Fahrenheit e Absinto escrita por Aleksa


Capítulo 11
Capítulo 11




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Ela não sabe mais o que dizer, e sua pulsação começou a desestabilizar.

Um gaguejar um pouco rouco, a voz falha... O que mais podia ser dito.

- Foi o que pensei... – um sorrisinho maldoso.

Uma pequena trilha de beijos desce ao longo de seu pescoço, sua mandíbula abre, revelando as pontas dos caninos pontiagudos, ela engole seco, as pontas desses dentes afiados roçam em sua pele, ela estremece.

- Porta. – ele se afasta e da dois passos pra trás.

- O qu-

A porta se abre, a atendente tem uma carta.

- Senhor.

- Hum? – ele lança um olhar vazio a ela.

- Carta do seu irmão, Giovanni.

- Ah. – ele diz, pegando a carta da mão dela, antes que ela estendesse a ele.

Um rasgo preciso abre a lateral da carta, ele pega o papel amarelado, escrito na caligrafia rebuscada da família.

Mio caro fratello,

Luka me ligou esta manhã, a traição de Vincent para com o juramento da ordem é um absurdo!

Há muito tempo deixamos de ser uma raça guerreira, mas temo que agora isso se torne necessário novamente, e se esse for o caso e a rebelião vier, saiba que pode contar comigo.

E em minha opinião, a guerra já é inevitável.

Pegarei o avião hoje a noite, devo chegar pela manhã, quase ao mesmo tempo que a minha carta.

Mudando de assunto, saiba que assim que io chegar, quero saber sobre seu nome jogo, Absinthe...

                                                       Giovanni

Um olhar rápido na direção da janela, o insulfilme cobria as janelas, a noção de dias e noite era levemente comprometida.

- Hum...

- O que houve? – Absinthe pergunta.

- “Se a guerra cair sob nós... mate a todos cujos olhos são diferentes dos seus...” – ele disse para si mesmo.

- O... que?

- Nada. – seus olhos se voltam a elas, barreiras sem nenhuma tipo de brecha.

- Do que estava falando?

- Só uma frase que me remete ao passado.

***

Voltando pra casa, Absinthe pesava como Alexis ficou calado depois de receber a carta...

- O que será que aconteceu...?

O celular estava em sua mão esquerda, ela observava o botão verde e brilhante em forma de telefone escrito “call” em suas mãos, a barra brilhante de escolha de números permanecia parada sobre o número dele em seu celular, piscando, passando a cor dos números de preto, para branco, para preto, para branco.

E então a tela apagou.

Ela suspira, abaixando um pouco a cabeça, quando de repente o celular começa a tocar.

- Ah~! – e ela cai da cama.

Um pequena avalanche de travesseiros cai sobre ela.

- A-Alô?

- Absinthe? – a voz aveludada dele soa no telefone.

- Alexis. – ela se põe de repente sentada.

O sol já havia se posto.

- Preciso falar com você. Seria muito inconveniente pedir que viesse a minha casa?

Um silêncio se instaura no telefone, as palavras todas tropeçaram e se amontoaram em sua garganta, secas e trêmulas, era por isso que ela não conseguia nem respirar, nem falar.

Que coisa caipira.

- Na... Casa...Sua...? – ela perguntou, cuspindo as palavras como pode.

- Isso. A casa que é minha, logo é minha casa. – ele disse, parecendo cansado.

- Eu...

- Não quer?

- NÃO! – alto de mais.

- Não precisa gritar, basta dizer que não quer.

- Não é isso!

- Estamos com problemas de comunicação. Vou te passar o endereço e você vem se quiser.

Ela não achou um papel, ai escreveu no braço, xingando mentalmente por que a caneta falhava.

Desceu a escada quase tropeçando no tapete e desceu pra garagem, pensando no que fazer a seguir.

- O carro.

Sua mão havia lhe dado um carro, ela não tinha ainda idade pra dirigir, mas ao que parece, isso não importava para a sua mãe.

E lá foi ela, dirigindo, loucamente e parando numa brecada seca em frente a porta do edifício onde Alexis morava.

Saiu do carro e correu escada acima, subindo escada acima como se fugisse de alguém. Toda essa insanidade pra parar na porta do apartamento número 52, e ficar encarando a maçaneta.

Ela secou as palmas das mãos e botou o cabelo no lugar, arrumando a blusa e dando pequenos tapinhas no rosto pra dar cor as bochechas.

Limpou a garganta e estendeu a mão na direção da porta, quando deu a primeira batida, a porta se abriu, com um rangido suave.

- Aberta... – foi quase uma pergunta.

Ela andou em passos incertos pelo ambiente escuro, com medo de chutar alguma coisa, mas não, o chão estava limpo.

A casa era acarpetada, e estava o mais pleno breu, tirando pelas laminas de luz que eram lançadas das janelas fechadas, das cinco janelas, duas estavam abertas, tal que essas duas estavam viradas para uma rua sem iluminação alguma entre um prédio e outro.

Uma porta branca estava postada numa das extremidades da sala, e havia uma marrom-escura do outro lado.

Foi até a porta branca e abriu, um pouco incerta, acendendo a luz.

Era a cozinha.

Na cozinha só haviam móveis, não havia mais nada, nenhum copo, prato, talher... Ou comida.

Não havia geladeira, nem fogão, nem mesas, nem coisa alguma, somente havia os móveis embutidos, presos a parede por ferros cravados na mesma, que não os deixavam cair, sair, ou serem movidos.

Somente se assemelhava a uma cozinha por esse motivo, havia uma pia em um desses móveis brancos, e um apoio para taças no armário de cima, ao lado de um apoio para colheres e panelas.

- Cozinha... Eu acho.

A luz se apaga.

O olhar de Absinthe se dirige ao interruptor ao lado da porta, onde Alexis estava reclinado no batente, com os olhos apertados e os dedos da mão esquerda massageando as têmporas.

- Não acenda as luzes, estou com dor de cabeça. – ele diz simplesmente.

- Ah, sim. Desculpe.

O celular dele toca.

Olhando o número rapidamente o número e vai até a porta e a deixa lá sozinha na escuridão fria da casa.

Ele estava parado no corredor falando no celular, na língua indistinta que ela não compreendia...

- [Por que está me ligando agora, Luka?]

- [Tem gente em casa Alexis?] – uma risadinha irônica.

- [Tem. E você me atrapalha.] – Alexis não estava disposto a conversar.

- [Desculpe atrapalhar o que quer que fosse que vocês estavam fazendo, só liguei pra avisar que Giovanni chegou.]

- [Só me ligue se alguém morrer, ou quando todos chegarem.]

- [Ouch. Como você é simpático, querido.]

- [Arrume o que fazer Luka, seu sarcasmo, sua casa, e suas mulheres, me entediam e me irritam.]

- [Ai! Também não precisa apelar pro pessoal maninho.]

- [Estou com fome e dor de cabeça. Estou desprendendo energia demais em tentar evitar que o Armagedon, e você me liga pra me avisar que um dos meus SEIS irmãos chegou? Tenha dó Luka.] – Alexis estava começando a se estressar.

- [Tem razão, tem razão. Não quis atrapalhar o seu jantar/encontro amoroso com a humana. Eu ligo amanhã.]

Luka desliga, Alexis sente a urgência de atirar o celular na parede e praguejar em latim, mas se controla, pelo bem do seu instável controle emocional.

Não queremos um homicídio, certo?

Respirando fundo e abrindo a porta, Alexis se depara com sua presa encolhida no sofá da sala, abraçada aos joelhos, com a cabeça apoiada nos mesmos.

- Tudo bem...? – ela pergunta. Da conversa toda ela só conseguiu entender “Luka” e “Armagedon”.

- Tudo... – ele suspira, fechando a porta e se encostando nela. – Tenho coisas de mais a fazer...

- Tipo?

- Se eu te contasse teria de te matar. – ele diz, jogando o cabelo pra trás.

Uma risada de diversão irrompe os lábios de Absinthe, mas o fato... É que ele não estava brincando.

Ele atravessa a sala e senta ao lado dela.

- O que quer fazer? – ele pergunta, olhando em sua direção.

- A casa é sua, decida você.

- Muito bem... – ele diz, abrindo um sorriso de aprovação pela resposta.

Ele a puxa e aprisiona seus lábios em mais um beijo, urgente em remover o peso que era obrigado em carregar, peso de vidas além da dele, além de seus irmãos... Mais uma guerra... Agora contra seus filhos revoltos...

Uma guerra que atingiria 6.500.000.000 de pessoas no mundo todo...

Alexis fecha os olhos com força, querendo expulsar o pensamento apocalíptico de dentro de sua mente, o pensamento da autodestruição de tudo o que vivia...

Com uma incerteza compreensível, Absinthe deixa suas mãos caírem nos ombros do rapaz que, apesar de ela não saber, carregava um peso, o peso de uma guerra.

A cabeça dele latejava com a dor pulsante da fome, da pressão, da incerteza, da responsabilidade... Era tanto... Tanto que iria levá-lo a loucura.

Seus lábios foram descendo ao longo da pele quente e perfumada da humana cujo sangue lhe agradava de forma particular... Artistas... Sempre foram seu fraco.

Sua mandíbula se abriu suavemente, lançando sua respiração sobre a pele daquela que satisfaria sua fome, aplacando ao menos um dos anseios que o corroíam naquele momento.

Absinthe estremece, e então as presas brancas e afiadas são cravadas em sua pele de súbito, jogando o veneno diluído em saliva em seu sangue, e ela se recorda da sensação de paz que aquela névoa a proporcionava... Mais que qualquer outra coisa que já sentiu em sua vida.

Era a sensação plácida de calma que a morte anunciava.

Seus sentidos iam morrendo, tão lentamente que chegava a queimar, iam morrendo mas pareciam mais vivos que nunca, agora conseguia sentir cada minúscula parte de seu corpo, sua respiração cada vez mais alta, suas pupilas dilatadas podiam enxergar os detalhes do ambiente enegrecido ao seu redor, o cheiro suave de perfume masculino que ele tinha na pele, e o sabor de menta e hortelã que ele tinha na boca...

E um suspiro de prazer terno e completo exalou por seus pulmões, irrompendo seus lábios num timbre suave e quente.

As mãos dela em seus ombros ficaram geladas, ele a soltou, cicatrizando as pequenas feridas, de onde ainda vertia aquele delicioso licor vermelho.

Ele não queria soltá-la, lambeu demoradamente as feridas até que nada mais restasse delas. Sua pupila estava estreita e fina, perdida no mar brilhante que era sua íris naquele momento, dois pequenos faróis na escuridão do ambiente...

Os olhos dela não tinham quase nenhum foco, e estavam tomados pelos dois pontos negros dilatados no centro das poucas partes brancas que restavam.

O predador descuidado que havia dentro dele riscava as parede de seu bom-senso, martelando sua vontade de parar...

Ele debruçou lentamente sobre ela.

- Não quero parar...

Isso pareceu acalentar o frio que ela sentia agora que tinha sido deixada, seus braços por conta própria enrolaram-se no pescoço dele, e sua respiração saiu longa e relaxada.

Estava entregue.

Era tudo o que ele queria ouvir... Mesmo que não tivesse mais certeza se iria parar se ela o recusasse...

Ele puxou a camisa que ela usava por cima de seus ombros, não sabia ao certo se ela conseguiria fazer isso sozinha, correu os dedos pela pele quente e aveludada, sentindo-a estremecer ao toque gelado das pontas de seus dedos.

Mas ele queria fazê-la sentir muito mais...

Decadente...

Essa palavra ecoou dentro da mente de Alexis, fria como uma facada.

Sempre soube que vocês eram somente animais...

Seus olhos se fecharam por um momento, ele sentiu nojo do que estava prestes a fazer, ia contra tudo, tudo o que acreditava.

Ele realmente, por muito pouco não a tomou para si, drogada, praticamente inconsciente, no sofá da sala de sua casa... Patético... Digno de pena...

E pra que? Pra esquecer por alguns momentos de uma responsabilidade que ele mesmo havia criado...

- Nojento... – ele disse, sentindo o horror de ter descido tanto... – Patético...

- O que? – ela perguntou, sua voz era quase um sussurro.

- Durma. – ele ordenou simplesmente, jogando o rosto nas mãos, sentando na borda do sofá.


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Notas finais do capítulo

Olá leitores queridos :D
Obrigado por esperarem o próximo capítulo ^^
e pela espera educadinha, fiz um capítulo maiorzinho ^w^
em breve a máscara vai cair e a coisa vai ficar feia!
Me digam o que acharam está bem? ^^
Beijos :*