Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 12
Capítulo 12




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A cama dele era ampla, de cor clara que contrastava com os lençóis pretos de cetim. Tudo nos vampiros é sexual e rodeiam-se de objectos que induzem a ideia de sexo.

A casa não estava fria e eu sentia-me confortável. Estávamos deitados há uns minutos sem dizer nada. Ele deitado de costas, com um braço por trás da cabeça e eu deitada com a cabeça no seu peito silencioso. Na realidade era uma boa sensação. Nunca achei confortável estar com o ouvido encostado a um peito onde bate um coração e que sobe e desce com a respiração. Estar com ele após o sexo era como um calmante poderoso.

Ele acariciava o meu cabelo com a mão livre e eu pensei que poderia dormir assim.

 - Estás a pensar! – Disse ele

 - Sim, era difícil esconder o que quer que fosse dele. – Estava a pensar como é estranho o que sinto contigo.

 - Estranho?

 - Sim, seria normal temer-te. És um predador, és um assassino a sangue frio, mesmo que tenhas ou não motivos para o ser, no entanto nunca me senti tão em paz com alguém como me sinto contigo. Acho que não sou normal!

 - Não, não és. Eu já te tinha dito que não eras uma humana comum! – Disse ele divertido

 - Não o estava a dizer como um elogio, estava a dizer que devo ser louca e ainda não me apercebi.

 - Gostas de mim!  - Afirmou ele

 - Sim! – disse-lhe.

 - Vou-te contar o que significa aquilo que ouviste.

E começou a explicar-me as regras da hierarquia vampírica. Havia regras muito rígidas naquela estrutura. A antiguidade era um posto e apenas os mais velhos podem gerir territórios. São responsáveis por todos os vampiros que vivem na sua região e devem manter a ordem. Antigamente antes da grande revelação, os responsáveis deviam manter os seus súbditos controlados, a fim de não existir corpos drenados por aí na via publica que os denunciasse. As crias eram ensinadas desde à hora da sua criação a controlar a sua sede e a hipnotizar as suas vítimas para que pudessem alimentar-se sem matar e sem conhecimento da própria vítima. Estas regras tinham sido criadas após o século XVII, quando a caça desregrada de alguns vampiros na cidade de Londres fez a população acreditar na sua existência e mobilizar-se numa imensa caça aos vampiros, onde quase todos os vampiros locais pereceram.

Os mais antigos vampiros da época juntaram-se então e definiram as regras para evitar a sua extinção.

Nenhum vampiro deveria matar perante testemunhas. Se matasse devia fazer desaparecer com o corpo. O humano devia ser preferencialmente hipnotizado para que não se lembrasse de nada e a ferida sarada para não haver marcas. Para alguns que continuavam a preferir alimentar-se com a vítima a debater-se aterrorizada, sempre havia a hipótese de a hipnotizar depois.

 Foram estas as regras instituídas e aplicadas até aos dias de hoje. Após a grande revelação, tudo se tornou ainda mais complicado de controlar e não é possível abrir excepções a vampiros que matem sem motivo. Estão demasiado visíveis para isso e todos os olhos da sociedade estão postos neles, à espera que comentam um erro para poder afirmar com certeza que todos são assassinos e devem ser exterminados da face da terra.

Assim quando um vampiro mata apenas porque lhe apeteceu matar e ainda por cima não teve o cuidado de fazer desaparecer o corpo, pondo em risco toda uma operação e todos aqueles vampiros que se mostram como cidadãos responsáveis e cooperantes com as leis humanas, a pena aplicada é a morte e quem deve aplicar a pena é o responsável do território onde o vampiro vivia.

Tudo o que ele me explicava tinha a sua lógica. Muitos vampiros deram a cara na comunicação social, eram empresários, estavam visíveis e tinham moradas conhecidas das autoridades. Em caso de mortes causadas por vampiros seriam os primeiros a ser atacados. Não tinha a certeza se numa guerra entre vampiros e humanos se os humanos sairiam vencedores. É verdade que somos muitos mais que eles e temos armamento pesado mas eles são poderosos. Na realidade os vampiros nunca quiseram uma guerra dessas. Após a caça sofrida em Londres o que eles mais quiseram foi viver uma existência em paz e fora da visão dos humanos.

No fim perguntei-lhe:

 - O que fizeste aos corpos dos tipos que me atacaram?

 - Temos forma de os fazer desaparecer sem deixar rasto e somos muito eficientes nisso.

 - Obrigado por me fazeres entender melhor o teu mundo – disse-lhe

 - Achas que consegues viver com isto? – Perguntou ele

 - Se não achasse não estava aqui contigo. Ouve Eric, eu sei o que és e aceito-te como és. Não tenho ilusões, nem quero transformar-te em algo diferente. Gosto de ti assim e desde que não me queiras subjugar às tuas ordens, não tenho problemas com o que és, ou com o que tu fazes.

 Ele pôs a mão no meu queixo e lentamente virou a minha cara para que o pudesse encarar

Ficou a olhar-me nos olhos intensamente a estudar-me e a tentar perceber-me.

 - Nunca reages como eu esperava. Quando eu esperava que tu me fizesses um discurso sobre ser-te impossível viver no meio de tanta morte, sangue, crueldade e ausência de piedade, saís-te com um: Aceito-te como és e gosto de ti assim. Às vezes acho que não existes!

 - Mas é verdade, gosto de ti assim!

 - Amas-me?

 - Não me faças perguntas para as quais não terias resposta se fosse eu a perguntar-te.

 - Um dia vou ter uma resposta para ti!

 - Nesse dia digo-te se te amo ou não.


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