Love Is Waiting escrita por Gabriela Rodrigues


Capítulo 11
Capítulo 11




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Acordei num lugar desconhecido. O colchão era duro e as paredes que me cercavam, meio fúnebres. Pisquei desconcertada e quando tentei me levantar tudo girou ao meu redor.

- Shhh. – uma voz conhecida falou perto de mim – Descanse, vai ficar tudo bem.

Procurei minha voz que deveria ter se perdido em algum lugar daquele quarto misterioso,

- Onde eu estou? – consegui perguntar.

- Zoey, desculpe. – a expressão de Jake era torturada – Mas você deveria ter ficado onde estava... Por quê...?

Então eu lembrei. Vários flashes do boliche, do beijo forçado, de Tom segurando com força meus braços e então, a briga, a garrafa varia e por fim... Dor. Muita dor e o sangue escorrendo por meus braços. Toquei minha pele por impulso e onde antes deveria estar os cacos da garrafa percebia-se um relevo sutil.

- Você faria o mesmo por mim. – continuei alisando os breves alto-relevos em meus braços.

- Tiveram que dar alguns pontos. – Jake explicou e finalmente percebi que eu estava em um hospital – Zoey... – ele sentou na borda da maca que eu ocupava e suspirou – Obrigado.

Sorri fraco em resposta e ele afagou de leve minha pele machucada. O lugar onde eu levara os pontos não doía, apenas coçava um pouco e eu aproveitei para contar quantos cortes aquela garrafa causara. Não foram muitos, mas Jake ainda insistia em se preocupar, mesmo eles estando devidamente tratados.

- Eu devia ter acabado com a raça dele. – Jake rosnou enquanto passava de leve o dedo numa das feridas perto do ombro.

- Você não devia ter feito nada, isso sim.

- Se eu soubesse que ele iria, nem teria te levado.

- Se eu soubesse que ele iria, além de não ir, jamais teria te convidado.

Ficamos calamos por um tempo, fitando o nada e logo depois uma enfermeira sorridente entrou no quarto.

- Tudo bem, querida? Você ficou inconsciente umas boas horas. Fiquei preocupada.

- Sim, eu to ótima. Quando eu vou poder sair daqui?

A mulher sorriu simpática.

- Se você puder dar licença um minutinho, meu jovem – ela se dirigiu a Jake – eu vou ver como estão os pontos e examiná-la. Não vai demorar. Você pode esperar no corredor, se quiser.

Meu primo saiu e a mulher me pediu para tirar a blusa.

- Ele ficou a noite toda aqui. – a mulher comentou enquanto me auscultava – Não dormiu, não saiu enquanto te dávamos os pontos e os analgésicos... Ficou sempre do seu lado.

- O Jake é assim, mesmo.

- Ele é seu irmão?

- Meu primo. – e namorado, completei mentalmente.

- Ele parecia querer se castigar quando chegou aqui te carregando. O que aconteceu?

- Eu me meti numa encrenca, ele me defendeu e iam quebrar uma garrafa de cerveja na cabeça dele, mas eu o puxei e acabou acertando em mim.

Ela assentiu.

- Se ele não fosse seu primo, diria que vocês formam um belo par. Um defende o outro. Geralmente, quando é assim é cada um por si. É bom saber que o espírito de família ainda reina em algum lugar.

Senti meu rosto esquentar e mantive a cabeça abaixada.

Recebi alta naquele mesmo dia, assim que o check-up acabou e fomos para a casa da mãe dele.

- Durma um pouco. – eu pedi.

- Eu to bem. Quem tem que descansar é você.

- Vamos fazer o seguinte, então. – eu não estava com cabeça para discutir – Nós dois vamos dormi, ok?

- Mas...

- É isso ou nada feito. – encerrei.

- Vem. – ele me puxou para seu quarto.

- Eu tenho a minha cama. – tentei fugir.

- Quero ter certeza de que você não vai fugir na primeira oportunidade. Nós já fizemos isso antes. – ele provocou – É isso ou nada feito.

Revirei os olhos, irritada e deitei encolhida numa das pontas da cama. Senti o colchão afundar quando ele deitou e em seguida seus braços me envolveram pela cintura levando-me para junto de seu peito.

Enterrei o rosto em seu tronco enquanto ele afundava sua cabeça no emaranhado que era meu cabelo murmurando coisas sem sentido até cair no sono abraçado a mim.

Esperei alguns minutos até ter certeza de que ele havia dormido e, com cuidado, saí de seu abraço e fui para a sala, pois o único que precisava descansar ali era Jake. Mal cheguei à sala, o telefone começou a tocar e eu atendi mais que depressa.

- Alô. – uma voz rude que eu não reconheci falou.

- Quem ta falando?

- Zoey? – a pessoa, que com certeza era um homem, chamou.

- Tom. – lembrei a contragosto – Ta ligando por quê?

- Queria saber como você está. Fiquei preocupado.

- Se estivesse tão preocupado não teria me batida pra início de conversa e teria me acompanhado até o hospital. Não que eu me importe, porém graças a você, eu poderia estar melhor, mas não.

- Desculpe, mas era pra acertar o Jake. – já podia até imaginar o sorriso que se formava nos cantos de sua boca. – E, de certa forma, a culpada foi você. Se não tivesse se debatido tanto com aquele beijo, além de ter sido melhor, teu primo não ia ter partido pra cima de mim.

- Jura? – perguntei sarcástica – E como vai o nariz?

Sua voz ficou dura novamente.

- Acho que já te dei o troco.

- Ótimo. Então já que agora sua preocupação foi pro lixo, posso fazer isso sem culpa. – bati o telefone e o tirei da tomada.

Voltei para o quarto de Jake para ver se ele ainda dormia e, ainda bem, encontrei-o na mesma posição que o deixara. Fui para a cozinha e olhei o relógio: nove da manhã.

Peguei algumas panelas e me pus a preparar um café da manhã com tudo o que eu tinha direito: ovos, pão, bacon em tiras, queijo... Um sanduíche completo. Comi devagar, saboreando a comida e, depois de encher a barriga, tomei um banho relaxante, na maior parte do tempo só sentindo a água cair.

Escovei os dentes, penteei o cabelo e fui mexer no computador. Minha caixa de mensagens estava cheia e aproveitei para ler os e-mails de um por um. Como a maioria pedia por notícias, digitei a seguinte mensagem:

Oi, pessoal! Desculpem por não ter escrito antes, mas fiquei um pouco enrolada aqui. Aconteceram varias coisas que prefiro não comentar, porém ontem o dia foi mais atribulado.

Visitei uma tia e fui para uma boate de entrada franca. Me acabei de dançar e voltei de madrugada. Tivemos (literalmente) frango atropelado para o almoço e durante a noite saí (outra vez) com uns primos, mas me meti numa briga e levei uma garrafada.

Acordei hoje no hospital com alguns pontos nos braços, mas já estou em casa e me sinto ótima. Não se preocupem. Volto no final do mês que vem caso a escola mantenha o plano de deixar dois meses de férias. Saudades mil. Zoey.”.

Cliquei em “enviar” e mandei para todos aqueles que pediam para eu contar alguma novidade. Baixei algumas músicas que eu gostava para o meu pen-drive e perto de meio-dia Jake levantou.

- Você me enganou. – meu primo me acusou com uma voz rouca.

Prendendo o riso para não rir, tentei conformá-lo.

- Você virou a noite. Precisava dormir um pouco. Eu tirei um cochilinho. – menti.

Ele revirou os olhos e sentou sobre a mesa do computador.

- Como vai o braço?

- Normal.

- Vai querer almoçar o que?

- Comida. – respondi com um sorriso. – Escolhe aí que eu engulo qualquer coisa.

- Pizza?

Ri um pouco por ele estar sugerindo minha comida preferida.

- Ainda lembra o sabor? – provoquei-o.

- Quatro queijos. – ele respondeu prontamente.

Esperei ele pedir, mas ele voltou logo depois.

- Por que o telefone ta fora da tomada.

Senti o sangue fugir do meu rosto.

- Não queria que você acordasse com a campainha.

Ele não caiu nessa.

- Alguém ligou? – ele perguntou já com um pouco de raiva e eu não respondi – Zoey?

- O Tom.

Jake chutou uma cadeira próxima e começou a soltar o dicionário de palavrões que conhecia.

- Calma. – pedi.

- O que ele queria saber?

- Se eu estava bem.

- Hipócrita! – ele cuspiu.

- Jake! – segurei-o pelo braço virando-o de frente para mim. – Prometa que vai esquecer isso.

- Esquecer?!

- Sim, esquecer. Prometa. Por mim.

Ele tremia compulsivamente.

- Por favor. – sussurrei.

- Ótimo. – ele quase gritou. – Volta correndo pra ele! Acha que eu ligo?

- Jake! – agora quem quase gritava era eu – Retire o que disse!

- Me da um bom motivo! Só um! Eu insisto.

Não consegui abrir a boca e lágrimas ridículas começaram a se formar. Deixei Jake parado onde ele estava e fui para a suíte sem olhar para trás. Não ia chorar na frente dele.

Fechei a porta com força e deitei na cama de casal de minha tia socando os travesseiros com toda a minha força até meus braços começarem a doer e o cansaço me vencer. Cochilei ali mesmo, com o nariz entupido e os olhos inchados.

Acordei perto das três. Espreguicei-me com calma, estalando minhas costas e meus dedos um de cada vez enquanto pensava na melhor forma de encarar meu primo depois da trágica conversa. Levantei-me quase deixando passar despercebido um pequeno bilhete que caíra no chão.

“Desculpe-me. Fui um idiota. Nunca pensei que pudesse ser ciumento e confesso: é horrível. Juro que não vou fazer nada com o Tom (por mais que eu queira muito estraçalhar aquele pescoço). Por favor, não pare de falar comigo de novo. Posso te compensar mais tarde? Tem pizza no microondas”.

Suspirei frustrada. Ele achava que ia ser fácil assim? Era só me entregar um bilhete e eu voltaria correndo para ele com todas as mágoas esquecidas? Ele tinha coragem de falar tudo aquilo de mim e não tinha peito para me encarar na hora de se desculpar?

Cautelosamente, tentando não fazer barulho, abri a porta do quarto para sair despercebida, mas com a minha sorte é claro que não deu certo. Senti um peso extra sobre meu pé e, quando me dei conta, Jake se levantou.

- Ta fazendo o que deitado aí? – perguntei ainda rude.

Ele se encolheu ao som da minha voz, mas respondeu.

- Queria ter certeza de que você encontraria o bilhete. – abri minha boca para responder, mas ele continuou – Não quero que você pense que não tenho coragem de me desculpar pelas idiotices que eu te disse, mas pensei que o recadinho pudesse te amansar um pouco.

Cruzei os braços, esperando.

- Se eu pudesse voltar atrás eu não teria dito nada daquilo. Odeio brigar contigo e me dá medo pensar que de alguma forma eu posso te perder. – ele suspirou – Desculpe por tudo e... Eu falei sério quanto a sair mais tarde. Na verdade, eu já até pensei num lugar bem legal pra te levar, mas você teria que passar algumas horas trancada num carro comigo e estar usando algo bem confortável.

Revirei os olhos com a curiosidade falando mais alto que a pouca raiva que ainda sobrava dentro de mim e perguntei:

- Onde?

Jake sorriu do modo que só ele era capaz de fazer ao responder:

- Você vai ter que vir pra saber.

Tida por vencida, entrei na suíte novamente para me trocar, colocando o bermudão mais surrado que encontrei. Ouvi meu primo rir de minha atitude, visivelmente aliviado, e peguei uma bolsa (puro hábito) para sair.

Jake passou pelo portão carregado com uma mochila maior que a que eu usava para ir à escola e por um breve segundo me perguntei quais seriam seus verdadeiros planos para aquela noite.

Voamos pelo asfalto assim que nos acomodamos no carro e eu encostei minha cabeça no banco, pronta para tirar um cochilo. Ainda estava escuro quando o carro finalmente parou (bem que ele disse que levaria algumas horas) e nosso destino final ficou nítido em meu campo de visão: um hotel cinco estrelas.

- Que palhaçada é essa?

- Não é palhaçada. Está tarde e não tem nada aberto a essa hora. Vamos dormir e amanhã te levo pra conhecer a cidade.

- Que lugar é esse?

- Águas de São Pedro. Costumava vir pra cá em passeios escolares quando eu era menor.

Jake me conduziu através das escadarias de mármore até encontrarmos o balcão da recepção onde ele se identificou.

- Vocês são o... Casal que reservou a suíte de lua de mel?

- QUÊ?! – berrei.

- Sim, somos nós. – meu primo respondeu com naturalidade. Ele queria morrer?

- Bem... Aqui está. – a mulher entregou as chaves do quarto, sorridente.

- Obrigado. – ele respondeu e praticamente me rebocou para a ala dos elevadores.

- Muito bem... – comecei, lutando para manter a calma – Acho bom você me explicar tudo direitinho, senhor recém-casado, porque eu não entendi patavina.

- Esse hotel estava lotado. Tive que inventar essa mentirinha para reservarem uma suíte pra nós. É o único hotel que eu conheço aqui.

Contei até sem para não dar um ataque quando o elevador finalmente chegou e até mil quando vi o quarto: paredes brancas que davam para uma praça maravilhosa e bem iluminada pelo luar e uma única cama king-obeso-size.

- A gente vai ficar AQUI? – berrei a última palavra.

- Shhh! Podem te ouvir! – ele sussurrou.

- Que ouçam! – explodi – Você tinha prometido na casa da Mariana que aquela seria a última vez que dividiríamos uma cama.

- Sim, mas as atuais circunstâncias mudam a minha promessa. – ele replicou – A menos, é claro, que você durma no chão.

- Amém. – recitei e acomodei minha mochila como travesseiro.

- Bom, eu não vou discutir. Chega de confusão por hoje. Quer dormir nesse chão sujo, duro e frio? Durma! Eu fico na cama macia, limpinha, aconchegante...

- Ta! – interrompi. Aquilo era sacanagem – Chega pra lá!

Rindo, Jake fez o que eu pedi e, assim que deitei, ele pulou em cima de mim, beijando meu pescoço.

- Você não cansa de fazer isso? – perguntei entre risos.

Ele não respondeu, apenas continuou beijando a pele exposta de meus ombros e subindo até a orelha. Não contive um gemido quando sua respiração atingiu meu ouvido e pude sentir Jake prender o riso.

- Estou perdoado?

Fingi pensar um pouco e o abracei com força, fazendo-o cair em cima de mim com todo o seu peso, mas não reclamei, mantendo-o ali até que ele murmurou:

- Eu te amo.

- Você sabe que eu também. – respondi.

Jake levantou sua cabeça até então deitada sobre meu cabelo solto e esparramado sobre a cama para fitar meus olhos. Seu olhar dançou por meu rosto parando em minha boca ligeiramente aberta.

Quebrei sem medo a distância entre nossos lábios e começamos mais um de nossos beijos incandescentes. Já não havia mágoas; éramos apenas Jake e eu naquele hotel maravilhoso.

A realidade me atingiu num átimo e soltei meu primo como se tivéssemos levado um choque. Ambos arfávamos, mas mesmo depois do susto não foi difícil pegar no sono, afinal estávamos exaustos.


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