- Nós temos que encontrar uma forma de proteger você. - disse Frank, enquanto passava o dedo indicador em alguns livros de ocultismo na prateleira da biblioteca.
 Havíamos combinado de nos manter sempre em alerta, pois a qualquer momento algo inesperado poderia acontecer.
 Agora, Frank também estava comigo nessa confusão toda, o que só tornava as coisas mais perigosas ainda.
 - Nos proteger. Acredito que não devemos combater bruxaria com bruxaria. Devemos esperar até que eles ataquem primeiro, não acha?
  - Não. - disse ele, balançando a cabeça com vigor. - Se haverá uma luta, será de igual para igual. Se não tivermos conhecimentos iguais aos deles, vamos ficar em desvantagem.
 Nesse ponto, Frank tinha toda a razão. - Mas, quem disse que vai haver uma luta? - questionei, erguendo uma sobrancelha.
 - Você não entende, não é? Eles estão se preparando. Eu pesquisei ontem na biblioteca o que eram aqueles sachês na sua bolsa. Magia negra, da pior possível. Se você não tivesse descoberto antes, suponho que não estivesse mais aqui, conversando comigo. Eles sabem que você vai resistir e gostam disso, porque assim, o jogo tornará mais perigoso.
 Estremeci diante das palavras de Frank.
 - Aqui. - disse ele, tirando um dos livros da prateleira e já abrindo em uma página. Sentamos em uma mesa próxima, e iniciamos uma leitura silenciosa. A página explicava sobre como preparar poções e realizar feitiços. Havia de tudo: poções do amor, poções para apagar a memória e até uma poção rejuvenescedora. Parei o meu olhar em uma poção que se chamava "Protezione".  - Nós vamos precisar dessa. - disse, apontando para o nome.
 - Sim, mas primeiro precisamos de algo para nos defender. - murmurrou Frank, folheando as páginas do livro.
 Passamos algum tempo ali, procurando algo que poderia nos auxiliar no quesito defesa e proteção. Ao término da pesquisa, saímos para o centro
em busca de material para que as poções e os feitiços fossem realizados.  Encontramos uma lojinha mística bem afastada do centro. Resolvemos entrar, e quem nos recebeu foi uma mulher idosa, de aparência desgastada.
 Me aproximei do balcão e disse: - Viemos aqui em busca destes materiais - mostrei a lista de compras para ela. - A senhora, por um acaso, os vende aqui?
 A mulher ainda não me fitava quando questionei-lhe, mas quando o fez, seu olhar se transformou em um pânico instantâneo.
- Saiam daqui! - esbravejou ela, se encolhendo atrás do balcão. - Não quero vocês na minha loja! Saiam Daqui!
 Permaneci parada, observando a reação estranha daquela mulher. Olhei para o lado e vi Frank parado, com os punhos fechados.
 - Senhora, nós não queremos lhe causar problema algum. Só viemos aqui para comprar o que precisamos e irmos embora. - disse ele, limpando uma gota de suor na testa.
 - Essa guerra há muitos anos já terminou! Não adianta, vocês jamais conseguirão me levar daqui. Eu venci, aceitem isso e me deixem em paz!
 Franzi o cenho, e direcionei novamente meu olhar para Frank que, ao contrário de mim, havia se aproximado do local onde a mulher estava. - Não vamos machucar a senhora. Repito, só queremos comprar e ir embora. - disse ele, erguendo a mão para a mulher.
 Ela aceitou o gesto e levantou-se do chão com a ajuda de Frank. Me aproximei um pouco mais da mulher, temendo uma reação negativa, mas tudo o que recebi foi o seu olhar assustado e ao mesmo tempo confuso. Mostrei-lhe novamente a lista, esperando confirmar as palavras de Frank.
 Ela apenas olhou para a lista e assentiu, pegando o papel das minhas mãos e indo até uma estante próxima.
 - Sua avó era uma grande pessoa, acredite. - murmurrou ela, enquanto procurava os itens da lista em algumas prateleiras.
 Engoli em seco e me afastei bruscamente da mulher. Frank estava imerso, olhando alguns objetos na seção de purificação, pelo que não notou o clima pesado entre nós duas.
 - Não sei do que você está falando. - disse, assustada com a possibilidade daquela mulher fazer parte da seita. Talvez até soubesse que minha avó estava morta, pois pronunciou toda a frase no passado.
 - Você sabe sim. O que você não sabe é como eu sei disso. Posso lhe explicar, mas levará algum tempo. Aceita tomar um chá? - respondeu ela gentilmente, contrastando com aquela mulher nervosa e assustada de minutos atrás. Hesitei em aceitar, mas depois ponderei minhas opções. Ou negava e deixava de descobrir mais sobre a história da minha avó ou aceitava e, talvez, conseguisse encontrar uma saída para toda aquela confusão na minha vida.
 - Quando? - questionei, olhando novamente para trás, esperando ver Frank ainda concentrado na seção de purificação. Seria uma conversa particular, pelo que preferi não contar para ele.
 - Venha quando estiver com um tempo livre. - respondeu ela, pegando o último item da lista na prateleira. - Quer se proteger? Vai precisar de algo melhor do que "Protezione".
 Assenti, acompanhando-lhe até o balcão. Pelo o visto, não estava completamente sozinha. Havia alguém que conhecia a minha avó e que, aparentemente, não era parte do grupo que protestava contra a minha descendência. Em todo caso, decidi não me iludir tanto. Talvez aquela mulher só quisesse me ajudar para descobrir mais do 'inimigo'.
 - Como a senhora se chama? - perguntei, enquanto pagava pela mercardoria.
 - Melanie. E você se chama Charlotte. Não precisa se assustar, eu sei muito mais do que você pensa. - sussurrou Melanie, me observando cuidadosamente.