Alterego escrita por Gavrilo, Drablaze


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu gosto de flashbacks. Mas tudo bem, vamos ficar no presente por um tempo depois dessa.



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"Droga de mosquitos, droga de umidade, droga de vegetação densa..." era o que passava pela mente do jovem oficial, entre outras coisas pouco agradáveis. Ali estava ele, Fremme d'Elig, herdeiro da honrada família d'Elig, em uma simples missão de transporte. Devia proteger umas tais adagas Ymir e levá-las com segurança ao destino, como um burro de carga.

Claro que devia manter esses pensamentos bem ocultos, considerando que os soldados já não estavam muito satisfeitos com ele sem pronunciar uma única palavra. E nem precisava. Ali estava ele, Fremme d'Elig, herdeiro da honrada família d'Elig, posto como líder de um esquadrão sem absolutamente nenhuma experiência de campo. E ainda vêm com a desculpa de ele ter sido treinado com e pela a elite. Claro, não podia ser diferente.

No meio desse clima desconfortável entre Fremme e o resto do esquadrão estava o jovial vice-líder, cujo nome coincidia com seu cargo. Se estava cozinhando era Cozinheiro, se estava pilotando era Piloto, se estava simplesmente vagando por aí era Vagabundo. E estava muito feliz assim. Similarmente, se importava pouco ou nem dava a mínima para nomes e títulos dos outros, incluindo Fremme. Ele era simplesmente o líder a ser seguido.

Como se o drama já não fosse o suficiente, eis que escondido nos arbustos encontra-se um raquítico jovem, na certa sem comer — ou tomar banho — há algum tempo. Estava começando a achar que seria melhor seguir Natt por um tempo antes de seguir seu próprio caminho, com pelo menos o equipamento adequado para caçar e sobreviver, mas aquela expedição era sua esperança.

O grupo desbravava a floresta em ritmo constante dia após dia, semana após semana, assim como Daisuke, que aproveitava as noites para comer junto aos viajantes. Por comer junto entenda-se saquear mantimentos e comê-los a uma distância apropriada de forma a ter certeza de que não notaram. O tempo passou e o jovem foi aos poucos aprendendo a lutar com armas; embora, claro, ainda estivesse desarmado.

Notou que as armas estavam diretamente ligadas ao alterego, então não era necessário, por exemplo, ser um espadachim para conseguir manipular uma espada. Aprendeu que era possível manipular o campo AE para adequar-se à ofensiva com armas, apesar de não compreender exatamente como funcionava a mecânica. E também aprendeu o quão atraentes eram armas de rank S quando se viu obcecado em possuir as adagas.

Logo o esquadrão e seu indesejado parasita chegaram à cidade de destino, maravilhando-se com as novidades tecnológicas de lá e a bela visão noturna. Daisuke, entretanto, via tudo aquilo como um show de luzes desnecessário e indutor de epilepsia e ficou pouco impressionado com os veículos flutuantes, tubos que levavam a qualquer lugar e braços mecânicos aleatórios que faziam todos os serviços necessários.

Os soldados estavam particularmente ansiosos em experimentar a famosa vida noturna e bebidas estimulantes do local, mas mal puderam expressar seu contentamento quando Fremme pronunciou-se:

— Muito bem, chegamos ao local combinado com antecedência. Vamos aproveitar a chance para fazer relatórios individuais e repousarmos nos alojamentos o quanto antes, pois amanhã será um dia importante.

Imediatamente comentários de descontentamento preencheram o ar, forçando o vice-líder a tentar remediar a situação:

— Senhor, acredito que possamos deixar essas atividades para depois, não? Foi uma missão difícil e temos o direito de aproveitar a noite, você incluso. Pelo menos vamos discutir no alojamento...

— De maneira alguma — cortou Fremme —. Se vocês querem vadiar por aí, ótimo, mas não agora. Não estou pedindo para gostarem de mim ou das minhas decisões, estou ordenando que me obedeçam até o final dessa porcaria de missão para com sorte nunca mais vermos um ao outro, entendido?

O esquadrão ficou em silêncio, dessa vez mais por estarem surpreso que aquele riquinho sabia dar ordens. Pelo menos deixou bem claro que também não gostava deles e sabia que o contrário era igualmente verídico.

— Eu perguntei se me entenderam!

— Sim, senhor! — responderam em uníssono.

Claro, nada os impedia de se divertirem, só não fora do alojamento. Assim que Fremme e o vice-líder adormeceram, os soldados abriram a caixa na qual estavam alojadas as adagas e... elas não estavam lá. Graças às habilidades de alguns, foi possível enganar a Fremme trocando a caixa das adagas com a das bebidas, também obtidas em segredo.

Enganaram ao líder de esquadrão, mas não a Daisuke. O garoto rapidamente descobriu o esconderijo e fugiu com a caixa, muito mais pesada do que parecia por sinal, e tudo o que conseguiu carregar de comida. O dia seguinte não podia ser pior para Fremme: subordinados alucinados, mercadoria perdida, mantimentos roubados e superiores furiosos.

No lugar dos quinze soldados, aceitou levar a punição de cada um somada à sua própria: quatro chibatadas por homem. Logo em seguida precisou "acordá-los" do transe com alguns litros de água fria e uma dose de pancadas, organizando imediatamente um plano de busca. Um plano bastante eficiente, aliás, considerando que Daisuke foi encontrado antes mesmo do meio-dia, mas os capitães levaram o crédito de qualquer forma.

Capturado na floresta, Daisuke aguardou por Fremme para decidir o que fariam com ele, mas "cobaia" parecia um destino bem provável pelo teor da conversa. Ainda não entendia Samtes completamente, mas conseguiu captar conversas bem sinistras vindas dos soldados. Surpreendentemente, a maioria dizia respeito ao líder do esquadrão, que veio imediatamente à sua procura:

— Bom trabalho, homens. Então... você é a formiguinha insolente que roubava nossos mantimentos? Sabe, desde o início eu sabia de sua existência, mas fiz vista grossa porque tínhamos reservas e você não causou nenhum mal. Mas tinha que ter a ideia brilhante de roubar o item que devia proteger e atrapalhar a missão no último instante. Saiba seu lugar, garoto bárbaro. Por acaso sabe quem sou eu?

Sem entender nada da variação culta da língua que o estranho usava, Daisuke permaneceu em silêncio, sempre visando as belas adagas Ymir.

— Não vai deixar suas últimas palavras? Pois bem, vou assumir que está pronto para morrer então — disse Fremme, sacando uma espada.

— Espere, senhor — interveio o vice-líder —, devemos capturá-lo vivo, lembra-se?

— Não, eu tenho uma ideia melhor — sugeriu um dos soldados —. Por que o senhor não luta de igual para igual com o garoto? Afinal, se ele quer tanto a adaga, nada mais natural que mostrar a diferença entre um pirralho qualquer e o senhor independente da arma usada. Não concordam, pessoal?

Um grande grito de aprovação ecoou pelo local, enaltecendo o ego de Fremme, que com um sorriso respondeu:

— Pois muito bem. Agradeça aos céus, garoto, terá a honra de lutar contra mim!

As regras eram claras, menos a Daisuke, que não entendia muito do que aquilo tudo se tratava: seria um duelo relativamente justo, com cada combatente portando uma das adagas Ymir. Armas adicionais seriam proibidas, mas todo o resto era permitido. Em suma, um duelo de vida ou morte. Apesar dos apelos do vice-líder a Fremme, sugerindo-o a seguir a razão, o oficial tomou a dianteira.

Com sucessivos golpes, Fremme tentava perfurar o adversário, que se esquivava de todos com destreza. Atingido por um chute, Daisuke foi mandado para longe e permaneceu algum tempo no chão enquanto Fremme se vangloriava de alguma porcaria que não estava interessado em ouvir. Alguma coisa o prendia ali, chamava-o, clamava por seu nome.

Daisuke olhou para sua adaga e percebeu uma espécie de brilho singular, seguido por algo parecido com um sussurro. Quando Fremme estava pronto para cravar sua arma no oponente, este esquivou-se tão rapidamente que poucos conseguiram acompanhar seus movimentos. O oficial tentou segui-lo, mas percebeu que seus pés estavam presos ao chão por uma camada espessa de gelo.

— Mas isso é... Já é um milagre um verme conseguir usar a adaga sem ser rejeitado, então como é capaz de chamar seus poderes com tanta facilidade?

Sem tempo para responder, Daisuke tomou impulso e preparou um soco, mas o alvo se livrou do gelo com movimentos bruscos e manteve distância. Percebendo que tinha poucas chances contra uma arma de rank S, Fremme avançou sem cuidado em direção ao combatente, colidindo com uma pedra e perdendo sua arma no processo.

Enquanto Daisuke se distraía com a aparente trapalhada, Fremme arremessou um monte de poeira em sua face e materializou uma espada, indo diretamente ao pescoço. Os espectadores logo manifestaram sua fúria em forma de zombarias:

— Ei, isso é trapaça, senhor!

— Qual é, não consegue derrotar um pirralho qualquer de forma justa?

— Esperem pessoal, ainda não acabou!

Uma camada de gelo envolveu todo o corpo de Daisuke, anulando a investida de Fremme; este manteve-se furiosamente atacando o gelo à procura do oponente, mas já era tarde. Daisuke acertou o oponente em cheio por trás com um golpe na nuca, confundindo seus sentidos. Derrotado, Fremme exclamou desesperadamente que o matassem, mas foi aparentemente ignorado.

Ao fim do combate, Daisuke capturou a adaga do chão e usou sua locomoção ainda mais rápida para escapar facilmente dos soldados — não que estes estivessem muito empenhados em impedi-lo. Agora tinham motivos de sobra para culpar Fremme e suas condutas irresponsáveis incoerentes à função ocupada.

Normalmente seriam motivos mais do que suficientes para executar um oficial, mas a família d'Elig estava conquistando oportunidades muito importantes à Aliança, então Fremme foi tratado de forma "especial". Foi mandado a um instituto militar, onde eram conduzidos experimentos sobre alterego e formas eficientes de tortura disfarçados de treinamentos disciplinares.

Se alguém sobrevivesse àquele inferno, tornaria-se ou completamente destruído ou um soldado obediente. Nenhum dos dois aconteceu a Fremme, entretanto. Ele tornou-se um soldado perfeito. Por mais torturas e drogas que recebesse, Fremme não reagiu uma única vez. Imerso em seu próprio mundo, pensava em tudo sem se concentrar em nada. Nada mais fazia sentido.

Tinha sido forçado a tomar o orgulho de seu nome e viver em função do status, precisando ser sempre o melhor e fazer os outros admitirem isso. Foi educado sob os mais rígidos padrões para ser treinado como um bom militar, e com muito esforço próprio conseguiu um lugar na Aliança. Mas serviu de alguma coisa? Absolutamente nada.

Passou a vida inteira iludindo-se como o maioral para ser derrotado por um garoto aleatório. Aliás, quem era esse garoto? Queria saber. Queria conhecer cada detalhe, ponto fraco e forte dele. Não estava preocupado em superá-lo nem algo do tipo. Seu único desejo agora era destruí-lo, total e completamente, não por alguma justificativa hipócrita, mas simplesmente porque ele por acaso entrou em seu caminho.

Fremme não percebeu quando nem por que, bem como os espantados cientistas, mas havia manifestado um poderoso alterego durante sua permanência no instituto. Era um estado de negação absoluta. Por mais que tentassem fazer contato com Fremme, mal conseguiam tocá-lo, não que isso provocasse algum estímulo no jovem.

Ao sair estava decidido a subir na hierarquia da Aliança para perseguir Daisuke com todas as suas forças. Não demorou muito tempo para conquistar seu espaço na Aliança e obter a alcunha "Máquina de Guerra", já que combater e comandar era a única coisa que sabia fazer. E muito bem.


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