Not Like The Movies escrita por MsRachel22


Capítulo 10
Fede a Espírito Adolescente




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/113731/chapter/10

Um garoto sinistro... O menino com a aura quebrada... Esse sou eu”

   — The Black Keys 

                                                                        

  A alegria enevoada do álcool era muito bem-vinda e me senti como uma adolescente bêbada na casa da melhor amiga, e não presa num depósito de assassinos, infratores e todo o tipo de escória juvenil do país – e isso era ótimo.

  Eu podia culpar a reabilitação forçada de álcool e os longos meses sem consumir nada alcóolico, poderia dizer que nunca foi fã de entornar bebidas e que fugia dos copos plásticos cheios de líquidos batizados com qualquer porcaria que algum maníaco pusesse e poderia dizer que aquela era uma concessão, um pequeno deslize do plano original de sofrer com meus pecados e coisa do tipo.

  Mas eu gostava daquela felicidade instantânea regada a mais de 10% de álcool numa garrafa de 600ml de bebida gelada, o gosto era bom e queimava a garganta. Então vinha a névoa de alegria, leveza e todos os pensamentos eram misturados e levados para longe.

— Eu não vou beber mais.

— Não podemos desperdiçar então — Hinata puxou a garrafa teatralmente para junto do peito enquanto Ino se esticava para alcança-la. O riso das duas tomou conta do cômodo abafado e a loira continuou, naquele dialeto arrastado de uma pessoa levemente bêbada: — Eu disse que você aguentava duas garrafas.

  Nós estávamos espremidas no espaço entre o beliche e a cômoda, os tênis e as meias se misturavam naquele corredor ínfimo acarpetado e duro. Hinata mantinha as pernas juntas ao peito enquanto Ino, que estava sentada na sua frente, deixava os pés inquietos encostados na cômoda.

  Me remexi no carpete mais uma vez e estirei uma perna na direção de Hinata, a minha cabeça e a de Ino estavam apoiadas no colchão da cama de baixo do beliche; a distância entre nós mal passava de dois palmos, mas eu sinceramente não ligava. Aquela era outra coisa boa: a sensação de pertencimento.

— Vai se ferrar, Ino — Hinata resmungou e tentou se ajeitar melhor, levantou a perna e apoiou a garrafa sobre o joelho, depois a ergueu num brinde solitário. — Muito obrigada por ter levado uma queixa, Sakura. Você é uma ótima colega de quarto!

— Colega de quarto! — Ino repetiu e as duas encostaram as garrafas, o barulho do brinde foi baixo e um pouco da bebida foi derramada na segunda tentativa. Nós três bebemos. — Então, colega de quarto... Você é oficialmente uma “aluna” com problemas sociais.

— Eu me esforço — aquele sorriso idiota não parava de crescer no meu rosto e as duas se entreolharam como se eu tivesse mencionado um segredo. Revirei os olhos e sorvi um pouco mais da bebida. — Isso foi uma piada.

— Você é melhor como nossa colega de quarto — Hinata opinou e segurou a garrafa com cuidado quando encostou a cabeça na cômoda. — Apesar de ser desprovida de hormônios e senso de humor...

— Eu tenho hormônios.

— ...e ser uma pessoa desconfiada, como se a Ino fosse um vampiro ancestral e faminto...

— Ei!

— ...ainda assim, nós te aceitamos e te respeitamos por isso — Hinata piscou lentamente e sorriu feito uma idiota quando ergueu a garrafa mais uma vez; lá estava o brinde solitário. — A colega de quarto mais estranha de todo o planeta!

— Vai se ferrar, Hinata! — Reclamei, mas o sorriso idiota era contagiante e meus lábios continuavam repuxados. O riso era mais fácil e mais leve, aquela névoa alcóolica tornava tudo mais divertido e simples, mas eu sabia que a verdade era que eu estava me divertindo.

  Outra troca de olhares longos, cúmplices entre as duas e depois outro ataque de risos entre um gole de bebida aqui e ali. Não demorou muito para que eu participasse das alfinetadas, das bobagens aleatórias que eram faladas e dos risos histéricos que vinham do nada.

  Você está quebrando as regras.

  Havia bem mais do que 800ml de bebida alcóolica circulando no meu organismo e fazendo meu fígado trabalhar com a quantidade repentina de álcool, por isso que, dessa vez, aquele pensamento cru e ranzinza não tinha a mesma forma e dimensão de terror e alerta que sempre me causava.

— Eu precisava disso — murmurei as palavras e senti o peso das palavras desaparecerem quando notei os olhares de Ino e Hinata, ergui a garrafa e sorvi mais um pouco do líquido gelado. — Eu...

— Nós sabemos, garota. — Ino girou a cabeça sobre o colchão e seus olhos transmitiam sua compreensão e maturidade enquanto me encaravam; reconheci nela a mesma expressão terna que havia no rosto dela, da minha irmã, e bebi mais. — Às vezes, a gente precisa respirar e fazer algumas merdas. Não é isso o que adolescentes fazem?

— Adolescentes normais não têm graça — Hinata atalhou risonha. — Mas nós somos adolescentes fodidos, então nós temos graça.

— Esse é o espírito! — As duas brindaram e derramaram mais bebida, dessa vez não demorei a me juntar a elas. O grito de comemoração, típico de jogos e competições, foi alto e o sorriso largo, que destacava os olhos azuis de Ino, era natural quando ela completou: — À colega de quarto mais desprovida de hormônios e que se fodeu por um namorado de mentira!

  Era esse o espírito. Então aumentei a quota para 900ml de bebida gelada.

* * *

  Nunca mais eu vou beber, era o mantra da vez enquanto eu tentava proteger meus olhos da luminosidade excessiva com a mão direita.

  O giz arranhando a lousa verde, as cadeiras sendo puxadas, as vozes agudas e esganiçadas que fofocavam qualquer porcaria sobre uma inspeção, o tique taque o relógio - cada maldito ruído amplificava a dor de cabeça que mastigava meu cérebro. Trinquei a mandíbula quando Kakashi bateu o punho sobre a minha mesa três malditas vezes.

— Haruno? Alguém em casa? — Eu não sabia se deveria odiar mais o asco ou a ironia em sua voz, mas preferi detestar ambos assim que ergui a cabeça e encarei o rosto parcialmente coberto dele. — Aí está. Parece que você sabe atender pelo nome também... — Os olhos dele me analisaram e se estreitaram levemente, ele inclinou o corpo e senti o cheiro nauseante de hortelã e sabonete que vinha dele.

  Eu juro que nunca mais vou beber...  Lá vinha o mantra outra vez enquanto Kakashi gesticulava e inclinava a cabeça; eu percebia os lábios se movendo e a expressão carrancuda dele, eu sabia que ele estava gastando boa parte de sua dose diária de cinismo e repulsa de todos os adolescentes ali dentro apenas comigo – o que era um verdadeiro fenômeno -, mas eu não conseguia me concentrar em nada além da minha ressaca.

  Pensamentos felizes pensamentos felizes

— Vou dizer mais devagar dessa vez, que tal?

  Pensamentosfelizespensamentos

— Defina... — aqui vem uma pausa dramática, mas os olhos dele permaneciam inflexíveis. — ...o que... — outra pausa — ...é... — apertei minha testa com força e cobri os olhos, irritada com a porra do mantra novo que me atormentava feito um disco quebrado. — ...o bem maior.

  Fodam-se os pensamentos felizes.

— É quando você cala a boca — o sorriso cínico doía, meus lábios estavam repuxados e meus dentes estavam à mostra naquela expressão nervosa. Inclinei um pouco o corpo para frente e fiz a minha pausa dramática. — Que tal? Ou precisa... que eu... repita?

  O rosto vermelho e fechado de Kakashi indicava parte de seu humor quando as risadas escandalosas de duas garotas encheram a sala – outro estímulo para a dor de cabeça infernal -, meu sorriso nervoso ficou confortável quando sustentei o olhar duro do orientador; a luminosidade machucava meus olhos e os estreitei assim que Kakashi apontou um dedo na minha direção.

— Eu não vou me esquecer da sua definição, Sakura Haruno — o tom de voz era ameaçador, mas a expressão resignada e a postura tensa mostravam que sua confiança inabalável não era mais a mesma de minutos atrás.

— É, e eu aposto que você quer que eu repita — murmurei relaxando um pouco a postura.

— Disse alguma coisa? — O corpo dele estava ligeiramente virado na minha direção e ele interrompeu sua caminhada até a própria mesa; o pescoço continuava vermelho e não consegui abandonar a droga do sorriso irônico. — Foi o que eu pensei.

  Kakashi se afastou em absoluto silêncio e virou na direção das risadas escandalosas assim que elas preencheram o lugar, o olhar transtornado esquadrinhava a sala até que as vozes virassem murmúrios e então sussurros envergonhados. Estremeci quando o giz voltou a ser manuseado, arranhando a superfície da lousa e os sons voltaram a se transformam em estímulos para a dor de cabeça que mastigava meu cérebro.

— Cretino — a palavra simplesmente escapou quando pus os olhos em Kakashi mais uma vez.

  O barulho da sirene explodiu no ar e pensei que realmente enlouqueceria quando as conversas se sobrepuseram e se misturaram a barulheira das cadeiras, mesas e da porta sendo puxadas naquele ritual mecânico ao final de cada período do cronograma. Levei um pouco mais de tempo para participar da rotina e cair fora daquela sala; meus movimentos excessivamente lentos pareciam despertar uma série de pontadas na minha cabeça curtida em álcool durante o final de semana.

  Pensamentos felizes.

  Precisei trincar a mandíbula com força para que aquelas palavras deixassem de ser um pensamento irritante e virassem uma frase repetitiva, um cacoete chato e cansativo. Foi nesse processo que notei a bolinha de papel amassada na minha mesa e que Sasuke permanecia parado em sua mesa, dois lugares atrás de mim.

  O ruído de uma cadeira sendo arrastada com pressa ecoou pelo lugar e me encolhi involuntariamente, só consegui soltar o ar quando passei a alça da mochila pelo ombro e apertei minha testa outra vez por puro reflexo quando arrastei os pés num ritmo senil para a porta.

  Eu estava pronta para rosnar qualquer merda para Sasuke até que ele simplesmente saísse do caminho e me deixasse em paz quando ele me chamou. Ignorei a voz dele com a mesma maestria que conseguia ignorar que minha cabeça estava explodindo.

  Eu nunca mais vou beber mais do que duas garrafas.

— Sai da frente — parecia um choramingo birrento, mas na minha cabeça eu soava extremamente firme e severa.

  O máximo que eu havia avançado foi duas mesas quando Sasuke Uchiha plantou os pés na minha frente e tudo o que eu enxergava era parte da camiseta dele, já que eu não queria erguer os olhos para encarar sua expressão sarcástica, os lábios repuxados num sorriso cínico e malicioso.

— Você andou bebendo? — Minha resposta foi um riso curto e irônico, que arranhou minha garganta e continuei encarando a camiseta dele, visualizando meus passos arrastados até a porta. — Por que não me convidou? Eu sou uma ótima companhia, mas você meio que já sabe disso. — Ele se aproximou um pouco e hesitou antes de continuar: — Me chame para o próximo porre, seria legal estar lá... com você.

  Estreitei ainda mais os olhos assim que ergui a cabeça para encará-lo, a franja ainda cobria seu rosto e o cabelo parecia mais rebelde quando ele passava uma mão, puxando algumas mechas para frente naquele processo nervoso e repetitivo. Aquele brilho malicioso ainda estava nos olhos dele, mas a preocupação era mais nítida ainda.

— Eu sei que não é da minha conta...

— Não é — retruquei automaticamente e um sorriso leve repuxou os lábios dele, enquanto revirava os olhos e continuava:

— Mas — ele prendeu a respiração e mordi o lábio inferior quando a preocupação foi maior na expressão dele. — Mas estou curioso sobre o seu porre. Eu... fiquei preocupado desde a nossa briga. Você parecia tão... mal — precisei voltar a encarar a sua camiseta quando os olhos dele continuaram fixos em mim, parecendo esquadrinhar cada detalhe no meu rosto e gravá-los em sua memória.

  Uma espécie de alerta começou a apitar na minha cabeça quando percebi que ele segurava meu pulso com firmeza e erguia minha mão, porque o toque dele era reconfortante e senti meu rosto esquentar quando vi que as pontas dos meus tênis tocavam as dele.

— Eu só queria que você soubesse que a gente pode conversar sempre — ele fechou meus dedos ao redor da bolinha de papel. — Acho que eu aguento seu desprezo por escrito, Sakura — sua voz parecia levemente cínica e animada quando ele se afastou e acenou rapidamente, deu uma piscadela antes de se virar e sair.

  Ergui os dedos indicador e do meio num aceno mudo enquanto os outros três seguravam a folha de papel amassada, pisquei confusa para o cômodo vazio e tentei assimilar a possibilidade real, verdadeira mesmo de que alguém se importava comigo. Balancei a cabeça, na tentativa inteligentíssima de dissipar qualquer tipo de análise ou aviso sobre as regras, e fui recompensada com outra explosão de dor.

  Atravessar a porta foi relativamente fácil se eu levasse em conta os passos arrastados, a palma da mão pressionada na testa e os olhos ardendo, mas eu não avancei mais do que a soleira e encostei o corpo na parede, respirei fundo e tratei de arrastar meu corpo de ressaca para longe assim que reconheci Ino caminhando na minha direção.

— Admirador secreto? — Apertei ainda mais os dedos na têmpora assim que Ino colocou as mãos na cintura e apontou com a cabeça para a bolinha de papel que eu segurava. — Ou... — ela ergueu as sobrancelhas, esperando que eu desse qualquer dica. — Agora você pode me dizer o que é isso aí...

— É só... um pedaço de papel — respondi o óbvio sem conter muito bem a ironia e a irritação na minha voz. Então a minha reação de praxe veio à tona e logo eu estava em movimento, tentando fugir de Ino e de suas perguntas.

— Então é um admirador secreto — ela murmurou e franzi o cenho quando a risada dela ecoou pelo corredor relativamente vazio. — Eu não conhecia o seu lado charmoso, Sakura. Você está arrasando corações pelos corredores, é isso?

  Se com arrasar você quer dizer tirá-los de funcionamento para sempre, é. Eu tenho experiência.

— Você não faz ideia — minha garganta doía enquanto eu rosnava as palavras e puxei o capuz do moletom. A risada bem-humorada de Ino me irritou, como se ela entendesse o sentido duplo das minhas palavras e mesmo assim encontrasse graça naquilo - a velha paranoia de volta.

— Não acredito! Você tem horm...

— O que foi dessa vez? — Parei de andar e senti as pontadas piorando quando o barulho ao nosso redor pareceu aumentar, Ino apenas girou os calcanhares e apoiou uma perna na parede enquanto me encarava.

  O olhar dela era sério e não havia qualquer emoção quando ela disse:

— Você e Sasuke Uchiha parecem ser amigos — levei um bom tempo até perceber que estava apertando a bolinha de papel e trincando a mandíbula, não havia rodeios dessa vez. — Não vou dizer que isso é ótimo, mas não seja idiota ao pensar que ele é inocente e que está aqui por um erro do sistema. A boa parte está trancada pelas razões certas e ele está incluso nessa maioria.

— Isso também nos inclui, então — retruquei e um sorriso torto, quase ferido nasceu em seus lábios rachados.

— Acho que você pode falar isso com tanta propriedade quanto eu — ela revidou e cerrei mais ainda os punhos, talvez porque eu não esperasse que a irritação se transformasse numa espécie de afronta pessoal, um aviso de que Ino apenas ignorava os motivos que me trouxeram até aqui da mesma forma que eu fechei os olhos para as suas razões. — O que eu quero dizer é que, por experiência própria, é melhor você ter certa cautela com Sasuke.

  O olhar dela pairou na bolinha de papel amassada na minha mão e depois estava fixo no meu rosto outra vez.

— Eu não estou dizendo o que você deve fazer, mas não seja idiota. Só isso — ela suspirou, como se estivesse cansada e sem saber o que dizer quando um sorriso fraco substituiu o antigo. — Agora é a parte onde você me diz se as coisas estão legais entre nós e que nada disso é da minha conta.

  O silêncio não era cômodo, mas tenso – não demoraria muito até que a paranoia na minha cabeça dominasse o resto de bom senso que me restava e transformaria essa conversa numa série de alfinetadas e indiretas sobre a minha vida antes desses muros com arame farpado; a expectativa de Ino era outro fator estressante quando nos encaramos.

— Obrigada, Ino — ela arregalou os olhos e soltei o ar com força, puxando um pouco mais e cuspindo logo as palavras, detestei minha voz envergonhada e confusa: — Eu... As coisas estão legais.

— Puta merda. — A voz dela mal passava de um sussurro e os olhos continuavam esbugalhados, revirei os olhos quando ela pôs as mãos nos meus ombros. — Você pode repetir isso?

— Nem ferrando.

  Ino passou um braço pelos meus ombros e me puxou para perto dela, num tipo de abraço de lado e sua risada alta ecoou pelo corredor, mas ela não se importou com as olhadelas irritadiças e com as bocas que se entortaram assim que atravessamos o corredor.

— Por favor, eu preciso ouvir de novo — ela choramingou e suspirou com teatralidade. —Agora vamos dar um jeito na sua ressaca, porque a sua cara está horrível. Não sei como você conseguiu um admirador secreto.

— Nem eu — confessei e foi a vez de ela revirar os olhos.

— Quero dizer que parece que você vai bater em alguém — ela foi enfática e balancei a cabeça, concordando silenciosamente com as malditas pontadas porque eu queria conter a vontade de rir. — Você está com uma cara maníaca.

— Foda-se.

— Aí está! Você voltou!

— Fod...

— É, você voltou mesmo, garota do capuz.

  Arrastei os pés no mesmo ritmo que Ino e escondi a bolinha de papel no bolso do moletom, me sentindo boba por querer estar sozinha o quanto antes e desamassar aquele pedaço de papel.

* * *

  O barulho das garrafas de vidro foi a primeira coisa que notei assim que Ino escancarou a porta e o cheiro de bebida estava mais forte do que de manhã, Hinata estava sentada na borda do colchão do beliche de baixo e ergueu os olhos do livro em suas mãos rapidamente; gemi quando Ino bateu a porta com força.

— Pensei que vocês não iam voltar mais — o alívio transparecia em sua voz e em sua expressão, Hinata respirou fundo e sorriu tranquila e fechou o livro. — Vocês estão de ressaca, não é? Eu não quero ser indelicada, mas vocês não parecem muito bem.

— Defina bem — resmunguei irritada e franzi o cenho ao encarar Ino assim que ela passou o braço pelos meus ombros mais uma vez, enfiando as unhas na minha blusa com certa força.

— É... — ela mordeu o lábio inferior e se encolheu um pouco. — Vocês parecem duas maníacas de filme de terror. — Ela nos encarou como se pedisse desculpas e Ino agitou a mão no ar, como se aquilo não importasse e nem a incomodava. — Tem remédio pra dor de cabeça na minha gaveta.

— Espera um pouquinho — Ino apontou uma unha de esmalte preto lascado na direção de Hinata e estreitou os olhos, me puxando para frente quando ela se inclinou. — Você secou duas garrafas a mais do que eu e a nossa colega de quarto aqui — outro aperto nos meus ombros — Você não deveria estar, tipo, pior do que a gente?

— Eu não tenho mais fígado, lembra? — Havia um tom de cumplicidade do qual eu não compartilhava, uma piada secreta entre as duas e que somente elas entendiam.

— Pelo menos você não vai morrer de cirrose — as duas riram com o comentário de Ino, o riso de Hinata parecia mais forçado dessa vez e um sorriso triste e resignado diminuiu o repuxar de seus lábios. — Pode deixar que eu levo as garrafas, Hina.

  Fiquei parada perto do beliche assim que Ino se afastou e pegou duas das catorze ou quinze garrafas que havíamos consumido nos últimos três dias, o vidro retinia quando Hinata se remexeu na beirada da cama e me encarou.

— Posso te pedir um favor? — A voz dela era baixa e seus dedos estavam enroscados na barra da camiseta azul larga e minha falta de resposta pareceu incentivá-la. — Preciso ir até a diretoria, mas eu gostaria de um pouco de silêncio.

  O sorriso cúmplice repuxou os cantos da minha boca dessa vez e balancei a cabeça rapidamente; minha cabeça ainda acusava que eu estava ultrapassando os limites, mas o que fiz foi remexer a gaveta de Hinata até encontrar a cartela de remédios para dor de cabeça.

  Mastiguei duas pílulas e o gosto amargo permaneceu no céu da boca, agarrei uma das garrafas e sorvi o que restava de bebida. Hinata e Ino me encararam e depois trocaram olhares entre si.

— Para não descer a seco — expliquei.

— Só vamos logo — foi o que Hinata disse; Ino balançou negativamente a cabeça quando passamos pela porta e, mesmo do lado de fora, ainda me encolhi com sua risada reverberando pelo nosso quarto.

  Merda. Eu já falava como se fôssemos uma unidade.

  E não somos?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

YOOOOOO!
Mals a demora. Muitos acontecimentos pessoais de uma vez.
Vamos ao capítulo:
o capítulo em si estava pronto há alguns dias, faltaram apenas alguns ajustes. A ideia principal foi mostrar mais interações entre as garotas e expor um pouco a forma como a amizade entre elas está se estreitando.
A narração vai ser alterada para outra personagem daqui uns dois capítulos, no máximo. Caso alguma coisa tenha ficado confusa, errada ou muito esquisita, me avisem por favor.
Provavelmente a continuação será postada neste final de semana. Agradeço os comentários, os leitores que acompanham e favoritam a fic.
Até. o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Not Like The Movies" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.