Caminhamos por um longo período, até que não suportei a
dor forte e aguda em meu tornozelo e sentei-me em um pedaço de rocha.

- Deus, Charlotte! Eu sei que isso deve doer mais do que qualquer coisa, mas não podemos parar. Não agora.

Procurei estabilizar minha respiração, me concentrando no som produzido pela inspiração e expiração. – Se você quer ir, vá. Mas eu não aguento andar mais! – exclamei, claramente alterada pela a adrenalina ativada pela dor.

Frank, ao contrário do que pensava, sequer chateou-se com o que eu havia dito, apenas permaneceu ali, parado na minha frente, com uma expressão indecifrável.

Fitei seus olhos, em busca de qualquer sinal da mágoa que vinha guardando desde o momento em que pedi para que fosse embora. Mas nada. Nenhum resquício sequer desse sentimento.

Com muito esforço, ergui-me de pé e, apoiando todo o meu peso em seu ombro, sussurrei:

- Eu não queria que as coisas fossem assim. Eu juro. Sinto-me tão culpada por tudo que está lhe acontecendo agora que se eu pudesse fazer qualquer coisa para mudar nossa situação, eu faria. Do fundo do meu coração, por favor, vá embora. Deixe-me seguir com esse carma sozinha, pois esse é um destino só meu.

Frank permaneceu quieto por alguns minutos, até que assentiu brevemente e, deixando-me ali, no meio daquele cenário terrível, foi embora. Após constatar que sua figura havia saído do alcance de
minha visão, chorei. Chorei até que as lágrimas cansassem de cair, e nada mais acontecesse após os meus soluços. Fitei meu tornozelo magoado, e logo caí novamente em prantos. Deveria ter ficado ali, sozinha, apenas esperando que a morte chegasse e pusesse um fim naquele sofrimento, mas não o fiz. Olhei em volta e encontrei um galho forte e grande, e apoiando-me nele, retomei minha caminhada.
Pois se era a mim que eles queriam, então eles que viessem pegar.