Suicídio escrita por maribocorny


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

- à casa de waffles, ou o outro humano -



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Leah sentia os fragmentos do asfalto presos em sua carne, cercados pelo sangue que até pouco tempo ela não tinha. A ardência e o calor que sentia nos machucados era um prazer grotesco, ela sabia, mas era a única coisa que ela tinha naquele momento. Um pequeno kit de primeiros socorros aterrissou no seu colo, a tirando daquela espécie de transe.

- Tira essas pedrinhas de merda do teu joelho antes que infeccione. – O rapaz disse, do outro lado do banco traseiro.

Leah obedeceu sem questionar, automática. Um corpo, ela tinha um corpo. Ela sentia dor, ela podia ver sangue, seu sangue, quente e fresco, sujar o banco de couro do sedan. Um a um, ela puxou todos os pedacinhos de piche de si, admirada e horrorizada com a dor.

Só quando o carro parou que Leah percebeu que a Morte passara o percurso inteiro falando, criticando e reclamando. O jovem olhava pela janela do carro, espiando Leah com o canto do olho de tempos em tempos, mas igualmente desinteressado nas palavras da mulher de negro.

- Você só pode estar brincando. – Leah não conseguiu se controlar quando viu onde eles estavam. – Você é, como você mesma disse, “a porra da Morte” e vem pra uma Casa de Waffles?

A Morte revirou-se no banco da frente e simplesmente saiu do carro.

- Ela não dá a mínima para os humanos, eu sei. – O rapaz disse. – Se a gente não descer do carro logo, a gente vai desaparecer junto com ele.

Ele fez um sinal apontando para o motorista-esqueleto antes de descer do carro. Leah, perplexa, fez a mesma coisa.

- Cinco minutos atrás você me seqüestrou! – Leah gritou para o rapaz, quando o carro desapareceu. – E agora você quer que eu te siga?

- Você não pensa, né? – Ele disse, ainda de costas para ela, massageando o cenho. – Não tem a menor idéia de como usar essa coisa que fica em cima do teu pescoço.

Leah apertou o maxilar e desviou o olhar, agora que ele estava virando de frente para ela.

- Aquilo não foi um seqüestro, foi um maldito resgate que me custou um nariz quebrado, a propósito. – Ele disse, apontando para o nariz levemente torto e inchado. – Você pensou que aquela merda de cemitério era, sei lá, o Paraíso, a próxima vida, ou seja qual for a idiotice que você acredita? Era o maldito do Limbo, Leah, e você parece que quer ficar presa lá pra sempre. É a quarta chance que a Morte te dá, e nas quatro vezes você fez merda e estragou tudo. Eu sei que é da natureza dos suicidas fugir, mas, porra! E você fica aí pensando que é tudo pessoal, querendo te prejudicar. Então me diz, se você não me seguir, vai pra onde, sem lenço, sem documento, sem vida e sem morte?

Leah, ainda com o maxilar forçado, tentou parecer forte. Mais da metade do discurso, ela sabia, só faria sentido muito mais tarde, mas, ainda assim, ela sentiu a necessidade de se defender.

- Você não tem a mínima idéia do que é ser humano. – Foi o que ela conseguiu dizer.

O rapaz rolou os olhos e deixou sair uma risada frustrada.

- Eu nasci há vinte quilômetros daqui. – Ele falou, por fim. – E, considerando tudo, eu diria que sou até mais humano que você.


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Notas finais do capítulo

[tá, tá, eu sei. não me exijam constância.

resolvi que quero postar mais capítulos hoje.

só.]



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