Alterego escrita por Gavrilo, Drablaze


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Um novo arco! Conseguem imaginar o que está acontecendo e como Daisuke e Natt vão se livrar dessa situação?



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— Estamos perdidos.

Apesar da constatação do fato que deveria ter ficado evidente horas atrás, Natt não desistiu e continuou mexendo — ou cutucando furiosamente, entenda-se como quiser — na tela de seu pequeno aparelho. Impaciente, Daisuke repetiu:

— Estamos perdidos.

Antes de Daisuke abrir a boca novamente, Natt pediu por um pouco mais de tempo. Não faria muita diferença mesmo, já que não parecia haver absolutamente nenhum jeito de se localizar ou se guiar de algum modo. E de quem foi a brilhante ideia de ir por um "atalho" improvisado até a cidade mais próxima? 

— A culpa não é minha, ok? — protestou Natt — Não tenho nada a ver se de repente o GPS ficou fora de sinal. Mas e se for interferência? Vejamos...

Enquanto a garota fuçava no interior do dispositivo, Daisuke avistava uma cidade isolada no meio daquelas planícies rochosas. Como ele não havia percebido até agora? Bem, é verdade que o sol escaldante e a frustração por estar perdido não ajudaram, então Daisuke atribuiu a culpa a esses fatores. Por hora.

Não parecia uma cidade muito desenvolvida em relação à capital, mas tinha tecnologia o suficiente para fazer Daisuke ter cautela com seu campo AE. Embora a maioria das casas tivesse aparência simples, o povo se maravilhava nas ruas com novidades tecnológicas trazidas do exterior: robôs, próteses, computadores portáteis e outras quinquilharias.

Na verdade muitos dos itens já possuía tecnologia obsoleta, de um século atrás, como Daisuke notou. Essas pequenas cidades localizadas em lugar nenhum eram provenientes de países devastados pela Aliança, sendo desprovidos de conhecimento e tecnologia. Não era incomum aparecer um comerciante e ser bombardeado por uma multidão querendo comprar seus produtos, por mais banais que fossem.

Mas toda a empolgação da cidade foi interrompida pela chegada dos dois forasteiros. Novamente nossos viajantes foram recepcionados com hostilidade infundada — ou nem tanto assim, como viriam a descobrir. Natt não foi capaz nem mesmo de comprar um novo brinquedo.

— Não é brinquedo, seu garoto da selva — respondeu Natt à observação de Daisuke —. Nem ao menos sabe sobre isto? Bem, o "brinquedo" aqui é a última versão do Novivida, e também a causa de você nunca encontrar muita gente pelas ruas em cidades grandes. É simplesmente o dispositivo perfeito: comunicação, diversão, informação, troca de dados, mapas dinâmicos... enfim, tudo o que uma pessoa precisa está aqui. De fato, estão pensando até em tirar o GPS no futuro, considerando a inutilidade que está se tornando viajar por grandes distâncias. 

Daisuke já vira muitas coisas assustadoras em sua viagem, mas o que mais o perturbava era sem dúvidas a direção à qual ia o mundo. Se antes essas ideias pareciam apenas devaneios de seu amigo Masaru e rumores espalhados por aí, agora era possível armazenar "tudo o que uma pessoa precisa" em um aparelho qualquer. Para tentar se informar mais sobre o mundo, Daisuke folheou um jornal qualquer, desinteressado, conseguindo captar apenas a 2 de fevereiro.

Um tanto distraído pelas notícias, Daisuke por pouco percebeu quando um jovem sacou uma faca e correu em sua direção. Conseguiu repelir o ataque, mas o delinquente tinha amigos, que aliás não pareciam se importar nem com o horário nem com as pessoas em volta. Seria uma luta fácil, mas Daisuke queria ter certeza de usar o mínimo de força necessário.

Com evasivas e agarrões, o garoto tentou usar a força dos agressores contra si próprios, mas estes persistiam em levantar-se e contra-atacar com brutalidade. Natt decidiu intervir e usou golpes rápidos na nuca dos membros da gangue. Também em vão. Furiosa, logo mudou de semblante e literalmente fez o líder chorar com tantos chutes, mesmo caído no chão. 

Antes que pudesse materializar sua boa e velha Glock 18, Daisuke percebeu suas intenções e a impediu:

— Já chega. Veja, eles estão fugindo.

E de fato estavam, seguindo o amedrontado líder. Como se nada tivesse acontecido, Natt propôs:

— Então, devíamos achar uma hospedaria ou algo do tipo, certo? Acho que pelo menos um teto eles não podem nos negar...

— Não é brincadeira, Natt — secamente cortou Daisuke —. Você parece não ter percebido ainda, mas o mundo é dominado pela Aliança. Tudo é o território do inimigo. Cometa o mínimo deslize e ninguém sabe o que pode acontecer. Só sei que a última coisa que quero é ser caçado pelos próprios civis como criminoso.

voilá: estava instaurada a atmosfera mais desagradável possível. Percebendo que se excedeu um pouco, Daisuke tentou amenizar, mas não foi muito eficaz:

— Quer dizer, er, digo, bem. Sim, sim, vamos indo achar um lugar para passar a noite. E desculpe, minha intenção...

— Não precisa se desculpar, você não é o primeiro a notar isso.

Realmente, era o segundo. Mas cada vez mais Daisuke se assemelhava a seu mestre; Maxell Gumendi era seu nome, como descobriu depois. Este também havia rapidamente percebido sua principal e fatal fraqueza, que se tornou ainda mais evidente quando assumiu a função de assassina. Ainda lembrava-se de seu primeiro sermão, embora não o compreendesse na época:

— Natt, entendo que tenha sido forçada cedo demais a enfrentar as dificuldades do mundo e confiar em seus instintos acima de tudo, mas realmente acha isso natural? Você tem um talento muito poderoso, mas como espera usá-lo sendo dominada por ele? Resista aos impulsos. Não deixe que seu alterego tome conta, ou todos ao seu redor sofrerão sua consequência, até que sua própria existência seja destruída e torne-se escrava do instinto.

Como antes, entretanto, via essa cautela com muito ceticismo. Afinal, ela conseguiu se virar muito bem até agora, e com certeza acabou de salvar a vida de Daisuke. Que diferença faz se um ou outro acabar morto? Não é um pensamento normal? Ora, em plena luz do dia as pessoas veem forasteiros sendo atacados e não fazem nada. Isso é que não é normal.

Dezenas de olhares desconfiados e indiretas ácidas depois, os viajantes conseguiram enfim alojar-se em uma hospedaria nos limites da cidade. Um aviso mais do que óbvio para eles acordarem antes de todo mundo e darem o fora dali imediatamente. Daisuke, entretanto, passou a noite inteira preocupado com algo.

Apesar do conflito de interesses, ambos tinham claro em suas mentes que algo estava definitivamente errado. Daisuke também não conseguia tirar o Novivida de sua mente, recordando-se de momentos no passado com Masaru. Ele sempre tinha algo novo, mas nunca concretizava; planos geniais, embora sinistros e impraticáveis; e apesar de tudo sempre iluminava qualquer lugar com sua presença. Mas isso era passado.

No dia seguinte, Daisuke e Natt se apressaram para sair da cidade o quanto antes, mas antes precisavam passar por um beco no mínimo suspeito. Estranho, ele estava ali no dia anterior? Não foi muito inacreditável eles terem sido atacados por pessoas encapuzadas assim que tentaram passar por lá, mas o impressionante foi Daisuke realmente ter sido capturado.

A pedido de Daisuke, Natt também permitiu a derrota e os dois foram levados a alguma base subterrânea, presos a duas cadeiras por cordas no centro de um círculo. Ao redor deles estavam os sequestradores. 

— Então, podem nos dizer o que diabos está acontecendo aqui!? — esbravejou Natt.

— Silêncio, assassinos — ordenou um deles, que retirou seu capuz e revelou-se como o prefeito da cidade —. Vocês foram mandados aqui pela Aliança, certo? Mas por que tinham que matar cidadãos perfeitamente inocentes? Não se contentaram só com a vida da família e agora querem arruinar tudo por qual trabalhei?

Sem entender nada, a garota não pôde evitar um sentimento irritante de déjà vu. Se houvesse algum deus ou destino naquele mundo, com certeza não era muito criativo.

— Você tem razão, Natt — disse Daisuke, como se tivesse captado os pensamentos da companheira —, não é um cenário muito criativo. Então por que não apimentamos um pouco as coisas?

Mal tinha terminado de falar quando subitamente desapareceu e apareceu bem atrás do prefeito da cidade, matando-o com um soco através do peito. Antes que alguém pudesse sequer entender o que aconteceu, a terra começou a tremer e, um a um, todos os encapuzados expeliam alguma fumaça negra de seus pulmões e caíam mortos no chão.

— Então "Deus", como vai ser? Vai deixar seu cenário assim mesmo? — questionou Daisuke, olhando para cima e procurando por alguma coisa.

Quem visse a cena certamente pensaria que Daisuke havia perdido completamente o juízo, e Natt compartilhou dessa visão:

— Você ficou louco? — enfim se manifestou Natt — Mas o que... olha, eu não sei nem por onde começar. Em primeiro lugar não saia provocando terremotos por aí, seja lá como tiver feito isso. Em segundo, quer dizer que você pode matar quem quiser e eu não? Mas isso...

— Desculpe Natt, não posso conversar, vai ter que ficar para amanhã. Veja, um buraco negro atrás de você.

— Não me venha com essa de um buraco negro atrás de mim! Espera, o quê?

Mas era tarde demais. O bizarro buraco negro sugou a tudo imediatamente, sem deixar nenhum rastro por trás. No dia seguinte, Daisuke despertou mais cedo a fim de fazer algumas explorações, mas foi surpreendido por Natt na saída da hospedaria.

— Indo a algum lugar? — perguntou a garota.

Relutante, Daisuke aceitou a companhia e começou a andar calmamente pela cidade. Seguindo ele estava Natt, com intenções não muito boas e um revólver em mãos. Uma hora depois, entretanto, a jovem novamente despertou. Recordando-se dos acontecimentos estranhos do dia anterior, foi logo buscar satisfações com Daisuke, mas este não estava em seu quarto.

Justo quando as coisas não podiam ficar mais estranhas do que já estavam, Natt olhou para fora da janela de seu quarto e avistou mais uma vez a cidade vazia, exceto por uma banca de jornais. Caminhando em direção a ela, Natt quis comprar o jornal do dia para encontrar alguma pista, mas logo estranhou seu conteúdo e requisitou ao jornaleiro a edição mais recente.

— Como assim, mocinha? — indagou o senhor, confuso — O jornal de hoje está bem à sua frente.

— Mas aqui não está escrito que é o jornal de 2 de fevereiro?

— Exato, e hoje é o segundo dia de fevereiro. Não é uma data particularmente importante, mas é um dia como qualquer outro.

Se dois dias atrás era 2 de fevereiro e o dia atual também era 2 de fevereiro, seria essa a terceira vez em que passavam pelo mesmo dia? Como era possível? Natt não era a única completamente perdida, entretanto. Ao mesmo tempo, Daisuke se perguntava por que sua companhia agia como se nada tivesse acontecido no dia anterior nem estivesse zangada. E então um tiro foi disparado. 

O estrondo ecoou pela cidade e chamou a atenção de Natt, que desesperadamente correu em direção ao distúrbio.


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