Karma. escrita por Alien
- Ele tem sérios problemas. - disse Frank, enquanto observava com cautela o nosso professor de Sociologia.
- Todos os professores tem. - respondi, esperando encerrar aquela investigação, sabendo que não o levaria a lugar algum.
- Sério, observe bem as roupas dele. Parece que saíram de um filme de época.
Soltei um risinho nada discreto, mas parei, assim que o professor direcionou seu olhar para nós dois.
Ao final da aula, decidi acompanhar Frank até uma livraria. Estava observando algumas estantes, quando meu olhar fixou-se em um sujeito parado perto de algumas prateleiras. Um calafrio percorreu a minha espinha, enquanto seu olhar frio me analisava, curioso. Virei-me de costas para aquele sujeito e saí andando discretamente, até o local onde Frank estava.
- Então, encontrou alguma coisa interessante para ler? - perguntou ele, com a atenção totalmente voltada para a contracapa de um livro.
- Não. Frank... será que podíamos ir embora agora? Não estou me sentindo bem.
Por mais que tivesse me afastado do sujeito, ainda sentia seus olhos em mim.
- Certo. Vou só pagar por esse livro, e já volto. Você me espera lá fora?
- Sim. - disse, caminhando em passos largos até a saída. Chequei meu relógio de pulso, enquanto esperava impacientemente a saída de Frank daquele local.
Havia achado estranho o interesse repentino daquele homem em mim, mas, o que mais me assustava era a frieza no seu olhar. Se tivesse cabelos cor de fogo, diria que era irmão do cara que apareceu no meu quarto há alguns dias.
Chequei novamente o relógio. Mais de quinze minutos ali, esperando, e nada de Frank aparecer para irmos embora. Batia meu pé no chão impacientemente, quando ouço alguém abrir a porta da livraria. Ao me virar, dou um passo para trás instintivamente.
O homem permaneceu parado à poucos centímetros de mim, com uma expressão difícil de ser decifrada. Tentei demonstrar indiferença ao me virar de costas e observar as pessoas que passavam na calçada, mas ele continuava ali, como se esperasse que eu dissesse alguma coisa.
Me afastei alguns passos, e olhei para a parte interna da livraria. Não via Frank no balcão, nem na fila, que crescia à medida que mais pessoas entravam no local.
- Vamos? - disse alguém atrás de mim. Levei algum tempo para me recuperar do susto que Frank havia me dado.
- Sim. Vamos. - respondi, olhando para o local onde o homem estava há poucos segundos atrás. Não havia ninguém ali.
Caminhamos um pouco, até pararmos em uma pracinha, no centro da cidade. Não suportava mais carregar a minha mochila, que estava inexplicávelmente mais pesada do que o natural. Sentei-me em um dos bancos e larguei a bolsa ao meu lado.
Como o banco era muito pequeno para nós dois, Frank colocou minha mochila em seu colo e se sentou ao meu lado.
- Nossa, o que você leva de tão pesado aqui dentro? - disse ele, franzindo o cenho enquanto passava as mãos na mochila, tentando descobrir o que havia dentro dela.
- Não sei. Juro que quando saí da faculdade só levava dois livros e meu fichário aí dentro. Deixe-me ver.
Abri o zíper da bolsa e no momento que fiz isso, vários sachês estranhos caíram no chão. Meu sangue parecia ter parado de circular pela a minha cabeça.
- Charlotte... o que... é isso? - perguntou Frank, enquanto pegava com as pontas dos dedos um dos saquinhos esquisitos.
Sem hesitar, apanhei um que estava próximo aos meus pés e abri. Assim que o fiz, um enjôo terrível surgiu no meu estômago, pelo o que soltei com todo vigor aquela esquisitisse no chão.
Dentro dos sachês havia pele e um pó vermelho que cheirava muito mal.
- Eu não sei. Não sei como isso foi parar na minh... - não terminei a frase, ao perceber que sabia sim, quem havia colocado tudo aquilo dentro da minha bolsa. Estremeci, com a imagem dos olhos cheios de frieza do homem que me perseguiu na livraria. Então era isso, havia começado o jogo.
Minha vida agora havia se tornado totalmente manipulável diante daquelas criaturas que me perseguiam. E tudo por minha culpa. Eu havia entrado na casa da minha avó e deixado aquele cão me atacar. Ele sabia o meu cheiro, e consequentemente, sabia onde me encontrar.
- Charlotte, isso é bruxaria. - concluiu Frank, me obrigando a fitá-lo imediatamente.
- Você não têm certeza disso.
- Tenho sim. Na biblioteca da faculdade existem vários livros sobre ocultismo e misticismo. Eu já li alguns e sei que isso dentro da sua bolsa é
bruxaria. Você é bruxa? - perguntou ele, sem preocupação alguma em esconder seu repúdio ao pronunciar a última palavra.
Balancei minha cabeça com vigor, negando completamente o fato. Eu era apenas uma descendente de bruxas, só isso. Não consegui conter o choro, à medida que ia percebendo qual era o plano deles: iriam me perseguir e, em seguida, acabariam comigo. Simples, como fizeram com a minha avó.
Fechei meus olhos, buscando forças. Por mais que me torturassem e me obrigassem, jamais faria parte daquela seita de loucos. Não. Ponto final.
Frank parecia estar mais assustado do que eu, passando a mão no cabelo incontáveis vezes.
- Então, o que isso fazia na sua bolsa? - disse ele, apontando com violência para os saquinhos de bruxaria espalhados pelo chão.
- Eu não sei... - disse. E pela a primeira vez, contei para Frank a parte verdadeira da história. Realmente não sabia a intenção daqueles objetos estarem na minha mochila, só sabia quem os havia colocado ali dentro. Levantei-me do banco, coloquei minha mochila nos ombros e saí, sem dar satisfação alguma para Frank. Ele não entenderia, jamais. Quando virei-me de costas, o vi fazer menção de me seguir, mas imediatamente o impedi, balançado negativamente a minha cabeça.
Precisava de um tempo sozinha.
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