Not Like The Movies escrita por MsRachel22


Capítulo 9
Células




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E nós todos sabemos como fingir, baby... E nós todos sabemos o que fizemos”                                                                        

      — Mikky Ekko     

                                                           

 Nos últimos sete dias eu havia seguido à risca o plano original: nada de amigos, nada de brigas, nada de interação social além do estritamente necessário e dosagens controladas de Profaxim. Eu havia ignorado as bolinhas de papel na minha mesa, as tentativas de conversa nos corredores ao final dos períodos de aulas e os interrogatórios das meninas enquanto eu passava no quarto.

  Eu havia conseguido até ali, fazendo de conta que não me incomodava com os olhares preocupados de Ino e Hinata, disfarçando o incômodo que me abrangia quando eu fechava os olhos para as bolinhas de papel e me enganando que aquilo seria o melhor para todos – que eu devia ser o exemplo perfeito de adolescente traumatizada com seus próprios erros e demônios para tentar ser normal.

  Era nisso que eu me agarrava – a parte do ser normal, especificamente - enquanto era observada friamente pelo assistente social sentado do outro lado da mesa, as mãos limpas dele estavam sobre o tampo de alumínio e a postura ereta na cadeira somada ao blazer azul e a camiseta cinza, os jeans e os sapatos sociais, gritavam “Eu posso ajudar” em letras neon.

— Você precisa me falar sobre o que aconteceu, Sakura.

  Enfiei as unhas com mais força no braço e inclinei a cabeça para o lado, como se realmente considerasse aquela proposta. Eu já havia perdido as contas de quantas vezes havia escutado essa frase, em quantos tons de voz e em quais volumes; não foi a primeira vez que me questionei se ele ligava para a resposta ou entendia o que estava perguntando.

  Nenhum deles se importa até que você esteja enterrada viva no esquecimento.

— Você não está colaborando — percebi o tom de censura e apenas ergui as sobrancelhas, o assistente social soltou o ar e pegou a folha de papel que estava sobre a mesa. — Nós recebemos uma queixa sobre seu comportamento, senhorita Haruno, que inclui depoimentos de três pessoas e uma nota da direção sobre uma briga.

  Ele me encarou, o rosto sério e fechado não demonstrava mais do que frieza.

— Esses depoimentos detalham ameaças, agressões e o uso de uma arma branca — ele recitou e sustentei o olhar analítico, a dor das unhas perfurando a minha pele não se comparava com a raiva cega que borbulhava pensamentos e o rosto de Karin na minha cabeça. — Como você conseguiu a faca, Sakura? Gostaria de saber mais sobre isso.

  Isso só pode ser uma piada, foi o pensamento que tomou conta acompanhado da sensação de déjà vu. O desespero em dizer a verdade e falar o quão absurda a situação era agoniante, mas tudo o que fiz foi me ater ao papel de adolescente indiferente e antissocial como se tudo dependesse da minha performance.

— Nenhuma palavra? Nenhuma explicação?

  Ele girou o papel na minha direção e o barulho da folha deslizando sobre o tampo da mesa preencheu o cômodo apertado e quente, puxei o capuz do moletom e voltei a encarar o assistente social.

— E o que me diz sobre a motivação da briga? — Outro longo momento de silêncio da minha parte e mais um suspiro cansado da parte dele. — Você ao menos se arrepende de ter surrado uma garota sem qualquer motivo razoável, Sakura? Sabe que isso não é aceitável, certo?

  Algumas pessoas nomeavam essa sensação agoniante e horrível que trava minha garganta e altera meu pulso como gatilho, uma reação diante de determinadas ações, frases ou objetos e coisas que são associadas a um episódio traumático.

  Aí estava o meu gatilho: interrogatórios.

— Acho que... Não, vou explicar dessa forma: seu histórico não diz coisas boas sobre você e sua recusa em responder as minhas perguntas e em esclarecer o que aconteceu estão te prejudicando. — O rosto dele endureceu mais ainda e ele puxou a folha de papel em sua direção outra vez. — Não tenho por que duvidar do que está escrito nesse documento.

  Eu queria desviar o olhar para o teto, para os meus pés ou qualquer outro lugar insignificante, mas meus olhos estavam grudados naquele rosto sério do outro lado da mesa e como seus gestos eram uma extensão de seu desprezo por mim.

— Você, Sakura Haruno, é perigosa e instável, eu vejo isso. Eu dei uma boa olhada em suas avaliações anteriores... — aquela fagulha de pânico cintilou na minha cabeça e tomou conta de todo o resto. — ...posso concordar com cada palavra. Essa queixa apenas reafirma, com todas as letras, que você não está disposta a colaborar, não importa quantas chances tenha.

  Isso não é verdade, era o que me restava de defesa, ainda que débil e quase irônica; a verdade estava cuspida na minha frente e eu só conseguia escutá-la com os braços cruzados, agarrada à esperança de que ignorar tudo e todos, permanecer em silêncio, que essa seria a defesa perfeita e irrefutável.

  A esperança era mesmo uma vadia.

— Ou você discorda? — Ele finalmente perguntou e seus lábios formaram uma linha fina quando permaneci quieta. — A queixa será levada adiante, já que os dois lados foram devidamente escutados e suas reclamações ou retificações foram devidamente anotadas...

  O ruído da cadeira sendo empurrada bruscamente interrompeu aquele monólogo e respirar doía, já não havia mais qualquer pensamento racional além daquela névoa vermelha e intensa de raiva fervilhando meu sangue quando puxei a cadeira pelo encosto e a atirei do outro lado da sala apertada.

  Vislumbrei o rosto assustado do assistente social e uma pequena parte minha comemorou a reação dele, meu peito subia e descia de forma irregular e percebi que estava com os punhos cerrados quando marchei até a porta e a abri. Atravessei o batente e fechei a porta com força, o estrondo da madeira foi alto e provavelmente chamaria a atenção de alguém.

  Ótimo. Que seja.

  Todo o autocontrole que eu havia reunido e toda a ilusão de que as coisas estavam seguindo o planejado foram destruídos dentro daquela sala, eu não sabia se estava tremendo de raiva, remorso ou mágoa enquanto me afastava o mais rápido possível. Continuei em movimento até alcançar o corredor amplo que conectava outras salas e aquela onda de raiva cega intensificou assim que reconheci o perfil de Tsunade.

— Como...

— Agora não — minha voz saiu estrangulada e minhas mãos ainda tremiam quando limpei os rastros das lágrimas que desciam pelas bochechas.

  Foi fácil me misturar ao emaranhado de adolescentes assim que a sirene ecoou pelo lugar, a agitação típica do final dos períodos do cronograma transformava o lugar num fluxo constante de falatório e normalidade, exatamente como aconteceria dentro de uma escola. Costurei entre as brechas dos corpos espremidos até chegar no corredor do meu quarto e parei de forçar minhas pernas rígidas quando meus dedos agarraram a maçaneta.

  Não senti paz ou alívio assim que encostei a testa na porta e fechei os olhos com força, porque estar sozinha significava que eu teria de lidar com o meu interrogatório pessoal e malditamente eficaz.

  Apenas não seja patética, querida... Você já sabia que isso aconteceria cedo ou tarde, não é? Sabia que... Girei os calcanhares automaticamente e agachei diante da cômoda quando puxei a última gaveta, revirei minhas roupas naquela busca rotineira pelos remédios e demorei a associar aquele som angustiado como minha própria voz, um choro baixo e horrivelmente aflitivo.

  Eu não queria me lembrar dos rostos, não queria me lembrar de porcaria nenhuma e estava cansada das acusações que flutuavam na minha cabeça e que eram relembradas a cada maldito segundo.

  Era por isso que eu precisava de Profaxim – para fazê-los parar. Não conseguir me livrar da dependência da euforia, dos picos de alienação e de todos os meus bons e velhos fantasmas, tudo aquilo acabava com quem eu era.

  O que há para se acabar com alguém como você, querida? Você já fez todo o trabalho sozinha e nem precisou colocar umas píl...

  Levantei bruscamente e atravessei a pouca distância até o banheiro, fechei a porta com força e precisei de duas tentativas até trancá-la e permaneci com as mãos coladas na pia até recuperar certo autocontrole.

— É você, Sakura? — A batida leve na madeira me assustou mais do que a voz preocupada de Ino, girei o pescoço na direção da porta automaticamente quando ela me chamou outra vez. — Por que essa porcaria tá trancada? — O resmungo pareceu acionar a conexão entre meu cérebro e boca; ergui a cabeça e contive a vontade de esmurrar o espelho até que aquela imagem desaparecesse.

— É, sou eu — respondi e detestei o quão estrangulada minha voz ainda soava. Esfreguei o dorso da mão no rosto e respirei fundo, talvez para enfrentar o resto do mundo ou, quem sabe, aquela versão de rosto inchado, olheiras profundas e imensos olhos verdes que estava no reflexo do espelho. — Sou eu — mal passava de um sussurro amargurado.

— Você viu a... Esquece. Ei Hina — os passos ficaram distantes e a voz dela também, puxei o capuz e enfiei os fios róseos para dentro do tecido com a mesma coordenação de uma pessoa bêbada e mantive os olhos fixos na cerâmica da pia o tempo todo.

  Eu havia me agarrado desesperadamente às minhas regras de sobrevivência, como se elas realmente trouxessem qualquer resultado. Bem, trouxeram: eu não conseguia resistir a chance de fugir de qualquer situação em que me sentisse pressionada.

— Ei, garota do capuz — a voz de Ino soou abafada. — Desculpe, eu simplesmente não resisti a essa. — Hesitei por um instante assim que meus olhos se fixaram no espelho outra vez. — Que tal liberar o banheiro? Precisamos comemorar a sua primeira queixa no arquivo!

  Mas talvez ainda restasse alguma coisa da antiga Sakura Haruno.

  — Vamos lá! É sexta feira, caramba!

  Destranquei a porta, as pontas dos dedos tremendo e meus lábios se moveram, cuspindo as palavras com casualidade:

— Por que não?

  Talvez, talvez eu ainda pudesse ser normal. Talvez eu conseguisse.

* * *

  O ginásio estava praticamente vazio àquela hora, o tempo quente e abafado ajudava a manter a maioria dos internos circulando na área externa ou confinados em lugares mais ventilados – era nisso que eu acreditava.

  Hinata mantinha os punhos cerrados e os braços erguidos, em posição de defesa enquanto Ino alternava cruzados e socos diretos com rapidez. As bandagens improvisadas com camisetas rasgadas em tiras ajudavam a amortecer os golpes de boxe que as duas treinavam há pouco mais de uma hora.

— Vamos lá, Hina, mantenha os braços pra cima ou eu vou te acertar — outro cruzado e Hinata firmou os pés enquanto bloqueava os golpes furiosos de Ino. — Boa! Mas é melhor você mexer esses pés, garota!

— Então pára!

— Levanta os braços, Hinata! — A loira retrucou e parecia incansável enquanto alternava socos diretos num ritmo rápido demais, já Hinata estava com os antebraços colados na cabeça e cambaleava para trás. — Ao menos revide, Hyuuga!

— Não me chama assim! — Ela berrou entre um soco e outro; a recusa dela em se defender começava a ser preocupante já que Ino não dava espaço para qualquer reação de Hinata.

— Abaixa os braços! — Outro berro e Hinata obedeceu automaticamente, seus braços tremiam ao bloquear os ganchos e Ino girava o corpo com facilidade e graça, como se fizesse aquilo a vida toda. — Vamos lá, cadê a droga da sua defesa?! Se defende, Hinata!

— Já chega, Ino — minha voz soou irritada e nenhuma das duas parecia ter escutado qualquer coisa, estavam concentradas naquele ciclo de ataque e defesa. Levantei bruscamente quando vi Hinata cambalear mais uma vez com os braços abertos e Ino investindo, berrando o que ela devia fazer. — Já chega.

  Hinata ergueu os braços debilmente para proteger o rosto e se encolheu em puro reflexo ao cruzado de Ino, a loira apenas abriu os dedos e sorriu quando puxou a bochecha da outra. As duas se afastaram um pouco e Ino ajeitou o cabelo que grudava na testa.

— Quer trocar de lugar, Sakura? — Ela ofegou e pôs as mãos na cintura, o suor deixava sua pele brilhando e os músculos mais evidentes; Ino apontou com a cabeça na direção de Hinata e sorriu: — Vem, eu não mordo.

  Os passos de Hinata eram arrastados e ruidosos, seus braços e seu rosto estavam vermelhos pelo ritmo frenético e pelos golpes recebidos. Uma pequena parte minha queria perguntar se ela estava bem, mas as palavras simplesmente morreram na garganta quando ela passou por mim e sentou onde eu estava há alguns minutos.

  Apertei mais as bandagens improvisadas no pulso e o olhar feroz de Ino me acompanhava e me analisava, ela agitou os braços e pulou um pouco quando havia meio metro de distância entre nós. Flexionei um pouco as pernas e deixei os braços em posição de defesa, da mesma forma que Hinata havia feito.

— É melhor você tirar isso daí Sakura — disse apontando para minha blusa de moletom e Ino imitou a minha expressão ao erguer uma sobrancelha e revirou os olhos de forma exagerada, bufou e relaxou o corpo. — Qual é? Ninguém vem até aqui, eu garanto. Vamos, confie em mim.

  Mantive a mesma postura e Ino mexeu a cabeça, como se desaprovasse minha decisão e seus braços voltaram a ficar erguidos.

— Tudo bem, não diga que eu não avisei — outro sorriso feroz repuxou seus lábios e seus olhos pareciam mais azuis. — Não vou pegar leve com você, Sakura. Estamos aqui para comemorar a porra da sua...

  Desferi um cruzado de direita enquanto mantinha o braço esquerdo erguido, rígido na posição de defesa; a loira se esquivou com graça e revidou o golpe, travei a mandíbula ao bloquear o punho dela.

— Isso foi rápido. Boa — ela elogiou e alternou dois cruzados e um direto, só consegui bloquear o primeiro e me desviar do restante. — Será que você vai perder a concentração que nem a Hina? — Outro golpe meu, outra esquiva dela. — Ela nem quis se defender...

— Você não deixou — Hinata retrucou irritada, olhei em sua direção rapidamente e isso quase me custou um cruzado de Ino. — Você disse que ia pegar leve, Ino! — Ela reclamou enquanto eu me defendia de um gancho, trinquei mais ainda a mandíbula porque a loira não estava dosando sua força.

— Eu peguei! — Ela se defendeu de um soco e se moveu com agilidade para o lado. — Além disso, você perdeu o foco assim que eu comecei a gritar.

— Você estava berrando na minha cara!

— Tá bom, foi mal! — Ofeguei de dor quando o gancho de Ino acertou meu estômago num golpe seco e forte, perdi o ar no mesmo instante e cambaleei. — Você não se defendeu dessa — ela apontou um dedo na minha direção e pus as mãos nos joelhos, puxando ar e tentando me livrar daquela sensação horrível de perder o fôlego. — Tudo bem aí?

  Eu não conseguia responder verbalmente, apenas mexi a mão rapidamente e retornei à postura anterior: braços erguidos em posição de defesa e pernas flexionadas. Dessa vez fui mais rápida ao me esquivar dos socos de Ino e meu gancho não a acertou com força, insisti com o braço direito e comecei a alternância frenética.

— Isso aí! Vamos, é só isso que você tem? — Grunhi de irritação porque a droga do sorriso dela continuava intacto, apesar de ela estar tão ofegante quanto eu e mais suada ainda; estendi o braço num soco direto e Ino agachou o suficiente para se esquivar e revidou o golpe. — Você conseguiu derrubar a Karin com uma porcaria de murro como esse?

— Eu não a derrubei com isso — retruquei irritada. Outro soco, outro bloqueio. — Foi você que entrou no meio e me interrompeu, lembra?

— É, acho que sim — ela foi ágil e se afastou. — Não quer mesmo tirar isso aí, Sakura? Vou passar mal só de olhar — franzi mais o cenho com o tom desdenhoso dela e aproveitei a pausa para recuperar o fôlego. — Eu juro que não vou contar seu segredo, ó alma sombria e desprovida de hormônios.

— Ela nunca cala a boca? — Apontei e girei o corpo para falar com Hinata, que apenas ergueu os ombros e suspirou. Hesitei por um longo tempo até enfiar os dedos na gola do moletom e puxá-lo pela cabeça, a queda de temperatura foi aliviante e larguei a blusa no chão. — Satisfeita?

— Eu achava que essa coisa estava colada na sua pele, é sério — ela comentou e ergueu os punhos mais uma vez. — Hinata, ela tem pele por debaixo desse moletom!

— E não é pele de vampiro! Você não brilha no sol, não é? — Revirei os olhos e forcei uma risada assim que a voz de Hinata ecoou pelo ginásio; meus músculos doíam pelo esforço repetitivo, mas aquela injeção de adrenalina era relaxante.

— Desde quando você é tão engraçada? — Minha pergunta causou um acesso de riso em Ino e aproveitei a brecha para investir outra série de diretos e cruzados. Meus punhos acertavam os braços da loira, mas ela se mantinha na mesma posição e não se movia, como se seus pés estivessem plantados.

— Eu tenho os meus momentos — foi a resposta de Hinata e precisei fechar mais minha defesa quando Ino impulsionou o corpo para frente, o cotovelo rígido era desferido sem qualquer pausa. — Agora... CADÊ A SUA DEFESA, SAKURA?! ANDA! SE DEFENDE!

— Vai se ferrar! — Berrei enquanto tentava evitar que meus próprios braços me machucassem enquanto me defendia de Ino, só depois registrei a risada da loira.

  Aquilo não durou mais tempo e estava exausta quando abaixei os braços, Ino limpou o suor do rosto com o dorso da mão e agachou enquanto recuperava seu fôlego. Minhas pernas desabaram quando escutei o murmúrio entrecortado da loira de que já era o suficiente por hoje, minhas costas estavam ensopadas e gemi de alívio quando deitei no chão gelado.

  Hinata se aproximou e sentou com as pernas cruzadas, as mãos caíam no colo e ela sorriu numa espécie de cumplicidade secreta; Ino deitou no chão ao meu lado, apoiou a cabeça nas minhas pernas e começou a rir quando tentei chutá-la para fora.

— Como foi a sua entrevista? — A voz dela continuava ofegante e ela começou a tirar as bandagens; não sei se era a adrenalina ou a sensação de cansaço do esforço da última semana, mas simplesmente admiti:

— Foi uma droga.

— Eu não gosto de dizer, mas eu disse que a versão do namorado era péssima. Tem ideia de como isso te deixa? — A voz da Ino subiu um pouco quando ela continuou, como se realmente estivesse ofendida com sua própria pergunta. — Você parecia uma garota enciumada bêbada e desesperada por uns beijos. É horrível. Parece que você não tem amor próprio quando diz que saiu na porrada por causa de um cara.

— Eu estava sendo irônica — murmurei, mas Ino prosseguiu:

— Você ao menos pensou na sua reputação? As pessoas vão apontar na sua cara e dizer que você levou uma queixa formal por causa de um namorado imaginário.

— Ela não cala a boca — Hinata se antecipou e revirei os olhos, como se estivesse incomodada. Mas eu não estava e, pela primeira vez, me senti normal desde que atravessei os portões até o quarto.

— ...sim nós precisamos comemorar a sua primeira queixa, Sakura. — Ino levantou sem qualquer esforço e não hesitei ao segurar sua mão para levantar, foi automático quando Hinata reclamou e cada uma a puxou por um braço. — Nós precisamos de bebidas, minhas amigas.

— Não, eu... — o protesto de Hinata foi interrompido pelo enlaço da loira e um sorriso feroz:

— Confie em mim, Hina, você não ficar bêbada a ponto de dizer ao Naruto que gostaria de conversar — o rosto vermelho dela serviu para aumentar o sorriso da loira. — Ora, ora... Parece que...

— Duas garrafas. É o meu limite.

— Certo, mas eu sei que você aguenta mais do que isso.

  Nós parecíamos uma porcaria de unidade assim que recolhemos nossos pertences e saímos do ginásio e não liguei por não ter o moletom escondendo meu cabelo dessa vez, porque eu não ligava. E isso era simplesmente ótimo.

* * *

  O sorriso presunçoso mostrava todos os dentes meio amarelados e acentuava os olhos castanhos, num tom pálido e sem graça igual à pele levemente bronzeada. A raiz do cabelo era mais escura do que as pontas de vermelho vivo, como se tudo nele gritasse contradição; o retinir das garrafas de vidro em suas mãos deixou minha boca seca automaticamente.

  Sasori era o fornecedor de bebidas e de artigos específicos, de acordo com a extensa explicação de Ino no trajeto até ali. A oficina, como ele havia intitulado, ficava no último andar dos alojamentos dos internos, apenas um lance de escadas acima de Shino.

— Então, garotas... Estou convidado para a comemoração? — Detestei a forma maliciosa como ele falava e se movia, os dedos estavam entrelaçados nos bocais de quatro garrafas ao estendê-las para Ino.

  O maldito sorriso ficou maior quando Ino deu um passo na direção dele, a voz mal passava de um murmúrio charmoso ao responder:

— Nem ferrando.

  Agarrei com certa ânsia duas garrafas das mãos de Sasori e franzi o cenho quando ele abaixou o olhar para minha blusa de moletom, apertei as garrafas com um pouco mais de força quando ele avançou um passo. Eu conseguiria me contentar com uma garrafa de bebida, caso precisasse usar a outra como um taco de beisebol.

  Ele vai saber o que é sorrir de orelha a orelha. Literalmente.

— Olá...

— Nem pense nisso — eu não sabia quem Ino advertia e os olhos brilhavam numa fúria contida, mas o meio sorriso apontava o tom de desafio implícito. — Você já sabe o esquema, Sasori. Acertamos os valores como sempre.

— Claro. Mas se precisarem de companhia, eu...

  Meus passos foram amortecidos pelo carpete, o barulho da porta ao ser fechada foi suave e Hinata segurava duas garrafas com cautela. Ino respirou fundo e sua expressão se suavizou, ela agitou as bebidas.

— Agora sim nós vamos comemorar a porra da sua queixa!

  Algo como uma consciência ranzinza ralhava na minha cabeça que aquilo era imbecil. Mas eu estava me empenhando no pacote completo sobre adolescente normal. Ser imbecil fazia parte.


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Notas finais do capítulo

YOO, pessoal.
Antecipei a postagem dessa vez e, talvez, haja certo atraso na continuação. Estou estudando para provas e está muito puxado, então toda a minha atenção está focada nessa fase.
Qualquer dúvida, sugestão e outros, cá estou.
Até!



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