Not Like The Movies escrita por MsRachel22


Capítulo 11
Má até o osso




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Eu amo assistir os castelos queimarem”

                — Sam Tinnesz                                                               

 

Mantenha a boca fechada. Eles já acham que você é culpada.

  A sensação predominante dentro daquela sala apertada e quente era que eu estava vendo uma personificação do meu segundo interrogatório, eu também estava sentada numa cadeira dura e que rangia toda vez que eu me mexia, os rostos que me encaravam se fechavam em expressões cada vez mais sérias e insatisfeitas a cada resposta vaga ou desconexa que eu dava.

  Tsunade mantinha a mesma postura de quando atravessei aquele corredor minúsculo da diretoria até a sua sala ainda menor: olhos atentos e corpo ereto do outro lado da mesa; o assistente social de cabelos ruivos bem aparados e dentes amarelados, mas retos, estava sentado à direita da diretora e seus olhos pareciam maiores quando ele abria a boca.

  Mas não eram eles a minha real preocupação. O homem alto e musculoso parado na porta mantinha os braços cruzados em frente ao peito protegido pelo colete à prova de balas, enquanto a mulher de terninho e calças pretos segurava um joelho depois de cruzar as pernas, ela se ajeitou na cadeira encostada na parede à minha esquerda com elegância e permaneceu em silêncio desde que passei pela porta.

  A função de um era garantir a segurança, enquanto o outro deveria analisar até que ponto eu abalava essa segurança.

— Preciso que você colabore, Sakura — a voz gentil e firme do assistente ecoou pelo cômodo e mantive as minhas mãos geladas sobre os joelhos quando ele sorriu, uma tentativa de ser amável e autoritário ao mesmo tempo. — Nos ajude a te ajudar.

— Sakura — desviei os olhos para Tsunade e continuei em silêncio. — Não seja idiota por orgulho ou qualquer porcaria que você use como justificativa para não contar a verdade — arqueei a sobrancelha e a irritação de Tsunade foi nítida. — A situação é séria. Não torne tudo mais difícil.

— Nós queremos entender o que aconteceu — lá vinha o sorriso amável e os olhos analíticos brilhando de pura convicção de que suas palavras surtiam qualquer efeito.

  Há-há, parece que temos um comediante na plateia hoje! Ele não é engraçadinho?

— Conte o aconteceu. Estamos aqui para ajudar — Tsunade atalhou.

  Há-há-há! Ele tem companhia!

  Eu já havia escutado aquelas mesmas palavras durante a audiência, com os membros tão rígidos e o maxilar tão trincado quanto agora, e todos os interrogatórios começavam com aquela curiosidade de esclarecer os fatos, logo o meu esforço em abrir a boca e contar o que eu sabia apenas reforçava a versão de que eu era culpada. Então eu parei de colaborar, já que eles eram tão perspicazes e bons no que faziam.

  Não seria diferente dessa vez, eu já conhecia o roteiro e estava empenhada.

— Vocês não precisam da minha ajuda — repeti com a dose certa cinismo para fazê-los trocar um olhar e perceber a mulher de terninho inclinar a cabeça. — Então por que eu precisaria da sua ajuda?

  “Não seja idiota”, era a mensagem muda no rosto de Tsunade quando a encarei por alguns segundos antes de desviar minha atenção para o assistente social. Ele abriu a pasta verde que estava sobre a mesa e folheou os papeis rapidamente; não demoraria muito até que ele começasse a entender minha recusa como algo além de rebeldia de uma garota traumatizada e trataria a questão como uma espécie de afronta ou distúrbio.

— Tudo o que você precisa fazer é nos contar o que houve, Sakura — ele insistiu, mas o sorriso já não era tão amável. Outra pausa longa e lá estava a reação que eu queria quando ele se concentrou em alternar sua atenção para os documentos em suas mãos e no meu rosto. — É sua última chance. Fale o que aconteceu.

  Ele não é mesmo engraçado?!

— Você agrediu e ameaçou uma pessoa por razões fúteis. Você, Sakura Haruno, está sob a tutela do Estado, já que seu histórico apresenta irresponsabilidade e alta periculosidade — tentei imaginar se ele e seus colegas trocavam figurinhas sobre as entrevistas que faziam, o tipo de pessoa que tinham de ver e escutar. Ele cuspia as frases com praticidade e não havia mais resquício de amabilidade em seu rosto ou gentileza em sua voz — Essa é a primeira queixa formal registrada contra você desde que foi internada aqui, e há testemunhas e depoimentos claros sobre o aconteceu.

  Minha garganta apertou quando reconheci a mesma expressão sábia que acompanhava os rostos de todas as pessoas que queriam esclarecer os fatos. Eu estava revivendo a mesma cena de tantos outros interrogatórios e parecia que eu nunca estaria realmente preparada para a fúria que bagunçava meus pensamentos.

  Eu poderia dizer e agir como se não desse a mínima, mas cada palavra abria um pouco mais minhas feridas e cutucava os fantasmas adormecidos por doses de Profaxim.

  A minha única e precária defesa era ficar em silêncio.

— Sua situação não é boa, Sakura. Você sabe disso — o tom acusatório foi mais notável e havia uma sombra de convicção em seus olhos. — Até agora você tem mostrado claramente que não sabe se comportar dentro de uma sociedade, não importa quem faça parte dela.

  Não abra a boca. Não abra.

  Um sorriso cínico repuxou o canto dos meus lábios e finquei as unhas nos joelhos, porque tudo o que eu tinha de fazer era escutar em silêncio as acusações e a versão em que eu era a grande responsável ser contada com descaso, raiva e um leve toque de ofensa.

  Então recorri ao roteiro mais uma vez e permaneci quieta quando ele ergueu os olhos dos documentos em suas mãos.

— Você ao menos tem algo a dizer em sua defesa? — O desdém era palpável e desviei o olhar para o segurança de braços cruzados, porque eu também já havia escutado essa pergunta outras vezes e a única coisa que eu havia aprendido é que ninguém dava a mínima para a sua defesa. — Estou falando com você, então olhe para mim. Sakura. Olhe para m...

(...olhe para seu...)

— Você não me diz o que fazer!

  Avancei sobre a mesa e puxei o assistente social pela gola do suéter, não houve qualquer resistência de sua parte além dos olhos esbugalhados; a respiração agitada dele batia no meu rosto.

— Não me diga o que fazer — rosnei as palavras e o puxei um pouco mais antes de soltá-lo e contornar a mesa; ignorei as vozes exaltadas e as ordens para permanecer onde estava, meus músculos enrijeceram ainda mais quando o segurança deixou seu posto.

  Minhas mãos tremiam quando senti meu antebraço ser segurado, virei o corpo e puxei meu braço com força. Tsunade mantinha as mãos abertas como se quisesse me acalmar enquanto o assistente social apontava na minha direção, berrando que eu devia ser contida e levada dali; ele me via como um monstro, uma coisa a ser controlada antes que causasse mais danos.

— Não me toque! — Avancei um passo na direção do assistente social e a minha voz soava baixa, raivosa e beirando à loucura. — Não me faça ir aí e...

— Eu estou tentando te ajudar, droga! — Tsunade berrou e olhou ao redor rapidamente, tentando saber o que ela devia fazer primeiro: me conter ou evitar que o segurança saltasse para me imobilizar. — Todos nós vamos respirar fundo e manter a calma, me entenderam? — O tom professoral estava presente e sorri em puro escárnio.

— Vão pro inferno, todos vocês — falei e marchei até a porta.

— Eu perguntei se você me entendeu, Sakura — a raiva afinou a voz dela e contornei o segurança rapidamente, agarrei a maçaneta antes que ele me tirasse dali e escancarei a porta.

  A minha cabeça explodia entre os berros irritados de Tsunade e a verdade ácida de que os interrogatórios não parariam, as boas intenções em esclarecer os fatos sempre apontariam para a versão condensada e clichê em que eu era a grande responsável.

  Grande desfecho para a grande Sakura.

  Tentei ignorar o barulho dos passos atrás de mim assim que alcancei o corredor largo, continuei empenhada a me afastar dali o mais rápido possível enquanto minhas pernas rígidas me mantinham em movimento até o pátio externo. Pela segunda vez fui puxada pelo antebraço e repeti a mesma reação.

— Que porcaria você acha que está fazendo, hã? — Os olhos dela me analisaram com raiva, como se esperasse algo melhor do que um sorriso torto. — Você vai voltar para lá agora mesmo e...

— Não! Você não me diz o que fazer! — Cuspi as palavras com o mesmo volume de voz dela. — Você pode mandar nos seus funcionários e na porra do seu escritório, mas não foda comigo, Tsunade. Não me diga o que eu tenho que fazer.

— Eu estava tentando...

— Me ajudar — cortei e o sorriso torto repuxou ainda mais meus lábios, dei um passo em sua direção e continuei: — Eu não quero a sua ajuda. Então pára de agir como se você desse a mínima para o que acontece e como se isso fosse importante. — Aquela maldita sombra de convicção, de sabedoria e descrença me irritaram mais ainda.

  Girei os calcanhares e não havia avançado mais do que três passos quando a voz dela ecoou, mais severa e irritada do que antes:

— Nós não terminamos, Sakura.

— Eu acho que você não me entendeu — interrompi meu trajeto e recuei alguns passos. — Nós já terminamos.

  Trotei para longe de Tsunade e de seu olhar raivoso, contrariado com o que estava acontecendo; o barulho dos meus passos era irritante e as palavras do assistente social se misturavam a velhas condenações e as conclusões de sempre começavam a trabalhar a todo vapor, bagunçando o que ainda me restava de controle emocional.

  Eu sabia que havia confirmado cada anotação que estava naquela pasta, havia dado razão à todas as notas de rodapé no meu mandado de prisão e que havia acabado de aumentar minha estadia por aqui.

  Grande desfecho para a grande Sakura. Não era isso o que você queria? Ser grande?

  * * *

  O silêncio da biblioteca não era acolhedor como das outras vezes, apenas serviu para rebobinar o interrogatório na minha cabeça com dedos imaginários estavam apontados na minha direção, acusando como era simples me desestabilizar e que tipo de postura eu deveria assumir.

  Escancarei a porta e meus passos ecoavam pelo corredor com o mesmo ritmo frenético quando escapei do interrogatório de horas atrás; cruzei os corredores até chegar ao meu quarto e interrompi meu percurso ao avistar Hinata vindo na direção oposta. Aquela raiva ácida e cega continuava fervilhando meus pensamentos.

  Você devia ter ficado de boca fechada.

— ...boa hora, não é? — Pisquei confusa quando Hinata me encarou, levei alguns instantes para tentar assimilar o que ela queria dizer. — Você... quer dar uma volta ou comer alguma coisa? Nós podemos fazer alguma coisa, se você quiser.

  Havia uma pequena parte minha que simplesmente queria aceitar a proposta de Hinata e continuar naquela versão mais fácil de lidar, em que havia piadas e farpas entre conversas bobas e mais do que viver no piloto automático. O problema era que eu não conseguia abrir mão da versão calejada, muda e protegida por cinismo, ignorância e culpa.

  Ah não, querida... Você achou que seria fácil? Achou que podia mesmo mudar? Sakura Haruno sendo uma pessoa melhor depois de ter mat...

— Agora não, Hinata — minha voz soou estrangulada e me esforcei para ser convincente.

— Talvez mais tarde — Hinata acrescentou e eu me detestei, com todas as minhas malditas forças, por balançar a cabeça numa concordância muda, apenas para que ela ficasse quieta e me deixasse sozinha no corredor. — Você tem cert...

— Eu estou ocupada — as palavras soaram ríspidas, irritadas.

  Respirei fundo assim que Hinata passou ao meu lado e eu queria mesmo que o silêncio voltasse a ser acolhedor, que aquelas vozes na minha cabeça sumissem antes que elas trouxessem à tona todo o ciclo infernal de memórias e análises existenciais.

  Mas não era apenas isso o que me assustava – eu ainda sabia como lidar. Era a porra do silêncio, do olhar magoado de Hinata que deixavam a minha garganta mais apertada porque eu me detestava por ser esse tipo de pessoa. Você conseguiu, estragou tudo de novo, continuava arranhando o restante da minha sanidade.

  É. Eu havia conseguido.

— Ei — girei o corpo para enxerga-la e insisti, forçando minha voz a soar mais baixa e cautelosa: — Hinata, está tudo bem?

— Não precisa se preocupar, Sakura. Eu estou legal — a frase foi mecânica e hesitei quando ela forçou um sorriso para dar ênfase à sua resposta. — Nos vemos depois.

  Outro ponto para Sakura Haruno, senhoras e senhores! Essa garota consegue estragar as coisas!

  A sensação de incapacidade era tão ruim quanto a de indecisão quando observei Hinata ser parada por duas garotas, avancei apenas um passo e xinguei quando reconheci as guarda-costas de Karin; minhas pernas continuaram paradas mesmo quando Hinata foi empurrada e encurralada contra a parede.

  Faça alguma coisa reaja reaja reaja

  Eu queria que Ino se materializasse bem ali, que ela tomasse a dianteira e gritasse alguma coisa provocativa para chamar a atenção daquelas garotas que faziam Hinata olhar assustada para os lados; congelei quando o olhar dela focou em mim.

  Meus pés estavam em movimento quando a garota mais alta, de cabelos curtos e castanhos, pôs um braço na parede e pendia a cabeça, acompanhando o olhar de Hinata. Franzi ainda mais o cenho quando percebi que, na direção oposta, Sasuke andava apressado até onde as três estavam e era acompanhado por um garoto ruivo.

  Faltava pouco mais de meio metro para alcança-las quando minhas pernas travaram e estanquei.

  Reaja reaja reaja

— Tudo certo por aqui, garotas? — A voz de Sasuke soava relaxada e a garota de cabelos castanhos girou o corpo para encará-lo. — As coisas parecem tensas olhando de longe — o olhar tenso dele parou em mim por um instante antes de se focar em Hinata.

— Claro, nada poderia estar melhor — a mentira animada e totalmente confortável da outra garota de cabelos com pontas laranjas saiu com facilidade.

— Nós só estávamos... relembrando bons tempos... — um sorriso preguiçoso apareceu no rosto da menina de cabelos castanhos, o tom de ameaça implícita estava no olhar dela. — Mas não sei porque você está tão curioso, Sasuke. As coisas estão tranquilas.

— Ah... Você sabe que eu não consigo controlar a minha curiosidade, Matsuri — ele retrucou. — É um dos meus defeitos.

— Como você pode ver, está tudo certo por aqui. — Ela se afastou um passo e ajeitou os cabelos curtos. — Não conte a eles o nosso segredo, Hinata. Odiaria que isso se espalhasse — me movi para frente assim que Matsuri inclinou o corpo na direção de Hinata, a risada alta e escandalosa dela me fez parar outra vez. — Eu não vou te morder, Hyuuga. Relaxe.

— Por que você não pega o seu bichinho de estimação e dá o fora daqui? — O garoto ruivo sugeriu e a menina de cabelos coloridos se encararam, o olhar dele era inflexível quando Matsuri sorriu novamente. — Vocês podem latir à vontade com a Karin. Aposto que vocês vão se divertir como sempre.

— Vamos lá, garotas... — Sasuke se esforçou para conter o riso zombeteiro e ficou na frente de Hinata. — A cavalaria está chegando, então é melhor vocês darem o fora. — Ele apontou com o queixo para trás de Matsuri e seu sorriso aumentou um pouco quando ela virou o pescoço.

— Mova a sua bunda, Uchiha. Você está no meu caminho — embora Ino se esforçasse para soar bem-humorada, seu corpo estava tenso assim que ela avançou o corredor em passos largos e ladeou Hinata no momento em que Sasuke se afastou. — Aconteceu alguma coisa aqui, Hinata?

— Não, Ino — ela respondeu da mesma forma mecânica de antes e aquilo foi o suficiente para que a loira exibisse um sorriso reto, livre do bom humor que ela tentava mostrar.

— Então eu não vejo por que você não pode arrastar a droga da sua bunda para longe daqui Matsuri — ela deu um passo à frente e mantinha os punhos cerrados ao lado do corpo. As duas se analisavam. — Não teste a minha paciência.

— Sasame — o anúncio fez a menina de cabelos laranjas se endireitar automaticamente. — Vamos.

— Mas...

— Você disse alguma coisa? — O silêncio foi igualmente automático e o olhar feroz de Matsuri ficou mais nítido ao encarar a outra. — Foi o que eu pensei. — Ela direcionou sua atenção para Hinata e depois para Ino, mas havia desafio em seus olhos castanhos quando ela me encarou. — Eu me lembro de você, Sakura Haruno... Você estava em todos os jornais. Estava bonita perto daquele carro.

  Achou mesmo que...

— Você sabe que eu odeio me repetir, Matsuri — Ino falou mais baixo.

  ...ninguém ia descobrir?

  Foi a risada escandalosa de Matsuri que me fez interromper o ritmo desesperado da minha respiração e amenizou o nó na minha garganta por tempo suficiente até que eu empurrasse meu cabelo para dentro do capuz, num reflexo quase involuntário, e tentasse respirar outra vez.

  Os meus músculos continuavam tensos e inúteis quando as duas se afastaram em silêncio, giravam as cabeças por alguns instantes e acenaram até dobrarem um corredor. Soltei o ar e tentei controlar o tremor das minhas mãos e ignorar a taquicardia no meu peito; Ino e Hinata passaram por mim e me obriguei a segui-las.

— Você podia agradecer, Yamanaka! Isso não vai arrancar um pedaço! — Virei a cabeça quando Sasuke gritou, as mãos ainda estavam ao redor da boca quando Ino ergueu o dedo do meio em resposta e continuou marchando pelo corredor.

  A porta do quarto estava aberta quando finalmente entrei, Hinata estava sentada na cama de baixo do beliche e parecia catatônica, presa numa bolha de inércia enquanto Ino marchava de um lado para o outro, atravessava o espaço entre a cômoda e os beliches pisando duro.

— Que porra tem de errado com você?! — Era mesmo uma boa pergunta. Então quando Ino apontou um dedo na minha direção, a voz histérica de raiva e os olhos brilhando em pura descrença, eu não contive porcaria nenhuma. — Por que você não fez nada? Por que deixou que eles se intrometessem e...

— O que é que você queria que eu fizesse, merda?! — Minha explosão foi igualmente raivosa e mesquinha. Ótimo. Foda logo com a merda toda.

Ah não! Você quer que eu desenhe, Haruno? — Ela avançou na minha direção e mantive as mãos cerradas rente ao corpo. — Você devia ter se mexido e não agido como uma estátua enquanto a Hinata estava sendo encurralada pela dupla maravilha lá fora!

— Eu não sou a porra da segurança dela! — Apontei para Hinata e continuei: — Ela disse que estava tudo bem antes de ter saído e...

— Então você vai começar a agir como a droga da segurança, Sakura — Ino foi enfática e me interrompeu outra vez. — Você vai ser a porcaria da sombra dela, porque entre todas as malditas pessoas desse lugar, ela é quem mais precisa de proteção.

— Eu não sou uma criança, Ino — Hinata comentou irritada, mas nós não a escutamos mesmo naquele momento. Não quando estávamos trocando acusações e dedos na cara.

— Ela sabe se defender — cuspi embalada naquela névoa de raiva e indignação. — E além disso...

— Você é idiota por acaso? Metade desses vagabundos quer socar a Hinata até a morte porque foi o pai dela quem trancou todo mundo nessa merda de lugar! — O silêncio foi cruel e tentei assimilar o que Ino havia dito. — Ou você pensou que a outra metade que faz piadinhas pelos corredores faz isso como um tipo de passatempo?

— Ela disse que estava tudo bem!

— Eu vou sair daqui — Hinata levantou e passou pela porta com pressa. — Assim vocês podem mesmo falar de mim como se eu não estivesse aqui.

  Ino e eu trocamos olhares acusatórios e irritadiços assim que Hinata desapareceu do quarto, o sorriso irônico repuxava os lábios dela e nunca detestei tanto ver aquela droga de sorriso.

— Mesmo quando você olha na minha cara e mente que está tudo bem, eu sei que não está — minha garganta apertou ainda mais e Ino respirou fundo antes de continuar: — Não me trate como idiota, Sakura. Você sabe que devia ter feito alguma coisa.

— E que merda eu devia ter feito, Ino?

— Bem... Amigos se ajudam. Eles se protegem e fazem alguma coisa quando o outro precisa — ela respondeu prontamente e a mágoa transbordava em sua voz. Isso feria mais do que as farpas, os berros e o sorriso irônico. — É isso o que você devia ter feito, mas foi cagona demais para tomar uma atitude.

  Minha voz soou extremamente estrangulada e cruel quando cuspi as palavras:

— Não desconte tudo em mim porque foi ele quem defendeu a Hinata.

  Eu sou uma filha da puta.

  O rosto dela foi tomado pelo choque e ela abriu a boca, sem saber exatamente qual reação teria enquanto assimilava o que eu havia acabado de dizer. Outro ponto para a grande Sakura! A mágoa foi mais intensa dessa vez e o sorriso dela era torto.

— Vai à merda Sakura.

  Ela atravessou o curto espaço até a saída pisando ainda mais duro do que antes e o estrondo da porta sendo fechada com violência me irritou. Girei a maçaneta com pressa e passei pela soleira; Ino já havia percorrido um bom pedaço do corredor quando berrei:

— E você pode ir se ferrar também, Ino!

— Ótimo!

Ótimo! — Fechei a porta com a mesma violência e soquei a madeira com força, grunhi frustrada quando percebi que aquilo não adiantaria de nada e não resolveria as coisas.

  Eu era muito boa em estragar as coisas, havia confirmado a teoria mais uma vez e puxei o capuz com raiva. Encarei meus próprios pés. Eu era terrivelmente boa em estragar as coisas e destruir relações.

  Não pela primeira vez, me detestei por isso.


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Notas finais do capítulo

YOOO!
Cá estou. Espero que tenham gostado do capítulo, porque esse foi, excepcionalmente, muito bom de escrever.
Já bancando a advogada do diabo: o receio da Sakura sobre o que fazer se deve, em grande parte, sobre o passado dela e as barreiras que ela criou em torno de si mesma, sempre acreditando que ficar sozinha é o que ela merece. Então, por isso a falta de reação sobre a situação da Hinata.
Altos e baixos, personas. Altos e baixos...
Em contrapartida, a relação Naru-Hina será mais explorada nos próximos capítulos e um pouco sobre o porque da Hinata ter ido parar nessa prisão de adolescentes. Sasu-Saku e Gaa-Ino aparecerão e serão mais presentes daqui a poucos capítulos também.
Qualquer dúvida, cá estou também. A continuação será postada na sexta-feira, na parte da manhã.
Então, é isso.
Até o próximo!
o/



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