Love Is Waiting escrita por Gabriela Rodrigues


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora; estava ficando sem idéias. creio que este capítulo, por mais que esteja pequeno, seja um dos melhores da fic, mas é apenas a minha opinião. Boa leitura e espero postar com mais freqüência, embora semana que vem comecem as aulas da facul. Mas não se preocupem: arrumarei um tempo. agora, à história!



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Só faltei ter um infarto quando o celular começou a vibrar debaixo do meu travesseiro. Sete da manhã?! Eu deveria estar maluca! Por que cargas d’água eu coloquei meu celular para despertar nesse horário? Voltei a deitar no colchão, com sono. Estava prestes a retomar meu sonho e meu celular tornou a vibrar. Irritada e pronta para desligar o aparelho vi o nome no visor: Jake.

Levantei de um salto como se tivesse levado um choque por esquecer nosso encontro. Atendi assim que despertei de meu transe:

- Já ta pronta? – nem um “alô” ele falou, mas não me importei. Virei o rosto para o relógio digital em um dos consoles: quinze para as oitos. Droga!

- Não. - a essa altura eu já estava arrancando os cabelos.

- Falta muito? Já to chegando.

- Não vou demorar. – desconversei – mas tenho que terminar de me arrumar.

- Ok. Chego aí em cinco minutos. Dez no máximo. – gelei. Desliguei o aparelho sem mais nem menos e corri para o banheiro levando a primeira combinação de roupas que vi pela frente. Tomei um banho relâmpago (me ensaboando perfeitamente, só não enrolei). Estava me enxugando quando ouvi o grito.

Vesti minhas roupas apressada e corri para a sala esquecendo momentaneamente o porquê de minha pressa no banho. Tia Marge estava ao telefone com alguém e lágrimas escorriam por seu rosto. Minha mãe a abraçava. Não poderia ter sido nada que envolvesse nenhum de seus filhos, pensei, tentando me tranqüilizar. April estava em casa (milagres acontecem), Luke dormia, Ed e Fred brincavam com o cachorro e Jake... Meu estômago revirou.

- Mãe? – chamei num sussurro enquanto sua irmã corria até a suíte para se calçar, pegar a bolsa e um agasalho – O que houve?

Mesmo temendo a resposta tive que perguntar. O rosto de minha mãe estava lívido e por um breve segundo senti tudo girar ao meu redor. Acontecera alguma coisa.

- Ligaram do hospital. – ela começou. Milhares de possibilidades passaram pela minha cabeça, uma pior que a outra – Houve um acidente de carro. – Consegui imaginar com perfeição a cena enquanto minha mãe falava. Lágrimas escorriam de seu rosto por mais que a voz soasse tranqüila – Segundo o paramédico, uma das testemunhas disse que um caminhão ultrapassou o sinal vermelho no momento em que seu primo passava de carro. – ela respirou fundo e tentei fazer o mesmo. Havia paramédicos na área. Jake estava vivo, certo? – Seu primo está internado. Sofreu fraturas múltiplas, perdeu muito sangue e está internado em estado grave.

Minhas pernas bambearam e por um momento pensei que fosse cair, mas minha mãe me segurou.

- Quero ir ao hospital. Quero vê-lo.

Tia Margareth já tinha saído no carro alugado e minha mãe fazia o possível para me acalmar, mas seu esforço era inútil. Não sossegaria enquanto não visse meu primo. Imagens desconexas preencheram minha mente: um caminhão enorme atravessando o sinal. Flash. Jake pisando no freio. Flash. A batida. Flash. Meu primo ensangüentado e inconsciente, perdendo sangue em meio aos destroços do carro da mãe. Escuridão.

Acordei devagar com a cabeça latejando e não reconheci de imediato onde estava. Os objetos desfocados à minha frente indicavam que alguém tirara meus óculos e uma cabeça logo acima de mim expunha os contornos de um Ed aflito. Olhei ao redor. Via a televisão na estante, e a maciez das almofadas indicava que alguém me colocara no sofá.

- Quem...? – tentei formular a pergunta e sentar, mas minha cabeça girou e tornei a me deitar, calada.

- Mamãe pediu pra Luke te deitar no sofá. Você tava pálida e meio gelada. Ficou apagada quase dez minutos.

- Cadê ela? – consegui sussurrar.

- Na cozinha, preparando alguma coisa pra ti. Tudo bem?

Consegui dizer que sim. Tia Margareth ainda não chegara ao hospital e estavam todos esperando um telefonema com notícias a respeito de Jake. Pensar nele fez meu estômago dar cambalhotas e as lembranças do acontecido fluírem por minha mente.

Era quase impossível. Não conseguia acreditar que meu primo, justo aquele, estivesse internado num hospital em estado grave. Minha mãe surgiu ao meu lado com uma bandejinha de prata (reconheci como sendo a mesma que eu usara na visita da Pernalonga) onde ela servira uma xícara de café com leite e muito açúcar e umas bolachinhas daquelas Club Social com recheio de queijo, bem salgadinhas.

- Melhor? – ela perguntou quando acabei de comer. Fiz que sim com a cabeça.

Fiquei quieta por um tempo e mesmo bem, continuei deitada, alerta a qualquer ruído, fosse do telefone perto da televisão ou do portão da garagem. O terror me dominava a cada segundo que passava. Nunca fui capaz de pensar que um dia algo assim pudesse acontecer a Jake. Meu primo sempre me parecera tão forte... Inatingível. O telefone apitou.

- Alô? – minha mãe atendeu, nervosa, no segundo toque. Uma pausa. A outra pessoa deveria estar falando – Mas não disseram nada? – Outra pausa, um pouco mais longa – Tudo bem. Avise se souber mais alguma coisa. – ela se despediu e desligou.

- Então...?

- Ele ainda está inconsciente. Como eu disse o estado dele é crítico – crítico?! Pensei que ela tivesse dito grave. “Crítico” era pior, não? – e não deixaram ninguém entrar. Nem mesmo Margareth. Não disseram muita coisa além do que já sabíamos. Só resta esperar.

- Não podemos esperar lá? – supliquei – Não quero ficar aqui. Sei que não vai ajudar em nada o fato de irmos, mas é menos irritante que ficar aqui esperando um telefonema em busca de notícias. Por favor.

Ela pensou um pouco e então ligou para a irmã, perguntando qual era o hospital. Pegamos um taxi e dentro de dez minutos estávamos na recepção. Reconheci o hospital municipal onde eu viera parar depois do incidente com tom no boliche. Parecia ter ocorrido em outra vida.

 - Posso ajudar? – a mulher falava arrastado, como se estivesse com preguiça de trabalhar ou então completamente entediada com o desespero dos parentes de pacientes da emergência. Minha mãe tomou minha frente enquanto eu reprimia o impulso de saltar a bancada e sacudir a mulher até ela dizer onde estava meu primo ou pelo menos qual era a sala onde deveríamos esperar por notícias.

- Houve um acidente de carro hoje de manhã e um homem foi trazido para cá. – minha mãe começou. Pacientes em estado grave eram encaminhados direto para o ambulatório sem precisar preencher uma ficha. Isso era tarefa de seus familiares quando fossem contatados, explicara Jake há um tempo, então nem adiantava dizer o nome da vítima – Está internado em estado grave.

A mulher consultou alguns papéis, mexeu em alguma coisa no computador e por fim falou como se pouco se importasse (o que eu não duvidava que fosse verdade):

- Chegou um homem inconsciente há mais ou menos meia hora. Mas vocês não podem entrar para vê-lo. O máximo que posso fazer e pedir para que esperem na sala ao lado. Mas vou logo avisando: tem uma prole lá. Ou o cara é famoso ou então... Bom, não é da minha conta. – ela indicou a porta.

Sinceramente, eu não sabia se ria ou se chorava, porque A FAMÍLIA INTEIRA ESTAVA NAQUELE HOSPITAL! Sério! Tio Elliot e o filho, tio Jared, Ashley, as irmãs e a mãe e todos os outros (até aqueles que eu não tivera a oportunidade de visitar nessas férias) estavam ali aguardando notícias.

Cumprimentei cada um dos tios e primos e sentei num espaço vazio do chão, junto com os mais novos e esperei. Alguns tentavam conversar, mas eu meio que ignorava. Não estava com cabeça para isso. Quase matamos a enfermeira que saiu da sala onde disseram estar Jake.

- Como ele está? – perguntaram bem uns três primos ao mesmo tempo. Ela nos olhou atônita por um breve instante e depois saiu sem abrir a boca. Frustrante. Continuamos sentados na mesma posição. A conversa morria aos poucos conforme os assuntos iam se esvaindo. Os minutos viraram horas. Era quase meio dia quando um médico adentrou a sala de espera.

- Como ele está? – minha tia perguntou. Seu rosto estava inchado e marcado pelas lágrimas que não secaram por completo. O homem a olhou, pesaroso e eu senti o que estava por vir, mas nem toda a preparação do mundo poderia amenizar a dor ao ouvi-lo dizer solenemente:

- Sinto muito. Ele morreu.

O grito de perda da mãe foi de uma agonia indizível e o tormento de todos diante da notícia... Não há palavras para descrever. O choro e as consolações preencheram o aposento pequeno demais para tanta gente. Eu mal prestava atenção ao coletivo. Perdera a vontade de ver, ouvir e falar qualquer coisa. Não vieram as lágrimas, como eu pensei que aconteceria, mas o vazio que tomou conta de mim foi sem precedentes.

Uma parte de mim. Jake levou com ele a melhor parte de mim. A que vivia. Eu agora era uma casca vazia incapaz de olhar nos olhos de quem fosse e sem lágrimas para expressar o pesar.

A sala que antes era um símbolo de esperança, tornou-se envolta em luto. Não me importaria de ser eu ali, deitada sozinha e sem vida se Jake pudesse de alguma forma voltar. Nunca temi a morte. Pelo menos, não a minha. Meu maior medo era o que eu estava vivendo: presenciar a morte de quem eu amava.

- Podemos vê-lo? - ouvi tia Margareth sussurrar num fio de voz – Podemos ver o corpo? – o homem de jaleco assentiu, dando passagem para a mãe, os irmãos e a mim que me passei como parente próximo.

O lençol cobria o corpo por inteiro. Algumas manchas de sangue denunciavam ferimentos mais profundos que não tiveram tempo suficiente para fechar nem sob sutura. O quarto era minúsculo, frio e morto. Uma marcha fúnebre muda. Sem querer lembre-me de Jake tocando para mim a melodia no violão. Todas as noites. Ouvi-la uma última vez não por ele, mas para ele era uma dor sem igual.

Toquei o tecido branco e grosso passando o dedo pelos contornos de sua face ainda oculta. Não foi o suficiente. Tia Margareth continuava estática na porta com os outros filhos, debulhada em lágrimas. Devagar e sem olhar até que o rosto estivesse completamente descoberto.

Não contive o grito ao constatar a face pálida, fria e sem vida:

- MORREU! BEM FEITO! NINGUÉM MANDOU! – desculpe, não sou louca, se foi isso que pensaram, porém não pude deixar de gritar e dar vivas a plenos pulmões enquanto corriam para a sala de espera sozinha (tia Marge desmaiara ao ver o corpo) anunciar que não fora Jake quem morrera, mas o caminhoneiro que avançou o sinal.

A agitação foi geral quando, amontoados, cada um dos tios e primos viam o cadáver do homem loiro, não muito velho, mas ainda assim de cabelos ralos, rosto fino com uma barba rala e saíam felizes, comemorando a morte não de Jake, mas de um completo desconhecido.

A mãe do suposto falecido despertou do choque e jogou-se por cima do morto, beijando o defunto como uma louca e agradecendo a plenos pulmões pela morte do sujeito. Os enfermeiros entraram na sala horrorizados com a cena que presenciaram e quase enxotaram a família inteira do hospital.

Minha mãe agarrou o colarinho do primeiro funcionário que ela viu passar por ali, gritando e xingando pela incompetência e pelo susto, exigindo saber onde estava o sobrinho e que dessa vez fosse o homem certo ou eles iam se acertar com ela. Nunca vira minha mãe tão fora de si, mas eu também não estava em melhores condições quando nos levaram a outro quarto, um pouco mais iluminado e menos abafado.

Jake dormia, ressonando levemente quando a horda de parentes entrou fazendo barulho, sorrindo e acenando. Meu primo acordou de um salto, quase derrubando os apoios de sangue (ele teve que fazer uma transfusão) e de soro. Tinha uma perna engessada e vários arranhões. Umas suturas aqui e ali cobertas por gaze indicavam onde o vidro entrara mais fundo. Havia um galo na testa marcas roxas por quase toda a superfície visível e o braço esquerdo apoiado numa tipóia. Não usava nada além daquelas batas terríveis de hospital e sua aparência era de pasmo. Também a família se espremeu ao máximo para vê-lo pelo menos de relance no quarto nada grande.

- O que vocês... – ele parou no meio da frase – Estavam chorando?

- Informaram a sala errada. – expliquei antes dos outros – Te confundiram com o caminhoneiro que se chocou com teu carro. Ele morreu e todos nós pensamos que fosse você que... – não consegui terminar. Depois do choque inicial a realidade finalmente me atingiu e comecei a chorar ignorando a presença de todos à minha volta.

Saí daquele cubículo deixando Jake com o resto da família ao mesmo tempo em que uma enfermeira entrava no quarto e pedia (lê-se: gritava para se fazer ouvir) por favor para sairmos, pois o máximo permitido era de três pessoas por vez.

Fiquei na saleta de espera, ainda atraindo os olhares daqueles que estavam quando gritei de felicidade pela morte do caminhoneiro. Meio que esquecendo o trauma, comecei a rir sozinha. Aos poucos a família foi saindo. Mais calma, falei com cada um deles, me desculpando pela ignorância de momentos antes, mas tive que sair, pois Jake dispensara a mãe e os irmãos e estava me chamando para uma conversa particular.

Senti meu rosto corar enquanto me levantava e refazia o caminho até o quarto que ele ocupava. Meu primo contou que não se lembrava de nada até o impacto e que acordou não fazia muito tempo, sem ver ninguém. Contei a ele o engano do médico e ele riu como podia, fazendo algumas caretas de dor. Disse que fraturara o osso de uma das pernas, mostrou-me cada um dos pontos visíveis e disse que talvez tivesse alta no dia seguinte.

Não consegui pensar um momento sequer no que isso significava: nada de passeios, feliz demais apenas por tê-lo ali, vivo, comigo. Almocei no hospital, recusando a oferta de Jake de pagar minha refeição. Onde já se viu? Visitar alguém no hospital e deixar o paciente pagar sua comida como se fosse a retribuição de um favor? Um pagamento?

Vi a enfermeira medir sua pressão, verificar a bisnaga com o sangue da transfusão e a do soro, sentar a cama dobrável para que meu primo não precisasse ficar deitado o dia todo (ele dera um mal-jeito nas costas com o impacto, mas nada muito doloroso pelo que me dissera, embora se contorcesse um pouco ao sentar).

E assim foi meu dia. Fiquei assistindo TV quando Jake finalmente dormiu segurando minha mão sob os efeitos dos analgésicos (tomados a contragosto a partir do soro) e insisti para que minha mãe me deixasse ficar lá fazendo companhia a ele durante a noite. Tia Margareth insistiu em ficar com o filho, mas consegui convencê-la a ir para casa, tomar um bom banho, dormir e relaxar, que eu cuidaria de tudo. Não iria admitir que tinha medo de ir embora e acontecer alguma coisa (pensamento tolo, sei) ou que queria ficar a sós com meu primo, mesmo que este estivesse adormecido. Mas o motivo principal era o medo do que eu poderia sonhar; os pesadelos que certamente viriam se eu fechasse os olhos.


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Notas finais do capítulo

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