos trajes brancos.

Valsher era, para os anjos, mais ou menos aquilo que Alexis era para os filhos da noite, e seu cabelo branco como suas roupas, permanecia preso eternamente em uma longa trança em suas costas.

- Se precisar de nós estaremos aqui.

- Não sei se são apenas mestiços vampiros, eu talvez necessite da ajuda de todas as famílias, pelo tratado, eu não posso matar um mestiço de outra raça.

- Compreendo, espalharei a mensagem pela minha casa. Não garanto nada quanto aos cães, raramente tenho como falar com qualquer um deles.

As longas mangas em forma de sino que ele usava cobriam suas mãos e ainda mais uns dois palmos, quase arrastando no chão, Alexis nunca soube de fato de Valsher era homem ou mulher, talvez a única parte da crença humana que realmente esteja correta, por todo o resto era um enorme mal entendido.

Seu rosto não apresentava nenhum traço particular, e o resto de seu corpo encontrava-se embaixo da túnica amorfa e larga.

- Eu entendo. Posso procurar por Cartier depois.

- Muito bem. – Valsher estendeu a mão encoberta pela imensa manga branca.

Alexis cumprimentou a figura sem gênero definido com um aperto de mão, e esta sumiu pela janela voltando a ser a imensa harpia branca que geralmente era, soltando o chiado estridente de gelar a alma e sumindo.

Alexis soltou seu peso sobre o sofá, ele sempre se sentia incomodado com as visitas de Valsher ou de qualquer outro anjo, eles eram perturbadoramente semelhantes, tanto esteticamente quando em comportamento, achava-os estranhos, e nunca havia visto nenhum deles esboçar qualquer reação emocional quanto a nada, nem sequer uma vez.

Aliás se perguntava seriamente como eles haviam conseguido se relacionar de qualquer forma de fosse com os humanos, sempre os considerou figuras andrógenas sem gênero especifico.

Como era possível que eles tivessem... Céus, isso é muito perturbador...

Alexis esfregou as mãos pelo rosto e tentou abstrair as imagens mentais extremamente perturbadoras de sua cabeça.

Do lado de fora da janela um chuva fina começava a cair, hoje havia recebido uma mensagem de Luka, dizendo que ele havia encontrado todas as fotos impressas que envolvessem Absinthe, e se sentiu muito feliz por saber que as amigas e família dela não colocaram nenhuma delas na internet.

As gotas escorriam pela janela como lágrimas geladas.

Levantando ele vai acender a lareira, observando o fogo estalar, e a luz alaranjada se espalhar em raios trêmulos pelo ambiente frio.

Absinthe deixa a cozinha, encarando o ambiente de luz alaranjada e a figura estoica que contemplava o fogo, com os olhos refletindo os raios de luz avermelhados.

Suspira, já não se sentindo tão fraca, imaginou que eles haviam posto... erm... Comida, na cozinha pelo simples fato de ela morar lá, pois Alexis nunca usaria.

- Quando foi ao meu quarto, você mexeu em algo? – ele perguntou, rodando o anel no dedo.

- N-Não... Eu só... Observei seu anel por alguns segundos e sai.

- Quantos segundos? – ele pergunta, parecendo ter um momento de esclarecimento.

- Não sei... Uns sete ou dez...

- Hum... Isso explica algumas coisas.

- O que? Do que está falando?

- Qualquer mortal que observe o olho do meu anel por tempo o bastante, terá contato com a minha mente.

- Contato... Com a sua mente? – os olhos de Absinthe se abrem de choque.

- Agora cabe a cada um o que faz quando isso acontece. – ele ri ironicamente, ainda rodando o anel nos dedos. – Você é uma garota muito má e atrevida Absinthe Cardelian.

- Não está dizendo que... – seu rosto começa a ficar cada vez mais vermelho.

- Estou. Tive o mesmo sonho que você. – ele ri.

Ah não... Não, não, não, não, não! Já era ruim o bastante ter consciência disso sozinha, agora sabendo que ele viu a mesma coisa... Ah... Desgraça...

- Ah não...

- Aham. É por isso que pareceu tão real.

Ela o encara, não existe mais nada que possa, ou consiga, dizer...

Apoiando a cabeça nas mãos, ele abre um leve sorrisinho. -  Se serve de consolo, eu achei excelente. Sempre achei que você fosse o tipo boa moça, talvez eu tenha me enganado. – uma risadinha irônica.

A conversa ia de mal a pior, ela dispara escada acima e corre pelo corredor. Ele some como um vulto e prensa-a na parede.

- Onde você vai?

- Me enfiar num buraco, talvez. – o sangue corria pelo seu rosto, enquanto as pontas dos dedos ficavam cada vez mais brancas e geladas.

- Oh, não faça isso. Gosto de você fora dele.

- Eu não.

- Me acha mesmo um cretino, mentiroso, manipulador, frívolo, insensível, grosseiro, imbecil, prepotente, arrogante, mulherengo, desalmado, mesquinho, descarado, sádico e controlador? – ele inclina levemente a cabeça para o lado.

E então ela empalidece.

- Erm... Aquilo foi...

- No calor do momento? – ele ri.

O celular dele toca, e ela nunca se sentiu tão aliviada em toda a vida.


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Notas finais do capítulo

Hello o/Bem leitores, eu sei, acho que vocês falar um pouquinho da minha mamãe... mas n façam isso, mamãe n tem nd a ver, a culpa eh minha xDTenho até medo de saber... Mas, o q acharam?Agora estou de férias, esperem postagens mais frequentes o/