- Tu és louca? – Gritou ele

 - Espera, deixa-me explicar!

Estávamos ainda na sala e eu tinha ido buscar um cigarro á cozinha e estava agora sentada ao lado dele. Ele continuava imóvel deitado no tapete. Resolvi dizer-lhe qual era o meu plano contra o eventual ataque do SC.

 - Não quero ouvir nada disso e nem vais fazer nada disso! – Dizia ele prestes a ficar irritado

 - Posso explicar? Pensa comigo, em qualquer guerra ganha quem tiver a melhor estratégia e neste caso a melhor estratégia não é esconder-me a um canto à espera que passe. Podemos meter um espião dentro da organização que nos avise com antecedência dos planos deles e em vez de fugir, pois assim teria que fugir para sempre, deixo-me capturar!

 - Pois, és louca!

 - Espera, ainda não acabei. Quando eu for capturada, tu sabes e pões em prática o plano que eu te vou explicar.

 - Já sei, vou lá e mato-os a todos!

 - Errado!

 - Errado? Então?

 - Se fores lá e matares toda a gente quem achas que serão os suspeitos? Uma organização contra os vampiros que desaparece sem deixar rasto? Uhmm, quem terá sido? Se calhar, lobisomens, não? – Fui o mais sarcástica consegui

 - Os lobisomens não existem, são apenas um mito! – Disse ele sem nenhum sentido de humor

 - Ora Eric, também vocês eram! Sabemos lá o que mais há por aí!

 - Mais nada! Somos só nós! – Ele continuava com um humor de cão, ou melhor, de vampiro!

 - Voltando ao plano, não é para matar ninguém! Matar uns só faz aparecer outros! O ódio traz mais ódio. Nada melhor que desacredita-los perante a opinião publica, de modo que fiquem demasiado marcados e não possam reabilitar a organização nem consigam mais adeptos

O Eric ficou mais atento. Quando as ideias têm lógica ele aceita-as.

 - De que modo pensas poder ser possível isso?

 - Acusa-los de pedofilia! Pensa comigo, se as autoridades encontrarem provas de que a organização era toda ela uma fachada para a pedofilia, a vida deles acabou. Ninguém mais lhes vai dar ouvidos. Mesmo que afirmem a sua inocência serão sempre apontados como molestadores sexuais e para isso basta decapitar o pastor-mor da organização. Basta ele ser condenado por actos sexuais com menores para todos os outros abandonarem a organização.

 - Os mais importantes sabem que foi um esquema

 - Pois sabem! Mas andam cá neste mundo, vivem em sociedade e quem vai querer ter vizinhos a cuspir-lhes na cara depois disso? Uma coisa é morrer em combate contra os inimigos da raça humana, outra muito pior é continuar por aí a serem ofendidos e maltratados todos os dias da sua vida sem ninguém que os siga e os compreenda. Por mais que digam que foi um esquema dos vampiros para decapitar a organização, ninguém vai acreditar e a maioria é fraca o suficiente para tentar salvar a própria cara depois disso.

 - Pode haver um ou outro que tente continuar a organização – disse ele

 - Pois pode mas a maioria é fraca. Só os fracos de espírito entram para seitas. Sem novos adeptos e sem os antigos, mesmo que um ou outro tente continuar a empreitada, sem adeptos e sem o dinheiro que eles lhes dão, não há futuro nenhum para eles.

O Eric ficou a pensar por uns minutos. Tentava encontrar uma falha no meu plano.

 - Como é que provamos a pedofilia? – Perguntou ele

 - Isso conto contigo e com os teus contactos. Basicamente vai ser necessário encher os pc’s deles de pornografia infantil, de preferência fotos que pareçam ter sido tiradas dentro da igreja. Montagens que não possam ser descobertas em tribunal. Dava jeito também um esqueleto ou outro enterrado lá.

 O Eric riu alto

 - Tu estás a tornar-te melhor que a encomenda! Queres que mate umas quantas crianças para os incriminar?

 - EHHHHHHHHHHH, alto. Posso ser maquiavélica mas não chego a esse ponto. Não, uma coisa bem mais simples para vocês que parecem não vomitar como nós humanos. Não há-de ser assim tão complicado roubar uns corpos de jovens de algumas valas comuns, daqueles pobres que nunca foram identificados. Basta tirar um ou outro do lugar e enterra-los lá. Com a vossa capacidade de se desfazerem de corpos, não me parece muito difícil que consigam fazer isto.

 - Isso são muitas provas, mesmo para mim, vou precisar de ajuda!

 - Também não me parece muito difícil que encontres adeptos entre os vampiros para ajudar a terminar com uma organização que prega e prepara-se para começar uma guerra santa contra vocês. Não precisas de dizer que o móbil sou eu. Duvido que não arranjes ajudantes com os motivos que já existem.

 - A maioria iria preferir arrancar umas cabeças

 - È aí que tu entras ao explicares-lhes que assim será muito mais eficiente do que chegar lá e matar tudo de uma vez só.

 - Falta o espião! – Disse ele – Não pode ser um vampiro! Quem é que tu confias para semelhante missão?

 - O Mário, o pai da Catarina.

 - E porque faria ele isso?

 - Porque ao contrário de ti, eu não aceitei os 50.000 euros que ele me queria dar, sendo que agora ele me deve um favor. Eu salvei-lhe a filha e ele agora sente-se na obrigação de me ajudar. Porque é um homem rico, vai ser recebido de braços abertos na organização. Sendo que tem uma filha que já esteve entre a vida e a morte por beber sangue de vampiro, logo é uma história credível para os extremistas.

 - Ela esteve entre a vida e a morte às mãos de humanos, não de vampiros.

 - Sim, mas se os vampiros não existissem, não haveria tráfico e logo….

Ele sorriu e eu vi que ele estava convencido.

 - Tu és má! – Disse ele

 - Não! Tenho um forte instinto de sobrevivência. Se não me fizerem nada também não despertam em mim estas capacidades. Não faço mal a ninguém sem motivo, agora não me tentem matar que eu respondo.

 - Tu pareces mesmo uma vampira!

 - Não! Eu não tenho gosto de matar, nem quero matar

 - Vais aplicar-lhes um castigo pior que a morte! Condena-los a uma existência miserável. Apontados na rua como monstros. A morte seria um castigo muito menor!

 - Eu sei – e não me pesou minimamente a consciência