Amz escrita por MissBlackWolfie


Capítulo 4
Tildo


Notas iniciais do capítulo

Meninas vamos pra biblioteca?????

logico q vms ter emoção... pq é livro na miss.. hahahahahaha



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Voltamos a caminhar, entre as pessoas que passavam apressadas por nós. Realmente hoje era um dia atípico em Jilas, normalmente as ruas ficavam vazias, mas hoje como era dia de festa, ano-novo, havia uma imensidão de pessoas andando.

Cada uma delas tinha destinos diferentes, algumas saiam para fazer compras para ceia da noite, outras iam para praia montar a festa na areia, já algumas iam mergulhar no mar para pedir que as coisas ruins do ano que estava acabando ficasse em suas águas. Bem era um caldeirão de pessoas que se moviam para todos os lados com interesses distintos.

De certa forma aquilo tudo estava me sufocando, pois além dessa confusão de excesso de gente, havia o encontro inesperado com Lisa, que tinha resultado alguns desdobramentos muito estranhos em mim e Ernesto.

Ainda havia outro componente: o calor que era sufocante. Nossas roupas estavam coladas devido ao suor dos nossos corpos que brotava sem para. Minha nuca estava encharcada junto com raiz do meu cabelo. O sol estava queimando minha pele e me desidratando. Minha boca estava seca, implorava por um copo de água.

Quando pensei que não agüentaria andar mais, vi a placa de madeira com nome de Tildo entalhada. Sabia que sairia daquele inferno quente e iria para meu paraíso particular. Minha livraria preferida, também era única que vendia livros usados na cidade.

Meu refugio querido e amado, sempre encontrava meus melhores companheiros, os livros, por um preço bem abaixo do mercado. Pois havia um processo de compra e venda estipulado por Suzana, a proprietária do local, quando o cliente levava livros já usados, ela concebia desconto generoso na compra de novos livros. Ela fazia isso para pessoas como eu, desprovidas de recursos financeiros, terem acesso a leitura.

E ler sempre foi para mim uma saída para manter minha sanidade dentro da casa do Fonseca. Amava viajar nas paginas dos livros, devorava palavra por palavra. Viva os sentimentos junto com os personagens, sonhava e chorava com eles. Eram os únicos amigos que possuía.

Depois de Ernesto, os livros eram meus maiores companheiros. Não me deixavam sentir tão deslocada do mundo, pois eu sempre tive a certeza que não pertencia a nenhum lugar dessa Terra, já que eu era tão diferente das outras pessoas. 

Sempre havendo oportunidade eu passava nesse meu santuário, me sentia feliz naquele lugar, além de encontrar meu passatempo preferido, os livros, ainda tinha a simpatia de Suzana.

Era uma mulher baixa estatura, um pouco acima do peso, usava vestidos bem coloridos dos anos setenta, sempre com vários acessórios, como pulseira e colares, o cabelo encaracolado até a cintura, com tons de castanho claro na raiz e dourados nas pontas. Qualquer dia que eu visitasse a livraria ela sempre estava de ótimo humor, sua felicidade era contagiante. E hoje não era diferente.

- Olá Clair – Suzana me cumprimentou animada quando eu entrei na loja.
- Oi Suzana. Que calor é esse?- Disse passando a mão na testa para tirar as gotas de suor que ali se alojaram.
- Quer um pouco de água? – antes que eu pudesse responder ela já estava colocando o liquido gelado transparente no copo.
- Obrigada. Você é muito gentil. – Respondi bebendo de uma vez toda água.
- Nossa! Você realmente estava com sede. – ela pareceu se divertir comigo.
- É verdade. – Respondi timidamente.
- Hoje veio buscar algo especifico?
- Não prefiro usar meu método de escolha.
- Sim. Fique a vontade – Disse Suzana apontando as prateleiras de livros usados que ficavam no fundo da loja.

Agradeci o copo d água, colocando-o vazio em sua mesa, e segui pela livraria, para realizar minha busca. Sempre achei esse lugar mágico, eram inúmeras prateleiras, que iam quase até o teto. Olhando o exterior da loja, não acreditava no seu espaço interno, eram vários corredores, como labirintos.

Desde dia que eu aprendi a ler, graças ao meu irmão, que estudou até os dezesseis, enquanto eu fiquei trabalhando na casa dos Fonsecas. Ele todo dia depois de sua aula ensinava tudo que aprendia na escola.

Nunca fui para escola, Estela falava que não precisava saber de nada além dos serviços de casa. Mais uma vez fazendo o papel de meu anjo no planeta, chamado Ernesto, me trouxe a dádiva do conhecimento.

Dessa maneira, depois que aprendi a ler, sempre que posso venho nesse meu pedaço do céu na terra, assim conhecia esse lugar melhor do que qualquer outro. Como ele pertencesse a mim, eu conhecia todos os caminhos e trilhas para chegar mais rápido as prateleiras de semi-novos, como Suzana carinhosamente chamava os livros já usados.

Quando chegava ao meu setor, começava a minha busca particular. Eu deixava meus dedos e meus olhos passarem calmamente entre os livros. Analisando as capas, me prendendo a cada detalhe, como os desenhos, as cores e formato da letra usado para ilustrar o conteúdo do livro.

Às vezes a capa não fazia jus a historia do livro. Tendo surpresas positivas e algumas vezes negativas. Todavia para mim sempre é válido ler qualquer livro, pois sempre teria uma historia bem diferente da que eu vivia.

Sempre conseguiria fugir, e esse era meu objetivo, escapar para uma realidade paralela. Acho que no fundo eu acredito que um dia vou entrar naquelas páginas e sumir.

Todo esse processo de busca pelo “companheiro ideal” requer um tempo, é como um jogo de sedução. Ernesto tinha apelidado meus livros de companheiros, pois eram eles a fazer companhia a minha solidão nessa vida.

Começo pelo exterior o meu encontro pela minha leitura, olho atentamente, caso meus olhos fiquem encantados com a capa, então passo para sinopse e folheio o livro vagarosamente. Lendo algumas partes, para ver se o conteúdo realmente me atrai. O livro, a história e os personagens têm que me convencer a mergulhar em sua trajetória.

No entanto especialmente no dia de hoje nada estava me atraindo, não me sentia seduzida por nenhum livro. Senti uma onda de tristeza, afinal eu tinha esperança que ficaria distraída à noite.

Afinal sempre tive dificuldades em encontrar o sono, nunca tive necessidade de muitas horas de sono, para restabelecer minha energia. Acredito seja pelo fato que não tinha muito com o que sonhar, minha realidade capturava qualquer raio de esperança.

Eu fui ficando realmente frustrada, mas continuei olhando prateleira e mais prateleiras. Não queria ficar sem nada para me distrair, afinal não gostaria de passar a noite toda pensando sobre aquele encontro com Lisa.

As indagações levantadas por esse momento estavam guardadas de forma bem desordenadas dentro de uma gaveta na minha cabeça. Não pretendia abri-la por algum tempo, talvez uma tentativa delas se organizar sozinhas.

Não ia desistir assim facilmente de encontrar um companheiro, continuei minha jornada, entretanto a tristeza de não encontrar nada, estava me esgotando. Já tinha ouvido Ernesto gritar meu nome na entrada da loja. Provavelmente já tinha passado muito tempo aqui no meu santuário particular, rodeada de livros, deixando ele lá fora a me esperar.

Deveria me conformar eu iria passar a noite em claro. Ou não, lembrei-me que dia era hoje, dia trinta e um de dezembro. Haveria a festa de revellion de Estela, não havia dúvida que trabalharia muito, estaria muito cansada. Contudo mesmo assim queria ter minha fuga da realidade garantida.

Ouvi novamente Ernesto me chamar ao longe. Meu tempo tinha esgotado, tinha que ir.

- Já estou indo. – Respondi e suspirei fundo.

Fui caminhando vagarosamente em direção a saída, entretanto ainda passava as mãos nos livros. Será que teria alguma sorte? Acho que não, afinal essa palavra nunca foi presente na minha vida, não seria hoje que ela entraria.

Meu olhar encarou o chão, comecei a lamentar por ter acordado, na verdade fui além, comecei a questionar o motivo da minha existência. Mesmo fitando o piso da livraria, uma parte da minha visão, a periférica, presa nas prateleiras de debaixo.

Assim meus olhos foram capturados por um livro, que localizava-se  na última estante antes de chegar aos novos, a última prateleira. Ele repousava em cima dos outros livros, em horizontal aos livros que sempre ficam na vertical.

Parecia ter sido posto lá de forma displicente, conseguia apenas ver uma ponta da encadernação, era como estivesse sido colocado daquela maneira proposital. Já que era bem diferente da maneira organizava que sempre se encontravam os livros da loja de Suzana.

Agachei para pegar aquele companheiro, de alguma maneira parecia que ele estava ali para mim, esperando que eu o encontrasse. Essa idéia me agradou enormemente, massageou meu ego, nunca ganhei nada assim. Era uma vaidade boba e fantasiosa, mas eu estava curtindo essa sensação. Novamente senti aquela inquietude surgi dentro de mim pulsando.

O peguei em minhas mãos, tinha contracapa marrom escuro, parecia um couro antigo, tinha nas pontas detalhes em dourados, contudo não havia nada escrito, isso me espantou. Entretanto vi que parecia ser um livro antigo, normalmente esse tipo não tem sinopse na ali. Então virei para ver sua capa, vi uma rosa dourada desenhada em alto relevo.

Passei a ponta dos dedos vagarosamente naquela flor. Não havia titulo, examinei o lado onde estaria as páginas, que eram amareladas pelo tempo talvez, encontrei uma fechadura de metal dourado envelhecido. Forcei abri-lo, entretanto estava fechado. Não era um livro e sim um diário.

Essa afirmação gerou um tipo de corrente elétrica, provocando um arrepio que correu meu corpo em menos de um segundo. Esse processo me colocou num tipo de estado de alerta, sentia que dentro de mim estava havendo uma familiaridade com aquela encadernação. A pulsação da minha inquietação parecia acelerar, aumentando minha respiração.

Acredito que algumas perguntas escaparam da gaveta, que tentei inutilmente guardá-las, quando elas encontraram com o que os meus olhos estavam enxergando, pareciam se juntar e formavam algumas peças daquele quebra-cabeça maluco, que tinha surgido na minha vida depois dos olhos lilas.

Essas novas peças, por sua vez, estavam se encaixando tentando formar um quadro, uma imagem, ainda desconhecida para mim, mesmo não sabendo o que tudo aquilo significava. Realmente sentia que tudo isso era ponta de um iceberg, havia muito mais. Posso sentir perfeitamente uma simpatia tanto quanto estranha com essa doideira.

Forcei o fecho de metal mais uma vez, na esperança de que ele estivesse destrancado. Tentei em vão umas duas vezes seguidas. Realmente estava trancado com chave. E onde poderia estar esta chave?

Comecei instintivamente tatear a prateleira onde havia encontrado aquele mistério encadernado, procurei entre os livros, até folheie alguns na esperança de estar entre as páginas. Talvez alguém poderia ter escondido em um buraco feito entre as folhas, já tinha lido isso em algum livro de espionagem isso.

Para minha tristeza não achei nada, comecei a sentir uma raiva, isso começou a me afetar, ainda havia minha pulsação trazendo uma presa de achar aquele artefato. Isso fez perder um pouco de educação que eu possuía, quando vi já estava jogando os livros no chão.

Vendo que não estava entre os livros, minha busca passou para o chão, meus olhos procuravam algum brilho de metal, minhas mãos começavam percorrer o chão em baixo da prateleira de forma frenética.

Meus movimentos juntaram-se com minha inquietude junto com meu descontentamento por não encontrar aquela chave, ficaram mais que urgentes, estavam desesperados. A inquietação dizia: preciso daquela chave.

Não sei se toda essa minha reação era meramente curiosidade ou se era a certeza que eu precisava ler o conteúdo escrito, porque tinha certeza que não foi mera coincidência ele encontra-se ali. Essa minha atitude de certa forma me assustou, porém não me fez parar, continuei com os joelhos no chão e buscando loucamente aquela chave.

Minha mente trabalhava rapidamente. Senti uma batalha dentro dela sendo travada, a razão e coração voltaram a duelar, isso significa minhas feras se enfrentando mais uma vez.

Meu dragão racional e meu tigre extremamente emocional novamente estavam lutando, desse embate cada lado lançava perguntas e mais perguntas, e caberia a eu, Clair, decidir que lado eu ouviria.

Logicamente não havia razão para essa minha loucura por esse diário, nunca fui uma pessoa intrometida, sempre odiei pessoas que xeretavam da vida dos outros. Então por que agora eu estava aqui, quase deitada no chão da livraria Tildo, procurando por uma chave para abrir um diário, pertencente a uma pessoa desconhecida?

Obvio que eu invadiria a vida de outro ser humano, isso não era dá minha personalidade, essa não sou eu, meu dragão cuspia essas afirmações junto com fogo da razão.

Mas eu precisava ler aquele diário especificamente, meu tigre pedia quase chorando pela manha. Era algo irracional, senti uma necessidade incontrolável, aquela pulsação nova mostrava isso. Meu felino me apoiava, entre seus rugidos afirmava que essa encadernação estava diretamente ligada aquele encontro que ocorrera mais cedo.

Parei por algum momento minha busca com aquela contestação, perdida naquela disputa pela atenção das minhas feras. O felino estava certo, minha mente de certa forma já tinha enxergado que aquele diário era necessário eu ler.

Essa contestação fez a minha emoção me guiar com mais a finco na minha exploração, levando essa reação desmedida, continuei a buscar a chave, podia sentir meu tigre saltando todo feliz por ele ter ganhado essa batalha.

Nesse instante fui capturada para superfície de meus devaneios, minha pele e minha pulsação inquietante sentiram alguém me observando. Impressionante como aquele novo ser dentro de mim, a inquietação era astuto e de certa maneira me deixava mais  atenta ao meu redor.

Aquilo me fez ficar atenta, assim meus olhos buscavam entre as prateleiras a minha frente a forma do meu observador. Através dos livros vi a sombra dele alguns metros de mim, só conseguia ver os vultos de suas pernas. Fui tomada pelo temor, uma pergunta apareceu na minha cabeça como uma grande placa luminosa. Será que Carlos me seguiu até aqui?

Mesmo com medo me paralisando sabia que deveria encará-lo, então fechei os olhos, acho na tentativa ridícula de juntar forças para levantar, talvez eu tenha alguma sombra de coragem perdida no meu ser louco.

Vagarosamente me pus de pé, sempre mantendo minha visão naquela figura distante. Tentei fazer todo essa movimentação bem lentamente, para não assustar meu espectador.

Já estava de pé quando coloquei a minha cabeça entre os livros, na tentativa de enxergar melhor aquela pessoa, que estava a algumas prateleiras à frente. Apertei meus olhos, para focalizar a figura alguns metro de mim.

Meu coração batia em meu peito de forma frenética, sentia minha pulsação cardíaca  acelerada em minhas veias. Tentei ganhar foco, respirei pausadamente, um uma tentativa de me acalmar.

Pisquei meus olhos, e os forcei para encontrar aquela figura. Quando eu quase estava conseguindo definir quem estava lá, vi dois olhos intensos a me encarar. Em menos de um segundo aquela imagem transformou em um vulto e fugiu para as sombras.

No mesmo segundo senti uma mão em meus ombros. Arrepiei-me completamente, senti minhas pernas ficarem fracas, meu corpo começou a tremer involuntariamente, comecei a tentar segurar meu pânico, meus músculos começaram a doer na minha tentativa de acalmá-los.

Então no mesmo segundo perguntas começaram a explodir no meu campo mental. Aqueles olhos eram de Carlos? O que ele estava fazendo aqui? O que significava ele estar me vigiando? O que ele queria comigo?

Meu tigre interno parecia ronronar com satisfação por estar sendo vigiada por Carlos. Realmente tenho que confessar que esse felino estava começando me irritar. Em resposta meu dragão, repleto de razão, bufou levantando a seguinte questão: Você tem certeza que aqueles olhos eram mesmo de Carlos? Lembrei daqueles olhos verdes que inegavelmente mexiam com meus sentimentos. Fui invadida pela resposta. Aqueles olhos eram de outra pessoa.

Todo esse processo de contestação ocorreu talvez no decorrer de alguns segundos ou milésimos deles, não tinha muita noção de tempo quando me perdia dentro de mim. Quando eu fico absorta em meus pensamentos me desligo completamente do mundo real, perdendo principalmente a as noções de tempo e espaço.

Houve então outro estalo das idéias se chocando em minha mente. Se não era Carlos meu observador, quem era que me vigiava naquela livraria? A partir desse pensamento não pude mais controlar os espasmos de medo, arrepio correu da raiz do meu cabelo até a unha do meu pé.  

- Clair Você esta bem?

Ao ouvir a voz Ernesto, senti a onda de alivio, que me fez cambalear para lado. A vertigem fez minhas pernas perderem a rigidez que me faz ficar em pé. Então ele me segurou pelos ombros, impedindo meu encontro com o chão.

- O que aconteceu? - Vi a ruga de preocupação se formar na testa de Ernesto. - Parece que você está vendo um fantasma.

Não conseguia falar nada. Meu corpo não respondia meus comandos em ficar em pé, parar de sentir medo, afinal era meu irmão ao meu lado. Mas o pânico de não saber quem estava lá me vigiando, fez-me tremer um pouco mais.

Reagindo ao meu comportamento corporal Ernesto me abraçou. E como era normal dele, quando ficava nervoso, começava a falar sem parar, parecendo uma comporta de uma hidrelétrica sendo aberta por excesso de água no reservatório, só que no caso dele era suas idéias que saiam incontrolavelmente.

- Já te falei Cla, tem que parar de ler esses livros velhos. Ficar sozinha aqui. Em meio desses livros empoeirados e nesse ambiente mal iluminado. Sem duvida que os antigos donos desses livros, os mortos devem ter seus espíritos aqui pairando nesse lugar. Cuidando de suas relíquias. - olhou para mim no momento que recuperava o ar.

- Cala a boca – foi a única frase que consegui falar num sussurro para Ernesto e para meus pensamentos, que estavam enlouquecidos na minha mente.

Ele ensaiou falar mais alguma coisa, mas acho que meu olhar severo o fez selar os lábios. Nesse momento minha vontade de me recuperar começou a ser ouvida pelos membros, eles respondiam ficando firmes novamnete.

Comecei a me por de pé sem ajuda de meu irmão. Entretanto meus pensamentos ainda me prendiam dentro da minha mente, eu estava perdida nesse turbilhão que se formou dentro de mim.

Senti um solavanco, Ernesto me sacudia pelos ombros. Meus olhos arregalaram-se para aquela atitude dele, e imediatamente pousaram nele o indagando o por que dele esta fazendo aquilo comigo.

- Você estava precisando de alguém para te balançar. Parecia que você não estava dentro do seu próprio corpo. Seus olhos estavam vagos – Ernesto me olhou envergonhado – Achei que uma alma penada tinha apoderado do seu corpo. E seu espírito saiu vagando por ai, acho até que o vi ao meu lado de braço dado com um mocinho com umas roupas do século dezoito. – apontou com o polegar o espaço ao seu lado.

Não pude deixa de rir dos seus comentários, sei da sua maior arma: humor. Quem não o conhece bem como eu poderia jurar que Ernesto estava super relaxado, mas eu sabia muito bem que ele estava muito assustado. Imaginei como deveria estar a expressão do meu rosto, para lhe provocar tal reação de assombro. Abaixei minha cabeça e ri.

- Desculpa. Não queria te assustar. - Disse pousando a mão em seu ombro. – Eu estava afundada em meus pensamentos, você sabe como fico.
- Diria na verdade que você estava afogando no meio dos seus pensamentos. Quase te dei um tapa para fazer você voltar. – Vi seus olhos com um brilho de entusiasmo – Seria divertido.
- Vai sonhando. – Dei um soco de leve no seu ombro. - Se você fizesse isso veria minha fúria. – disse em tom de zombaria.
- Nossa senti até um medo – Ernesto fingiu tremer.- Lembro-me hoje de manhã como você é forte.

Não pude evitar, sorrir do deboche de meu irmão. O clima realmente estava muito mais leve e meu corpo já estava em perfeito estado, já havia dado as mãos para meu cérebro. Reagiam em conjunto.

- Podemos ir Senhorita “sei me defender?” – Perguntou Ernesto cheio de ironia.
- Sim vamos – Acenei com a cabeça.

Ele sorriu para mim passando o braço direito em meus ombros, e começou a me conduzir em direção à saída. Estava tão aliviada em ter Ernesto ao meu lado, que quase esqueci o motivo de toda aquela minha loucura. Quando me virei, meu tigre curioso ajudou meus olhos a logo focalizar o diário.

Livrei-me do braço de Ernesto e fui na direção daquela encadernação. O peguei nas mãos e o coloquei perto do meu peito. Ele pertencia a mim, não sei muito bem por que, entretanto não me interessava o motivo. Eu e meu tigre lutamos tanto por ele, que não o deixaríamos aqui.

-Ih. O espírito apoderou-se de você de novo? – Disse Ernesto já ao meu lado.- Talvez o tapa seja realmente necessário?

Não pude me conter, virei de frente para ele e dei um tapa em seu ombro. O estalo da agressão ecoou entre o silencioso ambiente. Ele me olhou com um misto de deboche e incredulidade. Acredito que ele não esperava essa minha reação. Assim ouvimos Suzana pedir silêncio para nós.

Passei por Ernesto, que me seguiu com as mãos firmas em mim, acho que ele ficou com medo de me ausentar de novo na minha mente. Ao passar por Suzana, pedi desculpa por nosso comportamento, lhe desejei um feliz ano novo. Ela pareceu não ter ficado aborrecida com nossa falta de educação, havia seu costumeiro sorriso no rosto.

Abri a porta da loja, fiquei paralisada no mesmo segundo, ao ouvir meu dragão, talvez em uma busca de alguma racionalidade sobre toda aquela loucura de diário, me sugeriu: “por que você não pergunta se ela viu alguém entrando na loja?”.

De maneira quase que automática entrei novamente na loja, Ernesto já estava do lado de fora. Ele pareceu não entender o que eu estava fazendo, acenei para ele me esperar. Vi ele bufar.

- Suzana deixa eu te perguntar uma coisa. Alguém mais entrou aqui na loja durante o tempo que estava lá na estante dos livros usados? – Perguntei tentando ser mais despretensiosa possível.

Ela parou de escrever algo em seus livros de controle e me encarou por um segundo. Acredito que tentando avaliar o por que da minha pergunta sem sentindo, já que nunca a tinha feito esse tipo antes.

Nossas conversas sempre se limitavam aos conteúdos dos livros, nada além disso. Ela sabia que sempre fui uma menina solitária, era incabível esse meu interesse por outra pessoa, realmente deveria ser estranho para ela.

- Bem a única pessoa que passou por aqui foi uma cliente antiga. – Ela começou a mexer em alguns papeis que estava a sua frente. Vendo que eu não mexi nenhum milímetro e que não estava satisfeita com sua resposta. Ela completou.

- Ela é muito discreta, nem sei te falar o nome dela. Ela compra muitos livros, aparece de tempos em tempos. Bem, não sei mais o que posso falar dela. – Suzana tirou os óculos e me encarou com a cabeça inclinada. - Por que essa curiosidade?
- Desculpa. Não quis ser intrometida. – Comecei a buscar alguma desculpa para minha curiosidade. - É que ela não é da cidade. Certo?
-É verdade. – Respondeu colocando os óculos. Suspirei aliviada. – Ela tem uma beleza única. Engraçado que ela vem aqui anos e parece não envelhecer um dia sequer. Gostaria de saber o seu segredo.

Eu ri junto com Suzana na conclusão da sua fala, afinal eu deveria fingir simpatia, pois ela estava me fornecendo informações preciosas.

Quando eu ia retornar meu questionário sobre minha observadora. Meu dragão disse calmamente: “Tenha paciência. Leia o diário primeiro. Talvez ele tenha as repostas que você deseja. Se começar a realizar um inquérito a Suzana, haverá desconfiança enquanto sua sanidade”. Ele tinha razão, é lógico que ele estava certo.

Simplesmente sorri para Suzana que já tinha voltado a reler seus papeis em cima de sua bancada, me deixando de lado. Ensaiei abrir a boca para fazer outra pergunta, mas senti meu dragão jogar bolas de fogo como forma de protesto contra minha curiosidade faminta. Ao ver minha reação de duvida, de maneira estática, Suzana parou novamente a sua leitura. E disse com os óculos na ponta do nariz.

- Clair esta tudo bem? Você está muito estranha hoje.
- Desculpe. - falei sem graça passando a mão no cabelo nervosamente. - É que ela ficou me olhando, me deixando um pouco intrigada. – deixei minha sinceridade falar.

A dona da loja me lançou um olhar de completo estranhamento, como as palavras ditas por mim não houvesse nenhum sentido. Senti meu rosto corar, eu estava envergonhada de estar agindo assim, contudo estou muito curiosa, acabou me forçando confessar daquela forma.

Realmente deveria ter saído no momento que razão tinha me sugerido. Contudo as perguntas estavam remexendo dentro de mim, deixando tonta pela velocidade que elas brotavam dentro de mim.

- Isso é muito estranho. – Suzana me olhou intrigada, tirou novamente os óculos deixando eles pendurados nos seus dedos – Não entendo. Ela sempre foi solitária. Quando ela vem aqui normalmente está só. No máximo esta acompanhada com uma mulher um pouco mais velha do que ela, contudo ambas são lindas. Obvio que cada uma com sua beleza especifica.

Ela parou de falar quando viu minha expressão. Minha boca estava entre aberta devido a perplexidade do fato. Por um segundo, minha mente trabalhou montando uma coisa: lembrei da cena de hoje de manhã, alguém tinha chamado por Lisa em nosso encontro, era voz de uma mulher.

-Mas hoje veio aqui uma mulher de olhos lilás? – Sei que só Lisa tinha essa cor de olhos, eles eram marcantes.
-Não. Hoje foi a moça que tem os olhos incrivelmente diferentes. – Suzana viu que fiquei intrigada com sua descrição. – Ela tem a cor dos olhos uma difusão de verde na borda da pupila e vai alternando para o azul que contorna a pupila.

Suzana descrevia os olhos dessa moça de maneira admirada, até pegou um pedaço de papel para desenhar como era a sequência de cores daqueles olhos. Fiquei ouvindo atentamente cada detalhe, pois esse interesse incomum foi despertado pela minha inquietação, meu novo ser.

Depois de ouvir todo relato da dona da livraria deduzi que provavelmente era ela que estava me observando. Recordei que os olhos a me vigiar eram claros, por isso até pensei serem de Carlos.

Porém fiquei a refletir: por que ela faria isso? Sou pessoa mais desinteressante da face da terra, por que uma pessoa ficaria me observando?

Nesse momento meu dragão manifestou novamente, com um tom de interesse, como se tivesse acabado de descobrir algo obvio, desapercebido por minha consciência. “Foi ela que colocou o diário para você”. Fiquei chocada com a realidade daquela ideia.

Era única explicação plausível em meio aquela loucura, se alguma coisa poderia fazer sentindo naquela historia, ali estava o ponto. Suspirei tentando organizar o caos que se instalou dentro da minha cabeça. Eu estava dentro de um sonho, só poderia ter essa explicação para aquilo tudo.

- Clair você esta me assustando – Ouvi Suzana falando me encarando com certo assombro. – Você não esta bem, parece pálida.
- Vamos embora. - Senti Ernesto me puxando para fora da loja, me salvando.

Não consegui protestar com aquele gesto do meu irmão. Comecei andar automaticamente, minhas pernas só estavam cumprindo sua tarefa de me manter caminhando.

Minha energia estava sendo gasta principalmente para o funcionamento frenético da minha mente que tentava juntar as peças daquele quebra-cabeça complexo, sem dúvida falta muitas e muitas peças ainda, mas já começava ver um desenho tímido.

Parei depois de alguns minutos, quando já estava com meu corpo todo do lado de fora da loja, sentindo o sol queimando minha pele. Andando sem pensar em nada, virei na frente de Ernesto, olhei e comecei a falar, parava só em alguns momentos para recobrar o fôlego:

- Alguém estava me vigiando dentro da livraria. Por isso estava com medo. Encontrei um diário. Mas não consegui abri-lo, não encontrei a chave. Perguntei para Suzana quem era aquela pessoa a me vigiar. Ela me disse que é uma mulher linda, que sempre vai lá acompanhada por uma senhora igualmente bonita. - Ernesto me lançou um olhar confuso. Eu tinha que falar minhas conclusões.

-Então fiz algumas ligações em minha mente. O diário só pode ter sido deixado por essa mulher misteriosa, que provavelmente é a mesma pessoa que chamou por Lisa hoje de manhã, enquanto estava conversando conosco. Lembra? – Ele acenou positivamente com a cabeça no meio da minha puxada de ar para recobrar o folego. – Então estou aqui ainda tentando entender o por que disso tudo.


- Uau! Isso tudo é muito estranho. – Ernesto me disse em um tom de assombro. – O que vamos fazer?


- Vamos para casa dos Fonseca- Respondi tentando ser mais racional possível, recordando minha realidade e voltei a andar. – Temos que parar e pensar calmamente sobre tudo isso que está acontecendo com a gente.


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Notas finais do capítulo

quem será essa mulher???? má tem mta mulher aki, num é???

e esse diario??? de quem é?? pq nossa clair tem q ler ele???

vms ter mais emoçõesssssssssssss

bjs