Enquanto o Sol Brilhar! escrita por MissBlackWolfie, Raquelzinha


Capítulo 5
PIQUINIQUI


Notas iniciais do capítulo

Perdoem a demora...mas escritoras com crise de criação é complicado..mas estamos retomando a fic, agora já na reta final...



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Mesmo com meus olhos ainda fechados tinha a noção exata que estava onde desejo estar sempre, no que tem sido meu sonho ultimamente: junto de Bella, ela ressonava baixo entre os meus braços, com rosto apoiado no meu peito. Ter ela assim tão perto de mim durante esses dias, produziu questionamentos muito profundos dentro de mim.

Ao mesmo tempo que com Bella eu me encontrava por completo, a sensação de estar perdido me assolava, afinal ela era a representação de que não posso ter já que não é a aquela que me foi imposta pela minha família, porém é a que desejo de maneira intensa e isso provoca uma variedade de sentimentos confusos no meu coração e na minha cabeça. 

Abri meus olhos notando os primeiros raios de sol brilharem tímidos entre as nuvens, pássaros cantavam ao longe, deixando o clima leve e gostoso, e tinha como complemento a mulher amada dormindo comigo, algo que eu gostaria ter pelo resto da minha vida, mas não podia. Esse simples pensamento rasgou meu peito, não queria pensar nisso, queria aproveitar esse doce momento enquanto fosse possível. 

Os fios do cabelo castanho dela caiam na minha pele, passei meus dedos por eles de maneira carinhosa, aquilo foi a passagem para que minha mente viajasse nos meus sonhos, mesmo  acordado: 

Ela e eu, longe de tudo e todos, numa casa só nossa, num lugar onde não houvesse cobranças ou obrigações de qualquer tipo, onde estivesse só nós e nosso amor. Seu sorriso  desenhado no seu rosto quando olhasse para mim, todo seu amor sendo somente meu como neste instante.

Suspirei com essa imagem de um sonho realizado e minha movimentação despertou Bells, que começou fazer uma pequena manha apertando minha pele, acho que ela queria conferir que estar comigo ali não era um sonho, sorri ao pensar assim. Seu rosto esfregou de leve em mim, arrepiando-me por completo, seus olhos castanhos me encararam por alguns segundos, antes que sua voz sonolenta dissesse:

- Bom dia.  

-Bom dia. - respondi depositando um beijo na mão dela. - Queria acordar todos dias assim com você. – confessei sem medo de bancar o bobo.

Desde aquele momento na garagem, no segundo dia dela aqui, percebi que não controlo meus sentimentos, muito menos minhas palavras, sempre que podiam elas expunham com muita clareza o que sinto, e na verdade não há porque guardar alguma coisa para mim, tudo deve ser dito, enquanto ainda é tempo.
Ao ouvir minha resposta a reação dela foi de se aproximar do meu rosto, com aquele olhar que me encanta e que me dá a  nítida sensação que Bella pode ver além, além do que mostro. Seus lábios macios cobriram os meus com carinho e sem se  afastar deles, ela sussurrou:

- Amaria acordar pelo resto da minha vida em seus braços.
Ao escutar aquilo, e ver nos seus olhos castanhos que era uma verdade apertei aquela pessoa  nos meus braços, desejando que o tempo parasse, que as horas tirassem férias indeterminadas. Afinal era aquele quadro que imaginara para minha vida poucos minutos antes e ela agora o reforçava me mostrando que pensava e desejava como eu. E qualquer dor que estivesse sentindo por saber que nosso futuro não seria como desejávamos, aquela frase dita com tanta sinceridade, aqueceu meu coração, me mostrou que ela era a mulher que minha alma tinha escolhido.

Uma lembrança então apareceu no meu campo mental:

O Velho Black, meu avô com seu rosto sereno, repleto de sabedoria, sentado na beira da praia com sua cadeira antiguíssima, com as ondas brincando sob a sola dos pés, eu ao seu lado ouvindo com atenção as histórias que me contava, entre as lendas da nossa cultura, uma verdade que ele dizia ser sua preciosidade, sua voz grossa, um pouco enfraquecida devido a idade me disse:

-Jake, sempre ouça seu coração. Seja verdadeiro ao escutá-lo, pode ser que você não possa segui-lo, mas seja sincero com você mesmo. Sei disso agora, os anos me mostraram as verdades, não podemos fazer tudo que queremos, pois não é assim que a vida funciona, mas atenda o que ele pede lhe diz, na medida em que puder. Entende?

Na época, eu era ainda um moleque, que não tinha noção de nada na vida, que nem sonhava em estar vivendo aquela gama de sentimentos que me assaltaram depois que a conheci, portanto não compreendi o que ele dizia, contudo, hoje eu tinha exata noção do significado daquelas palavras, e elas só reforçavam a ideia que eu tinha para o nosso último dia juntos. 

-Queria eu poder saber onde você está? - Bells brincou dando um selinho na minha boca, sorri em resposta e ela completou. - Você parecia longe nos seus pensamentos.

-Eu estava pensando como te amo. - confessei o obvio.

-Então deve ser muito mesmo, porque você ficou muito distante. - Completou com uma risada baixa a acompanhei e nossos olhares se encontraram.

Destruindo nosso momento escutamos ao longe os meus colegas de surfs chegando a praia para pegar as melhores ondas da manhã. Bella sentou na areia, fui junto, rapidamente passei meu braço pelos seus ombros, ela por sua vez se aninhou perto de mim, ficamos observando o movimento do mar, não precisávamos falar nada, apenas a companhia um do outro já era suficiente.

 Dizem que para você saber quem é o amor da sua vida basta conseguir ficar com ela mais de dez minutos em silêncio, sem constrangimentos e isso era fácil ao lado de Bells.

Ficamos ali curtindo aquele momento durante um tempo, não sei dizer quanto, estava distraído e me assustei com o telefone vibrando no meu bolso, quando olhei no cursor tive a noção de que ficáramos muito tempo ali,  já eram 8 horas da manhã. Mas isso não era o pior, o pior era a mensagem de texto, pelo remetente sabia que eram problemas, era o número da minha mãe. Nem abri a mensagem , não queria acabar com a clima delicioso que estava instaurado entre nós, não queria contaminar Bells com a minha tristeza.

Assim perguntei a ela se estava com fome, ao receber uma resposta afirmativa a acompanhei até a pousada, parando na recepção ouvi um pedido, Bella queria que eu ficasse para tomar café com ela. Ponderei por um segundo: era o que desejava, ficar perto dela e comer sem alguém brigando comigo, resultado? Aceitei
Durante quarenta minutos ficamos conversando, comendo, nos admirando e curtindo a presença um do outro. Nunca demorei tanto para um café da manhã, mas posso classificá-lo como o melhor que já tomei, e pelo olhar de Bella, ela se sentia como eu.

Mas o tempo passou e tive que me despedir, depois que a beijei, ela pediu algo surpreendente:

-Posso te pedir uma coisa? - falou timidamente e eu apenas gesticulei afirmativamente em resposta antes que ela realmente fizesse seu pedido:  - Você poderia me contar mais sobre suas tradições?

-Posso sim Bells. - Respondi acarinhando a bochecha dela com a ponta dos dedos:  - Mais tarde passo aqui para te levar no lugar que eu mais gosto aqui.

- Ao Penhasco. - ela disse vitoriosa.

-Sim, ao penhasco. – concordei dando-lhe um beijo sereno porque tínhamos plateia, o recepcionista para variar, parecia até que ele estava nos controlando. 

-Esperarei por você. – ela respondeu me olhando nos olhos.

-Venho as três e meia. Pode ser? - perguntei calmamente.

-Estarei pronta. - o entusiasmo dela era contagiante.

-Ótimo! - Dei mais um beijo e me afastei. - Te amo.

-Eu te amo. - ela disse delicadamente.

Abracei-a mais uma vez e sai sem olhar para atrás ou não sairia dali, caminhei até a minha moto nesse pequeno trajeto,  meu celular vibrou mais uma vez, não precisei olhar para saber quem era, com certeza total, minha mãe. 

Durante o trajeto fiquei repassando algumas coisas importantes,  como por exemplo a conversa com meu pai, "Temos que manter as tradições,  foram elas que mantiveram  a linhagem dos Black´s forte até os dias de hoje. Não podemos contaminar nosso sangue puro com um de uma cara pálida. Seria a desgraça para família toda."

Aquilo me irritou tanto que acelerei mais a moto, mas foi burrice, pois me fez chegar em casa mais rápido. Bufei irritado quando deixei minha moto na garagem,  já conseguia ver  minha mãe com seu rosto moreno furioso, respirei fundo para controlar meu impulso de ir embora dali e tomei a direção da porta de entrada.

-Aonde você estava Jacob? - conhecendo bem minha mãe, sabia que meu comportamento rebelde como ela gostava de falar, acabara com qualquer resquício da paciência dela.

-Eu dormi na praia. - respondi ainda de cabeça baixa falando a verdade, ela saberia por mim ou por outra pessoa mesmo, e passei por ela, logo seus passos estavam me seguindo, eu sabia que ouviria mais, sempre há mais.

- Com ela? - Seu tom de voz era de censura.

-Se você sabe a resposta porque pergunta? – respondi me virando na sua direção, isso a fez tremer levemente tentando se controlar.

-Você sabia que todos estão comentando sobre esse seu namorico? – disse num tom baixo, e vendo meu desinteresse pelas fofocas continuou: - Várias pessoas encantadas com o casalzinho, como a vendedora da loja onde suas irmãs e eu costumamos comprar. Estive lá hoje e ela veio suspirante me dizer o quanto ficou encantada ao ver seu amor por aquela menina. Ainda salientou que nunca viu alguém tão apaixonado! Até aonde essa brincadeira vai Jacob? - não falei nada, aí ela contrariou tudo o que sei a seu respeito, gritou para mim uma ordem: - Me responda!

-Ela só vai ficar aqui mais dois dias. - elevei a minha voz ao dizer isso, não era fácil encarar a realidade algumas vezes. 

-Isso não me tranquiliza em nada Jacob! - ela apontava o dedo para minha cara ameaçando-me. A encarei com raiva, pois aquilo acabava com a tentativa de manter minha civilidade com diante de minha mãe. 

Respirei fundo, fechei meus olhos me concentrando em respirar para não estourar e piorar tudo, as lágrimas raivosas amargavam meus olhos, mas não ia deixá-las cair.

Não queria brigar com a minha mãe, porém ela não podia exigir de mim que até os meus sentimentos fossem controlados pelas tradições de família, já não lhe bastava meu destino?

-Me deixei ser livre uma vez na minha vida! – pedi a ela derrotado  – Tenho noção que não poderei ficar com ela, posso pelo menos ter ao menos momentos que vou guardar para sempre?

Ela não retrucou, ficou apenas me olhando, mostrando que minhas palavras a emocionaram. Ficamos nos encarando por um tempo, como se ela pudesse ver o meu desespero para viver o amor que sonhei pelo menos naqueles dias e por fim falou:

-Meu filho vale a pena o sofrimento pelo qual você passará depois que ela se for?

-Cada minuto mãe. - respondi tentando segurar minha emoção  – Serão minhas melhores e mais importantes lembranças.

Ela suspirou pesadamente, e os dedos secou uma lágrima que deixara escapar antes de falar:

-Estarei aqui quando isso tudo acabar. – depois, se aproximou  me abraçando. – Acolherei sua dor e para isso que as mães servem não é?

-Obrigado... mãe –  era única coisa que poderia dizer a ela, afinal nós dois estamos presos pelas mesmas tradições e logo depois pedi: – Quero descansar um pouco, mais tarde vou sair com a Bella. 

Pensei que ela iria me recriminar, contudo apenas me deu um sorriso tristonho, pegou meu rosto e disse:

-Descanse. – deu um beijo na minha bochecha e saiu me deixando sozinho com meus pensamentos.

O momento de Bella ir embora era mesmo em dois dias, e saber que não nos falaríamos nunca mais, que perderíamos contato, que só teríamos aqueles dias,  contar os minutos até nossa despedida e minha mãe me lembrando a toda hora que eu ia sofrer, não estava facilitando em nada.

Subi as escadas em direção ao meu quarto pensando em tomar um banho longo, mas ao tirar a camiseta senti o cheiro dela que estava em mim, e eu o queria comigo, assim, desisti do banho e me joguei na cama para descansar. Uma ultima ideia passou por minha cabeça antes do sono me dominar: - Nunca mais vou lavar essa blusa. 

BELLA
Quando cheguei no quarto, Leah dormia no seu ninho de travesseiros e lençóis embolados no seu corpo sorri vendo essa imagem e fui para o banheiro tomar um banho, pois tinha areia até no couro cabeludo, enquanto a água escorria pelo meu corpo, fiquei recordando dos detalhes desses dias perfeitos, cada segundo me apaixonava mais e mais por Jake.
Tudo nele me atraia, desde sua voz rouca, seu corpo forte, seu sorriso imenso, mas principalmente o seu jeito, a maneira de me olhar, nossas conversas infinitas e nosso silêncio agradável e nem um pouco intimidativo, sem falar na forma como ele me toca, as milhões de sensações que traz em cada pequeno gesto.

Logo um sorriso bobo surge em meus lábios, sempre espero que essas lembranças me tragam felicidade e não tristeza, que para sempre sejam a coisa mais maravilhosamente louca que um dia fui capaz de fazer por mim. 

Depois de tomar meu banho relaxante, o sono me pegou de jeito, os bocejos enormes denunciava isso, deitei na cama e simplesmente deixei minhas pálpebras se fecharem. 
Algum tempo depois, em meio aos sonhos nada comportados com Jake, escuto meu telefone tocando ao longe, xingo mentalmente que alguém esteja tentando me tirar daquele mágico lugar, onde éramos tão felizes, aí meu cérebro lembrou-me que poderia ser o responsável pelos meu sonho: Jake.

Abri meu s olhos apressada, com as mãos sai tateando em busca do aparelho, ao encontra-lo li no visor o nome dele, um sorriso já escapou dos meus lábios, junto com um suspiro:

-Não aguento mais ouvir suspiros por causa desse menino. – Brincou Leah do banheiro enquanto celular protestava para ser atendido. 
-Oi! – falei feliz da vida.
-Oi amor. – ele disse tão contente quanto eu. – Está pronta?
Olhei para meus trajes: um pijama, mordi o lábio inferior de nervoso, como se pudesse me ver ele falou divertido;

-Pelo seu silêncio  ainda não está pronta.
-Me apronto antes de você chegar aqui. –  respondi já pegando a minha roupa na mala.
-Quero ver se você é rápida. – ele brincou. – Em dez minutos estou na recepção te esperando.
-Fechado. – falei desligando o telefone.

Só pude escutar a risada dele ao fundo quando fechei meu celular, corri para o banheiro expulsei Leah de lá fiz, coloquei a roupa escolhida, isso me tomou quase cinco minutos, depois ajeitei meu cabelo, desta vez foram só três minutos, o relógio parecia cooperar comigo naquele momento, estava de bom humor como brinca Leah.

Faltava um minuto agora, passei um gloss e me olhei pela última vez no espelho, queria trocar toda roupa, vendo meu rosto de decepção minha amiga avisou que tinha acabado meu tempo não poderia fazer isso.

Sai então como um foguete pela porta, quando olhei o relógio estava um minuto atrasada, e vi que Jake estava com um sorriso maroto e apontando para o pulso mostrando meu atraso. 

-Desculpa, fiz o meu melhor. – brinquei o abraçando. – queria trocar toda minha roupa.
-Por quê? – perguntou parecendo não entender meu comentário. – Você está linda, adoro você de vestido.

-Obrigada! Mas sei lá achei que a roupa não combinava.

- Está linda! E preciso agradecer por ter você aqui. 

-Estou muito feliz em ter vindo. – Respondi com sinceridade.

Sem mais demora ele enlaçou minha cintura com suas mãos grandes e incrivelmente quentes, aquilo era uma característica dele que eu achava interessante, aquele calor que ele emanava, aquecia até a minha alma, me fazia sentir bem e muito viva. 

Quando caminhávamos, grudados um ao outro pelos nossos braços, notei de rabo de olho alguns olhares furtivos em cima de nós, principalmente dos funcionários da pousada, alguns até cochichavam isso estava ficando frequente, mas não queria pensar em nada, não havia tempo para me perder em coisas ou pessoas pequenas e sem importância, o sorriso que rasgava o rosto de Jake impedia qualquer outra percepção minha que não fosse para ele.

O sair do sol era batalha diária naquela cidade que sempre vivia acinzentada, mas apesar disso o dia estava bonito, ou talvez eu o visse assim, pensei enquanto sentia a mão de Jake no meu braço.

Ao chegarmos ao estacionamento, notei que havia uma caminhonete vermelha parada a nossa espera, nunca o tinha visto aquele veículo, percebendo minhas reações Jake foi logo falando:

-Essa caminhonete fui eu quem reformou, era uma sucata muito velha, nem ligava direito. - o tom da sua voz era de orgulho, mas ainda um pouco contido. - Gostou?

-Na verdade estou encantada. - falei exatamente o que estava sentindo. - Além de concertar motos, também concerta carros?

-Quem gosta de mecânica, mexe em qualquer máquina. - brincou abrindo a porta para mim. 

Ofereceu sua mão para me ajudar a subir no carro, agradeci e entrei no veiculo, ele fechou a porta e veio a sentar no banco do motorista, nesse pequeno tempo sozinha naquele pequeno espaço, meu nariz captou o cheiro perfeito dele, queria memorizar aquilo também, pois dizem que é a memoria que sempre fica conosco, a olfativa, podem passar anos, ela sempre estará lá forte e real, sem fazer distorções em nada.

Ao se acomodar no banco ele girou a chave fazendo o motor ganhar vida e mostrar que  tinha força, não sei se fiquei impressionada em saber que ele entendia muito mais de mecânica do que eu pudesse supor ou se era felicidade de ter ele próximo a mim, acho que os dois, só sei que sorria sem parar para ele.

Conversamos futilidades, como filmes e músicas preferidas, tínhamos bastante sintonia, mas lógico que havia algumas discordâncias, sempre encaradas com muito bom humor, algo bastante peculiar da sua personalidade sempre alegre e positiva, tornando-o uma pessoa leve e de fácil convivência. 

Entre curvas e mais curvas da estrada, a subida característica, a paisagem já conhecida por mim, lembrei que para onde estávamos indo: ao primeiro lugar que ele tinha me levado, seu lugar preferido, onde tínhamos dado nosso tão aguardado primeiro beijo. 

Desligando o carro sua mão buscou a minha com carinho depositando um beijo delicado na minha pele, seu olhar era tão intenso para mim que senti meu corpo todo incendiar, mordi o lábio e uma risada baixa escapou da minha garganta, isso o fez sorrir também. 

-Vamos para o nosso piquinique. - ele falou com sua voz rouca.

-Vamos sim. - foi a única resposta dada por mim.

Saindo do veiculo, ele foi abrir a porta para mim, contudo não esperei pelo seu gesto, rapidamente saí, a ansiedade era evidente em mim, queria logo contemplar a vista e também usufruir do nosso momento juntos.

Vendo minha pressa ele foi em direção ao porta mala para pegar alguma coisa,  ofereci ajuda, porém ele pediu para eu ficar a vontade, olhar a vista linda, e ficar tranquila que a tarde era minha.

Assim fui dando passos medidos até a beirada do penhasco, amo a forma que o vento sopra ali, bagunçando os fios do meu cabelo, me dava uma sensação de total liberdade, sem contar que a paisagem era linda o mar imponente batendo contra as rochas, furiosamente sem parar. Apesar disso tudo, havia uma tranquilidade naquele lugar, era quase como se fosse mágica.

Não sei quanto tempo fiquei ali admirando aquela paisagem, só fui tirada daquela contemplação  pelo toque de Jake na minha cintura, a enlaçando me dando um abraço enquanto sussurrava:

-Vejo que você já gosta deste lugar  tanto quanto eu. - respirei fundo  recostando minha cabeça em seu peito e concordei e ele falou:

- Sempre que vier aqui lembrarei de você... de nós.

Ao mesmo tempo que aquelas palavras eram verdadeiras, pois sabíamos que tudo que vivíamos era passageiro, foi inevitável que elas não cortassem de maneira profunda meu coração. Mas afastei aquela dor que começava a crescer dentro de mim de alguma forma, tentava sufoca-la, não queria senti-la agora, em dois dias eu a deixaria livre, mas agora não, queria viver os momentos perfeitos com Jake sem pensar no depois.

Tomada por essa vontade, virei meu corpo de frente para o dele, busquei rapidamente seus lábios doces, que responderam imediatamente, aprofundando o beijo, tornando-o  intenso e apaixonado.

A cada momento que nossas bocas se encontravam mais me entregava as sensações que nossos beijos me faziam sentir, não queria pensar nas consequências, se haveria consequências  daquela entrega, pensaria nisso depois, quando voltasse para casa.

Quando o fôlego acabou por completo, nos afastamos deixando nossas testas coladas, então senti o hálito dele tocando minha pele enquanto falava;

-Trouxe sanduiches que eu mesmo fiz. 

-Mecânico, cozinheiro... Que outros segredos você esconde? - brinquei olhando marotamente para ele.

-Não muitos. Posso confessar, acho que já mostrei todas minhas qualidades com o intuito de conquistar você. - ele ria enquanto caminhava de mãos dadas comigo até a toalha tipicamente xadrez que repousada no chão de pedras.

Havia sobre o tecido, uma cesta de palha clara aberta e ao lado,  um prato com alguns sanduiches, refrigerantes, alguns bombons num caixa, noutra tigela, umas frutas, mas o que atraíram meus olhos foi um buquê de flores do campo que estavam arrumadas de maneira harmoniosa. 

Eu não sabia o que falar ou pensar, nenhuma namorado fez aquilo por mim, tão delicado e carinhoso, isso é algo que só acreditava existir em romances literários. 

- Estou com fome, mas antes...- ele me ajeitava sentada em seu colo no chão e esticou a mão, pegou as flores e me entregou. - Para você. 

- Obrigada!  - falei emocionada, achando que nunca repetira tanto aquela palavra  - Que piquinique lindo você preparou! As flores são lindas...

-Fico muito feliz em saber que você gostou. – respondeu depois de me dar um selinho e abrindo um sorriso disse: -  Agora vamos comer, quero saber sua opinião sobre meus sanduiches!

Peguei o pedaço que ele me oferecia e dei uma grande mordida, fiz uma cara como se estivesse testando e Jake esperava fingindo ansiedade e por fim falei:

- Está delicioso senhor Black!

Jake soltou uma gargalhada e me apertou pela cintura antes de pegar um sanduiche para si, e assim a tarde foi passando de maneira veloz, o sol já sumia deixando a noite aparecer, junto com um friozinho gostoso.

- Menos um dia! - pensei vendo a penumbra se instalar lentamente.

Jake pegou um lampião e uma manta no carro e nos embrulhou enquanto admirávamos sentados as estrelas e a lua que brilhavam no céu parcialmente limpo. Ficamos em silêncio por alguns minutos, mas isso não era constrangedor, na verdade mostrava como era prazeroso para nós estarmos  na companhia do outro. 

-Dizem que quando um líder de um clã morre, pela tradição do meu povo, ele ilumina uma estrela no céu, junto com sua amada, que o acompanha sempre, mesmo depois, e  quando eles se encontram no outro mundo...nada poderá separá-los... – ele sussurrou - Essa é uma das lendas sobre meu povo.

-Que bonito! – falei sem me preocupar em parecer mentira, realmente era, fiquei mais curiosa em saber sobre seus costumes e pedi - Conte-me mais sobre essas lendas.

eu queria entender, eu preciso conseguir entender.

-Dizem que os passos do meu povo foram os primeiros nessas terras, foram se fortalecendo com o passar de gerações, pois sempre mantivemos a linhagem pura. - Sua voz rouca era tristonha, mas ele continuou a falar alisando meu braço com carinho. - Sempre fomos ligados a família, somos criados desde para fazer de tudo pelo bem dos laços familiares, para que se mantenham fortes. Isso que possibilitou que os anos passassem sem que nós perdêssemos nossa força, nossa cultura, nossas lendas que são passadas de geração a geração.

-Então por isso que é tão importante manter essa tradição do casamento com a garota escolhida pela sua família. - eu deduzi.

-Principalmente o filho homem. - ele me apertou em seus braços. - Ele será o líder da família, é ele quem recebe a bênção e com ela a missão de cuidar de todos, assim, quando meu pai se for, serei eu o líder dos Black´s, a família mais tradicional do meu povo, que nunca manchou sua linhagem com sangue de forasteiros.

Ao final ele falava com raiva as palavras, não entendi muito bem o motivo daquilo, afinal era algo tradicional do seu povo, eram séculos de historias e tradições cultivadas provavelmente com dificuldades, era algo para se orgulhar.

-Como é feita a escolha para sua esposa? - perguntei, sei que o assunto era delicado, mas não podia evitar essa minha curiosidade macabra.

-Ela tem que ser de uma família tradicional, deve ter o sangue dos primeiros do meu povo, são um grupo de dez famílias, todas ainda tentam manter firmemente a tradição. - ele parecia estar sendo contaminado pela tristeza daquele assunto. - Quem não segue é banido do grupo familiar, como meu tio foi... Como se ele fosse um ser estranho, como se fosse o elo fraco de uma corrente, como um lobo fraco.

Observei seu rosto agora sério e que olhava o horizonte, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos e Jacob continuo falando:

- Meu povo sempre teve os lobos como aliados mais remotos, desde a época em que caçávamos por essas florestas. Então, muito das nossas tradições vieram com a convivência com essas feras.

-Sempre gostei desse animal. - confessei algo que era verdadeiro, sempre os considerei animais fascinantes.

-Os lobos fazem tudo pelo seu grupo, sempre estão unidos, como uma família. O lobo alfa guia sua matilha, assim como líder de uma família guia todo seus parentes. É algo obrigatório, entende?

-Entendo... Bem, eu tento. - falei sem graça. - Afinal também sou muito ligada a minha família, não como você, mas sem duvida faria sacrifícios por eles.

-Como casar com quem seus pais escolherem, fazer “bom” , ou um casamento “certo”. - ele retrucou.

-Sim, esse será o meu destino. Eu ficarei com o interesse financeiro e você com suas tradições. - tentei fazer um humor infeliz.

-Queria as vezes fugir. - ele confessou, uma vontade que já surgiu em mim, mas logo ele emendou o óbvio :- Mas não podemos escapar das responsabilidades das nossas vidas jamais nos sentiríamos inteiros...

-Pois sempre iremos cobrar esse preço alto um do outro num momento de fraqueza qualquer...  - completei com a voz embargada de tristeza.

-Podíamos ter nascido em outro lugar, em outra circunstância.- ele começou a filosofar. 

-Mas aí poderíamos não nos encontrar... - falei. - Somos felizes por termos nos encontrado, apesar de não podermos mudar nada.

-Sem duvida... assim como não posso mudar todo sentimento que tenho por você... - eu o encarei alisando seu rosto. - Eu te amo... muito, sempre te amarei.

-Eu também sempre te amarei...- conclui aquele assunto me aproximando para mais um beijo, o dia estava acabando, e não conseguia imaginar como seria partir, e deixá-lo para trás, não, ainda não consegui ver isso... 


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Notas finais do capítulo

Esperamos que gostem do capitulo, no próximo algumas coisas a mais...mas estamos indo em direção ao fim...

OBRIGADA A TODAS Q TEM COMENTADO, A TODAS Q TEM NOS INCENTIVADO A PROSSEGUIR...
OBRIGADA MESSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSMO!!!!