Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 23
Capítulo 23




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Nas semanas seguintes preparamo-nos para a guerra. Não tínhamos ainda a menor ideia de quando eles iriam atacar, nem como.

Havia trabalho a ser feito e tinha-mos que o fazer. Tomei a decisão que tinha que ser tomada.

Despedi-me.

Precisava de tempo para me preparar, precisava de me manter segura e não ser capturada antes de tempo.

O Eric ficou admirado com a minha decisão. Confessou-me que já tinha pensando em falar comigo sobre o assunto mas que achou que eu não iria aceitar semelhante coisa e ele tinha razão. Se fosse uma ideia dele provavelmente teria recusado. Sentir-me-ia uma pobre indefesa em busca da protecção do seu homem. Assim como fui eu e apenas eu que tomei essa decisão parecia-me a atitude lógica de quem quer sobreviver e vai fazer tudo para o conseguir.

O meu despedimento levantava ainda outras questões. Era um assumir público da evolução da nossa relação já que me mudei para a casa dele e era obvio que era ele que me sustentava. Continuar humana e nestas condições era aguçar o apetite a todos os que acusavam de traidora da raça humana.

Foi difícil esconder dos meus amigos os reais motivos da minha atitude. A maioria apresentava um ar de tristeza, como se eu estivesse finalmente a fazer a escolha final entre a vida e a morte para ficar com ele. Apesar de eu afirmar que isso não iria acontecer que ia continuar tão humana quanto antes, a maioria não acreditava que tudo ficasse como antigamente. Mesmo que não mudasse de espécie, iria passar a viver fundamentalmente de noite e muito mais próxima dos vampiros do que dos humanos. Era como se me vissem a morrer lentamente diante dos seus olhos.

Tentei explicar que a minha decisão tinha a ver apenas com uma vontade de ter mais tempo para uma relação que no nosso caso parecia o chamado namoro entre a mulher-a-dias e o guarda-nocturno. Um de nós tinha que mudar de horários para podermos estar juntos.

O Carlos, um antigo colega de trabalho, numa empresa anterior perguntava-me do que é que eu iria viver, se ia ser sustentada por ele, se a relação acabar, não teria ordenado. Contei-lhe a mesma versão que aos restantes, que iria assumir um cargo de gestão numa das empresas do Eric. Era uma mentira esfarrapada mas parecia dar algum consolo a quem ouvia. Afinal sempre mantinha um contrato de trabalho, poderia ter alguma coisa caso a relação falhasse.

Foi difícil também esconder a verdade da Leonor mas aparentemente foi ela que melhor aceitou. Talvez pressentisse que eu estava apenas a proteger-me do SC ou como sempre foi uma mulher que deu muita importância à família, não achasse tão estranho assim que eu quisesse estar com a minha família, mesmo que essa família tivesse presas e mordesse-me de vez em quando.

Tirando o Eric e a Pam, só um humano soube da verdade, que foi o Mário. Fui ter com ele a sua casa, numa hora em que a Catarina não estaria. Se eu estivesse a ser vigiada, era de conhecimento publico que eu e ela éramos amigas, não seria estranho ir visita-la. Isso não inviabilizava que o Mário não gostasse de mim.

Contei-lhe o meu plano e pedi-lhe a sua ajuda. O Mário nem pestanejou. Como eu esperava reafirmou que desde que eu lhe salvei a vida da filha que estava em divida comigo e que o papel que lhe calhava não era nem um 1/10 do perigo que eu corri.

Afinal só tinha que se fazer de extremista religioso e ouvir com atenção. Combinamos todos os pormenores. Não voltaríamos a ver-nos até tudo ter passado. Deixei-lhe um telemóvel pré-pago com saldo para que me pudesse contactar para outro telemóvel pré-pago que arranjei. Talvez estivesse a ser demasiado paranóica, com todas estas precauções mas já que é para lutar, cobre-se todos os flancos. Sabia lá se eles investigavam os novos membros da congregação!

Seria através daqueles 2 telemóveis que eu esperava saber com antecedência o plano e assim preparar-me para ele.

Sabia ainda que haveria uma altura em que teria que sair da casa do Eric. Ninguém me iria lá dentro capturar. Esperava ter tempo para preparar tudo e não perder a coragem até lá.

O Eric meteu em prática o seu lado do plano muito mais técnico e complicado que o meu. Forjar provas e enterrar corpos em propriedades alheias era uma empreitada mais difícil que a minha que basicamente consistia em deixar-me apanhar.

O Eric ainda contestou esta parte do plano no decorrer dos dias. Se os vamos arruinar para que vais deixar-te apanhar?

Bom, este era o único pormenor em que eu não estava a ser lógica e pragmática e sim humana em último grau.

Eu queria ver quando eles caíssem. Queria ver nas suas caras o ódio de terem sido enganados. Queria que soubessem quem estava por trás de tudo e que tinham perdido. Queria mostrar que não tinha medo e que podia defender-me do ódio gratuito. Eu sei que é uma atitude deplorável da minha parte mas que diabo, sou apenas humana e como tal sou imperfeita!

Quando todas as engrenagens estavam em funcionamento nada mais restava do que aguardar.

Estava a ser difícil para mim. Enquanto estive ocupada a pôr o plano em funcionamento tinha algo com que ocupar a mente. Agora só tinha que esperar novidades do Mário. O Eric continuava ocupado com um sem número de contactos com vampiros locais e de outros países. Contrataram os melhores hackers e designers gráficos que encontraram, que fossem simpatizantes da causa dos vampiros. Só assim alguém aceitaria participar em semelhante esquema, se sentissem que a sua causa era nobre e que os terroristas deviam ser eliminados. Claro que foram pagos a peso de ouro pela via das dúvidas. Os vampiros quando tem algo a fazer, são excelentes a faze-lo. Em dias conseguiram reunir um sem número de provas fotográficas, vídeos e históricos em pc’s que podiam comprovar um sem número de acessos a sites de pornografia infantil. Às vezes ocorria-me que estava a usar um assunto muito grave contra os meus inimigos mas no amor e na guerra vale tudo.

Por fim, o Eric disse-me que o mais complicado estava feito. 2 corpos de jovens que morreram sem identificação, estavam agora enterrados dentro da igreja de uma forma que não seria possível perceber que tinham sido transladados para lá agora e não há 2 anos. Não sei como conseguiram eles fazer isso sem serem detectados mas também não queria saber todos os pormenores dessa parte do plano. A ideia foi minha mas não me agradava a ideia de corpos de jovens em decomposição avançada andarem a mudar de campa. Era uma falta de respeito para com a pessoa que tinham sido em vida mas preferi pensar que ninguém se rala com o que façam com o corpo após a morte. Eu pelo menos não me ralaria.


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