Karma. escrita por Alien


Capítulo 16
Capítulo 16




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 - Como você é
mesquinha, Charlotte. – sussurrou Frank, me tirando de alguns devaneios.

 Mesquinha? Era tudo o que eu mais precisava ouvir naquele instante. Virei-me na direção oposta a que
estava  o seu corpo e tentei cochilar, mas ele não parava de falar, ou melhor, de me insultar um segundo sequer.

- Você já parou para
pensar em como será minha vida depois da sua morte? Eu não terei amigos, Chartlotte! Abandonei a faculdade para ir junto com você. E o que você faz? Se rende facilmente para esse bando de malucos! É inacreditável!

- Chega! – gritei,
tentando conter um soluço. – Você é o único mesquinho aqui! Eu só fugi por sua causa, seu tolo! Porque se somente eu estivesse envolvida nessa história, jamais teria me importado com o fim disso tudo! Se fosse somente a mim que eles quisessem, tudo bem. Não tenho mais família e, que dirá, sonhos. Mas você, Frank, tem todo um futuro pela a frente. Não posso acabar com a sua vida desse jeito. Sinto muito.

Por alguns instantes,
nos mantivemos calados.

De certa forma, o
silêncio foi agradável, pois me permitiu pensar em uma forma de tirar Frank dali o mais rápido possível.

Talvez, durante o
nosso trajeto para a aldeia onde os integrantes da seita residiam, eu pedisse para que ele fugisse. Não, seria fácil e perigoso demais. O cansaço surgiu na minha mente como uma névoa, densa e aconchegante, mas infelizmente não podia me dar ao luxo de dormir. Não agora.

- Charlotte, o que
eles irão fazer com você? – questionou Frank, aproximando-se um pouco de mim.

Encostei-me na parede
úmida e fedorenta, refletindo sobre sua pergunta. De fato, as torturas seriam inevitáveis, pois como havia lido em um livro que Melanie me emprestara, um corpo só poderia ser usado como receptáculo se estivesse fraco e doente. Depois... bem, o depois era um verdadeiro mistério para mim. Tudo o que eu queria era apenas o privilégio de uma morte rápida e digna.

- Não sei. Talvez
esvaziem meu corpo e insiram outro espírito nele. No momento, temos que nos preocupar com a sua fuga.

Frank riu, sem humor
algum, sussurrando em seguida algo que não consegui identificar.

- Qual é a graça? –
repreendi-lhe, já me sentindo nervosa por sua falta de consideração.

- Você está prestes a
reencontrar o Elvis Presley no mundo do além e só se preocupa em me tirar daqui. – retrucou, rindo novamente.

Juntei-me à suas
risadas, encantada com a possibilidade de realmente encontrar um Elvis-fantasma no mundo dos mortos.

Alguns instantes se
passaram, até que os primeiros raios de Sol invadiram aquele depósito
repugnante, dando-lhe vida e nos permitindo enxergar melhor o que havia a nossa volta.

Caixas vazias
ocupavam o espaço no chão, sistematicamente organizadas com o nome “suprimento” escrito com caneta esferográfica. Havia duas portas velhas, de maçanetas enferrujadas, nas paredes opostas. Perguntei-me se os fanáticos estavam dormindo ali. Ao meu lado, vi Frank sentado rigidamente, analisando o local como eu.

Sem que esperássemos,
uma das portas velhas abriu-se, surgindo uma figura alta e quase esquelética.
Reconheci-lhe o rosto assim que se aproximou de nós e um pequeno raio de Sol iluminou-lhe a face. Era tão feio e assombroso! Seus companheiros o haviam chamado de Ezequiel.

- Vamos partir agora.
Levantem-se. – ordenou, com sua voz imperativa. Imediatamente nos levantamos, limpando a parte de trás das nossas vestes de dormir.

- Ahn, para onde irão
nos levar? – questionou Frank. Xinguei mentalmente sua incapacidade de não questionar diante de situações arriscadas.

- Você irá com a
Juliet. Acredito que ela apreciou seu jeito desengonçado e medíocre. –
respondeu Ezequiel, claramente sem paciência.

- Já você, Charlotte,
virá comigo. – disse, exibindo seus dentes estragados ao sorrir de satisfação.
Engoli em seco, tentando reprimir uma náusea.

Seguimos por um
corredor escuro e mais úmido do que o depósito. Em seguida, aos poucos foi possível notar o barulho de vozes conversando e gritando. Estávamos indo para frente do bar.

- Espere! – gritei,
parando bruscamente e obrigando Ezequiel a fazer o mesmo. – As pessoas irão suspeitar se nos verem com roupas de dormir.

Charles, que até
então se mantinha calado, aproximou-se de mim e, levemente sorrindo, sussurrou:

- Se eu fosse você,
me ocuparia com preocupações menos banais. Prepare-se.

Sua voz causou-me um
arrepio intenso. Continuamos seguindo em frente, até que meus joelhos
enfraqueceram com o que eu vi.

Pessoas comuns
estavam amarradas a alguns bancos, gritando, enquanto outras jogavam-lhes um
líquido viscoso e borbulhante nas faces, e o mesmo, quando entrava em contato com a pele, lhes causavam ferimentos grotescos.

Mas o que mais me
aterrorizou foi ver Frank sendo encaminhado para uma espécie de fila de espera.
Eles iriam machucá-lo!

- Tirem o Frank dali,
agora! – esbravejei, apontando na direção do local de torturas. Charles ergueu o lábio superior de forma animalesca e em seguida, tapeou-me o rosto. Senti o ardor da agressão se espalhando pela minha bochecha, e naquele instante soube que era a hora de acabar com aquela palhaçada.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, capítulo demasiado pequeno. O próximo deverá ser maior, prometo. Deixe review, sobre o que achou legal, o que deve ser melhorado... Ajuda muito na escrita :)



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