Love Is Waiting escrita por Gabriela Rodrigues


Capítulo 25
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, desculpem a demora absurda. Meu computador muito temperamental deu problema e tive que comprar um pendrive para poder salvar as histórias. Quanto a este capítulo, só consegui ligar meu computador hoje, portanto só hoje consegui concluí-lo. Enfim... Depois de tanto trabalho e tanta espera, espero que gostem.



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A noite foi longa e exaustiva. Para ser sincera, a cadeira era dura, a comida do hospital não era boa, Jake só acordou às três da manhã e eu, mesmo com sono, reprimia ao máximo a vontade de dormir. Fiquei a maior parte da noite apenas vendo-o respirar, agradecendo numa prece muda por ele ainda estar vivo.

A enfermeira voltou para medir sua pressão. Ela fazia isso a cada meia hora mais ou menos, mas acho que foi mais por causa do desmaio. Também trocou os curativos e verificou se a perna engessada estava devidamente erguida. Apensa assistia a todos os cuidados em silêncio. Jake já não precisava mais tomar sangue nem soro e estava mais corado. Foi quando a moça me ensinava a refazer os curativos em torno dos pontos que meu primo acordou.

- Tudo bem? – perguntei. Afinal era eu quem estava retirando a atadura suja de sangue que envolvia um corte perto do ombro (a essa altura Jake vestia um pijama que minha tia trouxera de casa, mas tive que tirar sua camisa com a ajuda da enfermeira).

- Tudo. Acordei com a gaze sendo tirada. – olhei-o confusa – A gaze deve ter enroscado num dos pontos. – ele explicou.

De fato a atadura prendia na pele e nos pontos graças ao sangue seco. Joguei um pouco de água oxigenada sobre a gaze mesmo para amolecer o sangue (um truque que eu aprendera quando me cortei no boliche). A enfermeira olhou aturdida o efeito quase instantâneo e me deixou prosseguir, observando com atenção. Senti-me estranha ao ser analisada por uma profissional como se ela precisasse aprender e não eu, mas em pouco tempo eu já estava limpando o ferimento e cobrindo-o de novo.

Repeti o processo nos demais cortes, conversando com Jake para distraí-lo da mesma forma que ele fazia comigo para eu esquecer a dor. Pareceu dar resultado. Passei uma pomada recomendada pelo médico para sumir com os hematomas mais rápido e deitei na maca ao lado de meu primo.

Não pude evitar o tremor que percorreu meu corpo ao lembrar a quase perda de umas horas antes. Meu mundo virou de pernas para o ar e depois voltou ao normal, mas com as cicatrizes do mal entendido. Não suportaria passar por aquilo de novo, eu tinha certeza, e imaginava como seria quando fosse pra valer e não tivesse confusões.

Fitei meu primo. Por mais que os olhos estivessem fechados, sabia que ele não estava dormindo, pois afagava suavemente meu braço, tranqüilizando-me. Eram quase quatro da manhã quando ele pediu que eu chamasse um enfermeiro para ajudá-lo a ir ao banheiro.

O constrangimento que ele tentava reprimir só piorava meu humor já abalado. Onde eu estava com a cabeça ao mandar a mãe dele para casa? Tudo bem, ela tinha que dormir, mas agora, vendo a vergonha que meu primo sentia ao ser ajudado por um estranho, desejei poder voltar atrás. E quanto a Luke? Ele também seria mais útil que eu.

- Não é verdade. – Jake me repreendeu. Não percebera que falara tudo aquilo.

- Como não? Olha pra você! O que eu posso fazer?

- Já fez o bastante. Aquela mulher ia estar tentando tirar a atadura até agora e não duvido nada que viria um pedaço da pele junto. – ele tentou brincar. Minha cara azeda deve tê-lo feito perceber que eu não achara graça.

Ainda não estava satisfeita, mas optei por deixar a discussão de lado. O sol finalmente apareceu e com ele, minha tia.

- Obrigada, querida. -  ela disse assim que me viu. Ia sair para dar mais privacidade aos dois quando um despertador tocou bem baixinho. Hora de refazer os curativos. Como tia Marge desmaiava ao ver sangue, fui encarregada de trocar as ataduras em torno de cada sutura. Não que eu lamentasse.

Passou meia hora até a mãe dele voltar ao quarto.

- Desculpe, meu bem. – ela falou comigo – Simplesmente não consigo. Estômago fraco. Espero que ele não tenha dado muito trabalho durante a noite.

Neguei e finalmente pude sair, aproveitando para comprar alguma coisa de café da manhã. A coisa mais comestível que encontrei foi uma salada de frutas que forcei rapidamente goela abaixo e voltei à sala de espera.

De relance, vi minha tia conversando com o médico. Ele consultou a prancheta e fez sinal para ela entrar no quarto que Jake ocupava, acompanhando-o. nem um minuto se passou, ouvi meu nome e entrei. O médico examinava meu primo, conferindo cada corte que eu reenfaixara.

- Já havia feito isso antes, minha jovem?

- O que? – ele apontou as gazes enroladas.

- Conferi cada uma delas e estão perfeitas. Toda a medicação foi feita com cuidado assim como a limpeza e ele – indicou Jake com o polegar por cima do ombro – alega não ter sentido dor alguma. Nenhum puxão da linha.

- Não. – menti – Nunca. A enfermeira que me explicou para eu fazer a... Manutenção durante a noite.

- Creio que eu não precise repassar as informações a ela. – ele indicou minha tia parada junto à porta.

- Não. Pode deixar. Até quando vai ser preciso passar a pomada?

- Mais uns dois dias, creio. E com o cuidado necessário ele pode voltar em dez dias para tirar os pontos. – assenti.

Tivemos que esperar ainda mais alguns minutos enquanto o homem preparava um atestado e assinava uns papéis dando alta a Jake. Meu primo precisaria de uma muleta e até que ele tirasse o gesso, nada de dirigir. Mas isso não me preocupava mais.

O carro foi parar na oficina e só em uma semana ficaria pronto. Me dispus a ficar em casa com Jake até o final do mês quando eu não poderia fazer mais nada, mas minha tia tinha uma opinião diferente da minha. Completamente dependente, meu primo passou a participar mais dos passeios em família, apesar do mal-humor aparente.

Luke, Ed e Fred riam às custas de Jake que precisava de ajuda no banho (para não molhar o gesso) e para isso um dos três ficava no banheiro para ajudá-lo. Não sei qual deles teve a infeliz idéia de tirar uma foto dele em seus momentos mais vergonhosos, mas consegui deletar a foto enquanto os outros dormiam.

Era final da tarde (umas cinco horas) quando a campainha tocou. Olhei através da persiana da salinha de estudos onde eu estava tocando teclado para Jake (uma pequena inversão de papéis) a tempo de ver o irmão caçula de minha mãe saindo do carro rebocando a esposa e o filho, Denis.

Só para quem não os conhece, o moleque era um entojo e nada mudara com o tempo. A mãe, com um corte de cabelo que seria moderno quando ela nasceu (o que deve ter sido durante a independência do Brasil), era em uma única palavra a pessoa mais fresca que já conheci. Mesmo esse único adjetivo não parece suficiente para descrever meu desagrado em vê-la.

- O que aconteceu, chuchu? – ela perguntou a Jake. Com um esforço tremendo para não rir (especialmente quando ele limpava o cuspe do rosto – a adorável cunhada da minha mãe não conseguia falar sem cuspir) respondi por meu primo que estava a ponto de estrangular a mulher.

Expliquei tudo por alto, ciente de que o marido já falara tudo a respeito do acidente, fato ao qual ela não deu atenção e voltei a me concentrar na música que estava tocando antes deles aparecerem.

Denis, porém tinha o dom da irritação. As almofadas todas da sala foram parar no chão enquanto ele teimava com minha tia que queria brincar de soldadinho com a estatuetas de enfeite da sala. Não muito depois ouvi um chiar oco, completamente desafinado. Jake quase teve um AVC ao ver seu violão nas mãos do monstrinho que girava compulsoriamente o afinador e corria o dedo pelas cordas afirmando que estava tocando uma música melhor que a minha. Reprimi um gemido ao ver uma das cordas romper.

Se não fosse pela perna engessada, a tipóia em um dos braços, os pontos diversos e os hematomas, meu primo teria estrangulado o pequeno sem dó. Consegui recuperar o que restou do instrumento quando o pestinha pôs-se a pular no sofá de sapato e tudo, xingando deliberadamente o pai que tentava contê-lo e incentivado pela mãe sem-noção.

- Denis, fofinho, vem com a mamãe, vem. - minha... Eu não gostava de pensar nela como minha tia, chamou – Vem comer, chuchu!

- O que tem pra comer? – a praga perguntou. Tive vontade de responder “comida” só para ver a cara que ele ia fazer.

- Frango assado com arroz. – tia Marge falou pela mãe da peste.

- Eu não quero frango! – o moleque gritou e voltou a pular no sofá.

- Mas ta tão gostoso... – minha tia ainda fez o esforço.

- Não gosto!

- Só tem isso. – minha mãe começou a perder a paciência.

- Então não como.

- A mamãe frita um ovinho. – se aquela mulher continuasse falando eu ia acabar por me afogar em cuspe. Um modo nada digno de morrer.

- Não quero ovo!

- O que você quer, meu bem? – ela tentou de novo.

- Ele quer morrer de fome! – berrei da salinha de estudos já com os nervos a flor da pele  por causa das frescuras do pirralho – E é isso que vai acontecer se ele não comer a droga do frango! – Jake ficou roxo de rir quando bati a porta, abafando o choro de Denis (reação à minha resposta).

Continuei tocando teclado por quase meia hora, quando Jake suspirou ao meu lado.

- A programação ta chata?

- Não. – ele disse – Só é estranho ficar em casa o dia todo e depender de praticamente todo mundo. Não consigo nem ir ao banheiro sozinho! É humilhante.

Eu não soube o que dizer. Nunca recebi um manual sobre como tratar as pessoas que se sentem inválidas.

- Eu não me importo de ficar sob quatro paredes. – declarei. Por falar nisso, eu nunca admitira, mas só saía tanto com Jake para não magoá-lo e também para passar mais tempo com meu primo. Preferia mil vezes ficar em casa, por mais que algumas vezes significasse não ter nada para fazer.

Uma batida na porta.

- Entra. – Jake me olhou de esguelha, como se fosse a resposta errada. O que ele queria? Que eu expulsasse quem quer que fosse? A mãe de Denis pôs a cabeça para dentro seguida pelo filho.

- Põe ela de castigo, mãe!

Reprimi o riso enquanto erguia uma sobrancelha, esperando.

- Peça desculpas ao Denis. – ela (literalmente) cuspiu. Fingi pensar um pouco.

- Não.

O moleque abriu o berreiro.

- Faz ela chorar, mãe!

- Escuta aqui, sua moleca mimada... – ela começou a falar.

- Pensei que seu filho fosse homem. – eu a cortei. Jake só faltava se espocar de rir.

- Cala a boca, sua implicante. - eu ainda ria. Ela apontou um dedo gordo pra mim. Jake (sentindo bastante dor a julgar pelas caretas que fez) se levantou, pondo-se na minha frente e segurando o dedo da mulher.

- Tira esse dedo da cara dela. – ele disse baixo, porém claro. A minha... Tia levantou a mão, pronta para estapeá-lo. Por impulso, me pus frente a meu primo, segurando o pulso da mulher bem a tempo. Houve um estalo, mas não me importei. Ela lacrimejava.

- Se você encostar nele, eu juro que te quebro osso por osso e não vai ter quem me segure. – minha voz soou calma, mas não era um blefe. Percebi quando ela arregalou levemente os olhos. Não durou nem um minuto a visitinha dela à sala de estudos e a doida já foi pegando o filho (que reclamava por eu não estar chorando) e o marido (que se desculpava) e saindo da casa de tia Marge.

Minha mãe pôs a cabeça para dentro, visivelmente feliz com a partida da louca.

- Tudo bem por aqui?

- Sim. – mantive a voz tranqüila. O pior já tinha passado. Ela saiu e forcei Jake, que ainda se mantinha de pé, a sentar. – Como vai a perna?

- Na mesma.

- Já tomou os analgésicos?

- Não preciso de remédios.

Tia Marge voltou trazendo os comprimidos do filho.

- Tome, querido. E não esqueçam que amanhã vamos visitar seu tio Elias.

Bufei. Tio Elias era advogado e amava o que fazia e com certeza as filhas dele, Luana e Giovanna (ou como eu prefiro chamá-las: Banana 1 e Banana 2) estariam por lá. Elas eram do tipo grudadas e mimadas que faziam tudo o que mandavam. Se fossem um trio, seriam as três patetas. Completamente desmotivada a acordar na manhã seguinte, fui me preparar para dormir, como todos os outros haviam fito há cerca de meia hora, quando Jake me impediu:

- Dorme comigo, hoje? – o pedido me pegou desprevenida, afinal ele nunca me pedira isso. Todas as noites que tivemos que dividir uma cama foi por pura conveniência ou porque não tínhamos escolha.

- Teus irmãos dormem no mesmo quarto que tu. – tentei escapar.

- Ok, então. - ele começou a se levantar e tive vontade de morder a língua.

- Mas podemos ficar no sofá se você não se importar. – eu sei o que você deve estar pensando, mas era ao mesmo tempo medonha e tentadora a idéia de passar a noite com ele. Por mais que não fossemos fazer absolutamente nada além de dormir. Era apenas... Confortável, aconchegante e acolhedor. – Mas você vai ter que prometer que vai ficar no sofá a noite toda e que vai me deixar dormir no chão. – ele tentou protestar – É a minha condição.

Jake suspirou.

- Pega pelo menos duas almofadas e uns edredons pra nós.

Fiz o que ele pediu e não demorei a cair no sono.

Imagens desconexas preencheram meus sonhos de início. Não passavam de flashes. Clarões cegantes e barulhos muito altos montavam o cenário de um acidente. Eu estava dirigindo. Não sei como, por ainda ser menor de idade, mas estava. O carro dobrava em ruas que eu não conhecia, mas no sonho eu virava o volante sem hesitar. Era noite e várias casas me cercavam, o sinal fechou e a cena mudou.

Um carro em pedaços de onde saia uma fumaça densa encontrava-se na minha frente com um corpo coberto logo ao lado. Estava irreconhecível. A placa no carro quebrada, a pintura arranhada e o corpo mutilado. Não me atrevi a retirar o pano que o cobria, mas uma carteira milagrosamente intacta chamou minha atenção. Olhei a foto e a larguei chocada. Era Jake. O meu Jake.


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Notas finais do capítulo

Antes de terminar, gostaria de agradecer a todas que leem essa fic. Ela já está chegando ao fim, mas é muito especial para mim. Quero agradecer também às oitos pessoas que adicionaram LIW aos seus favoritos. Significa muito Agora.. voltando ao assunto: Comentem, por favor!!!! É o meu incentivo



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