Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Conseguirá Alexandra conviver com a critica dos humanos??



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Os dias passaram como de costume. Trabalho, trabalho, trabalho. Nenhuma conversa na empresa. O silêncio começava a tornar-se insuportável após tanto tempo. É verdade que tinha amigos com quem almoçava e podia libertar toda a tensão acumulada mas para alguém tão falador como eu, era como se andasse amordaçada.

A primavera ia já longa e os dias estavam mais quentes. Era pelo menos um motivo de felicidade diária.

As noites, essas eram bestiais. Ficava em casa do Eric ao fim de semana e durante a semana ele arranjava sempre forma de aparecer uma ou duas noites conforme estava mais ou menos livre dos seus afazeres. Passou a bater-me à porta, como um cidadão normal e não entrar-me pela janela como o super-homem.

Naquela sexta ficou combinado que ia eu ter com ele ao Fagtasia. Já era figura mais ou menos conhecida lá e os vampiros pareciam aceitar-me com menos desagrado. Até tinha começado a desenvolver uma espécie de amizade com a Pam.

Quando lá cheguei, não fui revistada à porta como já acontecia há uns tempos e os outros clientes notavam.

Aproximei-me do bar e cumprimentei a Pam com dois beijos na cara. Era outro sinal da nossa crescente convivência. O barman colocou a minha bebida na minha frente sem eu pedir nada.

Fiquei na conversa com ela um bocado, discutindo os prós e os contras de estar bronzeada. Tinha estado numa esplanada nessa tarde e tinha ganho uma corzinha saudável.

O Eric saiu do seu ‘’trono’’ e veio abraçar-me como de costume. Eu de costas para ele, com ele a roçar o seu corpo pelo meu enquanto me sussurrava ao ouvido tudo o que me iria fazer nas próximas horas. Adorava aquele pedacinho de indecência que jogávamos sempre.

Quando o Eric se afastou para atender uma chamada dei uma vista de olhos pelo espaço e vejo um grupo conhecido a uma das mesas.

A Carla, Fernanda e Daniel, antigos colegas de faculdade com quem eu nunca desenvolvi nenhum tipo de amizade, estavam a olhar para mim quase de boca aberta. Nem pestanejavam.

Pensei: Bom havia de chegar a esta fase em que alguém havia de descobrir.

Sorri-lhes normalmente e fui ter com eles.

 - Então malta, por aqui?

  - Já tu, pelo que vemos, és uma habitué do espaço - Disse o Daniel

 - Tenho aqui alguns amigos, sim! – disse, ignorando a sua provocação.

A Carla e a Fernanda tinham uma expressão como se me dissessem: Estás tão lixada, amanhã toda a gente que é gente vai saber do que vimos!!!

 - Amigos? Pareceu-me que havia ali mais que amizade com o loiro! – Continuou o Daniel

E em milionésimos de segundo, tomei a decisão que a melhor forma de controlar um boato é não andar a negar aquilo que é evidente.

 - Sim.

 - Sim? Perguntaram os 3 em espanto – Andas com ele? Perguntou a Carla quase explodindo de tanta excitação de finalmente ter algo contra mim.

 - Sim, o Eric é mais ou menos o meu namorado.

Não disseram nada. As suas caras diziam tudo. Critica, julgamento, condenação e uma alegria sórdida de terem algo para contar no próximo dia.

Hipocritamente, despedi-me deles e fui para junto da Pam.

 - O que foi aquilo? – Perguntou-me

 - O que era esperado eventualmente. Alguém havia de me ver com ele e para ajudar são logo três abutres que aos anos procuram algo que possam usar contra mim.

 - Queres que os hipnotize para que não se lembrem de nada amanhã?

Que ganhava eu com isso? Se não fosse agora eventualmente alguém havia de saber. Nestes meses em que estive com o Eric, só contei a uma pessoa, à Catarina. A única que tinha os seus próprios motivos para não contar a ninguém. Não me julgou nem condenou. Riu de bom grado e disse-me: Eu bem te dizia! Perguntou-me apenas se ele me fazia feliz. Eu disse que sim e ela disse: Isso é tudo o que basta!

Não valia o esforço hipnotizar estes ou todos os próximos que descobrissem. Há muito tempo que avancei para o precipício e não tenho problemas com a minha decisão. Assumo-a sem vergonhas ou constrangimentos.

 - Não. Eventualmente haveria de se saber e eu não tenho receio da condenação dos outros. A minha vida só a mim diz respeito e quem não gostar, temos pena!

 - È isso mesmo, miúda! - Disse a Pam e espetou-me uma palmada no ombro que até entornei parte do vodka.

Perante o olhar fixo dos abutres, o Eric voltou e fez-me sinal para irmos. Despedi-me da Pam, acenei aos embasbacados de serviço e segui atrás do Eric. Esperava-me uma noite de sexo, com S grande e só isso me interessava.

Acordei por volta do meio-dia com o telemóvel a tocar. Andei à procura dele no escuro do quarto do Eric e sai para a sala para atender. O Eric dormia sempre mais ou menos entre as 6 e as 20 horas. Eu nunca dormia tanto e arranjava sempre qualquer coisa com que me entreter na casa dele assim que acordava. Via TV, lia um livro ou como ultimamente estava sol, o Eric mandou fazer um pequeno jardim nas traseiras da casa, com uma espreguiçadeira onde eu pudesse descansar e apanhar um solzinho. Eu normalmente acordava pelas 15 horas e estar a levantar-me atarantada ao meio dia, ensonada e em completa escuridão custou-me uns quantos tropeções. Finalmente deitei-me num sofá da sala e atendi o telemóvel. Era a Leonor, nem bom dia me disse.

 - Queres explicar-me o que raio de conversa é essa que anda aí a correr sobre ti, desde as 8 da manhã? Já perdi a conta às pessoas que me ligaram a perguntar se é verdade!

Não é preciso ser-se bruxa para saber o que ela estava a falar mas fiz-me de desentendida

 - Não faço a mínima. Estava a dormir. O que se anda a dizer sobre mim?

Sem sequer parar para respirar, desbobinou que a Carla e a Fernanda andavam a dizer que tinham ido ao Fangtasia na noite interior e que descobriram que eu (Alexandra) namorava um vampiro.

 - Diz-me que isto não é verdade, por favor!  - Implorava ela em choque

 - Leonor, calma. Ainda tens um colapso. Isso não é assunto para falar ao telefone. Queres ir beber um café para falarmos com calma?

 - Meu deus!! É VERDADE! Mas tu estás louca???

 - Não, não estou louca. Pára lá de gritar. Se me deixares explicar vais perceber melhor….

 - O que há para explicar?? TU ANDAS COM UM VAMPIRO! MEU DEUS!! Bem que eu achava que andavas distante há uns tempos! Precisas de ajuda? Posso ir à policia e dar queixa dele! Olha lá ele morde-te??

A Leonor estava em frangalhos e a coisa não ia ser fácil. Tentei fazer um café às escuras na cozinha enquanto tentava convence-la a parar de gritar. Desisti. Normalmente não me dou ao trabalho de tentar explicar a minha vida a terceiros mas não tenho assim tantas pessoas que considere amigos verdadeiros e não queria perder mais um, sem tentar pelo menos faze-la ver o meu ponto de vista. Depois de algumas tentativas consegui convence-la a ir beber café comigo. Vesti-me, deixei um bilhete ao Eric e levei o carro dele. Em 30 minutos estava no café combinado. Ela parecia furiosa comigo. Ia começar a falar mas fiz-lhe sinal que primeiro precisava de beber café para clarear as ideias. Ela deixou-me beber o bendito líquido batendo impacientemente o pé no chão.

Finalmente disse-lhe:

 - Ok, agora vou-te contar tudo. Não me interrompes e no fim podes falar. Combinado?

Ela concordou e eu contei a minha história toda com o Eric, desde o primeiro dia até agora, omitindo algumas partes mais sensíveis, como as mortes e o nome da Catarina que foi apenas designado como ‘’uma amiga’’.

De resto contei-lhe tudo, até a nossa ligação sanguínea e o que tinha lutado contra os sentimentos que nutria por ele. Por fim disse-lhe:

 - Eu sempre soube que no dia que soubesses ias ter um choque e por isso que protelei ao máximo contar-te. Sei que tens imenso medo dos vampiros e não te vou dizer que eles são uns anjinhos que não fazem mal a ninguém, porque te estava a mentir mas o Eric faz-me bem. Muito bem. Sinto-me melhor com ele do que qualquer outra pessoa que já tenha passado pela minha vida. Ele ouve-me, compreende-me, faz-me rir e faz-me feliz. Podes dizer que está errado mas achas que devo afastar-me de alguém que me faz tão feliz apenas porque ele não é exactamente igual aos outros?

Ela parecia estar a pensar e finalmente disse:

 - Acontece que a diferença neste caso é uma grande diferença. Tu dormes com o inimigo. Tu dormes e fazes sexo com o teu predador natural. Um dia não acordas.

 - Ele não me vai matar e antes que o refiras, nem transformar-me em algo igual a ele. Porque o faria agora se já teve tantas oportunidades para o fazer e nunca o fez? Porquê agora que é mais ou menos publico, pelo menos para a clientela do Fangtasia, que temos uma relação mais ou menos séria?

 - Ele pode não fazer de propósito. È um animal e um dia perde o controlo!

 - Amiga qualquer mulher humana pode ser morta pelo seu amante humano ou vais-me dizer que não é quase diário que se ouve ou lê algo do género na comunicação social. Maridos, amantes, namorados ou candidatos a que matam a mulher sem dó nem piedade? Tu não o conheces e muito menos da forma que eu o conheço. Ele nunca me fará mal.

 - Os vampiros não gostam de humanos dessa forma. Somos comida para eles!!

 - Ouve Leonor. Não te vou dizer que ele me ama, mas sei que ele gosta de estar comigo, que se sente bem comigo e que adoraaaaaaaaaaaaaaa fazer sexo comigo. Sei que ele se preocupa comigo e que me quer proteger. Sei que de uma forma própria dele, ele tem um sentimento forte por mim. Se é amor ou não, o tempo o dirá. Quando ele souber ele diz-me. Até lá quero estar com ele, vou estar com ele e gostaria se possível de não perder a tua amizade por causa disso. Podes não concordar com a minha decisão mas a vida é minha e como minha amiga deves aceitar as minhas decisões. Aceita que eu encontrei alguém que me completa, seja esse alguém, humano ou não.

A Leonor parecia mais calma mas não totalmente convencida. Ao fim de uns segundos disse:

 - E o que me deu mais raiva foi ter que saber através daquelas víboras que passaram a manhã a ligar para toda a gente que te conhece para contar!

 - Eu sabia que elas o fariam mas eu já não me quero esconder. Pensem o que quiserem. Aqueles de quem gosto ainda faço um esforço para que me compreendam. Aqueles que vivem apenas para descobrir potenciais podres nos outros podem rebolar-se e torcer-se que eu estou-me bem marimbando para o assunto!

 - Ok – disse ela finalmente – não estou propriamente feliz com a situação. Faz-me uma confusão do caraças e vou precisar de tempo para me adaptar mas tu sempre foste dona e senhora da tua vida e quero acreditar que sabes no que te meteste. Que ponderaste bem a tua decisão.

 - Leonor, se queres que te diga o meu destino foi traçado na noite em que o conheci. Não havia volta atrás. Apenas deixei há muito de lutar contra o inevitável. E ri!

Ela acabou por rir também e o ambiente desanuviou. No fim antes de ir embora disse-me:

 - Cuida-te. Não quero ir ao teu funeral nem saber que agora fazes parte dos bebedores de sangue.

 - Isso não vai acontecer, acredita em mim. Dá-lhe uma hipótese. Sempre foste uma pessoa justa, nunca foste de julgar pelas aparências. Não o condenes apenas porque ele é de uma espécie diferente.

Ela sorriu e disse:

 - Não gosto da história mas se estás feliz, eu arranjarei forma de ficar também!


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