You Have Me escrita por Nyh_Cah


Capítulo 2
Alone




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Acordei, num quarto muito branco. Não sabia onde estava, apenas continuava a sentir uma grande dor no ombro. Comecei a inspeccionar o local e percebi que estava num quarto de hospital. De repente, um homem extremamente bonito entra no quarto. Percebi que era um médico. Tinha os cabelos loiros e os olhos muito azuis. Tinha uma pele branca.

- Boa tarde, eu sou o Dr. Cullen. – Apresentou-se o médico simpaticamente.

- Boa tarde. – Murmurei. Não consegui falar mais alto que um murmúrio.

- Sentes dor? – Perguntou. Afirmei com a cabeça e ele introduziu-me algo no tudo que ligava à minha veia.

- O que se passou? – Perguntei.

- A Alice levou um tiro no ombro. A sua casa foi assaltada. – Daí lembrei-me da noite. Dos homens a entrarem dentro de casa, arrombando a porta. A baterem no meu irmão e depois virem bater a mim e do… do homem a disparar sobre o meu irmão. Lembro-me do meu irmão, já morto, a olhar fixamente para mim, com sangue a escorrer da ferida na sua testa e depois da grande dor no ombro. – O meu irmão? – Perguntei com medo da resposta, eu queria saber se ele estava verdadeiramente morto. As lágrimas escorriam livremente pela minha face.

- O seu irmão, morreu. Lamento muito. – Disse o Dr. Cullen. Ele aparentava estar triste com o sucedido. As lágrimas voltaram em força e agora chorava compulsivamente. Não conseguia parar de chorar. Não tinha nada nem ninguém, o que eu iria fazer? – Queres que chama alguém? Mãe? Pai? – Perguntou. Querer até queria mas não tinha ninguém a quem chamar.

- Não. – Respondi.

- Porquê? – Perguntou o Dr. Cullen.

- Não tenho ninguém. – Desabafei. Voltando a chorar. Senti uns braços a envolverem-me. Sabia bem ser abraçada por alguém. Mesmo que fosse pelo um estranho. As lágrimas pararam mas ainda soluçava.

- Não tens pais? – Perguntou o Dr. Cullen, sentando-se na minha cama.

- Não. Foram-se embora ontem de manhã. – Disse.

- E não te levaram?

- Disseram que nós, eu e os meus irmãos, só atrapalhávamos.

- Então tens mais um irmão. – Disse ele. Neguei com a cabeça.

- Foi-se embora, ontem de manhã, também. – Disse. Os olhos do Dr. Cullen tinham compaixão.

- Alice, tenho que ir. A minha família está à minha espera. Amanhã volto.

- Está bem. – Disse desanimada. Ia ficar sozinha, numa cama de hospital. Ele acariciou-me a mão e saiu do quarto. Fiquei sozinha. Por volta das oito, adormeci e só voltei a acordar na manhã seguinte. A enfermeira veio-me trazer o pequeno-almoço e comi satisfatoriamente. Depois de a enfermeira, vir buscar o tabuleiro que continha o pequeno-almoço, o Dr. Cullen apareceu.

- Estás melhor, Alice? – Perguntou ele.

- Mais ou menos… - Respondi vagamente.

- Vais ver que vai tudo melhorar. – Disse ele optimista. Fez-me lembrar o Sean. Ele é que era sempre assim. Escorreu-me uma lágrima pela face.

- Não sei não. De uns dias para cá, tem tudo vindo a piorar. Nem sei o que vou fazer agora, depois de sair do hospital. Não tenho para onde ir. – Desabafei.

- Não me queres contar o que aconteceu? – Perguntou ele. Ele era um perfeito estranho mas sentia-me perfeitamente segura ao pé dele. Afirmei com a cabeça. Sabia bem desabafar com alguém.

- Vivia com os meus pais e os meus irmãos naquela casa. Nós éramos pobres por isso não tínhamos muita coisa. Normalmente, os meus pais gastavam o pouco dinheiro que tínhamos em bares. O meu irmão Sean é que cuidava de mim desde que nasci. As coisas têm vindo a piorar de uns tempos para cá. A comida não chegava para comermos todos os dias. O meu irmão não me conseguia dar dinheiro para comer na escola. Também não conseguia arranjar emprego. Depois os meus pais avisaram que iam se embora porque o meu pai arranjou um bom emprego em Boston. Não nos quiseram levar, depois o meu irmão mais velho também nos deixou. Ontem, perdi a única pessoa que me restava e que se preocupava realmente comigo. – Disse já a chorar. O Dr. Cullen estava com uma expressão triste cravada no rosto. – Quando é que tenho que sair do hospital? – Perguntei. Não tinha para onde ir.

- Quando o teu ombro melhorar, deves sair daqui a duas semanas. Alice, tu és menor, daqui a uns dias deve vir uma assistente social para falar contigo e quando saíres daqui deves ir para uma instituição. – Informou-me o Dr. Cullen.

- Pelo menos vou ter onde dormir. – Desabafei. Ele olhou para mim com uma expressão triste e foi-se embora.

***

Fiquei duas semanas e meia no hospital, tinha havido complicações com o meu ombro. Quando o médico disse que ficaria tudo bem com o meu ombro, deu-me alta. Eu não tinha nada, apenas uns cortes já quase sarados e os pontos que tinha na cabeça já tinha tirado na semana anterior.

Como o Dr. Cullen disse, uns dias depois de eu ter entrado no hospital, veio uma assistente social falar comigo. Ela explicou-me que como era menor e não tinha ninguém com quem ficar, ia para uma instituição. Ia para a instituição aqui de Forks. Pelo menos não ia para muito longe. Já tinha ouvido falar dessa instituição e falavam que era uma instituição muito agradável e quem morava lá, gostava muito.

Hoje, ia para a instituição. Estava à espera da assistente social. Ela era uma senhora muito simpática, sempre me tratou bem.

Ela chegou por volta das onze. Já tinha as minhas roupas e os meus pertences comigo e só faltava ir para a instituição. O caminho foi curto. Estava nervosa. Estava com medo de não me aceitarem lá como nos outros sítios. Eu não queria ficar sozinha, queria ter alguém que se preocupasse comigo. Sentia tantas saudades do meu irmão Sean. Queria tanto que ele tivesse aqui. Todos os dias me lembrava dele e todas as vezes que fechava os olhos para adormecer via o rosto morto dela a olhar fixamente para mim como no dia em que morreu. Custava-me sempre muito a adormecer. Nestes dias, em mal comia, mal falava, mal dormia. Eu estava com um aspecto horrível.

Saí do carro, minutos depois da assistente social o ter estacionado à frente da instituição. Era uma casa muito grande, devia acolher muitas crianças. Tinha um grande jardim à volta, onde algumas crianças estavam espalhadas, umas a ler, outras deitadas na relva, algumas a passear e outras simplesmente a conversar. Era um sítio muito agradável mas não podia dizer que me sentia em casa porque não me sentia. Por mais que o sítio fosse agradável e acolhedor, era um sítio completamente estranho para mim, onde não conhecia ninguém e onde ninguém me conhecia. A assistente social já tinha saído do carro e estava a falar com uma senhora, já mais de idade à porta. Devia ser a dona disto. Cheguei-me perto dela e a senhora com mais idade sorriu-me simpaticamente.

- Bom dia! – Disse simpaticamente a mulher com mais idade. – Sou a Ellen Matthew, a dona da instituição, e tenho muito gosto em acolher-te na minha casa. – Disse ela. Parecia-me simpática. – E tu, como te chamas, querida? – Perguntou.

- Alice. – Respondi baixinho.

- Entra. – Disse ela desviando-se para me dar passagem. A assistente social despediu-se e foi-se embora. Fiquei sozinha com a Ellen. Dentro da casa, ouvia-se muitas crianças a correr de um lado para o outro e a rir. Também se ouvia o som da televisão e do piso de cima, ouvia-se música. – Bem, és a mais velha cá na casa. – Informou-me. – Vais ter um quarto só para ti, visto que é mais velha e temos possibilidade para isso. – Disse. Ela levou-me até ao quarto e deu-me tempo para arrumar as poucas roupas que tinha. Depois de ter tudo arrumado, foi-me apresentar as instalações. Não eram más. Eram melhor que a minha antiga casa.

Depois de ver tudo e de comer qualquer coisa, fui para o meu quarto descansar. O ombro estava a começar a doer-me. Deitei-me e dormi levemente, acordando de vez em quando com imagens que me assustavam.

Quando vi que não conseguia dormir mais, levantei-me e decidi dar uma volta pelos jardins. Eram um sítio calmo e de certeza iriam ajudar-me a relaxar. Levantei-me da cama, calcei os meus ténis e dirigi-me para os jardins. No caminho, deparei-me com algumas crianças que me sorriram simpaticamente e eu tentei sorrir para elas mas estava a tornar-se uma tarefa um pouco difícil. Eu não tinha grandes motivos para sorrir.

Andei durante algumas horas pelos jardins. Eram realmente muito bonitos. Num sítio mais recatado havia um lago que tinha uma família de patos. Fiquei algum tempo a observa-los. Eram uma família feliz. A mãe ajudava os pequeninos e o pai ficava a observar como se estivesse a apreciar a cena. Era uma cena muito bonita.

Passei o resto do dia nos jardins. Não fui almoçar, perdi a coragem de ir. Tinha medo de almoçar com estranhos. Quando começou a escurecer, começou a ficar frio e eu já estava com um pouco de fome. Voltei para dentro de casa. A casa estava muito silenciosa, só se ouvia uma voz. Parecia que estava a contar uma história, fui espreitar para ver o que estava a acontecer. Algumas crianças estavam sentadas no chão da sala a ouvir muito atentamente uma história que uma mulher com um ar doce contava. Ela tinha os cabelos cor de caramelo, muito bonitos, a pele pálida, os olhos castanhos avelã. Parecia que ela tinha um carinho enorme por aquelas crianças.

Na sala, a ouvir a história, encontravam-se as crianças mais novas, a outras deviam estar lá em cima. Decidi ir até à cozinha para comer qualquer coisa.

Na cozinha, abri o frigorífico, tirei a manteiga, depois fui tirar um bocado de pão e fiz uma sandes. Comi satisfatoriamente e depois subi as escadas para ir para o meu quarto. Decidi ler. Fiquei a ler durante um tempo até ouvir baterem à porta.

- Entre. – Disse baixinho. Quem bateu à porta entrou e percebi que era a Ellen.

- Desculpa incomodar-te, Alice, mas quero que conheças umas pessoas. – Disse ela.

- Ok. – Disse.

- Queres que eu as traga aqui? – Perguntou percebendo que eu estava meio envergonhada. Afirmei com cabeça. Ela sorriu para mim e saiu do quarto, voltando cinco minutos depois. Ela vinha com duas mulheres. A primeira era a que estava a contar a história. A segunda, só consegui reparar que tinha os cabelos loiros, ainda não tinha conseguido ver a face dela. A mulher com os cabelos cor de caramelo dirigiu-se a mim com um sorriso doce no rosto. Ela era muito bonita e tinha um ar muito simpático.

- Esta é a Esme. Ela faz voluntariado, aqui na instituição. – Informou-me a Ellen.

- Olá, querida! – Cumprimentou-me docemente a Esme. – Como te chamas?

- Alice. – Disse baixinho.

- Estás bem? – Perguntou simpaticamente.

- Sim. – Continuei a responder baixinho. Estava envergonhada. Levantei um pouco a minha cara para ver quem era a outra mulher. Estava com um pouco de curiosidade. Quando levantei a cara, deparei-me com uma Rosalie chocada. O que é que a Rosalie estava a fazer aqui? Era a última pessoa que esperava ver aqui. Ela estava com a boca entreaberta e os olhos um pouco esbugalhados. Pelos vistos, também não esperava ver-me aqui.

- Esta é a Rosalie. A minha filha. – Disse a Esme. – Podes trata-la por Rose, ela prefere.

Olhei outra vez para a Rosalie e ela tinha um sorriso tímido na cara. Nunca a tinha visto a sorrir, ela na escola tem sempre aquele ar sério. Ela nunca me fez nada, mas metia respeito por onde passava.

- Olá. – Disse ela, simpaticamente.

- Olá. – Disse envergonhada.

- Esme, preciso de falar consigo, já me esquecia! – Disse a Ellen.

- Podemos falar agora. – Disse a Esme.

- Sim, vamos para o meu escritório.

- Querida, já volto. – Disse a Esme carinhosamente para a Rosalie.

- Ok, mãe. – Respondeu, sorrindo abertamente. A Ellen e a Esme saíram do meu quarto e foram em direcção do escritório da Ellen. Fiquei sozinha no quarto com a Rosalie. Sentei-me na cama e por alguns minutos, ficámos as duas caladas, sem saber o que dizer.

- Posso perguntar-te o que aconteceu ao teu ombro? – Perguntou tímida. Nunca tinha visto a Rosalie tímida, ela na escola era sempre tão sociável e dava-se com tanta gente.

- Podes. – Disse baixinho. – Fui baleada. – Respondi quase num sussurro. Dizer isto lembrava-me a noite, algo que eu agora não queria lembrar. Não queria começar a chorar à frente da Rosalie.

- Sério? – Perguntou um pouco chocada. – Mas já estás melhor do ombro? – Perguntou com preocupação.

- Sim, o Dr. Cullen tratou bem de mim. – Disse. Estava eternamente agradecida ao Dr. Cullen por ter tratado de mim tão bem.

- Foste tratada pelo Dr. Cullen? – Perguntou surpreendida.

- Sim. Conheces? – Perguntei.

- Sim, é meu pai. – Disse sorrindo. Fiquei surpresa por o Dr. Cullen ser pai da Rosalie. Realmente, eram um pouco parecidos.

- Agradece por mim a ele, se faz favor. – Pedi.

- Claro. – Disse ela sorrindo abertamente para mim. A Rosalie nem era má pessoa. Ela estava a ser muito simpática para mim. – Ele vai ficar contente por saber que um dos pacientes dele está bem. Então, estás a gostar de estar aqui?

- Ainda só vim, hoje. Mas até agora estou a gostar. É um sítio agradável e acolhedor. – Respondi.

- Quando, na escola, me disseste que tinhas mais coisas em que pensar do que vestir, e que a tua vida é bem mais complicada que a minha, o que querias dizer com isso? Desculpa ter-me metido contigo, obrigaram-me. – Disse ela.

- Desculpa, ter-te respondido mal. – Disse baixando a cabeça. – Os meus pais deixaram-me essa manhã. – Disse triste.

- Não tem mal, eu é que fui má e não tu. – Respondeu.

- Não foste propriamente má, foste como toda a gente é comigo. – Respondi triste. Nunca tive uma amiga na vida e nunca ninguém gostou de mim sem ser o meu irmão Sean. Estava habituada que as pessoas me tratassem assim.

- Podes dizer que fui má, eu tenho a noção disso. Eu sei aquilo que faço e acredita que não me agrada. Eu odeio aquela escola e odeio aquelas pessoas. São todas pessoas fúteis que não pensam em mais nada sem ser em popularidade. Eu apenas estou no meio deles por causa da beleza e por ter sido estúpida. Eu não conhecia ninguém quando entrei na escola, e aquelas foram as primeiras pessoas que falaram comigo. – Desabafou ela. Não fazia a mínima ideia que ela pensava isto. Sempre pensei que ela gostasse de ser popular e de meter respeito lá na escola. – Não esperavas isto, não é? Ninguém espera. Ninguém sabe sem seres tu. – Disse ela com um sorriso triste. – Os meus irmãos pensam que eu sou fria e que só faço as coisas para meu próprio benefício, mas eu não sou assim. – Disse ela.

- Porque não lhes explicas isso? – Perguntei baixinho.

- Já tentei uma vez. Eles pensaram que eu estava a brincar e puseram-se a gozar. Fiquei magoada pelos meus próprios irmãos não acreditarem em mim. Nunca mais disse nada. Apenas o Emmet sabe como eu realmente sou e como realmente me sinto. – Disse ela. – Desculpa ter desabafado, não deves estar interessada, nem sequer deves gostar de mim. – Disse ela.

- Não faz mal. – Disse sinceramente. – Desabafar faz bem, e não posso dizer que não gosto de uma pessoa, antes de a conhecer. – Disse sorrindo timidamente.

- Obrigada. – Disse ela sendo sincera. Esta era uma nova Rosalie que eu nunca pensei que existisse. É a verdadeira Rosalie, uma Rosalie que tem vergonha de mostrar aquilo que ela é realmente.

- De nada. – Disse.

- Querida, vamos? – Perguntou a Esme, entrando no quarto.

- Sim, mãe. Vamos. – Respondeu. - Adeus Alice. – Disse ela.

- Adeus.

Elas foram-se embora e eu fiquei no meu quarto. Voltei a ler e à hora de jantar a Ellen chamou-me para ir comer. Eu não queria. Queria estar no meu quarto mas ela obrigou-me. Quando entrei na sala onde se comia, já estavam todas as crianças a comer. Quando eu entrei, elas calaram-se todas e olharam para mim. Era desconfortável, estar a ser observada por tanta gente. Havia um lugar ao pé de um rapaz, a Ellen já tinha abandonado a sala. Pelo que percebi, ela comia no seu escritório. Peguei num prato e meti um pouco de comida e dirigi-me ao lugar que estava vago.

- Está ocupado. – Disse o menino rudemente. Nem sequer me dei ao trabalho de perguntar por quem. Sabia que não estava ocupado por ninguém, apenas não me queriam com eles. Deixei o prato na mesa e fui-me embora. Sabia que não ia ser aceite. Nunca ninguém gostou de mim, nunca ninguém se importou com o que eu sentia. Não vai ser agora que se vão começar a importar. Fui para o meu quarto, onde acabei por adormecer.


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Notas finais do capítulo

Fiquei muito feliz com os comentários do capitulo anterior! ^^ Espero os vossos comentários neste capitulo, e claro, espero que estejam a gostar! (:
Beijinhos
S2